Curta INVASORES DE TERRA – Primeiro tratamento

Outro dia eu estava organizando meu hd e achei um pequeno curta. Espero que vc “curta”. kkk

 

INVASORES DE TERRA

Primeiro tratamento

Um curta metragem de Philipe Kling David

 

 

1- EXT. Pátio da fazenda – dia – Entardecer

O sol se põe atrás da árvores.

Imagens de uma fazenda. Os raios alaranjados do sol iluminam um antigo carro de boi. Uma enorme árvore espalha seus galhos retorcidos para o céu, projetando curiosas sombras no terreiro do pátio. vê-se a casa decadente da fazenda por trás de um milharal. Ao fundo, o som de uma entrevista na TV.

 

REPÓRTER (off)

A Polícia Militar em parceria com a Guarda municipal já identificou os integrantes de uma quadrilha envolvida no roubo de 172 cabeças de gado na região. A polícia efetuou a prisão em flagrante de dois dos quatro integrantes da quadrilha.

 

Surge um homem que atravessa o pátio. É CARLOS, um homem alto, que aparenta 50 anos. CARLOS veste uma camisa de flanela xadrez encardida, chapéu e botas. Está carregando uma pesada bateria de carro com vários fios pendurados.

CARLOS atravessa o pátio e segue em direção a casa da fazenda.

 

2- INT. CASA DA FAZENDA – NOITE

A sala da casa da fazenda é modesta. Na TV passa a reportagem sobre os ladrões de gado. No sofá, MARCELO está com os olhos vidrados na TV. MARCELO é um menino de nove anos e usa camiseta e bermuda surradas. A reportagem continua.

REPÓRTER
Dois dos membros da quadrilha ainda estão escondidos na região. Um alerta foi emitido para os fazendeiros do distrito de Encruzilhada das Almas. A polícia orienta os fazendeiros a proceder com cuidado, pois são bandidos perigosos e fortemente armados.  O disque-denuncia foi disponibilizado para a população enviar informações, através do numero 253-1177

 

CARLOS entra na sala de fininho e dá um grito. MARCELO pula no sofá com o susto. CARLOS solta uma sonora gargalhada.

 

MARCELO

Pô pai!

CARLOS

Rapaz você não cansa de ver essa porcaria aí não? O dever que é bom, nada, né?

MARCELO

Pai os ladrões atacaram de novo.  Dessa vez foi lá na chácara do Hermínio.

CARLOS

No Hermínio? Sério?

MARCELO

Roubaram duas vacas e ainda mataram quase vinte galinhas. De sacanagem.

CARLOS

Que filhos duma puta. Mas tá tudo bem lá?

MARCELO

Parece que sim. Foi só os bichos que levaram. Ele parecia falar a verdade. Mas o povo diz que pode ser coisa do chupacabra.

CARLOS

(Rindo)

Ah, qual é? Vou tirar essa história a limpo!

 

CARLOS vai até o telefone. Ele tira o aparelho do gancho mas não tem linha.

 

CARLOS

Merda! Maldita companhia telefônica do inferno. Olha aí! Olha aí!

 

 Ele bate o telefone com violência. Em seguida tenta se acalmar, pega um bolo de cartas sobre a cômoda. São contas e boletos.

 

CARLOS

Só boleto. Merda… Nada da carta do empréstimo chegar.

MARCELO

E se o banco não emprestar, pai?

 

CARLOS olha fixamente as contas e sem tirar os olhos dos boletos, se dirige ao filho.

 

CARLOS

MARCELO vai tomar banho pra jantar.

MARCELO

Ah, pai…

CARLOS

Marcelo…

MARCELO

Já vou, já vou… Que saco.

CARLOS

Ei, eu ouvi hein?

 

3- EXT. pátio da fazenda – noite

Carlos está trancando a porteira.  Ele escuta alguma coisa no mato, olha ao redor, e não vê nada. Fecha o cadeado e vai na direção da casa.

4- PASSAGEM DE TEMPO

A lua cheia surge lentamente por trás dos galhos retorcidos das árvores. Em meio ao som dos grilos e dos bichos da noite.

5- INT. COZINHA DA FAZENDA – NOITE

CARLOS está fazendo batatas fritas. Ao lado dele uma travessa com dois bifes. No canto da cozinha, MARCELO de banho tomado, enfiado num pijama puído, termina de escrever no caderno os deveres da escola. O menino fecha o caderno e olha para o pai. CARLOS usa um avental ridículo cor de rosa com flores bordadas.

MARCELO

Bife de novo, pai? A gente só come bife desde…

 

MARCELO estanca. Fica em silêncio olhando para o pai. Carlos fica ali segurando a escumadeira em silêncio. Só se ouve o som das batatas na gordura.

 

CARLOS

Desculpa, filho. Eu não sou bom de cozinhar como a…

MARCELO

Tudo bem, pai. Eu estou com fome.

CARLOS se vira para a panela, ele continua a fritar as batatas. Disfarçadamente tenta limpar uma lágrima no canto do olho.

 

MARCELO

E o carro, pai?

