Gringa – Parte 13

Alex se recuperou do susto. Notou que a gringa estava totalmente molhada. A camisa do Guns estava aderida em seu corpo. Seu cabelo molhado refletia o brilho do fogo. Ela estava ali, imóvel, certamente se aquecendo com o calor da fogueira. Alex notou que a gringa parecia mais amigável. Ele optou por não fazer movimentos bruscos, já que a mulher estava com os olhos fixos nele.
Se abaixou devagar e puxou a vareta com a batata. Estava assada. Alex cortou a batata quente e comeu um pedaço.

A Gringa ficou ali, apenas olhando com grande atenção.

Ele então, ofereceu a batata para ela mas a mulher pareceu se assustar quando Alex fez menção de ficar de pé.

Ele então preferiu fingir que ela não estava lá. Ficou comendo sua batata assada e bebendo uísque.  Alex notou o facão de abrir picada no mato enterrado no solo ao lado dela. A gringa estava andando armada. Parecia uma boa ideia não tentar uma “confraternização” forçada com a nova inquilina da ilha.

Alex baixou a cabeça, não olhou pra ela. Ele se levantou e pode sentir pelo movimento que ela fez o mesmo, na intenção de correr.

Ele então deu às costas para a gringa, e foi lá para dentro da casa. Pegou uma garrafa de água mineral e voltou. Encontrou a gringa examinando a batata. Ela deu um pulo para trás quando ele chegou na varanda e correu para o outro lado do fogo.

Alex então abriu a tampa da garrafa e estendeu a água pra ela. Ela ficou imóvel. Olhava fixamente para a garrafa.

-Ngx dnsjzcjz bjmjzbjg. – Ela disse.

Alex se espantou. Não entendeu nada que a bela mulher lhe dizia.

-Toma, é água. Água.

-Ahhhh. Ahhh? – Ela gemeu.

-Água. Pega. Pode pegar.

A mulher não se moveu.

Alex colocou a garrafa no chão e se afastou um pouco, sentando no mesmo lugar onde havia deixado seu uísque.

A gringa foi até a garrafa, ajoelhou no chão. Bebeu com grande vontade.

Alex s e espantou com a velocidade com o qual ela secou a garrafa Minalba.

-Porra… Tá com sede, hein garota?

Ela não disse nada. Deixou a garrafa vazia no chão e tornou a se sentar no mesmo lugar, ao lado do facão.

Alex olhou para o facão. Ele tinha medo da maluca do nada dar a louca e ataca-lo. A gringa já havia mostrado que “não era lá muito boa das ideias”, e por isso, ele resolveu que não convinha qualquer aproximação.

-Eu vou dormir. Boa noite, gringa.  – Ele disse.

Ela, obviamente não entendeu nada. Ela ficou apenas ali, olhando Alex se levantar e sair, sem olhar opara trás. Ele entrou na casa. Tirou o monte de tralha sobre o sofá. Pegou no quarto um dos travesseiros e jogou no sofá.

-Gringa? Gringa? – Ele chamou pela janela.

Ela estava lá ao lado do fogo. Sentada, olhando para ele.

Alex fez com as mãos juntas coladas ao rosto um sinal de dormir, fechando os olhos.

Ela parecia intrigada. Era como conversar com um animal.

Alex entrou no quarto iluminado pelo lampião à gás. Fechou a porta do cômodo e ficou observando pela greta.

Durante algum tempo não ocorreu nada na sala, em total penumbra, que era iluminada muito fracamente pela luz da fogueira lá fora.

Mas então, a figura dela apareceu na porta. Estava segurando o facão. Gringa olhou, olhou, e parecia estar procurando por ele.
Alex temeu que a doida o atacasse. Mas então ele viu a gringa se deitar no colchonete estendido sobre o sofá de alvenaria.

Alex, por via das dúvidas, pegou a arma na cadeira que estava diante da porta e colocou sob o travesseiro.

Deitou-se na cama, mas não iria dormir facilmente, pois a perspectiva da mulher esquisita armada bem ali do outro lado da porta, era algo ameaçador.

As horas foram passando… e depois de algum tempo a adrenalina já tinha baixado, o uísque cobrou seu preço e Alex apagou.

Ele acordou de supetão com o som da buzina lá em baixo.

“-É o Manel!”

O dia estava começando a raiar,  Alex abriu a janela do quarto e viu o céu alaranjado ao redor das copas das árvores.

Ele tirou a cadeira que reforçava a porta e saiu para a sala. Não havia nenhum sinal da gringa. Certamente ela tinha se assustado com a buzina e deu no pé para a mata.

Alex vestiu a camisa, os chinelos e foi lá pra fora escovar os dentes na varanda. O Manel buzinou novamente o barco lá em baixo.

Alex desceu e encontrou o pessoal descarregando o barco no Píer carcomido.

-Bom dia galera.

-Paz de Deus! … Ói! Essa joça ta cada vez pior, hein seu Alex?  – Disse Manel, passando pás e enxadas para um dos rapazes que estava de pé sobre o píer.

Eles eram dois garotos novos, com cerca de dezoito ou dezenove anos. Eram relativamente magros, mas notava-se já uma rigidez muscular e um tônus bem desenvolvido, de quem está acostumado ao trabalho pesado desde cedo.

-Deixa eu apresentar. Esse aqui é o Wilson e esse aqui é o Argemiro, mas todo mundo chama ele de “Miro”.

-Prazer.

-Satisfação.

-Olá, eu sou o Alex. O novo dono da ilha.

-Sim, estamos sabendo.

-Esses dois rapagão aí são os filho da minha irmã. – disse Manel dando um senhor tapão nas costas de Miro.

-Ei…

-Os muleque são bão de serviço, seu Alex. O senhor vai ver!

Tudo bem. Vamos subir então.

-Vamo. Pega aí, Miro… – Manel apontou um grande saco preto de coisas de mercado.

O outro agarrou as pás e enxadas. Manel  acabou de amarrar o barco no píer e pegou também umas duas picaretas. Alex pegou baldes e o saco de gelo.

-Ainda bem que você trouxe o gelo.

-Oxe… E eu ia esquecer o gelo como? Se eu trouxe a carne que o senhor pediu, não ia trazer gelo? Uai, sô.

Eles subiram a trilha, enquanto o tio ia dando instruções.

-Ó, depois ocêis vão pegar uma terra lá na obra e a gente vai trazer pra cá. Vamos fazer uma escadaria aqui, né seu Alex?

-Sim, porque isso quando chove…

-É uma lama desgraçada. Olha aí. Tem que limpar essas plantas aqui. Vamos precisar arrumar essa subida, a gente pega umas pedras e faz uns degrau primeiro, porque quando vier com os sacos de cimento para subir na trilha se ela tiver assim, eu acho que não vai dar não.

Antigamente tinha uns degraus aqui. – Disse um dos rapazes.

-Ué, você já veio aqui?- Indagou Alex, curioso.

-Já, quando eu era menino pequeno. – Disse Miro.

-O tempo e as chuvas devem ter comido a escadaria de pedra toda. As pedras devem ter descido lá pra água. Ficou só o lamaçal aí. – Disse Manel, cortando a conversa.

Eles foram até a casa, onde Alex preparou um café. Manel havia trazido uma mochila jeans toda surrada de onde tirou vários sacos plásticos com coisas dentro.

