Relato impressionante: Como é levar um tiro na cabeça

Hoje por puro acaso, acabei me deparando com um relato impressionante feito por Isaac Simoni, que contou no Quora.com como foi levar um tiro na cabeça.

Tudo bem que existe todo tipo de relato na internet: Relato de quem foi confundido com bandido, de quem já cagou nas calças, de quem roubou defunto e até de quem operou o brioco, mas convenhamos, que poucas são as pessoas no mundo que podem contar em detalhes como é exatamente a sensação de levar um tirambaço na cabeça.

A razão disso, é que 99,9% dos que vivenciam essa experiência não ficam por aqui para nos relatar.

Como foi levar um tiro na cabeça

Comigo foi um pouco diferente. Primeiro o estalo do tiro, e em seguida, um clarão. Tudo ficou branco e eu só escutava um zumbido, agudo, e bem alto. Parecia que eu caia pra trás em câmera lenta, enquanto tentava entender o que tinha acontecido. E apesar de terem me dito que eu nem fechei os olhos, esse momento parecia ter rolado em câmera lenta, enquanto eu caía. O susto. O clarão. O zumbido. Ficou tudo branco. Bem claro, não via nada, só branco. Foi como que uma experiência pra fora do corpo, sei lá. Eu estava lá no restaurante, sentado, almoçando, bem tranquilo, comendo. Com a boca cheia de brócolis, e de repente eu não estava mais lá. De repente, eu estava em outro lugar, e era tudo branco, vazio, e eu só escutava o zumbido e só enxergava o clarão. E enquanto eu caia, dei por mim que tinha levado um tiro. A voz na minha cabeça disse algo como “Eita cacete, o que foi isso? EITA PORRA LEVEI UM TIRO! CARALHO MERMÃO LEVEI UM TIRO NA CABEÇA”. “MORRI.”, pensei. Tive certeza de que ia morrer. Ou que já tinha morrido. Já estava morto e estava em outro lugar. Nem senti dor nem nada nesse primeiro momento, e achei até que o clarão era a luz no fim do túnel que veio com tudo e meio que me atropelou ou algo assim, não sei “Morri.”, pensei. E nesse instante eu não tava triste, com raiva, chateado, nem nada. Estava surpreso e curioso, juro, curioso, querendo saber o que vinha em seguida, se é que vinha alguma coisa. Morri. E agora? O que vem depois?. Tinha certeza que tinha morrido, ou que nem ia abrir os olhos e ver mais nada.

De repente abro o olho, todos os clientes do restaurante saíram correndo, o ladrão também, e só estava minha namorada lá, em cima de mim, olhando pra mim.

De repente comecei a sentir. Não dava pra saber exatamente onde é que a bala daquele revólver .38 tinha me acertado, a sensação era a de que toda a minha cara estivesse virado do avesso, ou como se alguém tivesse pego uma picareta e acertado em cheio na minha cara, com tudo, e a picareta ainda estivesse lá. Me mandaram não me mexer, e eu não me mexi.

Não me mexi, nem falei nada, mas sentia o sangue grosso, quente e escorrendo pelo meu olho, nariz e garganta, com força, como se uma mangueira estivesse aberta dentro da minha cabeça. Lembro até hoje do gosto de sangue e brócolis. Sentia sangue escorrendo pelo meu olho, pelo buraco do projétil, pelo meu nariz, pela minha garganta, pelo meu ouvido, por tudo, e pela quantidade de sangue que eu perdia, e ainda sem saber aonde a bala tinha atingido, ainda tinha certeza de que eu ia morrer, ali. Aquele tanto de sangue, aquela situação, Aquela cena de filme mesmo, surreal, pesadíssima. Sangue e dramaz só.

Achei que eu fosse apagar, e não apaguei. A primeira coisa que eu disse foi “aonde acertou?’ e ela me disse que tinha sido no nariz e de raspão.

