Hoje enquanto dirigia de Friburgo para o Rio, entre ultrapassar um carro e outro, as linhas da estrada sumindo abaixo do pára-brisa, a primeira dama meio que cochilando em silêncio do meu lado, eu comecei a pensar sobre o Brasil. Mais especificamente sobre a cidade de São Paulo. Não sei dizer o porquê de pensar em São Paulo, já que não vim, não fui, nem vou pra lá. Mas ocorre que comecei a pensar na maior cidade do Brasil. É inegável o fato de que São Paulo tem uma vocação cosmopolita que a coloca entre as cidades globais ao lado de Nova York, Tokio, Shangai, Frankfurt, Milão, Paris… Não me refiro a cidades meramente turísticas, mas sim a cidades que movem o mundo na fogueira dos capitais voláteis. As cidades que atraem investidores, que movimentam a economia global.
Mas o que você pensa quando eu digo: Paris?
Você pensa em Arco do Triunfo, na pirâmide do Louvre, na Torre Eiffel (não necessariamente nesta ordem) certo?
E quando eu digo: Nova York?
Você pensa no Empire State Building ou no Chrisler Building. Na estátua da Liberdade e até nos aviões batendo nas torres do WTC em 9/11.
O que eu quero dizer com isso é que as mais antigas cidades globais do mundo já estão gravadas em nossa mente com marcos claros que evocam diferentes ideias. Tradição, honestidade, prosperidade.
Mas ao pensar em: São Paulo?
Não sei quanto a você, mas eu penso em um monte de prédios completamente desalinhados, como se estivessem dançando numa enorme escola de samba.
Outra imagem que me vem a mente com o rótulo mental “São Paulo” são as pichações feias pra danar de lá que infectam prédios, viadutos e ruas. Rio poluído, milhares de motoboys e engarrafamentos que somem de vista. Para tentar pensar num cartão postal eu tenho alguma dificuldade. Surge a minha mente o Copã com suas linhas sinuosas, surge a minha mente o prédio do Banespa.
Convenhamos, a profusão de imagens, muitas delas num tom claramente “queimador de filme”, mostra que a cidade merecia mais dignidade. Merecia um ícone. Uma imagem clara de prosperidade.
Uma imagem como a que os marajás do Oriente Médio sabem o quanto é importante. Veja por exemplo Dubai. Era apenas uma mísera faixa de praia no meio de um deserto quente pra desgraçar. Mas com investimentos progressivos e coragem de torrar sem dó nem piedade muita grana lá, Dubai floresceu e em 30 anos deixou de ser só um deserto e se tornou um dos maiores portões de entrada de capital no oriente. Claro que isso não se deve apenas aos mega arranha-céus imponentes que erguem-se como mastros magnéticos para o capital estrangeiro.
Deve-se ao baixo custo de operar lá. A carga tributária é mínima. Ao contrario da sanha doentia por ROUBAR o dinheiro alheio que o governo Brasileiro tem. O alto custo-Brasil e a incompetência administrativa são somados, os maiores impeditivos do progresso e da melhoria das condições de vida em todos os níveis no país. Mas mesmo assim, mesmo com tudo isso, é um bom negócio investir aqui e é por isso que tantas empresas vem abrir escritórios em São Paulo.
Se São Paulo tivesse um prédio que fosse uma referência, um ícone, talvez isso funcionasse como o coqueiro gigante que pode ser visto do espaço e que ajudou Dubai a cristalizar a chancela do progresso na mente de milhões de pessoas, muitos deles, investidores.
Não digo para copiar, mas pensa bem. Se TODOS os grandes centros mundiais estão investindo em ícones que evoquem a prosperidade, isso não parece algo suspeito?
Veja por exemplo, a Cristal Island em Moscou. Ao custo de 4 bilhões de dolares, com uma previsão de finalização em 5 anos, Moscou deseja ter um dos maiores prédios do mundo, senão o maior. Será uma mega estrutura parecida com a lona de um circo (por ser inspirado na tenda do lendário Gengis Khan) que cobrirá uma área de 2,5 milhões de metros quadrados.
O empreendimento com altura máxima de 450 metros é projetado para funcionar como uma cidade dentro do complexo, com uma mistura inteligente de prédios como cinemas, museus, teatros, e edifícios comerciais além de 3000 quartos de hotel e 900 apart-hotéis.
Eu sei que muitos poderão pensar: ” Ah, mais isso não é pra país de terceiro mundo”… “Isso é pra quem pode.” e outras justificativas negativistas e conformistas. Pois eu gostaria de saber que São Paulo tem uma coisa gigante e faraônica para que todos olhem e pensem: Caramba!
São Paulo merecia ter seu próprio Pão de Açúcar.