CARLOS

Era a bateria. Toma. Pega o bife. Esse. O bem passado. Quer mais batata?

MARCELO olha para o lugar vazio na mesa e não diz nada. Eles comem em silêncio.

CARLOS

Quer mais batata? Come mais batata!

O menino recusa em silêncio. CARLOS tenta animar o garoto.

CARLOS

E o tal chupa cabras hein? Me conta. Você leva a serio mesmo? Eu não acredito.

MARCELO

Eu acredito, pai. Está atacando direto.

CARLOS

As pessoas estão ficando loucas!

MARCELO

Na TV mostrou as pegadas, pai. O bicho deixou pegadas na lama. Não é pé de cachorro.

CARLOS

Sei lá. Pra mim é cascata!

MARCELO

Mas pai…

CARLOS

Marcelo, tu nunca viu Scooby Doo? Não sabe que nego inventa essas merda de vampiro, fantasma, etê e o caralho a quatro pra comprar barato a propriedade?

MARCELO

O bicho atacou lá na Dona Dinorá. Ela disse que viu. Falou que era uma coisa assim igual o capeta.

CARLOS

O povo é trouxa, acreditam em tudo. Esses caras que roubam gado, devem matar ‘os bicho’ para criar o furdúncio. O povo pensa em sobrenatural e eles se safam.

MARCELO

Mas e os bicho ‘tudo morto’, tudo sem sangue? E os ‘cachorro’ que se escondem? Os ‘cachorro’ da dona Dinorá não afinam nem pra onça, pai!

CARLOS

Onça? Olha aí. Outra mentirosa. Que onça? Não tem onça por aqui desde que eu era do seu tamanho, rapaz! Pra mim é cascata. Bom… A conversa ta boa, mas já tá na hora de ir pra cama, rapaz. Amanhã tem aul…

A luz fraqueja, dá duas piscadas e então apaga.

 

MARCELO

Ué.

CARLOS

Porra! Blecaute?

MARCELO

Você pagou a conta, pai?

CARLOS

Claro. Não sei que merda é essa. Outro blecaute?

MARCELO

Será que vai voltar, pai?

CARLOS

Puta que o pariu! Fica aí. Vou pegar uma vela.

 

CARLOS vai na escuridão até uma gaveta e acende uma vela.

 

MARCELO

Será que volta ainda hoje, pai?

CARLOS

Quando eu era pequeno, a gente não tinha energia aqui na fazenda. Era assim mesmo. A gente fazia tudo assim, na luz de candieiro.

MARCELO

Devia ser ruim pra caceta.

CARLOS

Olha a boca!

MARCELO

Desculpa, pai.

CARLOS

Pode ser defeito lá na subestação. Se não voltar em meia hora, eu vou lá no barracão buscar uns lampiões de querosene.

MARCELO

Pai.

CARLOS

Que?

MARCELO

Eu sinto muita saudade da mamãe.

 

CARLOS olha para o filho. Ele bota a mão no ombro do garoto. Não diz nada.  O menino chora em silêncio. CARLOS abraça o garoto.

Um estranho RUÍDO ocorre lá fora e atrai a atenção deles.

 

MARCELO

Que isso, pai?

CARLOS

Não sei.

MARCELO

Tem alguém aí fora, pai.

 

CARLOS faz sinal de silêncio para o filho.

 

CARLOS

(Sussurra)

As lanternas!

CARLOS vai ate a cômoda. Saca um revólver enferrujado. Ele coloca munição no revólver. MARCELO abre o armário lateral. Mexe num monte de tralhas e pega duas lanternas. Testa e vendo que funcionam, entrega uma para o pai.

 

MARCELO

Ou. Não vai dar uma de maluco!

CARLOS

Vou botar ‘esses merda’ pra correr. Se roubarem a Bertulina a gente tá ferrado…

MARCELO

Mas pai… E se eles estiverem armados? O moço da televisão falou…

CARLOS

Calma filho. Pode ser um ladrão de galinha, ué. Relaxa. A gente dá um pro alto, eles saem batido.

 

CARLOS  vai ate a porta e destranca com cuidado. Ele tem a lanterna numa mão e o revólver na outra.

6- Ext. Patio da fazenda – noite

 

CARLOS e MARCELO trancam a casa e andam pela fazenda. Eles caminham pelos estábulos vazios, iluminando com a lanterna. Algo desconhecido passa correndo no primeiro plano. O SOM DAS PASSADAS NO MATO os atrai.

 

CARLOS

Ouviu? Tá vendo alguma coisa? Tá vendo?

MARCELO

Nada pai.

 

Eles continuam andando pelos locais da fazenda.

 

7- Ext. Estábulos da fazenda – noite

MARCELO vai com a lanterna, lentamente olhando as baias.  Ele escuta alguma coisa. Vai até uma baia. Olha bem de perto. Um porco projeta a cabeça pra fora do cercado e dá um susto nele. MARCELO cai sentado. CARLOS se aproxima pra ajudar o filho e eles escutam um som de porta batendo. É a porta do barracão de rações. CARLOS sinaliza para MARCELO a direção do barracão e eles se aproximam. Os dois se separam, tentando dar a volta no barracão.