“De raspão”, pensei, e quase ri. Eu sabia que tinha sido na minha cara. Eu sabia que tinha me acertado em cheio. Estava tudo meio dormente, todo meu lado direito do rosto, e eu tinha certeza de que a bala ainda estava ali. E era muito sangue, e estava ficando cada vez mais difícil respirar, então pedi pra ela tirar a comida com sangue que estava dentro da minha boca. Brócolis e sangue. Muito sangue. MUUUITO SANGUE. Eu nunca tinha visto tanto sangue na minha vida e acho que ninguém que estava vendo aquela cena tinha visto tanto sangue também.

Olhei aquela poça de sangue. Aí que do nada apareceu uma aluna do último semestre de medicina, que por acaso do destino também estava ali almoçando no mesmo restaurante (isso aconteceu ao lado de uma universidade federal) e pediu um pano e pressionou por onde a bala entrou, tentando estancar qualquer coisa. Mas a maior parte do sangue escorria era por dentro.

Pensei que eu fosse apagar, por estar perdendo todo aquele sangue, e simplesmente morrer, ali mesmo, e bem rápido. Na porta do restaurante , amigos, conhecidos e outros clientes do restaurante todos em choque, todos em desespero, ligando pro SAMU (ambulância) , discutindo sobre quem tinha carro pra me levar pro hospital e coisas assim, e dentro do restaurante, eu, jogado no chão, em cima de uma poça enorme de sangue, minha namorada e a moça lá, já quase médica, que por milagre também estava almoçando lá, mas que infelizmente não podiam fazer muita coisa por mim naquela situação. Só esperar.

Escuto que chamaram o SAMU e que ele estava a caminho. Era 12:30, horário de pico, e essa cidade tem um dos 3 piores trânsitos do Brasil.

Morri, pensei. Morri. Ali. Morri esperando o SAMU chegar. Era muito sangue, e não parava de jorrar. Pensei no trauma que seria pra minha namorada, morrer ali, na frente dela, vítima de um assalto, de algum ladrãozinho muito doido que veio roubar meu celular e na hora de sacar a arma já disparou, de nervoso ou de sei lá o que, e me acertou em cheio, a queima roupa. Morri. Tinha certeza de que ia morrer ali e não havia mais nada que eu pudesse fazer. Certeza.

Pensei nela, pensei também na minha mãe, pensei na dona do restaurante, pensei no trauma que seria pra todas aquelas pessoas que estavam ali e saíram correndo, eu morrer ali, na frente delas. Nem pensei muito em morrer, pq até então eu ainda tinha certeza de que sobre a morte eu não tinha nada mais o que fazer.

E aí o corpo começou a doer. Não tanto onde o tiro acertou, mas os ossos, da posição que eu estava no chão. Perguntei se eu podia me mexer, disseram que não. Tentei me segurar por uns instantes, mas a agonia era tanta que a vontade era de levantar e sentar em uma cadeira. Me mexi, apoiando os braços assim, pra mudar de posição e virar de lado, e vi o tamanho da poça de sangue que se formava debaixo de mim. Um sangue grosso, escuro, denso. E ver aquela quantidade absurda de sangue (sério, esguichava do meu olho, coisa de filme do Tarantino ou algo assim) e só me deu mais certeza de que eu ia morrer, ali. Esperando o SAMU chegar. Jogado no chão, sentindo gosto de sangue e de brócolis.

E então a dor veio, e era meu rosto todo queimado de pólvora, meu olho, meu nariz, tudo. O buraco da bala queimava, doía. A bala acertou meu maxilar, entre o olho direito e o nariz, região naso-orbital, bem aonde fica as borrachinhas dos óculos, sabe? Bem ali, entre o olho e o nariz. E era uma dor de osso quebrado, a sensação era a de que a minha cabeça tinha virado do avesso. Ver todo aquele sangue e sentir essa dor começou a me levar pra um desespero.

Senti frio pelo corpo todo, de arrepiar. “É agora”, pensei. Senti uma fraqueza, pensei: “Vou desmaiar.” Desmaiar e morrer. E a dor. Toda aquela dor. Até então acho que eu estava relativamente calmo, mas nesse momento foi como se o jogo tivesse dado uma virada. Alguma coisa dentro de mim deu uma chacoalhada e disse que não. Minha namorada disse pra eu continuar acordado, continuar com ela, que ela não ia me deixar ir embora não. Com o frio e a fraqueza, reagi. Disse “tá doendo muito, vou gritar” , e nem era tanta dor, era só uma vontade súbita de reagir. Comecei a urrar, fingindo que era dor, mas era de desespero. Uma reação pra não apagar ou algo assim. Um fôlego e uma vontade de gritar. Gritei. Acho que funcionou.