-Uai. Que isso?

-O senhor não repara não. A gente trouxe uns “pão com mortandela” para dar um reforço e aqui dentro estão as “nossa marmita”.

-Marmita?

-É, ué. – Disse Manel, tirando os pães e entregando aos meninos.

-Não precisa. Se eu pedi a carne para a gente comer um churrasco, rapaz.

-Ah, mas a gente não conta com o ovo na bunda da galinha, né seu Alex. Se for para comer churrasco, a gente come, nénão? – Perguntou o velho para os moleques. Eles concordaram mastigando com vigor os pães.

Após o café, todos se dirigiram para a área das obras, onde Alex começou a mostrar as coisas.
-O plano é a gente retomar de onde eles pararam. Esses sacos de cimento aí já se perderam, mas as pedras e a areia ainda dá pra usar.

-Eu vou encomendar, já falei com seu Evandro.

-Perfeito. Será que eles entregam aqui?

-Entregam sim senhor, mas eles não vão descer pra ilha, eles entregam lá no píer.

-Tudo bem. A gente sobe esses sacos. Mas essa parte da concretagem é um segundo momento. O que é mais importante da gente fazer agora vai ser terminar a limpeza das calhas de captação pela mata.

Isso o sinhor pódeixar com nóis! – Disse Miro, pegando uma enxada.

Manel mostrou no mato onde as calhas iam se espalhando.

-Vai subindo aqui, Miro, ó. Wilson, ocê vai por ali. Segue cada um por uma e a gente vai limpando…

Alex pegou uma das calhas e seguiu pela mata com ela.  Conforme ia capinando o interior das calhas ia pensando que agora com quatro braços fortes trabalhando, o serviço ia começar a render. Ele tinha gostado dos meninos e eles pareciam ter grande disposição física. Eram bem quietões, e trabalhavam duro. Alex observou da calha dele o tal Wilson metendo a picareta sem piedade, limpando as calhas. Era importante não apenas fazer a limpeza das calhas, mas também limpar cerca de meio metro ao redor delas, para que as folhas não fossem logo depositadas de volta no interior das mesmas. Os meninos trabalhavam rápido e como verdadeiras máquinas. Cortavam e cavavam a terra com uma energia tão brutal que espantou Alex.

“Eles são pelo menos três vezes mais rápidos que eu” – Pensou.

Alex seguiu no trabalho duro da limpeza enquanto ia pensando nos planos futuros. Os meninos do Manel haviam se provado muito eficientes e sem medo de trabalhar duro. Seriam uma mão de obra importante para ajudar na construção dos bangalôs da pousada.
Alex repassava mentalmente o plano de ação. Assim que finalizassem a limpeza das calhas de captação, iriam passar para a construção das caixas de acumulação.  O tempo estava ficando mais e mais quente conforme o dia ia avançando. Alex largou a enxada e desceu até a casa. Lá na casa, ele pegou as garrafas de água do isopor e levou para os garotos.

-Aí Miro. – Gritou, jogando a garrafa.  O moleque pegou a garrafa no ar com grande habilidade.

Alex consultou o relógio. Já ia dar onze e meia da manhã.

Ele viu Manel cavando lá e cima. Estava bem adiantado. Alex levou a água para Manel.

-Porra tu já tá ai?

-Aqui a gente pega firme, seu Alex. – Disse o velho, entre enxadadas nos detritos.

Bom, eu vou deixar vocês aí agora e vou lá preparar o churrasco.

-Sim sinhô. Deixa com a gente!

Alex desceu para a casa. No isopor cheio de gelo, ele pegou as carnes e levou para os fundos. Novamente, Manel havia esquecido o sal grosso e ele havia esquecido de lembrar.

Cortou grandes bifes grossos de contrafilé e temperou com o sal fino. Depois usou um chumaço de papel com óleo para acender o fogo.
Logo, a churrasqueira estava à pleno vapor. As carnes estalavam sob o fogo da churrasqueira. O cheiro delicioso do churrasco se espalhava no ar.

Alex foi até a casa e trouxe umas linguiças. Não eram muitas, mas dava para “fazer alguma graça”.
Ele abriu uma latinha de cerveja geladinha.

“O gelo é mesmo uma necessidade básica do ser humano”, pensou.
Jogou as linguiças na grelha. O relógio marcava meio dia e quarenta. As carnes foram saindo. Alex primeiro tratou de comer bastante, e só então chamou os rapazes.

Eles vieram brilhando de suor como duas grandes e esguias estátuas de bronze.
-Mete bronca aí! – Disse, apontando com a faca os pedaços de carne já cortados numa pequena montanha sobre a tábua de madeira.
Os meninos comiam com vontade. Manel chegou depois, suando também, com o chapéu de palha na cabeça.

-Minha parte já finalizei. – Disse, orgulhoso.

-Já? Tudo?

-Tudo sim senhor! Disse retirando o chapéu. Em seguida “ralhou” com Miro que estava comendo e usando o boné da Coca-Cola.

-Onde já se viu comer coberto, moleque?

Manel sentou pesadamente na banqueta de madeira que trazia consigo da varanda.

-Ô Glória! – Disse, quando Alex estendeu a latinha de Skol pra ele.

Os meninos, por sua vez, não bebiam por serem evangélicos. Mas bebiam água com vontade.

-E a moça, seu Alex? – Manel mastigava de boca aberta.

-A moça?

-É… A moça que apareceu.

-Ela estava aí ontem a noite. Apareceu quando eu fiz uma fogueira, mas ela se mete na mata e some.

Wilson começou a rir. Miro enfiou uma linguiça na boca e disse: -Eu não acredito.

-O menino acha que é fantasma. – Riu Manel.

-Seu Alex, tem gente que vê essas coisas, quando minha mãe era do mundo, ela via… Ia até em terreiro… – Completou Wilson.

-Não, não. Ela é gente viva mesmo. Eu e o Evandro encontramos ela toda machucada lá nas pedras. Achamos que ela tava morta, mas ela tava tipo assim… Desmaiada, sabe como é que é?

-Seu Evandro falou da moça. Ele disse que ela não fala nada da nossa língua.

-Sim… E tem mais, eu vou inclusive avisar vocês para ficarem ligados lá em cima no mato, hein? Ela fica andando por esses matos e ela já me roubou um facão. Ela é muito arredia e pode ser perigosa. A gente tem que ficar parado se ela aparecer. Não tentem falar com ela e nem vão na direção dela. É pra tratar a gringa igual como  se fosse um bicho. Viu, ela, deixa quieta, beleza?

Os garotos concordaram, incrédulos.

-Eu queria muito ver a tal moça, porque mesmo com o senhor e seu Evandro dizendo dela, eu ainda vou dizer que tenho dificuldade de acreditar que alguém ia aparecer aqui… Como? Nadando? – Perguntou o velho barqueiro.

-Nadando é impossível! – Riu Miro enquanto pegava mais carne.

-Às vezes um barco de gringo que virou.

-É… Sei lá.

-Eu só me pergunto o que ela está comendo, porque ela veio aqui, roubou o resto da carne. Mas depois ela estava aqui eu ofereci comida e ela não quis. Ela devia estar com fome, mas não comeu… Só aceitou água que bebeu com vontade. Ela tem uma sede que é impressionante.

