Aqui estão as partes anteriores, o conceito e a escultura dessa personagem.
Essa parte vai ser meio rápida, e meio pulada, porque na pintura dessa escultura eu tive alguns problemas de tempo. Eu estava com muito trabalho e não estava conseguindo tempo para poder trabalhar nela. geralmente levo cerca de 6 a 12 horas pintando. Eu levo mais tempo pintando os modelos do que esculpindo-os o que é algo por natureza curioso desse negócio de crias as minhas esculturas.
Bom, como eu tinha pouco tempo, precisava concentrar o máximo na pintura e isso, claro, afetou a questão de fazer um passo-a-passo do trabalho. No entanto, como já tem varias outras esculturas detalhadas aqui no Mundo Gump, julguei que não seria nenhum pecado pular direto para “os finalmentes”.
Eu começo quase sempre do mesmo jeito, dando uma base de cor, onde depois eu pinto por cima. Nesse caso aqui, eu pintei essa peça com duas cores base. Preto para a roupa e branco para a pele. Fiz isso porque pintar a pele de preto me exigiria muito mais trabalho para pintar do que sobre o branco. Escurecer é sempre mais fácil que clarear.
Não repare a foto estourada, a lente dum celular não costuma ter latitude para mostrar legal o super contraste.
Enquanto começava o processo de pintura, tive uma ideia que seria bem legal se essa roupa espacial não fosse novinha, mas sim uma roupa toda fodida, bem usada e desgastada.
Comecei o trabalho dando uma base de cor e fui pintando depois individualmente os detalhes na peça. Como não havia nenhum mistério aqui, foi essa parte que eu pulei.
Depois da peça com a base de cor, comecei a fazer o envelhecimento do traje. O traje é composto de duas partes básicas, a metálica e a não metálica. A parte não metálica eu pintei com uma tinta chamada branco iridescente, que é uma tinta branca que brilha como um perolado. Esse tipo de tinta rarissimamente fica bom numa escultura, mas nesse caso aqui, dum traje espacial de ser ficcional, caiu muito bem para ser o material alien da parte de tecido do traje, até por suas capacidades de reflexão da luz, achei que ficaria legal e ficou mais legal do que eu esperava. Infelizmente, o material fica um milhão de vezes mais legal ao vivo que numa foto.
Já na parte metálica, optei por uma cor cinza completamente ridícula, que lembra aquela tinta cinza azulada dos navios. Isso era uma cor proposital, porque parece ficar bem com o branco iridescente e também tem aquela coisa militar-antiquada do tom de navio. E também destaca bem a ferrugem. Então a terceira camada no traje, é para fazer ele ficar bem velho. Mas essa será uma subcamada mais tarde. O traje tem na verdade umas seis ou oito camadas de cores diferentes sobrepostas. Cada uma com uma função.
Por cima dessa cor de óxido, eu entro com uma cor mais chapada, só que antes, vem a parte que interessa desse passo-a-passo: A oxidação. Após olhar algumas fotos de navios velhos, e trens abandonados, percebi que as tintas ressecam e começa, a se quebrar. Nos pontos de óxido, começa a rolar tipo um estufado-granuloso onde estoura a ferrugem. Quem tem caro velho sabe bem como é essa desgraça. Eu queria simular isso, então, fui lá na cozinha e peguei um pouco de sal.
Com um pouco de cola branca, passei em alguns pontos-chave da peça, onde eu queria que o estufado aparecesse. Sobre a cola eu apertei bem o sal, e sequei com um secador de cabelos para acelerar o trabalho.
Depois que secou, usei um pincel de cerdas duras para raspar o excesso de sal. O passo seguinte é pintar esses pedaços de sal com cola de uma cor de ferrugem escura.
E aqui vem a parte mais interessante do “macete”. Eu peguei um pouco de látex líquido (máscara liquida de desenho e pintura tb serve) e recobri tudo. Fica horrível. Mas é assim mesmo (tome cuidado pq o látex liquido fode o pincel):
Depois que os óxidos todos estavam protegidos com uma camada de latex, eu pintei TUDO de novo. Dessa vez com o cinza-navio. Depois dei uma camada de verniz fosco em cima. Esperei secar.
Aí depois que secou, vem a parte maneira pra caramba da brincadeira, que é descascar o metal enferrujado. Com a ponta de um estilete eu levantei a borracha e comecei a arrancar, revelando a ferrugem abaixo dela. É bom não tirar o latex todo, de modo que pareça a pintura se soltando mesmo.
Vê só se não parece aquelas carcaças de carro abandonadas no Detran?
O passo seguinte é dar uma trabalhada no rosto. Comecei pelos olhos. Para fazer os olhos eu usei um gabarito. Desenhei uma iris no photoshop e com ela imprimi na impressora mesmo um minte de olhinhos, de diversos tamanhos, sempre variando meio milimetro entre cada um. Isso me permitira tentar diferentes íris para ver o tamanho que ficaria melhor. Eu poderia ter pintado na mão e na verdade eu pintei mesmo, mas depois fui usar uma resina de poliuretano que tava vencida, e a filha da puta não catalisou. Quase perdi a peça. Então como eu estava dizendo, imprimi uns olhos aí em diversas cartelas. Umas seis vezes mais que a imagem abaixo, pq eu ja sabia que seria um cu de cortar cada íris. E foi!
Após imprimir com a melhor qualidade que a impressora laser conseguia, eu cobri cada bolinha com uma gota de esmalte de unhas. O esmalte NÃO é para fazer a lente do olho. É para proteger e endurecer mais o papel.
