O golpista

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Na manhã de quinta-feira, 04 de dezembro de 1924, um comerciante holandês alto e bem-vestido chamado Karel Marang passeava pela Great Winchester Street, na cidade de Londres, entre a multidão agitada de banqueiros e corretores do distrito comercial, sem saber que o pacote que ele carregava tinha o estranho poder de derrubar uma nação inteira.

A nação em perigo não era sua casa na Holanda, nem era a dos britânicos entre os quais ele andava. Pelo contrário, era um país a cerca de 700 milhas ao sul, chamado Portugal.

Quando Marang chegou ao seu destino⁠⁠⁠⁠—um prédio de escritórios de tijolos amarelos de quatro andares despretensioso⁠⁠—, ele abriu a porta. No interior, um amplo espaço de escritório no térreo estava cheio de fileiras de mesas, funcionários ao telefone e o zumbido suave do frenético trabalhar dos homens de imaculados colarinhos brancos.

Marang estava ali para conhecer Sir William Alfred Waterlow, o distinto Cavaleiro Comandante da Divisão Civil da Ordem do Império Britânico. Sir William também era o diretor administrativo adjunto deste local de negócios: Waterlow & Sons Limited, gravadores de papel moeda fino, selos postais e outros documentos oficiais. Um cavalheiro sentado em uma pequena mesa de recepcionista encaminhou Marang para a escada.

Marang subiu para encontrar um espaçoso escritório ocupado por Sir William⁠⁠ – um legítimo e elegante lorde britânico.
Marang apresentou um maço de documentos: incluía seu cartão de visitas; uma carta de apresentação de uma conceituada firma de gravuras holandesas; uma carta diplomática certificando que seu transportador tinha procuração sobre as negociações atuais; e um contrato autenticado, encadernado em cera, enfeitado com selos consulares internacionais.

O contrato era básico  – autorizava a Waterlow & Sons a imprimir uma série de notas para o Banco de Portugal, algo que a empresa já havia feito antes. Claro que Sir William ficou feliz em fazer negócios adicionais com seus clientes portugueses. Mais tarde, no entanto, ele descobriria que, ao se sentar com esse comerciante holandês de aparência inócua, estava enredando a si mesmo e sua empresa em um assalto de proporções históricas. Algo tão, mas tão GUMP que nunca mais nada igual em ousadia foi tentado (ao que se sabe).

Artur Alves Reis, o 171 mais 171 da face da Terra

O arquiteto desse assalto histórico estava sentado em um escritório particular a 1.600 quilômetros de distância em Lisboa.

Ele era um empresário português falido, mas ambicioso, chamado Artur Virgílio Alves Reis.

Artur nasceu em Lisboa em 1896, criado em pobreza limítrofe devido aos maus investimentos do pai. Após terminar o ensino médio, o jovem Alves Reis tentou um curso de engenharia, mas desistiu após apenas um ano. Em 1916, logo após Portugal se juntar aos Aliados na Grande Guerra, Alves Reis, agora com 20 anos, e sua nova esposa Maria fugiram para a colônia portuguesa de Angola, na costa oeste da África Austral.

 

Angola não era um lugar muito confortável para criar uma família; era uma bela terra de praias tropicais, rios cintilantes e deserto subsaariano, mas o território africano havia ficado empobrecido devido à pilhagem e negligência de senhores distantes. Os portugueses haviam usado a terra como colônia de escravos já em 1500, mas quando Alves Reis chegou em 1916, o tráfico de pessoas já havia sido substituído pelas exportações de café, algodão e tabaco.

O jovem Alves Reis era bonito, criativo e ambicioso⁠⁠ – e ele poderia encantar as espinhas de um lagarto angolano. Quando soube que Angola precisava de engenheiros qualificados para ajudar a construir sua nova infraestrutura agrícola, ele não teve dúvidas. Precisou se tornar um engenheiro. Para isso, ele usou o diploma universitário de um amigo como modelo para forjar um diploma de bacharel em seu próprio nome. Impresso em papel sulfite fino, declarou que ele havia se formado na Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de Oxford, listando especialidades em uma enorme variedade de disciplinas, incluindo geologia, física, engenharia elétrica, engenharia civil e matemática. Ele a adornou com selos de aparência oficial e assinaturas forjadas. Alves então levou a fabricação ao cartório local.  Este notário em particular não era tão rigoroso como alguns, e afinal, Alves Reis parecia um cavalheiro íntegro.

