O experimento Carlson – Parte 9

Morten Carlson tentava se agarrar da forma que podia, mas foi inútil. Seu corpo deslizou com as rochas soltas até a beira do precipício. Ele sabia que uma queda de pelo menos cem metros de altura o aguardava.

Em seus últimos segundos de vida, uma estranha sensação de resignação tomou conta dele, ocupando o espaço do desespero em conseguir se agarrar. O peso da mochila, do traje mais o dele eram grandes demais. Não havia rocha capaz de conter o peso.
Então, ele simplesmente desistiu.

Algo inesperado aconteceu. Uma poderosa força invisível, como um tipo de campo magnético vibratório fez com que todo o corpo dele se agitasse e aderisse à rocha. Pedaços de pedra que escorriam junto com ele pararam e começaram a levitar. Carlson não acreditava no que estava vendo.

A força o manteve aderido à pedra. Era como se a a gravidade tivesse se alterado. Ele fez algum esforço para apoiar os braços. Lentamente levantou o corpo, ainda sentindo a força, que gradualmente foi sumindo. A vibração sumiu completamente e ele estava livre. O que havia sido aquilo? Morten estava prestes a desmaiar. Já sentia o “teto preto”, efeito do pico de adrenalina, com certeza.  Estava zonzo. Baixou a cabeça e fez força para não perder os sentidos.
Quando retomou o controle, viu, numa elevação distante a figura de uma pessoa de pé. Estava fixa. Pareceu-lhe, por um instante, tratar-se duma estátua.

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Algumas pedras rolaram atrás dele. Morten se virou. Estava muito perto do precipício. Afastou-se com muito cuidado. Quando tornou a olhar, não havia nada no lugar da figura.
Ele se ajoelhou com dificuldade. Estava ofegante. Limpou o suor, formando uma lama na testa. Tirou da mochila um pequeno lenço para se limpar. Bebeu um pouco de água. Morten não sabia explicar o que havia acontecido. Imaginou a figura?
Não podia ser imaginação.

Quanto a figura de pé ele não tinha certeza… Talvez sua mente estivesse pregando uma peça. Mas ele se lembrava com enorme clareza da força que o conteve. Da vibração e de ver pedras pequenas levitarem ao seu redor. Aquilo era o inexplicável.
Mas e a figura?  Só podia ser mais um.

Convenceu-se que acabara de ser visto por um dos chineses. Calculou pela luz do sol que o chinês iria correr até a base, chegaria lá de noite, pois descer pelo outro lado seria mais fácil e rápido que o tempo de subida na borda da cratera. A base devia estar a três ou quatro quilômetros na face posterior da montanha. Certamente os chineses seriam alertados de sua presença. O espião daria um alarme pelo rádio.
Talvez estivesse perdido, talvez procurasse por Ramsés.
Tateando com muito cuidado e extrema atenção, Morten Carlson subiu o monte de pequenas pedras na direção de onde viu a figura de pé.
Se aproximava do cume. A subida era difícil e os ventos haviam retornado com enorme força. Uma espécie de nuvem de poeira foi soprada da planície. As partículas rapidamente escureceram tudo, parecia uma neblina escura. Isso tornava o avanço precário e muito mais perigoso. Sem o capacete, Morten não consegua respirar direito por muito mais tempo. Precisou usar um lenço  sobre o rosto.
A tempestade de detritos estava cada vez pior. Os pedaços chicoteavam seu rosto, entrando no traje, açoitavam com violência. Chegou um ponto que andar era impossível. Morten ajoelhou-se e baixou a cabeça, protegendo-se com os braços. Ouviu um som como uma explosão. A montanha tremeu no que parecia um terremoto.
Durante infindáveis minutos, Morten Carlson aguentou como podia, tentando respirar em meio a poeira fina que entrava pelas frestas. Abominou a ideia de ter se livrado do capacete.
As pedras caíam sobre ele como socos. Gradualmente os ventos foram se reduzindo, a chuva de pedras parou como num passe de magica.
A ventania havia dado lugar a uma brisa leve. Morten se levantou. Estava coberto de poeira e pedras. Sacudiu o cabelo liberando uma nuvem de pó.
Abriu a porta lateral da mochila e tirou a garrafa de água. Lavou o rosto, apressado.

Olhou ao redor. Se antes havia alguma pegada do outro chinês para seguir, ela havia desaparecido. Então ele notou que a explosão que tinha ouvido era uma face de um dos picos, que havia desabado, arrancando quase que a metade da montanha lá pra baixo.
Lá de cima, dava pra ver  a tempestade se afastando. Olhou a planície infinita. O sol por entre as nuvens desenhava manchas na paisagem amarelada.
Dava para ver os baratões em fila andando ao longe. Estavam, de partida. Pra onde iriam? Ao pé da cratera, uma gradual  mudança para tons verdes revelava o mar de bolotas.
Subiu mais um pouco. Quando chegou ao topo da face da cratera, uma vista inacreditável se descortinou diante dele e tirou seu fôlego.

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Era incrível. Colossal. Um pequeno lago estava ali, no meio da cratera. Água cristalina e azul como as águas da Polinésia dos cartões postais.
Estarrecido pela incrível visão, Morten parou para um momento de contemplação e sentiu que todo o sofrimento para chegar ao topo valera à pena.

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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