Com uma paciência digna de monge tibetano, cortei as íris e colei no lugar. Aí vem o macete: com este produto aqui, eu fiz a lente dos olhos pingando uma gota em cada iris.
É uma cola de relevo. Ela endurece e fica cristalina feito resina cristal. Muito bom, bonito e barato. Quando você pinga o treco é opaco, mas em uma hora mais ou menos ele fica como vidro. Paguei pau. Parabéns Corfix! O produto realmente presta!
Aqui em cima estava assim que eu pinguei.
O passo seguinte foi pintar o rosto. Essa cor de pele era a base de cor ainda. Sobre ela eu fiz a maquiagem, ui!
E de fato, eu pintei com base de maquiagem mesmo! Funciona super bem. O foda é ir comprar isso e esmalte na farmácia sem a moça achar que eu era transformista. Eu tenho (olha que gay) um conjunto grandão de bases de maquiagem, eu tenho um equipamento completo de maquiagem que não deixo em a Nivea botar a mão, pq eu usava pra fazer maquiagem de filmes e tal. Assim, pintei ela com base de maquiagem escura, para lembrar a pele dos índios pré-colombianos. Usei uns seis tons diferentes de base, e sobre o resultado apliquei um verniz em spray.
E aí acabou.
Depois de pronta que me liguei em quanto ela de perfil lembra esta famosa imagem aqui:
Bom, é isso, espero que tenham curtido. Até o próximo boneco.
bixo, parabéns,
vc eh foda!
Sou nada.
Caracaaa tchê! Me diz um talento que tu não tenha!? Parabéns…. Belíssimo trabalho!
Lavo louça mal pra caralho, hahaha. Obrigado pelo incentivo aí.
muito show Philipe fico muito legal , show!!!
Fico feliz que tenha gostado, mas essa peça foi só por diversão, assim fui inventando muito à medida do que fazia. Certamente poderia ter ficado melhor.
Muito legal, Phillip. Não é surpresa que demore mais pra pintar que esculpir, porque a pintura tem que envolver luz, sombra e às vezes até passar a impressão de texturas e volumes. Me diz um talento que tu não tenha². Mas confesso que não entendi por que envelhecer o traje.
Eu queria testar algo novo na peça. Não havia razão alguma para o traje ser todo ferrado. Foi diversão pura.
Ah, beleza. E ficou mesmo muito parecida com a imagem.
Eu gostei do traje envelhecido. A impressão que tenho é que ela já viajou muito pelo tempo e as roupas envelheceram mais do que deveria, como a experiência dos relógios atômicos no espaço.
Muito legal!
Parabéns, magnifica peça.
Eu sinceramente no curtí. Suas esculturas tem o aspecto de mal finalizadas, sujas e sem simetria. Você revisa caprichar mais.
Ok, desculpe por eu existir. Vou me empenhar mais para fazer jus ao que você espera de mim, e poder esculpir tão bem quanto você escreve.
HAHAHHAHAHAHAHHAHAAHAHAHAHAAHHAHAHAHAAH
Ficou demais, Philipe, não liga pra isso, não!
parabens,seus trabalhos saõ fantásticos.ADOREI mesmo.
trabalho com papel mache a mais de 15 anos e seus trabalhos me encantou.Gostaria de receber dicas de endurecimento de papel para moldar minhas peças,caso tenha alguma te agradecerei de montaõ
Parabéns pela peça. Achei legal você mostrar inclusive o conceito de onde tirou a idéia toda do trabalho.
Gostei também, do Belioz.
O trabalho que você faz com cor, luz, sombra, texturas e envelhecimento é digno de aplauso. Eu, com minha coordenação motora e talentos manuais, não consigo sequer fazer um aviãozinho de papel, quanto mais pensar em camadas de pintura e detalhes.
Mais uma obra, parabéns! Porém eu não a teria feito (como se eu fizesse algo rsrsr) com olhos azuis, gostei muito das feições meio negras dela, eu apostaria num olho meio heterocromático entre o castanho e o verde, como este aqui: http://listcrux.com/wp-content/uploads/2014/01/hazel-eyes.jpg
Na verdade, resolvi usar esse azulão para criar contraste, e também tentar diferenciar da tendência genética, como se ela tivesse uma forma humana, mas sutilmente diferente. Eu queria olhos como os do garoto chinês que a galera diz que é um híbrido. http://arquivoufo.com.br/2012/01/23/olhos-azuis-de-garoto-chines-brilham-no-escuro/
Interessante, pensando por este lado os olhos azuis me parecem mais sedutores agora.
Show.. Mas não tem uma técnica que deixasse o rosto(pele) da garota mais lisinho? achei ele muito áspero ressaltando a “falta de acabamento” que o Edu citou ai.
Fora isso, ficou muito irado esse traje envelhecido, parabéns.
Tem sim, basta dar uma lavada com álcool isopropílico no final, mas no meu caso, como a massa estava endurecida e eu ainda usei a hard para fazer é bem mais difícil. A tinta tb estava velha e não ajudou.
Muito legal Philipe! Fiquei viajando na escultura imaginando que ela seria um personagem foda de filme :)
você fotografa bem, escreve bem, faz esculturas fodas! O seu filho deve curtir pra caramba o paizão criativo dele!
Hehehe valeu. Ele curte muito mesmo! Todo dia tenho que inventar, contar e até fazer o role play de duas ou três histórias para ele. A Nivea falou que vai filmar e criar um canal do youtube, hahaha