Com estas credenciais manufaturadas e o seu poder se sedução sobre-humano, Alves Reis, agora “bacharéu em Engenharia” logo assegurou uma posição de destaque na capital angolana Luanda, supervisionando os planos de edifícios e esgotos para o Departamento de Obras Públicas.

Esse trabalho de escritório provou ser bastante tedioso, então ele usou suas skills para garantir um emprego adicional de meio período como engenheiro supervisor em uma oficina de conserto de ferrovias. Ele rapidamente conquistou o respeito de seus colegas ferroviários⁠⁠ – ao contrário de outros supervisores, que mantinham distância das locomotivas engorduradas e fuliginosas, ele estava disposto a sujar as mãos no pátio ferroviário, literalmente escalando trens para ajudar a diagnosticar problemas mecânicos. Apesar de sua falta de treinamento formal, ele demonstrou uma proficiência surpreendente para solucionar problemas das máquinas pesadas.

Alves Reis também ficou conhecido por suas demonstrações grandiosas. Certa vez, ele bateu de frente com os inspetores ferroviários depois de ter encomendado algumas locomotivas a vapor modernas dos EUA. Na falta de quaisquer dados reais para apoiar a sua refutação, Alves Reis contestou a afirmação dos inspetores e convidou o público a observar enquanto embarcava num desses motores americanos com a mulher e o filho recém-nascido para uma viagem por Angola. Felizmente para ele, nenhuma das pontes desmoronou nesta jornada, nem sua reputação. Na verdade, ele logo foi promovido a engenheiro-chefe interino. Em outra ocasião, quando a safra de tabaco de um amigo estava acabando por causa da seca, Alves Reis identificou um rio próximo que poderia ser usado como fonte de água, o único obstáculo é uma colina substancial entre os dois locais. Alves Reis de alguma forma convenceu cerca de 50 moradores a pegar suas picaretas e pás para ajudar a cavar um canal de irrigação direto no morro. A água salvou a colheita e Alves Reis voltou a ser aclamado como herói.

 

Alves Reis foi um sucesso profissional, mas descobriu que o serviço público e o trabalho ferroviário não pagavam tão bem quanto ele gostaria. Então ele largou seus empregos legítimos para embarcar em uma série de empreendimentos comerciais orientados para a fraude. Publicou anúncios de sacos de juta, uma fibra forte e popular entre os angolanos, mas os sacos que entregava eram apenas de papel grosso. Ele consertou e repintou alguns tratores alemães antigos e os vendeu como sendo novos. Ele comprou colheitas inteiras de fazendas em toda a Angola, então pediu a seus velhos amigos do ramo ferroviário que priorizassem seus embarques em relação aos de seus concorrentes. Essas variadas pilantragens provaram ser muito mais lucrativas do que o trabalho honesto. Em 1922, terminada a guerra, estava pronto para regressar ao conforto de Portugal com a mulher, dois filhos pequenos e uma pequena fortuna em escudos.  Alves Reis tinha acumulado mais de 600.000 escudos (no valor de cerca de $ 500.000 hoje). Em preparação para o seu regresso a Lisboa, transferiu os seus fundos para bancos portugueses. Este recuo foi oportuno⁠ ⁠— haja vista que em seguida  Portugal declarou o escudo angolano como uma moeda separada administrada por um banco central separado. Separada da estabilidade do Banco de Portugal, Angola mergulhou em mais desespero econômico quando sua moeda entrou em hiperinflação.

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De volta a Portugal, cheio de dinheiro, Alves Reis comprou um automóvel Nash novinho em folha, mudou-se para um luxuoso apartamento de 12 quartos e contratou uma equipe de empregados domésticos. Ele começou uma empresa com alguns parceiros de negócios, e seu nome rapidamente ganhou prestígio na comunidade. Com o tempo, porém, seus gostos caros e investimentos infelizes esgotaram suas reservas de capital, e ele ficou desesperado por uma nova fonte de renda para manter seu estilo de vida e reputação. Olhando para a sua antiga casa de Angola, Alves Reis descobriu a situação da empresa ferroviária transafricana Ambaca. A empresa estava sofrendo suas próprias dificuldades financeiras⁠⁠ – o preço de suas ações caiu para alguns escudos escassos, e os credores estavam clamando. Alves Reis soube que a Ambaca acabara de receber um empréstimo de 2 milhões de escudos do governo português (cerca de 1,5 milhões de dólares ajustados).