-Bom… A prosa ta boa, mas eu já terminei a minha estrada. Ocêis dois podem tratar de “subir lá em cima” e começar a cavar a rua docêis!

Os rapazes enfiaram um monte de carnes na boca, e saíram mastigando para o mato.

Alex ficou com Manel em frente a churrasqueira tomando a cerveja.

-Os meninos são bons garotos.

-Muito bão. Eles são pedra noventa! O Miro quer casar, ta enrabichado já. O Wilson é mais paradão.

-Vou falar com o Evandro. Acho que podemos aproveitar eles, contratar os garotos para ficarem fixos na ilha. Vou precisar de um apoio aqui, até porque, logo vamos trazer um arquiteto e engenheiro para o projeto… Nem sempre vamos poder estar aqui direto.

-O bão é que são de confiança. Não mexem em nada. Uns meninos bão mesmo! Né porque é meu parente não, hein seu Alex? Esses eu boto a mão no fogo. Foram criados comigo igual que fosse filho.  Mas tem um negócio…

-O que?

-Esse pessoal aí não fica nessa ilha sozinho aqui nem a pau!

-Ué?!

-Medo do fantasma. Eles se cagam de medo! Foi um sacrifício convencer eles a virem. O povo lá sempre fala da ilha e dos fantasmas daqui. Então, não parece mas os dois tão ali se cagando de ver a tal muié. Achar alguém pra dormir aqui… Olha, vai ser penoso.

-Tô vendo, seu Manel.

-Bom, seu Alex, eu vou tirar uma pestaninha rapidinho ali. O senhor se incomoda? Depois de uma certa idade, a gente fica com essas mania. – O barqueiro, pegou o chapéu de palha do colo.

-Sem problema, Manel. Sem problema. Eu também acho que vou dar um cochilo.

Os dois foram para a varanda. Manel se jogou no chão de cimento. Cobriu a cara com o chapéu de palha e ali mesmo começou a roncar em menos de dez segundos.

Alex deitou-se no sofá da sala. A sala estava bem fresca e geladinha em comparação com o calor que a churrasqueira emanava.

Relaxou e deu um cochilo.

Acordou com movimento na sala. Era um dos rapazes entrando para buscar água.

Alex se levantou e olhou as horas. Eram quatro e meia.

-Opa. – Disse Miro carregando as garrafas.

-E aí? Como está lá?

-Já acabamo. – Ele disse.

-Hã? – Alex estava estarrecido. O plano era levar três dias só naquela limpeza. Havia estimado mal a capacidade de trabalho dos moleques.

Ele subiu para a mata com Miro. Chegando lá, encontrou Wilson e Manel varrendo as folhas com grande vigor. As canaletas estavam todas limpas, até lá em cima na parte alta.
-Que bom, que bom, ele disse, vendo o progresso do trabalho.

Seu Alex, amanhã a gente já pode começar a fazer a escavação e preparar a caixaria dos reservatório de passagem. – Disse Wilson, apontando uma área demarcada com quatro tocos no chão.

-Bom, muito bom!

-Seu Alex, a gente vai só terminar de varrer aqui e vamos pegar o barco. – Disse Manel, segurando a vassoura.

-Certo.

-Aí eu chegando lá, já vou encomendar os saco de cimento. A gente estimou uns seis sacos.

-Acho que para a cisterna vai ser mais.

-Vai sim, com certeza, mas a gente vai pegando de pouco em pouco. Amanhã já da pra trazer seis saco no barco. O lote da cisterna a gente encomenda e o Gil da loja, traz.

-Certo. E o pagamento? Acertaram com o Evandro?

-Seu Evandro ligou lá no banco e acertou tudo já. Não precisa se preocupar. – Disse o Velho.

Alex concordou. Pediu licença a eles e desceu para a casa. Ia preparar um novo café e fazer xixi, pois estava bem apertado.

Ele estava terminando de fazer o café quando os três apareceram, na varanda.

-Seu Alex. Tá tudo pronto. A gente já vai.

-Pera, toma um café.

-Não, não, precisa, seu Alex. Brigado.

-Para de bobagem, rapaz! Toma, pega esse café!  – Disse Alex, estendendo a caneca.

Miro pegou.

-Brigado.

Os três ficaram na varanda vendo o entardecer.

-Vai ser bão a gente dar uma força aí, porque a previsão avisou que é uma semana de tempo firme, mas pra semana, deve chover… Lá pela quinta. – Disse Manel, acendendo o cigarro.

-Ah é? Vai ser tempo bom até quinta que vem?

-Isso que eles dizem, né? Mas de vez em quando, erra. – Riu Miro.

-Ah, Manel, esqueci de perguntar… As baterias do celular?

-Ah, sim, elas estão ali na bolsinha da mochila! Já ia esquecendo, ó… – Disse, correndo até a sala. Na mesa, ele pegou a mochila jeans. Retirou duas baterias de celular.

-Tão carregadinhas já.

-Ah, ótimo. Tava com medo porque ela gasta muito quando fica procurando sinal.

-Aqui o sinal vareia demais. – Disse Wilson, olhando para os lados.

-Ele tá ficando nervoso. Ta com medo da muié fantasma. – Manel riu, apontando para Wilson.

-E Miro tá com medo da muié dele, a real lá na vila reclamar. – Disse Wilson.

-Ela não é fantasma, rapaz. Eu já disse.

-Bom, a prosa ta boa, mas a gente vai chegar, seu Alex. – Manel colocou a mochila nas costas e o chapéu de palha na cabeça. Os meninos ficaram de pé instantaneamente, como soldados.

-Tudo bem. Bom trabalho hein?  Brigadão pela ajuda! – Disse Alex, pegando as canecas vazias.

Os três desceram na direção da trilha do píer. Alex foi atrás.

Amanhã, assim que a gente chegar, a gente começa a preparação da escada aqui.

-Lembra de trazer o socador, tio. – Disse Wilson.

Eles pularam para dentro do barco e Manel desamarrou a corda;

-Bom, amanhã estamos aí, fica com Deus, seu Alex! Amanhã eu vou trazer mais um. Ele não veio hoje porque tá vindo de outra obra. Esse é pedreiro bão.

-Mais um sobrinho?

-Não, não. Esse é amigo. Um vizinho nosso.

-Ah, tá. Boa viagem!

-Fica com Deus!

Alex acenou e o barquinho logo ganhava distância. Ele estava sozinho na ilha novamente.  A tarde pintava o céu de vários tons de azul e a água do mar estava mais escura, prenunciando a chegada da noite.

Então, na água, bem na frente de Alex, lentamente subiu uma cabeça. Alex tomou um susto, achou que fosse uma das mortas, mas então ele olhou bem e viu que era a Gringa. Ela estava saindo do fundo da água, e parecia sorrir para ele.

Alex estava com o coração acelerado. Mas sorriu de volta, levantando o braço num aceno pra ela.

Ela fez um sinal como que quisesse que ele pulasse na água, mas Alex relutou. Achou melhor não dar muita trela. Acenou novamente e sumiu pela trilha, na direção da casa. A gringa ficou na água, olhando para ele, e então submergiu, num mergulho.

