O crânio – Parte 6

Bruno chegou não viu a Bia. Ela estava oculta pelo bolinho de gente que havia se formado ao redor.
Bia estava chorando, tampava o rosto, sem graça. Uma amiga dela logo pediu pra galera se afastar e correu com a Bia lá pra dentro da mansão.
As pessoas logo se dispersaram, e só restaram ali a moça da pizza, Bruno e Gui.
-Cadê aquele filho da puta? – Perguntou Bruno.

Gui deu de ombros. Disse que não sabia. Aparentemente, os seguranças interviram e o colocaram pra fora da festa.

-Se eu achar aquele paspalho eu acabo com a raça dele. – Disse Bruno.

Bruno entrou pela Mansão em busca de Bia. Encontrou as amigas dela na sala. Estavam colocando gelo no rosto dela.

-Porra… – Bruno gemeu quando viu a mancha roxa no rosto dela. Ela ainda estava cuspindo sangue.

O rapaz correu até a Bia. Sentou-se ao lado dela e a abraçou sem dizer nada. Bia tampouco disse qualquer coisa. Apenas soluçava.

Logo, as amigas da Bia disseram qualquer coisa sobre chamarem elas se precisasse, e saíram, deixando os dois a sós na sala. Bruno permaneceu quieto, “na dele”, por um longo tempo. Ele não ousava dizer nada.
Foi ela que rompeu o silêncio onde ainda se ouviam as batidas abafadas que vinham do salão de festa: – Desculpa, Bruno.
-Tudo bem… Shhhh. Não fala nada.
-Não. Desculpa. Ele mexeu nas minhas coisas. Ele viu sua carta. Eu não mostrei pra ele, mas eu não pude impedir que ele lesse.
-Eu não tô nem aí pra ele. Eu tô cagando pra aquele tampinha. Só me interessa você nesse mundo, Bia.

Ela baixou os olhos. Tentou disfarçar a mancha no rosto com o cabelo comprido. – Ele ficou transtornado depois que te viu lá no salão. Ele pirou. Deu um ataque de ciúmes. Ele queria brigar, queria te achar pra dar porrada.
-Levar, né?

-É um idiota, Bia. Um idiota faz essas coisas.
-Me leva pra casa?
-Claro. – Bruno disse, para só no segundo seguinte lembrar que estava de carona com o Gui. -Espera aqui que já volto.
Bruno foi atrás do Gui. Ficou meia hora vagando pela festa em busca do Chêquévara. Finalmente encontrou o amigo na fila do banheiro.
-Véio, a Bia quer ir pra casa. Vou levar ela de Taxi, beleza? Não vou voltar contigo.
-Aê Brunão! Vai comer!
-Porra cara.
-Ops, foi mal. Ó, toma aí. Dirige a nave com cuidado, hein filho da puta?
-Não, meu. Não.
-Pega, porra. Pega “saporra” aí, garanhão! Vai lá e abate!
-Pô, valeu então.
-Eu disse Abate. A-Ba-Te. Não Bate, ouviu? Cuidado com a Millenium Falcon!
-Eu sei dirigir, Zé Ruela.
-Claro, aprendeu com o melhor, né sua bicha?

Bruno correu de volta até a sala. Bia ja estava mais apresentável. Havia disfarçado a marca no rosto com o cabelo.
-Vamos?
-Que papel é esse?
-É do valet. Pra pegar o carro do Gui.
-Do Gui? Do maluco do Gui? Ele comprou mesmo?
-Você não vai acreditar!

Bia e Bruno saíram da festa. Logo, o Valet buscou o carro. Quando Bia viu, se espantou: -Meu Deus! Olha isso!
-Não é sensacional?
-É a cara do Gui!
Bruno dirigia o Maverick devagar, na esperança de não dar de cara com uma barrera policial. Durante um tempo, Bia ficou quieta, tentava ajustar o toca-fitas.
-Tem eras que não mexo num desses!
-Olha, tem uma fita do Kid Abelha aí no porta luvas. – Disse Bruno.
-Sério? O Gui escuta isso?
-Sei lá. Já devia estar no carro quando ele comprou. O Gui só escuta aqueles reggaes doidos e os pancadões trashmetal…
-O Gui é foda.
-Sabe como ele chama esse carro?
-Deixa eu adivinhar…. Corcel Negro?
-Não, mas é de filme.
-Calma, eu sei, eu sei! É… Herbie?
-Não. Ultima chance.
-Sei lá, não sei.
-Millenium Falcon!
-Há! Claro, só podia ser. Só podia ser! Como não pensei nisso?