Não havia tempo a perder. Um golpe ousado resolveria tudo, mas se eu prestasse atenção aos meus escrúpulos, inevitavelmente fracassaria. No mundo materialista a que pertenço, não há homens honestos nem patifes⁠⁠ — há apenas vencedores e vencidos.

Alves Reis calculou o número de ações que necessitaria obter para obter o controlo da Ambaca: cerca de 800.000 escudos. Então ele começou a fazer cheques sem fundo. Ele não tinha reservas em dinheiro para cobrir esses cheques, mas tinha algo melhor: uma conta corrente no National City Bank em Nova York. Um cheque de um banco de Nova York tinha um certo ar de legitimidade, o que era útil. E mais importante, os cheques em papel teriam que ser colocados em um navio em Lisboa e transportados através do oceano até Nova York e entregues a uma agência bancária antes que qualquer tentativa fosse feita para realmente sacar os fundos da conta. Enquanto isso, Alves Reis usou os cheques para garantir o controle acionário da Ambaca, o que lhe deu a imediata custódia da conta da empresa. Ele então enviou os fundos necessários para sua conta do National City Bank por transferência eletrônica, via telégrafo.

Em seguida, Alves Reis usou sua caixa dois ilegalmente para comprar o controle de outra empresa com dificuldades financeiras: a South Angola Mining Company. Os engenheiros da empresa ainda não tinham descoberto nada que valesse a pena em Angola, mas Alves Reis sentiu que poderia aumentar os preços das ações da empresa alavancando a sua reputação e espalhando falsos rumores de paydirt. Ele também esperava atrair alguns financistas ricos para investir na empresa para inflar seu valor. Foi assim que foi apresentado a José Bandeira, um empresário interessado na extração de recursos angolanos.

José Bandeira c. 1922

Bandeira era português de nascimento, mas residia em Haia⁠⁠—uma cidade internacionalmente importante na Holanda que abrigava o Tribunal Permanente de Justiça Internacional (dissolvido em 1946). Bandeira era muito bem relacionado e estava constantemente rodeado de diplomatas e industriais. O próprio irmão de Bandeira, Antonio, era o ministro português na Holanda, uma posição de considerável privilégio diplomático.

Enquanto Bandeira visitava Lisboa, Alves Reis o procurou e aplicou uma combinação de afabilidade, bajulação e ostentação. Alves Reis escreveu mais tarde:

Na manhã seguinte encontrei Bandeira esperando um bonde. Dei-lhe uma carona no meu carro com motorista. No meu escritório, Bandeira ficou tão impressionado que me pediu para lhe dar direitos de opção sobre as ações da mineradora e se ofereceu para me apresentar a seus amigos se eu fosse à Holanda. Assim que percebi que ele tinha excelentes conexões em Haia, decidi usá-lo, assim como podemos usar limões: nós os esprememos e os descartamos.

Alves Reis concebeu um grande esquema que esperava dar uma solução permanente às suas dificuldades financeiras. Era espantosamente ambicioso, e para ter alguma chance ele precisaria da ajuda de homens como Bandeira.  Para alimentar essa promissora relação, Alves Reis aceitou o convite de Bandeira e visitou Haia em maio de 1924. Nessa viagem, Bandeira o apresentou a dois colegas: um comerciante holandês chamado Karel Marang e um comerciante alemão chamado Adolf Hennies, que era um ex-cavalheiro espião. Entre eles, eles tinham conexões ainda mais profundas com diplomatas e empresários internacionais. Estes eram “limões” particularmente suculentos.

Descobriu-se, no entanto, que o plano teria que esperar. Pouco depois de regressar a Portugal, Alves Reis foi detido sob a acusação de fraude e peculato. Denunciantes do conselho de Ambaca encontraram evidências de sua audaciosa jogada com os cheques sem fundo e o denunciaram às autoridades financeiras. Bandeira e Hennies, recém-chegados a Lisboa, chegaram a visitar Alves Reis na cadeia. Apesar de suas garantias confiantes de que essas acusações eram falsas, os dois empresários voltaram imediatamente para a Holanda, aliviados por terem se esquivado de uma furada. Mal sabiam eles que a furada ainda estava em sua gênese.

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Artur Alves Reis leu muito durante seus 54 dias de prisão. Ele negou categoricamente cada uma das acusações contra ele, culpando seus problemas legais como ameaças de seus “inimigos políticos” (o velho truque, né?).