Foram uns 20 minutos, e a ambulância chegou. Pelo local de entrada do projétil, decidiram que teriam que me levar pra um hospital com neurocirurgião de plantão. “Tô na merda”, pensei. Me amarraram numa maca, colocaram um colar cervical, e me colocaram dentro da ambulância. O hospital era no centro da cidade, a uns 10km de onde eu estava. “Pronto, vou morrer numa ambulância dentro do engarrafamento”. Na ambulância, só me deram soro. A dor aumentava, e acho que me deram dipirona sódica ou algo assim. Exatamente, desses que a gente toma pra dor de cabeça. A ambulância chacoalhava pra todos os lados, e pra não cair da maca ou algo assim, me mandaram eu me segurar. Nesse momento, percebi que todos na ambulância estavam relativamente calmos, (menos o motorista), e pela primeira vez passou pela minha cabeça que eu talvez não fosse morrer naquele dia ali não.

Minha garganta queimava de sangue seco e de mais sangue que descia. Trocaram o pano por uma gaze pra estancar o sangramento externo, mas era sangue demais. Me deram soro, e só. Fechei o olho e tentei me acalmar, mas acho que se eu desmaiasse ali e morresse estava tudo bem, estava calmo, e não tinha nada que eu pudesse fazer e eu não tinha muita esperança de que pudesse sair dessa. Até que…

Chego no hospital, me tiram da ambulância naquela correria, e eu vejo aquele hospital público do SUS com o teto todo caindo aos pedaços, e em volta, aquela zona de guerra que só existe em hospitais públicos de trauma das grandes Metrópoles brasileiras: gente espalhada pra todo lado, nas macas, nas cadeiras, no chão. A enfermeira do SAMU me leva pra sala de emergência, zona vermelha, e me entregam pro hospital. Nesse momento um dos enfermeiros dos hospital diz que não tem gaze, não tem luva, e me pede que eu segure a que está toda ensanguentada, ali, eu mesmo. “Vou morrer aqui nesse hospital”, pensei. Tem nem gaze, tem nem luva. Fodeu.

O que se passou depois foram os piores momentos da minha vida. Engasgando em sangue, morrendo de sede, de dor, de agonia e desespero. Me afogando no meu próprio sangue, enquanto nada acontecia. Hospital lotado. Mais de hora pra conseguir uma tomografia. Sai a tomografia e perguntam “quem é Isaac”, ao que eu respondo levantando a mão. A pessoa responde “não, é outro, esse aqui ou tá morto ou tetraplégico e você tá aí levantando a mão”. Outro médico ou enfermeiro responde baixinho dizendo que sou eu mesmo, ao que o outro vem pra perto de mim, me dá uma olhada e diz “vixe, amigo, te contar que ninguém vai tirar essa bala daí não…” Descobrem que a bala está na C1, fraturou a vértebra, a primeira da cervical, logo na base do crânio, e que ninguém sabe porque milagre o afetou a medula e eu não tive uma lesão neurológica.

Horas e horas se passam, eu gritando no hospital pra ver se eles faziam alguma coisa. Na minha cabeça, seria alguma coisa de filme, de seriado, sei lá, iam me dopar e eu ia apagar e se fosse pra morrer, morria, se fosse pra sobreviver eu só ia saber no dia seguinte, mas não foi assim não. Nesse ponto eu tinha decidido que se fosse pra morrer eu não ia morrer fácil não. Já tinha chegado até ali. Tirei força não sei de onde. Daí costuraram meu nariz. “Tamponamento”, o nome. Jogaram umas gaze com uma pomada dentro do meu nariz e costuraram, pra ver se o sangramento diminuía. Tudo bem rápido, sem tempo da anestesia pegar, costuraram todo meu nariz e me deixaram lá.

