Na beira rio tem um cão
Uma criatura da escuridão
Seu coração palpita
Seu pulmão preto apita
Sua forma é esquisita
Sem raça
Com fome
Sem graça
Sem nome
Com a boca já quase sem dente
Seu latido é um murmurar
com o olho que olha pra gente
mesmo sem conseguir enxergar
Ele é o cão da beira-rio
Aquele que treme sem sentir frio
Ele nunca teve dono
Nem fez alguém feliz
Em estado de abandono
Nunca viveu em canis
Ele come o lixo da casa da moça
E mata a fome bebendo da poça
Na porta do bar petrifica
parado, estático ele fica
espera um pedaço de caridade
e abana o rabo com agonia
morde o pedaço com vontade
tão fiel como uma vadia
foge sem humildade
sua pele rachada é coisa ruim de ver
Fica difícil até descrever
Berne, pulga, carrapato
Bicheira, moscas, podridão
Todo tipo de maltrato
Infesta aquele cão
O cão da beira-rio
está sempre no cio
Nem parece um bicho
revira as latas de lixo
porque é um cachorro
procurando socorro
Corre no mato
Sobe no morro
um triste retrato
sobre o qual eu discorro
quando a noite cai
ele está perdido
se vai
exaurido
E anda pela estrada
Sem partida, nem chegada
um cambaleio no compasso
das quatro patas mancas de cansaço
meio cego ele deita
Na faixa da direita
dorme um sono sem sonhos
sem amigo ou patrão
sem sentimentos tristonhos
porque não conhece emoção
Sem enxergar
Uma luz a iluminar
do farol do caminhão
na estrada da desolação
Quando vem a colisão
As rodas passam sobre o cão
sem piedade nem sobressalto
pedaços explodem no asfalto
Quando se vai o caminhão
sem perceber o que largou
a escuridão abraça o cão
ou o rocambole que restou
Espalhados na estrada
sangue, tripas, pele e miolo
sem choro, nem gargalhada
nem raiva ou desconsolo
Quem passa na beira da via
o olhar desvia
daquilo no meio da estrada
que assusta qualquer camarada
Com a morte na madrugada
ele encontrou sua função
morrendo sozinho na estrada
debaixo das rodas do caminhão
O cão da beira-rio
na beira do meio-fio
com a carcaça a apodrecer
finalmente vai poder
longe dos lugares hostis
fazer alguém feliz
quando o sol irromper
e a noite enfim ceder
cortando o céu com luz
em meio a claridade
ele finalmente vai fazer
a felicidade
dos urubús.
Fim
Belo poema,Philipe.Muito legal mesmo.
Só fiquei triste no final,pq lembrei do meu cachorro que morreu quase do mesmo jeito =/
Mas muito legal a historia,parabéns =]
nossa fazer a felicidade dos urubus é f*** :x asohoahis
gosteei ;D
só não muito dessa parte:
“Nem parece um bicho
está sempre no cio
porque é um cachorro”
(lol não sabia que “: x” = emoticon com raiva)
Uau.
Foda mesmo viver no abandono e morrer assim.
Quase uma metáfora dos moradores de rua.
[quote comment=”8420″]
só não muito dessa parte:
“Nem parece um bicho
está sempre no cio
porque é um cachorro”[/quote]
Eu também achei meio estranha essa parte rs
È que eu escrevi esta poesia duas vezes. A primeira deu pau ontem quando o blog saiu do ar. Aí foi pro saco, a Vivian botou pilha e eu refiz ela toda de cabeça. A primeira era bem melhor, eu acho.
Essa parada aí tava fora da ordem mesmo. Reorganizei lá. Acho que agora deu liga.
Obrigado por lerem.
Show de bola…. nota 10..
triste fim do caozinhu… mas fazer u q.. pq tudo q nasce..morre :(
[]’s
Olha, realmente emocionante esse poema, parabéns cara.
Agora ficou melhor lá aquela parte,ficou com mais sentido =]
Não consigo imaginar como a outra pode ter ficado melhor do que essa.
Acho que essa ficou melhor que a outra, isso sim :D
A primeira era infinitamente melhor.
Nossa O.o
Então,como vc falou devia digno de uma indicação pra academia brasileira de letras mesmo xD
rsrsr