Quando ele foi a julgamento em 27 de agosto de 1924, o juiz rejeitou a acusação de peculato por motivos perdidos no tempo, mas manteve a acusação de fraude por um único cheque não compensado de US $ 5.000. Alves Reis conseguiu a fiança e o reembolso providenciando a venda de seus carros e até das joias de sua esposa. Uma vez reembolsados, os credores concordaram em não prosseguir com acusações criminais. Alves Reis saiu livre e falido, bem a tempo de conhecer seu terceiro filho, nascido durante seu período na cadeia.

Empresários locais surpreenderam Alves Reis com um jantar para celebrar a sua liberdade. Ao voltar para casa, a família começou a arrumar seus pertences, preparando-se para se mudar para um apartamento muito menor do outro lado da cidade.

Fakenews

Em poucas semanas, colunas começaram a aparecer nos jornais de Lisboa descrevendo uma tenebrosa “conspiração de banqueiros e políticos que perseguiam injustamente um respeitado empresário local⁠⁠—Artur Alves Reis”.
Descobriu-se que essas colunas eram, na verdade, conteúdo patrocinado, anúncios pagos por Alves Reis, habilmente projetados para se misturar com reportagens reais. Alves Reis recortava e mandava essas páginas para Bandeira, Marang e Hennies e assim foi limpando sua barra. A princípio eles o ignoraram, relutantes em colaborar com alguém recentemente acusado de fraude. Mas quando Alves Reis partilhou com eles a dimensão de um negócio que conduzia, e aludiu ao lucrativo contrato que mantinha com nada menos que o próprio Banco de Portugal, os empresários ajustaram o seu apetite pelo risco.
Empolgado, Alves Reis avançou com a primeira etapa de seu grande plano.

Karel Marang

Em uma tarde de outono de 1924, trabalhando em seu pequeno escritório pessoal em Lisboa, Artur Alves Reis, agora um jovem de apenas 28 anos, sentou-se à sua mesa, acendeu um cigarro e enrolou uma folha de papel sellado em sua fiel máquina de escrever LC Smith.

Papel vendido, ou “papel lacrado”, era um papel de carta especial exigido pelo governo com o selo de Portugal. Era caro, mas disponível para compra em qualquer papelaria licenciada. Era necessário para contratos, testamentos, escrituras e documentos semelhantes. Seu preço de compra era uma forma de o governo tributar transações legais, e qualquer documento impresso nele automaticamente parecia muito oficial. Alves Reis datilografou um contrato de quatro páginas que dizia ser do Banco de Portugal, autorizando um sindicato luso-holandês a providenciar a impressão de novas notas para estimular a economia angolana. Ele calculou que 200 milhões de escudos (aproximadamente $152 milhões de dólares) era o valor máximo que poderia ser inserido na economia portuguesa sem levantar as sobrancelhas regulatórias, então era precisamente o valor de escudos que o contrato permitia.

No que estava se tornando seu movimento de assinatura, Alves Reis levou essas páginas datilografadas para o único lugar que as elevaria de um maço de papéis chatos a um Documento Certificado: o cartório local. Dado que Alves Reis era um conhecido e respeitado membro do empresariado, combinado com a incrível capacidade de Alves Reis de deixar as pessoas à vontade conversando sobre amenidades da vida, o assistente do notário nem se deu ao trabalho de ler os papéis. Ele apenas carimbou e assinou a capa do contrato, aceitou a taxa, e Alves Reis estava pronto.

Sua próxima parada foi o Consulado Britânico. Ele tinha aprendido que a maioria dos consulados estrangeiros oferece um serviço onde eles podem verificar se uma notarização é de um notário licenciado ou não. Este serviço burocrático pouco se interessou pelo conteúdo real do documento autenticado, apenas verificou que a própria notarização era de um profissional licenciado. Era. A notarização apresentada por Alves Reis era de fato legítima, de modo que o funcionário do consulado enfeitou a capa com o imponente carimbo do Consulado Britânico. Este processo foi repetido nos consulados alemão e francês.

Apesar de suas dificuldades financeiras, Alves Reis manteve alguns funcionários⁠⁠—entre eles um gerente de escritório leal chamado Fransisco Ferreira. Quando Alves Reis terminou de colecionar selos, atribuiu a Ferreira a tarefa de redigitar o contrato em português e francês lado a lado, novamente em papel sellado.