Bia aumentou o som e a voz de Paula Toller ecoou no interior do carro.
Bruno espertamente esticou o braço e aconchegou a moça para junto dele. Ela não reagiu. Parecia estar deixando rolar.

Minutos depois, chegavam em frente ao prédio da Bia, na Tijuca.

-Bom, chegamos.
-Obrigada pela carona, Bruno.
-Bia…
-Bruno, por favor.
-Escuta, Bia.
-Não, não faz isso, Bruno. – Ela disse. Mas aquilo soou estranhamente dúbio.
Bruno hesitou. Mas logo avançou e beijou Bia.
O beijo avançou e o clima foi ficando mais e mais quente.
-“Não, não” – Ela sussurrava, mas nada indicava que não estivesse gostando.
Bruno mal teve tempo de verificar se não estava sonhando quando escutou bia gemer baixinho no ouvido dele: – Vem, vamos subir.
-Mas e sua… E sua tia?
-Viajou.

Eles subiram para a casa dela.

——X——-

O telefone tocou. O dia estava amanhecendo. Bruno havia acabado de chegar em casa. Estava emborcado na cama, ainda enfiado na roupa de gari.

-Bruno é o Gui. – Disse Sandra segurando o aparelho ao lado dele.
Bruno ergueu os olhos para a mãe. Ela estava séria. Parecia brava.
Ele pegou o aparelho. A voz eletrônica incomodava.
-Faaaala pegador! Comeste ou não comeste “fidumaégua”?
-Porra Gui. Cara. Meu… Não fode, Gui. Não são nem meio dia, cara…
-Ah, já vi que comeu. Pela voz eu já sei. E meu carro. Me diz que trouxe o carro direitinho.
-Cara então. Deixa eu te falar.
-… – Gui ficou mudo.
-Veio, sabe aquela pilastra que tem ali na entrada da garagem?
-Porra… Não… Porra! Não!!! Diz que é zoeira. Diz que é zoeira. Eu vou te matar, puta que pariu, não acredito. Ah, não! Não!!!
-Hahahaha. É zoeira, viado. O carro ta de boa. Estacionei direitinho na ladeira.
-Porra… Caralho, não morro mais. Puta que o pariu! Você não sabe brincar cara. Você foi Joselito!
-Cara, então…
-Já tô até vendo. Pela sua voz, aposto que vocês voltaram.
-Voltamos.
-Aê, moleque! Aí sim, mostrou que sabe! Quem sabe, sabe!
-Cara… Eu acho que…
-Nem precisa falar. Já sei a merda que eu vou ouvir. Vai dizer que foi a pedra da caveira!
-Né?
-Meu… Não. O cara deu um tapão nos córnio da Bia, véio. Ela ficou toda abalada, daí você chega todo carinhoso e tal. Gol. Cadê a caveira nisso, minha caralha?
-Cara, sei lá, mas tudo foi encaixando. Você não percebe?
-Claro que isso é paranoia da tua cabeça sequelada, maluco. Você que ta dando sentido aos fatos de acordo com o que acha. É pura viagem, Bruno.
-Meu… Sei que cheguei morto.
-Atleta de alcova… Pô, vamos sair mais tarde e comer um sanduba?
-Vamos. Eu penso melhor comendo.
-Corrigindo: Você não pensa melhor nunca!
-O dono do teu cu desliga.
-Vai.
-Hã?
-A merda.
-Hahaha…

Gui desligou e Bruno tentou voltar a dormir. Mas não conseguiu. Só pensava na Bia. Lembrou da noite intensa de amor que tiveram na madrugada. Bruno se levantou, foi até a caveira e agradeceu.
-Eu sei que foi você. – Ele disse baixinho.
Olhou bem dentro das pedras brilhantes nos olhos da caveira e então teve uma ideia…

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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