As esculturas de Joseph Marr

Quando eu era mais novo, e ia na pracinha, costumava ouvir um barulho recorrente. Era um plec-plec-plec contínuo, que surgia do nada, e imediatamente eu e todas as crianças que ouviam aquele som, corríamos ao seu encontro.
Ali estava o “homem do pirulito”. O barulho era produzido por uma placa de madeira contendo um tipo de dobradiça de metal, que ele agitava de um lado para o outro. Eu creio que o “homem do pirtulito” já foi extinto, ou está em vias de ser, assim como o “homem do realejo” e o “vendedor de algodão doce” ambulante, que carrega aquele enorme trambolho no ombro, num arremedo infantojuvenil do Pagador de Promessas. Na lista dos ícones infantis que desaparecerão na esteira do progresso da cidade grande, está também o vendedor de sonhos, tamabém chamado de “homem da bolhinha de sabão” e o vendedor de estalinhos.

O vendedor de sonhos
O vendedor de sonhos
O vendedor de pirulitos
O vendedor de pirulitos

Mas o que interessa aqui não é exatamente o homem do pirulito, mas sim o doce em si. Geralmente eram cones vermelhos, feitos de um açúcar incrivelmente bonito. O palito era um palito de picolé. Me lembro de admirar aquele doce contra a luz do sol, observando microscópicas bolhas de ar presas no doce, que parecia vidro. Era tão lindo que dava pena de chupar.
Depois surgiram outros modelos, e sem duvida o mais infame de todos era um em forma de chupeta.

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De fato, aqueles pirulitos de açúcar tem o gosto da infância. Hoje eles disputam o mercado com milhões de opções de chocolates, balas, drops, tubetes e uma sorte quase infinita de balas de goma e gelatina.

Você pode estar se perguntando o que as esculturas de um tal de Joseph Marr tem a ver com os pirulitos de guardachuvinha da infância. Vamos chegar lá.

Joseph Marr é um escultor australiano que mora em Berlin, Alemanha. Nascido em 1979 ele segue trabalhando em uma série de meios, incluindo pintura, escultura, vídeo e fotografia. Sua arte é conceitualmente orientada, e, geralmente, preocupada com as questões de consciência.

Suas esculturas chamam a atenção, não apenas pelo produto final da obra, mas pelas etapas de produção, que se revelam complexas e interessantes.

Vamos ver uma de suas obras, intitulada “Vania”:

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Para fazer suas esculturas,  ele começa estudando a pose. No caso de Vania, ele trabalhou com uma modelo de Luxemburgo chamada Vania.

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Ele fotografa a modelo em diversas poses até definir uma que seja interessante artisticamente.

Depois, ela se veste para “viver a personagem”, e o artista treina e aperfeiçoa a pose com ela. Nessa etapa, ele cobre a modelo com um pó branco reflexivo, que adere na pele dela.

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A razão de colocar esse pó na modelo, é que ele usa um equipamento muito estranho para fazer a captura da forma. Basicamente ela vai ser escaneada por um sistema óptico. O sistema vai passar diversas linhas de luz pelo corpo dela e um computador consegue, baseado na topologia gerada pelas linhas, interpretar os volumes, e assim, Vania vai parar dentro do computador do cara. Para isso ela precisa ficar parada por um longo tempo.

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Uma vez que ela foi digitalizada, o passo seguinte é prototipá-la como uma escultura. Isso é feito por uma fresa CNC num bloco de Uriol (Uriol é uma resina própria para ser fresada que parece madeira, mas não tem imperfeições e é totalmente da mesma densidade)

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Uma vez que a matriz da peça foi gravada no bloco de Uriol, ele fabrica grandes moldes de silicone. Aqui é onde entra grande parte do trabalho duro, porque algumas poses demandam grandes e variados moldes diferentes. O silicone usado é o de um tipo próprio para fundição.

 

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Feito o molde, ele derrete enormes quantidades de açúcar, que receberão corantes e aromatizantes. O processo é EXATAMENTE o mesmo de fabricar as balas. Neste caso, o sabor é o abacaxi. O caldo é totalmente complexo, e para dar o efeito certo precisa de um controle absoluto de temperatura e umidade do ar, senão ele fica quebradiço e pode cristalizar de modo errado. O artista diz que custou a conseguir descobrir a formulação exata do ponto da bala.

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O material é derramado no molde, e quando ele esfria, a borracha de silicone é aberta, revelando a escultura feita de açúcar. Linda e gostosa, inclusive no sentido literal.

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Vamos ver mais algumas peças do cara. Esta é “Laura de Cereja”.  A sensação é que ela é feita de vidro.

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Algumas das peças dele são bem grandes, como a peça “Together”, uma cena erótica de nada menos de 9 metros de puro açúcar. A unica parte publicável é esta:

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Em suas exposições ele costuma deixar uma das peças disponível para os visitantes lamberem. As crianças adoram.

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Veja o video sobre ele aqui:

fonte
Uma dica do Lucas Gimenes

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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