Alex sentiu que estava fedendo. Havia suado muito e seu suor parecia defumado no churrasco.

Pegou o galão de água, o shampoo e sabonete. Tirou a roupa ali mesmo na varanda e começou a se lavar.
Alex estava tomando banho, todo ensaboado quando deu de cara com a Gringa lá na saída da trilha. Ela também estava nua e olhava para ele com curiosidade.
Alex se sentiu envergonhado. Ele tratou de jogar a água no corpo para retirar o sabão. Agarrou a toalha e vestiu na cintura.
A moça passou reto, subindo pela grama e entrando na mata. Alex viu a jovem sumir entre as folhagens. Em seguida, ele se secou e vestiu uma cueca e bermuda limpas. Foi até a cozinha e pegou mais um pouco do resto de café do caneco.

Abriu um pacote de bolachas e ficou comendo na varanda.  Então, a Gringa tornou a aparecer. Agora estava de novo com a camisa do Guns N´Roses de Evandro.

Ela sentou na beira da varanda, olhando para Alex. Sempre parecia manter uns dois metros de distância, com medo.
Alex mostrou o pacote de biscoito.

-Quer?

Ela ficou olhando.

-Quer ou não quer?

A moça olhava os biscotos com avidez. Estava claro que queria.

-Toma, vem pegar. – Disse Alex, estendendo o pacote para ela.

A Gringa parecia indecisa, não sabia se pegava ou não.

-Vai, pega!  – Alex sacudiu o pacote na direção dela.

A gringa estendendo o braço e agarrou o pacote.

Agora ela comia com avidez. Parecia estar com muita fome e enfiava os biscoitos na boca mastigando com força, de forma selvagem.

-Bom, né? – Disse Alex sorrindo.

Ele foi estendendo a caneca de café. -Quer café?

-Mgsmkfmgs ckgcjzmkcjnmh mjscjz i bmjg nhmjnmh a jzljdncjzjn! – Ela disse.

Alex obviamente não entendeu nada, mas se lembrou de Maitê falando com o coreano escroto.

Alex então entrou na casa, pegou uma garrafa de água mineral na pia e estendeu para a gringa.

-Aaaaah. – Ela disse.

-Sim, sim água! Água!

-Aaaaa… guuu…aaaaa… – Ela balbuciou.

Ela agora se aproximou com mais confiança e pegou a garrafa da mão de Alex com cuidado. Bebeu sofregamente.

-Tá sempre com sede, né gringa? – Alex sorriu. Ela contorceu o rosto num tipo curioso e sorriso forçado.

-Mgsmk f mgsckgcjz! – Ela disse. Pareceu a Alex que estava agradecendo a hospitalidade.

Alex foi até o quarto e guardou as roupas numa sacola de roupas sujas. Quando voltou para a sala, Gringa tinha desaparecido da varanda. Não havia mais sinal dela. A garrafa e o resto do pacote de biscoitos estavam no chão, junto à janela.

“Ela some com a mesma facilidade com que aparece” – Alex pensou.

Mas ele estava satisfeito. Estava lentamente domesticando a Gringa. Ela parecia estar ganhando confiança. A tática de não ficar dando muita trela pra moça dava a ela um pouco de confiança nele.

O rapaz olhou da varanda.  O mar lá em baixo já estava bem escuro, batendo no costão. O vento mais forte da noite soprava do continente, prenunciando uma noite mais fria. Alex viu pela primeira vez o contorno na lua crescente no céu. Era um alento para as noites de insondável escuridão da lua nova. A lua era ainda apenas um contorno fino no céu, como um anzol brilhante e gigante, suspenso no ar.

Já estava tudo escuro quando Alex resolveu fazer a fogueira anti-pernilongos. Eles agora eram bem menos que nos primeiros dias, possivelmente um efeito positivo da grande limpeza do matagal que promoveram na ilha.

Alex montou o arranjo de galhos e tacou fogo. Minutos depois, a fogueira tinha ganhado vida novamente. Alex se sentou perto das chamas e olhou para a mata.

“Será que ela vem?” – Se perguntou.  Mas a gringa não apareceu.

Ele então seguiu para a cozinha. Acendeu o lampião de gás que iluminou toda a sala. Foi no quarto dos bagulhos que servia como despensa e pegou um pacote de miojo. Estava com bastante fome, talvez pelo trabalho duro do dia. Alex estranhou a fome, pois geralmente, quando comia churrasco acabava tão enfastiado que não conseguia sequer pensar em comida.

Jogou logo dois pacotes de macarrão na água da panelinha e ligou o fogareiro.
Enquanto o fogareiro aquecia, ele pegou uma revista velha para ler as notícias.  Era uma revista de viagem toda mofada. O ano era 1986 e a revista trazia novidades de voos da Pan Am. Havia na revista diversas propagandas interessantes, como uma que era apenas a foto de um cubo de gelo pegando fogo. Em letras garrafais em cima, se lia: “FIEBRE EN EL CARIBE”! Tratava-se de uma propaganda de cassinos da Concorde Hotels International. Outras propagandas falavam de circuitos andinos, “voe através dos Estados Unidos por 237 dólares” e “Abreutur leva sua família para a Disney nas férias de 86/87 por apenas 550 dólares por pessoa”, Dineyworold e Epcot Center, com várias saídas por semana.”

O miojo sabor galinha estava pronto. Alex levou lá pra fora na panela mesmo. Pegou uma das latinhas no isopor de gelo e foi comer perto do fogo.

A gringa estava lá. O cabelo molhado de sempre, sentada perto do fogo, como na noite anterior. Ela sorriu quando Alex apareceu na varanda com a panela na mão.

-Olha quem está aí! – Ele disse.

A Gringa ficou lá, observando Alex. Ele se sentou no lugar de sempre, colocou a panela no chão e abriu a lata de cerveja.

Ele pegou o garfo e começou a comer o macarrão. A gringa parecia confusa com o que via.

-E aí? Tá afim? – O atlético rapaz perguntou, mostrando o macarrão pra ela.

– ljdn cjztjn… – Ela disse.

-Macarrão. Ma-car-rão. – ele repetiu.

Ela estava intrigada.

Alex então esticou a panela e colocou de lado.

A Gringa se levantou e foi até a panela. Meteu a mão dentro e se queimou.  Ela assustou e arregalou os olhos.

-Cuidado, está quente! Tem que usar o garfo. – Ele disse, apontando o utensílio, mas não adiantou nada.

A gringa meteu a mão no macarrão quente mesmo e levou a boca. Comeu e o caldo do macarrão escorreu pelo queixo dela. Ela parecia estar gostando muito.

Alex ficou ali, observando a Gringa comer miojo. Ela comeu mais algumas mãozadas de macarrão e então se levantou e sentou-se ao lado de Alex. Ele evitou fazer movimentos bruscos. A Gringa passou a panelinha pra ele comer.

Alex sorriu pra ela, e meteu a mão na panela e comeu com a mão também. Ele tomou um gole de cerveja e ela ficou olhando. Alex ofereceu cerveja pra ela mas ela fez uma cara estranha quando se aproximou da lata.

-Não gostou do cheiro? Tudo bem. – Alex riu.

A gringa simplesmente se encostou em Alex, jogando o peso dela em cima dele. Ela deitou a cabeça no ombro dele e ficou ali olhando o fogo.