MARCELO olha pela fresta de madeira, tentando ver que está escondido lá dentro. Ele tenta forçar a vista dentro do barracão escuro, e então, um olho bizarro amarelado aparece na greta. MARCELO grita e salta pra trás. A coisa abre a porta do barracão. MARCELO ilumina a porta e vê a horrorosa aparência do Chupacabras lentamente saindo por trás da porta. O monstro olha pra ele. Escancara um monte de dentes e agita as orelhas num sibilado estranho.
Uma mão puxa MARCELO. É CARLOS. Ele dispara a arma na direção da criatura e arrasta o filho pelo braço.

 

CARLOS

Corre, porra!

 

Ext. patio da fazenda – noite

Os dois correm na direção da casa grande. O monstro os persegue. Eles chegam ate a porta. Carlos se atrapalha com a chave.

 

MARCELO

Ele tá vindo! Ele tá vindo!

8- INT.  Casa da fazenda – noite

Pai e filho entram na casa e colocam a trava na porta. Em seguida, uma batida violeta atinge a madeira. Os dois se afastam aterrorizados. A coisa tenta forçar a porta. Do lado de fora saem URROS GORGOLEJANTES.

CARLOS se afasta e aponta a arma. MARCELO fica atrás do pai, abraçado.

A coisa para de forçar a porta. O BARULHO DO BICHO some.

Os dois ficam ali, apontando a arma para a porta, imóveis. Se entreolham.

 

MARCELO

Que-que-que que é aquilo, pai?

CARLOS

Eu não sei. Deve ser esse o tal capeta que a Dona Dinorá viu.

MARCELO

(sussurrando)

Será que ele foi embora?

 

Surge um SOM DE IMPACTO no telhado. Os dois se assustam. CARLOS ilumina o teto, movendo o facho de um lado para o outro.

 

CARLOS

O telhado.

MARCELO começa a chorar.

MARCELO

(fala baixo)

Pai ele vai entrar, ele vai pegar a gente!

 

CARLOS

Não. Calma. Calma. Eu tô aqui.

 

Carlos abraça o filho. O som do bicho raspando as telhas ecoa pela sala. Carlos faz um sinal e o filho o segue para o corredor.

 

9- INT. Quarto da Fazenda – Noite

 

CARLOS abre um antiquado armário e tira dali uma escopeta. Verifica se esta municiada.

 

CARLOS

Nós temos que sair. A gente corre até o carro.

MARCELO

O bicho tá la fora!

CARLOS

Se a gente for de lanterna apagada, ele não vai ver a gente. Ele vai ficar trancado dentro da casa.

MARCELO

Eu não quero, pai…

CARLOS

Escuta, meu filho escuta. Olha pra mim. MARCELO, olha pra mim! Escuta, filho, olha lá. Ou a gente foge agora ou daqui a pouco ele está aqui dentro com a gente!

 

MARCELO assente com a cabeça. Os dois saem do quarto.

 

10- Int. Sala da Fazenda – Noite

SOM DE UNHAS RASPANDO O FORRO

 

CARLOS

É ele! Chegou no forro! Essa é nossa chance!

 

CARLOS entrega o revólver na mão do menino e fica com a escopeta. CARLOS e o filho abrem com cuidado a porta. Eles correm para o lado de fora com as lanternas apagadas.

 

11- EXT. PÁTIO DA FAZENDA – NOITE

CARLOS e o filho trancam a porta da casa. Eles vão em direção à caminhonete. Enquanto eles correm, algo salta na frente deles.  MARCELO acende a lanterna. Ali está o chupa cabras. A criatura emite seu grito pavoroso e avança para saltar sobre o menino. CARLOS puxa o filho pelo colarinho da camisa e dispara a escopeta com uma mão só. A arma dispara numa explosão. O tiro atinge a cara do chupacabra. A criatura cai com o tiro.

 

12- EXT. PATIO DA FAZENDA – NOITE

CARLOS e o filho se aproximam segurando as lanternas. O menino aponta o revólver para a carcaça, trêmulo. A criatura jaz no chão com um buraco na cara ainda soltando fumaça. O menino tampa a boca com horror da visão. CARLOS escarra sobre a carcaça.

 

CARLOS

Acabou, meu filho! Acabou.

 

CARLOS se abraça com o menino em triunfo. Surgem outros sons da criatura. CARLOS olha para trás. MARCELO ilumina com a lanterna. Há uma dezena de chupacabras cercando os dois. Eles vêm se aproximando lentamente, saídos da escuridão.

 

Fade in

Gritos das criaturas em frenesi. O pai e o filho gritam desesperados.

 

ARTE Cartelas

“Mais de 5 mil animais apareceram mortos e sem sangue no Chile de 1998 a 2000. Estima-se que um número ainda maior de mortes esteja ocorrendo no Brasil. As autoridades não sabem como lidar com o fenômeno. 190 pessoas desaparecem por dia no Brasil. A maioria nunca é encontrada.”

CRÉDITOS FINAIS

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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