Talvez realmente não houvesse muito o que fazer, a sala de cirurgia estivesse cheia e com casos piores, na frente, na fila, não sei. Mas era muita dor, muita agonia e muito desespero pra que eu conseguisse ficar quieto, e a sensação de que se eu me acalmasse eu ia desmaiar, apagar e morrer. Gritava, pedia que fizessem alguma coisa, não suportava a situação de estar lá, daquele jeito, e simplesmente ninguém estar fazendo mais nada. Eu estava me afogando no meu próprio sangue, cuspindo o que conseguia, sem conseguir respirar. A garganta rasgando de sangue seco, uma dor insuportável e a sensação de que eu estava à beira da morte e que alguém precisava fazer algo rápido, senão minhas chances iam acabar bem rápido.

Não gostaram muito da minha reação e me amarraram na maca pra com uns lençóis, uns panos, meus braço e minhas pernas. Acho que pra ver se eu ficava quieto e parava de gritar e de reclamar. Mas não adiantou muito não. Gritava de dor. Pedia que fizessem alguma coisa, nem que fosse me dar um remédio pra eu apagar e aquele inferno acabar. Gritava. Urrava. Agonizava. Fiquei meio puto até com o universo que estava me fazendo passar por aquilo tudo ao invés de me levar embora de uma vez. Parecia que nenhum médico queria mexer comigo, que eu não tinha jeito, que iam me deixar ali daquele jeito mesmo. Sei lá. Eu queria que fizessem alguma coisa sou que eu morrer logo de uma vez, sei lá. Só queria que aquilo tudo acabasse de uma vez. Não estava aguentando não. Já tinha passado dos meus limites fazia era tempo.

Na hora eu perdi completamente a noção de tempo, e as 17:10(dei entrada no hospital umas 13:10), ou seja, depois de umas 4h agonizando e berrando na emergência, me levaram pro bloco de cirurgia. Chegando lá, um médico disse que ia ficar tudo bem, reclamou com alguém que naquela situação eu deveria ter sido entubado logo ao chegar no hospital, e me disse pra me acalmar que agora eles iam cuidar de mim. Me disse que ia me dar uma anestesia (eu ouvi fentanyl) e que eu ia apagar por uns 30 minutos e eu pensei “nossa finalmente vão me apagar pq se for pra morrer pelo menos eu pelo menos morro em paz” e senti tudo apagando, tudo ficando leve e tudo ficando escuro, bem rápido, sem ligar muito se eu ia acordar de novo ou não, mas enfim em paz pq pelo menos eu ia parar de sentir tudo aquilo que eu estava sentindo. E funcionou.

Eram 17:15 da tarde. Ele disse 30 minutos. Acordei no dia seguinte, 9:30 da manhã.

Entubado. Acordei no susto e meio no desespero daquele negócio em mim, acordei sufocando e me mandaram relaxar e deixar a máquina respirar por mim. Pra mim, tinham se passado só os 30 minutos que o médico disse, e eu não tinha a menor noção de tempo desde que eu entrei no hospital. Um dos médicos mexe nos tubos e eu começo a engasgar e sufocar, pois quando ele mexeu, saiu do lugar, desencaixou. Vários médicos começam a olhar pra mim, preocupados, tentando descobrir o que tá acontecendo e achando que eu tô bem mal. Sem conseguir respirar, engasgando. Ainda amarrado na maca eu nem consigo fazer sinal de que é só pq o cara mudou a posição dos tubos, tentando explicar e que estava tudo bem, que eu não estava morrendo, não.

Arrancam os tubos da minha garganta. Sinto tudo rasgando. Horrível.  Respondo que era só pq tinha mudado a posição e todos riem, aliviados, brincando “olha só, já tá até falando!”. (Depois eu descubro que houveram várias complicações durante a madrugada, que eu quase morri, mesmo e e que tiveram que me dar 4 bolsas de sangue durante a noite pra eu não morrer, de tanto sangue que eu perdi. Super tenso, ainda bem que eu tava apagado e nem vi nada dessa parte, de verdade. Prefiro nem saber o que foi que aconteceu, e ninguém que sabe se deu ao trabalho de me dizer.)

Logo em seguida, chegam os policiais. Me perguntando quem eu era, onde eu trabalhava, se eu tinha problema com droga, pq achavam que tinha sido uma tentativa de execução. Me perguntaram se eu reconheceria o assaltante, e eu disse que não. Nem vi. Se passar na minha frente eu não sei quem foi.