Alex estava mais ou menos num choque. Ao que parecia, ele havia conquistado de vez a confiança da gringa arredia.

Nessa hora, algo estranho aconteceu. A moça passou a mão nas pernas de Alex, acariciando suas coxas sobre a bermuda. Ele imediatamente começou a sentir um tesão inexplicável pela gringa.  Ela foi subindo a mão pelas coxas dele, em direção ao sexo.
Alex sentiu que aquilo estava indo rápido demais. Era melhor ir com calma.
Ele tirou a mão dela com cuidado do membro dele e se levantou.
Seguiu para a casa. Abriu a porta e apontou lá pra dentro. A gringa parecia desapontada, olhando para ele por cima do ombro.
Alex entrou na casa chegou na janela que dava para o quintal e apontou o colchonete.
Ele enfim, desligou o lampião e foi para o quarto. Fechou a porta e deitou-se na cama. Ainda era cedo, ele nem estava com sono, pois havia ido dormir de tarde, mas a situação com a gringa tinha ficada estranha lá fora. Ela era muito inocente. Fazer sexo com aquela mulher, apesar dela ser absolutamente estonteante, era estranho e lhe pareceu errado.

No escuro, Alex ficou pensando na gringa e as memórias de seu passado retornaram para lhe assombrar.

Lembrou da vez que ficou preso no elevador, em completa escuridão. Era uma reunião às oito da noite na sala de Plínio, no alto de um dos prédios mais altos do Rio, o Edifício Santos Dumont. Os dois irmãos problemáticos estariam lá para negociar uma participação nas fazendas super boi.
Alex havia passado na casa de Maitê para dar uma carona pra ela. O encontro se deu no dia seguinte daquela dispensada triste na noite do jantar com os coreanos no Copa.
No caminho da reunião, Maitê pouco falava. Estava como que num transe, olhando a cidade. A Ferrari era um ímã de olhares e isso a incomodava um pouco, por seu tamanho e beleza serem também ímã de olhares, alguns indiscretos, com o qual ela teve que aprender a lidar muito cedo. Era desagradável.
-Tá triste?

-Não. – Ela respondeu. Lacônica.

-Tá brava?

-Não.

-Tá o que então?

-Tô sem graça de estar aqui nesse carro. Todo mundo fica olhando, me sinto uma “Maria chuteira”.

Alex riu. – Mas eu nem jogo futebol, ué.

-Ninguém sabe. Todo mundo acha que só jogador presepa por aí com carro assim. Não me sinto bem. Devia ter ido num taxi. – Ela disse, cruzando os braços.

Eles chegaram em silêncio no prédio. Entraram no saguão e o elevador estava esperando por eles.

Assim que o elevador começou a subir, teve um problema. Eles escutaram um som como um “tuuuuuuummmmmm”.

E então tudo se apagou.

-Ai merda, o que foi isso? – A ruiva perguntou.

-Ih, apagão de novo.

-Maldito apagão. Puts, estamos atrasados para a reunião.

-O botão de emergência não funciona.

O tempo foi passando e os dois no escuro. Logo, Alex estava sentado em completa escuridão, ao lado de Maitê. Ele tirou o paletó e dobrou as mangas da camisa.

-O lado bom é não ter que encontrar aqueles dois coreanos.

-Ah, isso e verdade, Deus me livre, gente. Ninguém merece. – Ela disse, arfando de calor.

-Está quente, né?

-Sim.

-Alex?

-Fala.

-Eu estou pra te perguntar uma coisa, mas não fala se não quiser.

-Beleza.  Pergunta aí.

-No dia do lançamento, de noite quando saímos da festa, você disse que estava preocupado, mas não disse mais nada. O que você tinha? Estava com vergonha de mim?

-O que? – Alex deu uma gargalhada que ecoou no elevador. – Eu não tenho nenhuma vergonha de você, tá doida? Eu acho você maravilhosa. Eu, por mim, botava você numa redoma para só ficar admirando.

Maitê deu um soco no ombro de Alex. – Bobo!

-É sério. Na verdade, bem… É meio complicado.

-Se não quiser falar, não fala. Tudo bem. Tem outra mulher na jogada, né?

-Não, não. Antes fosse. A real é que você lembra que eu estava conversando com aquele coroa?

-Aquele velho que quase enfiou a cabeça no meio dos meus peitos? Claro. Como esquecer?

-Eu era da polícia.

-Polícia?

-Era. Eu era um PM.

-Polícia militar? Você era meganha? Sério?

-Sério. E não me orgulho.

-E o velho?

-Ele era meu comandante no batalhão.

-Ah…

-Ele é o tipo de pessoa mais detestável que uma pessoa pode conhecer.

-Parece mesmo.

-Não, você não está entendendo. Eu digo que ele é praticamente o diabo em pessoa…

-E?

-E eu dei um golpe nele.

-Golpe?

-É uma longa história. Ele tem vários “negócios” com o crime. Coleta dinheiro nos morros, ele tem uma rede de maquinas de caça níqueis, está metido com jogo do bicho, e cobra para as pessoas comprarem gás lá onde ele mora, em Curicica.

-Filho da puta.

-Pois é. Ele é muito perigoso, manda matar qualquer um que contrarie os planos dele. Ele já tem um monte de morte nas costas. Naquela época eu estava numa merda, minha mulher tinha me abandonado, eu estava morando num morro. Não tinha como pagar aluguel. E ele estava me usando para fazer trabalho sujo, recolher grana de vagabundo…

-Meu Deus, Alex. E aí?

-Bom, aí eu saí da polícia, tentei trabalhar de segurança, mas a crise é foda. Eu não consegui nada. Tava quase passando fome quando planejei um golpe num cassino clandestino que ele era sócio lá na Avenida Brasil, perto de Ramos.

-Um golpe?

-Podemos dizer que sim. Eu fui lá como se fosse recolher o dinheiro dele, como eu sempre fazia…Mas aí…

-Aí o que?

-Aí o plano começou a dar errado. Os seguranças lá desconfiaram porque fui sem ele avisar. Eu não sabia que ele avisava.  Eu ia só pegar o dinheiro e fugir pra Minas.

-Minas Gerais?

-Isso. Eu ia pegar a grana e dar no pé, mas então eu precisei agir ou iam me matar, com certeza.

-E aí?

-Aí que eu passei fogo neles todos antes. É como dizem na PM: “Antes a mãe deles chorando que a minha”.

-Meu Deus, Alex!

-Eu matei os seguranças e coloquei os clientes para fugir. Eles fugiram desesperados achando que iam ser presos. O negócio funcionava nos fundos de um desmanche. Eu peguei combustível e espalhei em tudo e tasquei fogo! Mas antes, eu tirei dois milhões de reais do cofre.

-Dois milhões??  – Ela estava em choque. Se não fosse a escuridão completa no interior do elevador, Alex poderia ver os olhos verdes arregalados.

Eu fugi, mas fugi para Cabo Frio. Fiquei fora do radar um ano e meio, até que naquela noite do evento, eu dei a sorte do lazarento estar lá. Ele me viu, viu o Doutor Plínio me apresentar como sócio idealizador das fazendas Super boi. Aí ele ligou um mais um… Tava óbvio.

