O experimento Carlson – Parte 26

Carlson fez menção de gritar, mas uma mão tampou sua boca no escuro. Atônito, ele se deu conta de que era ela. Era Petra.

-Shhhh! – Ela sussurrou – Quieto!

Morten praticamente não enxergava nada naquele tipo de greta sem luz. As rochas pretas também não ajudavam.  Eles ouviram quando a criatura passou. As batidas dos pés no chão de pedra eram cadenciados como um marchar. Conforme se afastava, Carlson sussurrou para Petra:

-Que porra foi essa?

-Eles… Eles estão aqui, Morten. – Ela disse.
-Eles quem? O que é isso que passou ali?
-Eu-Eu não sei… – Petra parecia confusa. – Ele tentou me pegar, mas corri e me escondi. Ele está me procurando.
Carlson notou que Petra estava sem o traje. Ela vestia apenas o macacão colante térmico que usava como uma segunda pele.

-Cadê o resto da sua roupa?
Ela não respondeu. Talvez estivesse também tentando descobrir a mesma coisa.

Petra tocou o braço de Carlson, e ele percebeu outra coisa estranha, a fratura tinha desaparecido. Morten se perguntou mentalmente como aquilo seria possível.
Petra se esgueirou apertando o corpo contra o corpo dele. Ela olhou para fora e sussurrou: – Vamos! Ele já foi.

Morten e Petra saíram da fenda entre os grandes blocos de rocha cúbica repletos de estranhas inscrições.  Carlson apontou na direção da grande escadaria que voltava para o salão anterior.

-Vamos voltar por ali.
-Você não está curioso para saber o que tem pra lá, do outro lado? – Petra perguntou.
-Eu não sei mas acho que essa coisa foi naquela direção, e algo me diz que não vamos gostar de encontrar com ele.
-Eu não vou durar nada lá fora sem o traje. – Ela disse.
-Precisamos achar ele. Pelo visto, aqui dentro também não vamos durar mais de uma noite.

Petra assentiu com a cabeça e os dois começaram a árdua tarefa de saltar sobre os degraus de pedra. Cada degrau media quase um metro de altura.

Após alguns minutos subindo, Petra agarrou o braço de Carlson e apontou. – Olha, olha ali! Ela mostrou, mas a princípio, Carlson não conseguiu ver o que a moça de cabelos verdes apontava.
-Hã?? O que?

-Ali, ali. – Ela dizia, apontando.
Carlson notou algo estranho num canto, entre montes de areia trazida elas fortes rajadas de vento.  Era algo brilhante e pequeno.

Os dois foram até o objeto. Carlson imediatamente reconheceu o que estava diante dele. Ele se abaixou e tirou o objeto da areia. Estava parcialmente destruído.
-É uma das esferas primordiais! – Petra exclamou, chocada.

Carlson concordou. Ele sabia bem o que era aquilo. Quando o centro de pesquisas do “buraco” começou a fazer os primeiros experimentos de transmissão, tentaram com sete esferas especiais transmissoras de radio. As duas primeiras foram trazidas de volta após alguns minutos. Elas coletaram dados básicos como a radiação, gravidade, gases e temperatura. Ao todo, foram enviadas doze esferas chamadas de esferas primordiais, que foram sendo gradualmente melhoradas com o tempo conforme conseguiam trazer mais dados. Mas estranhamente, nenhuma esfera foi capaz de gravar videos ou trazer fotografias, com exceção de uma única esfera, a numero oito, que conseguiu voltar com uma única foto analógica, mostrando o deserto plano, quase infinito de volta ao buraco.  Os dados eram apagados ou se danificavam as memórias. Das doze esferas primordiais apenas três desapareceram e nunca retornaram. E aquela era uma delas, a esfera nove. Ela estava fortemente amassada e arranhada em sua superfície de titânio, pintado de laranja.

-Como que isso veio parar aqui? – Carlson se perguntou avaliando a pequena bola, que tinha o tamanho de uma bola de baseball.

Petra deu de ombros. Só tinha ouvido falar das esferas primordiais.

-Se isso veio parar aqui, pode ser que acabemos encontrado o “Mr. Jix”.

-O macaco?

-Ué, sim, né?

-Eu esperava dar de cara com a carcaça dele quando fui transmitido… – Disse Carlson, jogando os restos da sonda terrestre no meio da areia.

Eles se viraram para voltar aos degraus e um arrepio tomou conta de Carlson. Petra ficou paralisada de terror ao dar de cara com o extraterrestre no alto da passagem, parado, olhando para eles.

Ali estava ele. Era um homem forte, como um verdadeiro gigante. Seu corpo era atlético. Ele estava vestindo um tipo de traje metalizado escuro aderido ao corpo, O traje descia até a cintura onde elementos de ouro sobressaíam. Dali para baixo a roupa descia como uma espécie de túnica solta, um estilo de “saião” antigo, aparentemente drapeado, mas com o mesmo material, que lembrava uma trama metálica apertada.  Seu tamanho podia ser descrito como tendo quase quatro metros de altura. Era assustadoramente forte, mas não como um fisiculturista. A sensação que ele transmitira era um ar solene. O gigante tinha uma barba grande, com um bigode comprido. A barba enorme e escura, levemente avermelhada se unia a uma vistosa cabeleira. Ele trazia um tipo de adorno na cabeça que descia até o dentro da testa entre os olhos.
Seu olhar era penetrante. Ele parecia muito humano, e se não fosse o tamanho descomunal, pareceria muito com a descrição de um rei babilônico. Mas ele não tinha uma cor de “gente”. Ele tinha uma coloração levemente alaranjada, quase lilás em algumas partes, ou pelo menos era como Morten Carlson conseguia ver do canto em que estava.