Logo depois me liberam pra enfermaria, mas isso foi só o começo de uma longa jornada de 21 dias internado nesse hospital, indo e voltando da UTI, sangrando que nem nos filmes do Tarantino (sério, era muito sangue, vocês não fazem ideia, hahahahaha) e sentindo meu sangue indo embora, ficando cada vez mais fraco, mais pálido, e por várias vezes pensando que se fosse pra morrer eu podia morrer logo, pra acabar de vez com o sofrimento.

21 dias. 7 bolsas de sangue. Perdi a ponta do meu nariz. Cuspo pedaço de osso até hoje, dois anos depois, meu nariz não presta mais. 7 meses de colar cervical, vértebra fraturada, e mesmo depois de mais de ano de fisioterapia o meu pescoço as vezes dói como se fosse uma enxaqueca fortíssima e eu não consigo nem existir e me dopo pra dormir, mas tô vivo.

A bala continua aqui comigo, até hoje. Consigo senti-la toda vez que eu viro o pescoço, e tem movimentos do pescoço que eu perdi. Não dói sempre, mas quando dói, ainda dói muito. As vezes dói quando o tempo esfria do nada, como quando vai chover ou quando eu entro num local com ar condicionado muito forte.

Hoje em dia eu acho graça de quando em filme de ação galera leva um tiro em qualquer lugar do corpo e já cai morto no chão. Quem dera fosse fácil assim. Mas não é não.

E outra certeza que eu tenho é que a gente morre é no dia de morrer e pronto, se não for seu dia, não tem headshot que te leve não.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Q foda esse relato, mistura de angústia, esperança, descaso, brasilidade. Conheci um cara que tinha uma bala alojada no pescoço, o apelido dele inclusive era João bala.

  2. Um tiro na barriga dá menos sofrimento que isso. Falo isso porque em 2012, reagi a um assalto e levei 2 tiros, um na perna esquerda, e uma do lado esquerdo da barriga. O da perna eu senti como se ela tivesse ficado dormente do nada. O da barriga, eu nem senti, minha prima, que estava comigo, que me avisou. A perna sangrou demais, nunca havia visto tanto sangue saindo de mim. O da barriga, não sangrou tanto assim. Na hora do tiro, não tinha ninguém na rua, mas depois que bandido fugiu, juntou muita gente. Queriam chamar uma ambulância, mas eu estava com uma hemorragia intensa na perna. Então pararam um carro da Guarda Municipal, colocaram eu e minha prima na viatura, e o guarda saiu disparado pro Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias. Ao chegar ao hospital, fui rapidamente atendido, e em menos de uma hora, eu já estava no centro cirúrgico sendo anestesiado. Isso era por volta das três da tarde. Acordei depois das nove da noite, no CTI, com um acesso intravenoso, eletrodos no peito, oxímetro no dedo, sonda nasogástrica, sonda uretral e fralda. Fiquei dois dias no CTI. Perdi uns 15 cm de intestino grosso e deram sutura no meu intestino delgado. Para ter alta do CTI e ir pra a enfermaria, eu só precisava peidar. Fiquei mais seis dias na enfermaria. A bala da perna, por incrível que pareça, passou rente ao osso da canela e desceu para o tornozelo, sem quebrar nenhum osso. Tirei uns quinze dias depois da alta da enfermaria. A sequela que ficou é que, mesmo dez anos depois, meu intestino que era um reloginho, ficou completamente pirado.

      • Eu estava comentando com a minha mãe ontem sobre a situação, e constatei que a pessoa mais tranquila era eu. No carro do guarda municipal, minha única preocupação era “C4r4lh0, minha mãe vai brigar comigo porque eu reagi a assalto”. Minha prima chorando muito no carro, eu com dois buracos de bala dizendo pra ela “Calma, muié, eu não vou morrer não”. Eu levo esse assunto tão no bom humor, que pra mim, nem parece que foi um sofrimento. Mas eu tenho certeza, se acontecesse hoje, eu não me recuperaria tão rápido assim, como foi em 2012.

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