-Puta que pariu, Alex. E se ele vier atrás de você?

-Ele vai, com certeza. Eu não sei… Estou pensando em partir. Ontem a noite voltei para casa e pensei nisso, decidi que vou pedir ao Plínio para ele pagar um curso de inglês nos Estados Unidos. Vou ficar aí uns cinco anos fora do Rio.

-E o Plínio sabe dessa história Alex?

-Ele sabe uma parte. Mas sempre que eu tento contar, ele diz que não quer saber. Ele não liga. Eu disse que fiz uma coisa errada e ele morreu de rir e disse que ele faz coisa errada que ninguém fica sabendo todo dia e nem por isso ele sai contando pra ninguém… Por isso, acho melhor sair do rio. Dar um tempo, deixar a poeira baixar.

Maitê ficou em silêncio, pensativa. Depois ela rompeu o silêncio com uma confissão. -Pensei em você a noite toda. – Ela disse, para espanto de Alex.

-É mesmo? Eu fui dormir triste também. Não esperava um tratamento tão frio ontem.

-Eu sei. Não estava no clima. As coisas estavam complicadas na minha cabeça.

-Na minha também.

-Eu penso em você o tempo todo, Alex.

-Por que a gente não fica junto de vez então?

-É… complicado. Não é que eu não queira, Alex… mas eu preciso de um tempo para colocar a cabeça no lugar. Eu não quero entrar numa aventura e me frustrar de novo…

Alex puxou o rosto de Maitê e a beijou.

Eles começaram a se beijar loucamente. Se atracaram no chão do elevador.

Zuuuuuuuuummmmmm…..

-Ah, merda.

-Ah não… Rápido. Rápido. Vem, levanta.

A luz voltou inesperadamente. Os dois se assustaram. Ficaram de pé. Maitê tentava arrumar a roupa e limpar o batom borrado no espelho. Alex pegou um lenço e tentou se limpar.
Quando a porta do elevador se abriu eles saíram, meio amassados e suados.

Lá fora, a secretária se espantou.

-Ficou sem luz, seu Alex.

-É… Nós percebemos.

-Seu Plínio e os coreanos estão na sala dois. – A secretária disse, apontando o corredor.

Dias depois, Alex estava seguindo de carro para uma reunião no condomínio resort de Búzios, quando ao passar em São Gonçalo, um carro de polícia cortou o carro dele e o fechou.
Minutos depois, um carro branco parou na pista em sentido contrário.

O carro da polícia tinha três PMs. Um só desceu e foi até o vidro.

-Boa noite. Documento e habilitação, por favor.

Alex pegou os documentos e entregou ao policial. Ele conferiu. -Faça o favor de me acompanhar.

-Alguma coisa errada?

-Por favor, saia do veículo, senhor. Preciso que o senhor me acompanhe aqui atrás do veículo. Tem uma coisa errada no seu carro.

Alex saiu do carro e foi com o policial atrás da Ferrari,  já imaginando que ele queria dinheiro por uma lanterna queimada, algo assim.  Ali, o agente da lei sacou uma pistola 9mm e colocou na cintura de Alex. Então o policial falou baixinho:

-Aí… Se liga. Não quero te matar e você não quer morrer. Tô vendo que tu é um sujeito safo. Tô certo ou não tô?

-Opa.

-Vai ali do outro lado da pista. Você vai entrar ali naquele carro branco do acostamento, ó. Um amigo meu quer falar contigo. Não vai inventar papagaiada que vai ficar ruim pra você. Tu entendeu?

-Entendi.

-Então vai de boa. Eu cuido do carro. A chave ta ali?

-Tá sim.

-Tudo bem. Vai lá.

O policial fechou o trânsito na estrada mandando os carros que vinham pararem.

Alex atravessou as pistas e a porta do carro branco se abriu. Alex entrou e ali estavam dois caras que ele não sabia quem eram.

-Entra, maluco. Senta aí. – Um deles disse, com uma pistola na mão.

Alex sentou, já imaginando o pior.

-Vai, toca, Macuco!

O tal Macuco acelerou o carro e agora eles estavam seguindo pela estrada em sentido São Gonçalo. O  carro fez uma entrada na altura do bairro do Gradim, e dali de dentro começou a pegar uma sucessão de ruas diversas.
Dentro do carro, ninguém falava nada. Mas estava tocando um samba do Zeca Pagodinho.

“Se alguém por mim perguntar, diga que só vou voltar, quando eu me encontrar…” – A musica do Zeca, uma versão do samba de Candeia, parecia terrivelmente mal colocado naquela situação.

Eles chegaram numa casa de muro alto. O Macuco buzinou e um portão se abriu. O carro entrou e Alex ouviu o portão fechando. Já estava de noite lá fora.

Os homens tiraram Alex e levaram para uma sala. Era uma casa suja, aparentemente vazia. Havia uns moveis velhos e quebrados. Alex foi sentado numa cadeira no centro da sala, e os quatro homens ficaram em pé ao redor.

Então, uma porta se abriu e apareceu o Teixeira, falando num celular Motorola antiquado. Alex levantou-se para cumprimentar o comandante, mas o tal Macuco sentou ele de novo.

-Senta aí, rapaz! Não mandamos levantar.

-…Beijo, meu amor. –  Disse Teixeira no celular, quase sussurrando. Depois desligou e pegou uma cadeira de bar e sentou diante de Alex.

-E aí, meu garoto? Como você está, onze e meia? Finalmente nos encontramos de novo, não é mesmo?

Alex não disse nada, apenas olhou para baixo e confirmou suas piores expectativas. Era seu derradeiro fim nas mãos do poder paralelo do Rio.

-E aí? O gato comeu sua língua, Onze e meia? – O comandante perguntou. – Lá no evento do boi você estava tão falante, agora está tão quieto… Diga-me, pelo menos tu comeu aquela gostosa do cabelão vermelho?

Alex preferiu se manter em silêncio. Olhou no fundo dos olhos pretos de Teixeira.

O Teixeira olhou para os homens ao redor e disse: -Ele está tímido, pessoal. Vamos ajudar ele a se soltar.

Uma sucessão de porradas começou. Alex foi atingido na nuca por um socão, e depois alguém o acertou na barriga. Ele caiu no chão e o tal Macuco encheu o pé e lhe deu um chute na boca do estômago.

Alex cuspiu sangue no chão.

Os homens o levantaram e o sentaram na cadeira de novo.

-Essa foi só pra aquecer. – Disse Teixeira, sorrindo maliciosamente.  – Vamos conversar uma boa, de home pra homem, sem esculacho desnecessário.

-Tudo… Bem… -Alex, cuspiu sangue no chão.

-A pergunta é bem simples. Basta você responder que a gente te libera. A pergunta é: “Cadê o meu dinheiro, playboy?”

-Que dinheiro?

-Resposta errada! – Ele disse, sinalizando para que os homens metessem mais porrada. Dessa vez, pegaram pesado e socaram Alex tão forte que ele apagou.

O jovem acordou amarrado na cadeira. Os homens estavam sentados há uns três metros, ouvindo um jogo de futebol num radinho.  Um deles viu que Alex estava levantando a cabeça e avisou aos comparsas.

Logo, ele estava cercado novamente.

