Se você ainda não parou para pensar em como a natureza pode ser Gump, certamente poderá ficar chocado com este post.
O caracol que conseguiu sobreviver à digestão de seus predadores
Pensa num bichinho tinhoso. É esse caracol aqui:
É, meu amigo. Contrariando a indústria pornô, na natureza, tamanho não é documento! Tudo indica que este simples animal, que seria facilmente esmagado pelo seu pé numa caminhada pela floresta é um ser único na natureza. Tudo porque ele pode ter encontrado uma forma surpreendente de sobreviver à ação de seus predadores e, ainda, ajudar na propagação de sua própria espécie, espalhando-se por diferentes regiões.
A estratégia, do Tornatelides boeningi, é inovadora na medida em que dispensa as tradicionais camuflagens ou venenos. Falando em camuflagem, dê uma olhada no post dos mestres da camuflagem. Se seu queixo não cair, eu não me chamo Philipe!
E não perca também o post dos bichos mais venenosos do mundo.
De volta a lesminha bizarra, ela é maneira porque ao invés de bater de frente com os pássaros muito maiores que seu 0,25 centímetros, ela simplesmente entubou o inexorável fato de que um dia seria o jantar de algum passarinho. Esse caracol seria um bom gestor ou um gênio do marketing e prova que na teoria da evolução das espécies, não ganha apenas que é mais foda, mas ganha também quem se ferra menos.
Nesse caso, ela conseguiu se adaptar ao fato de que tava na base da cadeia alimentar. Uma solução realmente genial, lidar com as dificuldades como elas são e simplesmente se ajustar aos fatos que não podem ser mudados. Assim, essa lesma muito comum na ilha Hahajima (que fica cerca de mil quilômetros ao sul de Tóquio) se adaptou pra sobreviver ao processo de digestão das aves.
O que não tem remédio, remediado está!
O caracol highlander está sendo estudada pela Tohoku Univesity, do Japão. A pesquisa teve como ponto de partida os dados coletados por outros pesquisadores que, ao analisar as fezes de aves japonesas conhecidas como “Olhos-brancos”, encontraram um número surpreendente de conchas de caracóis intactas, especialmente as de T. boeningi.
Com base nesses dados preliminares, um estudante de graduação chamado Shinichiro Wada juntou seus colegas e deu 119 lesmas de rango para Olhos-brancos em cativeiro. Ele também deu outras lesmas para 55 para aves conhecidas como Bulbul de orelhas castanhas, um outro predador comum na vida das pequenas T. Boeningi.
O resultado foi impressionante: 15% dos caracóis sobreviveu à bizarra aventura de ser comido e depois ser evacuado. Inclusive, teve uma mais ousada que não obstante a ser um rango de passarinho por um dia, ainda deu à luz a filhotes assim que saiu do intestino do pássaro!
A percepção do cientista é que do mesmo modo que muitas espécies de vegetais da Amazônia usam animais para transportarem suas sementes no bucho, esses caracóis malandros também podem estar aproveitando essa carona para se espalharem geograficamente. Isso porque a viagem pelo sistema digestivo das aves pode durar entre 30 minutos e duas horas. Assim, durante esse tempo, o predador pode voar para regiões bem diferentes. Para o caracol, é quase como passear num avião.
Tudo bem que 15% não é uma taxa que se diga, “noooossa como eles sobrevivem!” (leia com a voz do seu madruga, por favor), mas porra, você conhece outro bicho que é COMIDO e sai inteiro do outro lado, meu velho?
A equipe de pesquisa descobriu que a população da T. boeningi é melhor distribuída na floresta do que o grupo de lesmas cujas conchas não conseguem sobreviver ao processo de digestão das aves. Isso quer dizer que as lesmas que pegam carona nos passarinhos vão sempre se espalhar mais justamente por esse diferencial em relação às outras. Aposto que Darwin teria uma ereção ao saber disso!
A engenhosa estratégia de sobrevivência
Mesmo com esses dados, a tática exata usada pelos caracóis para sobreviver após serem comidos ainda não está bem clara. O tamanho pequeno poderiam ajudar a explicar porque as conchas do T. boeningi estavam saindo inteiras. Mas só o tamanho não justificaria a sobrevivência no ambiente inóspito que é o sistema digestivo de uma ave.
Assim, o mais provável é que a lesma malandra tenha outra carta na manga! Ela teria uma incrível habilidade de criar uma gosma babenta chamada MUCO que funcionaria quase que como um “campo de força” impedindo que o ácido estomacal da ave derretesse ela.
No fundo, o macete do muco é uma solução engenhosa mesmo. Pelo que me consta é justamente o muco que impede que seu estômago comece a se auto-digerir. Quando o caracol se reveste com muco, ela poderia em tese aderir na parede do estômago e ser meio que “parte” dele. Assim, não só o tamanho, como seu muco babento são fatores importantes para a resistência maior ao contato com os fluidos digestivos.
O estudo sobre a T. boeningi está aqui: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2699.2011.02559.x/abstract
Bichinho danado. Mas ainda sou mais fã dos animaizinhos que regeneram partes pedidas em acidentes ou ataques de predadores.
Caramba 15% é uma taxa muito boa de sobrevivência levando em conta o processo.
Imagina se ele gruda na parede, se “atrasa”, e resolve sair depois por livre e espontanea vontade?