Ele estava parado, segurando o traje de uso externo de Petra. Os olhos enormes vidrados dos dois.
O gigante não falou, nem se moveu. Apenas olhava, estático, em um silêncio contido. Parecia intrigado e curioso com os dois.

Carlson sussurrou para Petra: – Shhh… Quando eu contar até três, vamos correr.

Os três ficaram ali por algum tempo, parados se examinando em silêncio.

O gigante então levantou lentamente sua mão aberta e pronunciou três palavras desconhecidas que soaram como

-“Undu idi Illumiut!”

Sua voz era extremamente grave e ecoou na enorme câmara de rochas.

Carlson olhou para Petra e ela também não sabia o que fazer.  Os dois estavam tremendo. Carlson estava ao mesmo tempo confuso, excitado e temeroso.
Ele baixou a cabeça, num tipo de reverência, então colocou o braço na mesma posição com a mão espalmada e tentou falar alguma coisa. Como não iria conseguir imitar o gigante, preferiu informar seu nome:
-Morten Carlson… Da Terra!

O ser gigante deu um passo atrás, espantado. Ele parecia muito intrigado. Até talvez um pouco irritado.

-Oh-oh… – Gemeu Petra – Acho que você falou alguma merda aí!

O gigante desceu um degrau, virando o corpo na direção deles, o que fez com que Carlson e Petra começassem a querer correr, mas o gigante novamente colocou sua mão na mesma posição, como mandando que eles parassem.

-Adiop idi Iluopte!

Carlson se colocou diante de Petra, para protegê-la.  Ela gemeu: – Ele esta vindo! Ele está vindo, Morten!

-Calma, Calma! – Carlson pedia, com as mãos espalmadas na direção do gigante.
O homem gigante se aproximou com cuidado. Eles agora estavam separados por uma distância de apenas sete metros. Ainda se olhavam mutuamente intrigados.
Carlson sorriu para o gigante, que manteve sua expressão contida e solene. O ser jogou o traje de proteção para Petra. O traje caiu quase aos pés de Morten.
Carlson lentamente abaixou-se, sem perder o contato visual e pegou o traje. Ele entregou para Petra, que começou a vestir a roupa.

-Será que ele é um nativo? – Perguntou Carlson.
-Não… Sei… – Ela disse, concentrada na roupa.

O Gigante estava intrigado com a conversa dos dois. Ele ficava olhando com aquele semblante sério.

-Petra, eu acho que ele é um explorador. Um explorador de outro mundo, como nós… – Morten gemeu para ela.
O Gigante se aproximou bem lentamente.
-Calma, calma, grandão! – Carlson pedia. O Gigante reproduziu os mesmos movimentos com as mãos, num tipo de comunicação primitiva.
-C´amma, c´mmaaa G´daoooo… – O gigante falou.
Petra notou: -Morten, ele esta te imitando… Ei o que você vai fazer, maluco?

Carlson andou até o gigante e estendeu a mão para o barbudo.
O gigante olhou desconfiado. Olhou ao redor. Parecia intrigado com aquele movimento.
-Cuidado Morten! – Petra sussurrou de trás dele.

Carlson pegou as próprias mãos e fez um aperto de mão no ar.  Depois estendeu a mão para um cumprimento na direção do gigante.
O gigante então estendeu também a mão enorme na direção dele. Era maior que uma raquete de tênis.
Carlson apertou a mão do gigante, com um sorriso.  – Então se virou para Petra: – Veja, ficamos amigos!

 

-Carlsoooon! – Petra gritou apavorada.

O gigante ergueu Morten no ar pelo braço e o lançou para cima. Carlson girou e bateu contra a parede, num choque violentíssimo.
Agora o enorme gigante de proporções titânicas avançou para cima de Petra, que tentou correr, mas a cada passo dele vencia uma distância enorme. Em um punhado de segundos ele agarrou petra pela cintura e a ergueu no ar.

Carlson estava ferido, sua testa sangrava profusamente e ele estava tonto. Assistiu do chão o gigante agarrando Petra e levando ela para fora do templo.

-Petraaaa! Petraaaa! – Carlson gemeu, mas não conseguiu nem se levantar.

Ele ouviu os gritos de desespero. Os pedidos de ajuda da jovem de cabelos verdes foram ficando cada vez mais distantes e abafados, até que ele perdeu os sentidos e desmaiou.

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. ÊÊÊÊÊÊ TREM!!!! Faz muito sentido o estranho ser outro explorador de fora do planeta. Eu tô com uma teoria de que, já que a Petra disse que quem era lançado do Buraco, também viajava no tempo, esse planeta seja a Terra num futuro bem distante, tipo, coisa de 1 bilhão de anos, para as constelações serem diferentes, o movimento do planeta entre dia e noite. etc…

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