Alex sentia dores terríveis na perna. Olhou pra baixo e viu a perna torta. Ela doía muito e talvez estivesse fraturada. Ele gemeu de dores horríveis. Sua garganta latejava.

O tal Macuco disse a ele que o comandante tinha saído para jantar mas que “já ia voltar”.

Os homens deram água para Alex, mas a agua tinha gosto ruim. Alex temeu que estivesse envenenada e cuspiu.  Isso deixou o tal Macuco bem chateado, ele descontou sua frustração dando um sonoro tapa na cara de Alex, que viu tudo rodando e quase tombou com cadeira e tudo.

-Goool! – Eles gritaram. O Flamengo estava ganhando. Os homens pareciam mais felizes. – Dois Flamengo, zero Vasco…- O locutor do  Radio dizia.

Um dos carinhas chegou e disse, ao pé do ouvido dele.

-Aí, otário, eu estou perdendo o jogo do Flamengo por sua causa, seu merda. Seguinte. Fala logo essa bosta que o comandante quer. Você vai morrer de qualquer jeito, otário. Mas eu pelo menos posso ver o final do segundo tempo lá fora, no bar.

Alex baixou a cabeça, concordando.

Minutos depois, o portão se abriu e Alex ouviu o som de um carro entrando. Era o comandante Teixeira com duas caixas de pizza. Ele estendeu as caixas tamanho família para os homens, que se juntaram perto do radinho comendo as fatias,
-Tá servido? – Teixeira perguntou, segurando um pedaço de pizza portuguesa no ar.

-Obrigado. – Alex agradeceu, com a boca cheia de sangue. Seu olho não enxergava direito devido a um hematoma e o supercílio sangrava como uma cascata, pingando e desenhando bolotinhas vermelhas no piso de lajota sujo.

Teixeira pegou a cadeira de bar toda carcomida e sentou-se na frente de Alex.

-Começamos com o pé esquerdo, meu querido onze e meia. Vamos devagar, passo a passo que a gente chega lá. Eu sei que foi você.

-Alex tentou sorrir. Seu nariz sangrava.

-Foi um bom trabalho. Não vou negar, onze e meia. Botar fogo em tudo carbonizou a galera e complicou bastante as investigações. Parabéns. Eu tenho duas dúvidas. Uma é: Quem agiu contigo. E a segunda é a que eu já fiz. Cadê o meu dinheiro nessa porra, seu puto!  – Teixeira esmagou o rosto de Alex, e virou-o para cima.

Alex tossiu, escarrou sangue e disse. – Eu pensei tudo sozinho. Fiz tudo sozinho, senhor.

-Sozinho? Não sei porque eu não consigo acreditar. Tudo passou fogo em geral no lobo solitário?

-Eles eram… ruins de tiro, senhor. Muito ruins. – Alex sorriu.

Alex levou outro tapão na cara.

-Tá. Você acho que não entendeu. Vamos de novo: Era você e mais quem nessa operação? Quem era o mandante?

-Mandante? Não teve mandante. Eu cansei de ser pobre, senhor. Tava devendo, tava fodido de dinheiro, minha mulher me abandonou eu fiquei puto… Aí fiz uma besteira.

Os homens começaram a rir. Estava no intervalo do primeiro tempo com o Flamengo metendo dois a zero no Vasco. Todos pareciam animados e havia uma cervejinha rolando perto das pizzas ao redor do radinho que ecoava na sala da casa abandonada. Alex calculou que já era perto das dez da noite a julgar pela hora do jogo. Naquela hora, certamente já tinham dado falta dele na Reunião.

Teixeira se sentou novamente.

-Vamos dizer que eu acredite nessa historinha bonitinha que você virou o Rambo porque estava duro. Posso até aceitar, porque já se vê que burro você não é, apesar de ter essa cara de burro, que você sempre teve. Um soldado merda igual você não fica socio de um dos caras mais ricos do Rio do nada. Já se vê que você é bem saidinho.  O papo é o seguinte. Eu sou um homem de negócios, e homens de negócios fazem o que? Negócios, isso mesmo, otário. Negócios! Vamos fazer um bom negócio agora. Quanto você acha que vale sua vida?

Alex deu de ombros. Não sabia.

-Não me faça ficar puto que você não vai gostar, onze e meia.  Sua vida vale exatamente todo seu dinheiro. Ela vale tudo, 100%. Pra que você vai querer dinheiro? Pra gastar no inferno?
Alex estava tremendo estava mortificado. Ele sabia que o que o capanga tinha dito era verdade. Ele ia sair dali morto de qualquer maneira. Pensou que a única forma talvez fosse ganhar tempo.

-Eu conto. – Ele disse.

Imediatamente a expressão carrancuda de Teixeira mudou para uma expressão mais doce e amigável, mas que de uma certa forma era ainda mais assustadora.

-Ah… Já se vê que estamos aqui com um  homem de negócios. Ninguém está livre de errar, viu, garoto? Tudo bem, tudo bem. – Disse, arrumando a camisa dele. –  Sabe, eu nem preciso desse dinheiro. Mas não fica bem um garoto do meu batalhão me dar essa passada de mão na bunda assim e ficar por isso mesmo. Não pode, não dá. Não dá. Um homem tem que ter a credibilidade, a honra. Vamos lá. Conta aí, cadê o dinheiro do pai?

-Eu… deixei com o Plínio. Ele investiu uma parte e a outra eu comprei a Ferrari.

-Ah… A Ferrari. Beleza. Isso a gente resolve. Eu gosto da Ferrari. Você passa pro meu nome e fechou.  Vai ficar bonita na garagem não vai gente?

-Vai sim senhor.

-Carreta arrumada!   – Eles disseram, mastigando a pizza.
-Mas e a grana, onze e meia? Como que a gente faz com o resto da grana?

-Eu posso falar com o Plínio. -Ele disse.

-Ah, mas aí tu me complica, onze e meia, porque eu preciso pegar essa grana logo, tá ligado?

Nisso, o telefone de Teixeira tocou. Ele foi até o balcão de mármore na cozinha e pegou o telefone. Colocou no ouvido e ficou escutando.

-Ele. Isso. Sim… – Disse, indo para um dos quartos. A porta bateu como uma explosão ecoando na sala.

O segundo tempo do jogo tinha começado e os capangas estavam animados ouvindo a partida.

Teixeira ficou pelo menos uns dez minutos no quarto. Enquanto isso, Alex ficou ali, amarrado na cadeira, pensando e algum argumento para ganhar tempo. Tinha sido uma boa ideia atrelar o dinheiro ao milionário e a sua conexão com ele, pois assim, se ele fosse assassinado Teixeira perderia a chance de reaver o montante.

Então a porta se abriu. Teixeira saiu.

-Aqui… Mudança de planos. – Ele anunciou.  Os homens pareciam intrigados.

-O doutor Plínio “comprou o passe” do nosso jogador. – Ele disse, sorrindo.

Os homens levantaram Alex, mas ele não conseguia ficar em pé devido ao ferimento na perna.
-Bota ele no carro e vamos. – Disse o comandante.

Os homens jogaram Alex no porta-malas. Ele sentia dores horríveis. A mala bateu e agora ele estava em total escuridão.

Os homens saíram com o carro, e pareciam estar dirigindo feito loucos. O som era abafado dentro do porta-malas e ele não entendia o que os  homens estavam falando. O som do show do Zeca Pagodinho estava tocando em alto volume, o que complicava entender o que se dizia no carro.
Eles pularam com o carro em dois quebra-molas, e Alex sentiu fortes dores. Talvez tivesse com uma costela quebrada. A essa altura, Alex estava achando que seria desovado. O carro estava fazendo uma longa viagem, que parecia não ia acabar nunca. Alex ouviu um ruído que reconheceu. Era um som ritmado: tum-tum, tum-tum, tum-tum… Ele conhecia aquele som. Era a Ponte Rio-Niterói. O carro passava pelas juntas de dilatação da ponte e a cada junta, as rodas batiam no ressalto do asfalto, fazendo aquele barulho característico.

Eles estavam seguindo para o Rio de Janeiro.
Alex puxou o ar e percebeu que estava ficando sufocado. Aquilo o assustou. Se a viagem demorasse muito, talvez ele já chegasse morto no destino.

“Talvez seja a minha sorte, morrer assim. “- Alex pensou. Lembrou da tia dele.

Tempos depois, o carro finalmente encostou. O porta-malas se abriu e um uma lufada de vento gelado entrou. Alex respirou fundo, o que fez doer sua barriga. Os homens o puxaram do porta-malas e jogaram no chão.

Na frente do carro, Teixeira estava dando comandos.

-Já está no local. Isso no local. Positivo. Aguardo então. Combinado. Sem problemas. Tá vivo. Tá vivinho da Silva, não se preocupe, só um pouco… er.. arranhado. Só um banho e uns curativos e ele  fica zero quilometro.

Ele desligou o celular e se aproximou. Encheu o pé e deu um chute com toda força na cabeça de Alex. Alex rolou pelo asfalto morno e ficou gemendo com a cara num tufo de capim.

-Ahhhhhh….

-É seu dia de sorte, vacilão. Aproveita! – Disse Teixeira. – Vamo, vamo! Vamos embora!

Os homens entraram no carro que disparou em grande velocidade, largando Alex no escuro. Ele não sabia onde estava. Mal conseguia enxergar. Cuspiu um monte de sangue.
Lentamente, foi se recuperando. Virou de barriga para cima e olhou as estrelas. O céu estava repleto delas. Alex tentou se levantar, mas não conseguia. Estava muito prejudicado. Ele se apoiou com as mãos. Deu um galeio e tentou não apoiar na perna machucada. Ele não conseguiu caminhar pela estrada, foi cambaleando, tentando não pisar no chão com o pé direito e sentou no acostamento. Ali ele ficou, a espera de alguma ajuda. Passou um caminhão, mas ninguém parecia tê-lo visto.

Tempos depois, um carro apareceu ao longe. O carro estava andando devagar, mas logo acendeu um farol alto. O carro chegou, ofuscando seus olhos que estavam embaçados pelas porradas.

O carro parou na frente dele.A porta e abriu e uma figura titânica saltou do carro. Ele ouviu os saltos altos pipocando no asfalto. “plec, plec, plec”… Era Maitê.

Ela o abraçou. – Alex! Alex!

Alex começou a chorar.

Logo ele reconheceu a voz inconfundível de Plínio Marcos.

-Tudo bem, tudo bem. Calma, Maitê. Vamos levar ele para o hospital. Vem, vem. Me ajuda a colocar ele no carro.

-Ai, minha perna, minha perna. Alex balbuciou.

Alex foi jogado para o banco de trás do Aston Martin. Maitê  Sentou-se no banco da frente. Plínio estava dirigindo velozmente.

-Vamos dar o fora desse lugar!

-Esse lugar me dá arrepios, Plínio. – Ela disse.

-Desculpa, Plínio! Não queria sujar seu carro novo, hein? – Alex falou. Eles começaram a rir, nervosamente.

-O garoto está bem, o garoto está bem… – Plínio repetia, talvez para si mesmo e Maitê estava chorando. Ele notou, antes de perder os sentidos.

Quando ele recuperou a consciência, acordou numa cama de hospital. Maitê estava parada ao lado da Cama, olhando para ele e segurando em sua mão.

-Olá querido. – Ela disse sorrindo.

Alex esteve desacordado por várias horas, e após uma longa bateria de exames, passou um mês hospitalizado se recuperando dos traumatismos.

No dia seguinte, de  manhã, após comer um potinho de gelatina, a porta do quarto se abriu e Plínio entrou.

-E aí meu rapaz? – Tá bem mais bonito agora que desinchou um pouco. Ontem você parecia até o Rocky Balboa.

-Ah… Obrigado Plínio.

-Não se preocupe. Tudo vai dar certo agora. Eu resolvi seu problema lá.

-Eles queriam a grana. Eu tentei te falar mas…

-Shhh. Esquece, cara. Estou te dizendo. A Maitê me falou. Quando você desapareceu ela pressentiu que algo estava errado e me disse tudo. Eles iam te matar. Você sabe.

-Sim. Eu sei.
-Tenho novidades.

-Que novidades?

-Fechamos com os coreanos. Eles compraram os 30% do projeto com a condição de ter prioridade dos lotes de exportação que iam pra Pequim. Agora vai tudo pra Seul.  E aqueles dois patetas da construtora vão entrar no projeto dos resorts no México.

-Que maravilha, Plínio. Que bom.

-Mas pra mim o importante é ter você inteiro. – Disse o milionário, já saindo do quarto.

-Plínio?

-Sim?

-O que você ofereceu ao Teixeira?

-Comprei seu passe. Somos homens de negócio. Negócios são o nosso jogo. Relaxa.  Ele queria dinheiro. Dinheiro é o que eu tenho. Seu problema já foi resolvido. E agora o meu também.

-Obrigado Plínio. Olha, eu vou te pagar.

-Shhh! Melhora aí. Concentra na recuperação. Depois a gente conversa de negócios. – O magnata  disse,  fechando a porta.

Todos os dias, Maitê ia no hospital na hora das visitas ver como ele estava. Ela ficava conversando com ele e contava dos negócios da Holding. Certo dia, após acordar, Alex ligou a Tv do quarto. A televisão estava passando um daqueles programas policiais.
Foi quando Alex  viu aparecer a foto da cara feia de Teixeira. Ele se apressou em pegar o controle da tv e subir o volume.

O jornalista contava de uma execução. Teixeira e vários outros homens haviam sido encontrados carbonizados num carro no alto de um morro.

Alex sorriu satisfeito. E rememorou as palavras de Plínio: ” Seu problema já foi resolvido, e o meu também”…

Alex estava deitado de barriga para cima, na cama dura do quarto da cabana da ilha, se lembrando das coisas de seu passado, quando a porta do quarto abriu de supetão.

A cadeira chegou a cair.

El se assustou. Era a Gringa. Ela deitou nua na cama ao lado dele e começou a beijá-lo na boca.

Antes que pudesse conter seus instintos, Alex estava fazendo amor com aquela mulher.

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Tô aproveitando meu semi-bloqueio criativo e vim ficar em dia com Gringa. Caraca, que personagem maravilhoso o Alex, o cara parece uma cebola de tantas camadas que tem. Eu tô adorando essa história pregressa dele, dá uma riqueza absurda para a história.

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