Ferreira era um datilógrafo muito mais capacitado e dominava melhor o francês. Ele não sabia que o documento era fraudulento e estava animado por fazer parte de uma operação secreta tão importante. Assim que Ferreira terminou de datilografar e saiu para a noite, Alves Reis destacou a folha de rosto autenticada do contrato original e a anexou ao novo. Ele acrescentou uma página de espécimes com notas nítidas de 500 e 1000 escudos anexadas. Em seguida, Alves Reis colocou sobre sua mesa um pantógrafo, dispositivo que pode duplicar e redimensionar os movimentos de uma caneta, normalmente usada para fazer cópias ampliadas de desenhos mecânicos. Debaixo de um braço do dispositivo colocou o contrato e, no outro, colocou uma nota de 500 escudos. Traçou cuidadosamente a assinatura impressa na nota⁠⁠ — a de Inocêncio Camacho Rodrigues, o governador do Banco de Portugal⁠⁠—e o pantógrafo fez uma cópia ampliada na linha de assinatura do contrato. Ele então recolocou todo o pacote de papel com agulha e linha e selou a encadernação com cera derretida. Ele possuía um anel com um brasão português em relevo, e usou isso para fazer uma impressão de aparência oficial na cera antes que ela endurecesse. O documento resultante⁠⁠—em papel timbrado autenticado, selado e enfeitado com selos consulares⁠⁠— parecia muito oficial, internacional e claro não valia nada.

Um pantógrafo antigo

A criação da conspiração

 

Alves Reis mostrou o contrato a cada um dos seus ajudantes, e explicou que lhe tinha sido confiado pelos diretores do Banco de Portugal para ajudar nesta missão secreta de resgate financeiro de Angola. O papel de Alves Reis era identificar uma agência de impressão de notas adequada e providenciar confidencialmente a impressão de uma grande quantidade de novas notas. Alves Reis e associados usariam então esta festa de dinheiro para investir na economia de Angola nos bastidores. Os administradores do Banco de Portugal insistiam no mais estrito sigilo, explicou Alves Reis⁠⁠— ou o público português ficaria indignado se soubesse que o seu banco central estava a inflacionar a moeda nacional para ajudar Angola. Toda comunicação com o banco deve passar pessoalmente por Alves Reis, disse. Se esse empreendimento fosse revelado, os diretores do banco “estavam orientados a desmentir qualquer conhecimento disso”, e a coisa toda cairia em pedaços⁠⁠ – todos perderiam. Ele ainda reforçava que esse tipo de maquinação clandestina acontecia o tempo todo, e se as coisas funcionassem bem, havia planos ainda maiores!

Bandeira, Marang e Hennies ainda não tinham certeza de quais seriam seus papéis na conspiração econômica oficial, mas com tanto dinheiro circulando, estava claro que os manipuladores seriam recompensados ​​generosamente. Enquanto isso, o empreendimento precisaria de financiamento até que as primeiras novas notas fossem entregues. Marang, presumivelmente o mais rico entre eles, concordou em cobrir os custos até que pudesse ser reembolsado. Enquanto isso, Bandeira convenceu seu irmão ministro a fornecer a eles um passe diplomático que permitiria aos homens cruzar fronteiras internacionais com o mínimo de problemas. Fácil demais.

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Até ao início de 1900, o Banco de Portugal imprimia as suas próprias notas. Mas durante a Primeira Guerra Mundial, houve escassez de peças para as máquinas de impressão. Uma parte particularmente delicada da prensa tipográfica era o sistema mecânico de numeração de série. Cada nota era impressa com um número de série único, e as impressoras sequenciais tinham muitas pequenas peças móveis e isso gerava um torturante mundo de falhas. Quando as máquinas sequenciais do Banco de Portugal quebraram durante a guerra, os funcionários acharam impossível encontrar substitutos. Descobriu-se que as grandes gravadoras do mundo detinham a maioria das patentes dessas máquinas e claro, não estavam interessadas em fabricá-las para venda. A razão disso é que eles poderiam ganhar muito mais vendendo papel moeda impresso por eles ao longo de décadas, do que vendendo uma máquina uma só vez.

Alves Reis encarregou o holandês Karel Marang e o alemão Adolf Hennies de encontrar uma impressora de dinheiro. Os dois homens haviam feito alguns negócios juntos durante e depois da guerra, mas esse contrato foi de longe a oportunidade mais lucrativa que encontraram. Particularmente entre eles se perguntavam se o documento era legítimo⁠⁠ — afinal, Alves Reis havia sido preso por suspeita de fraude. Claramente aquilo tinha cara de pilantragem, mas por outro lado, ele parecia ser bem relacionado e respeitado. Era possível que o banco o tivesse escolhido para esse trabalho sombrio justamente por seu flerte com a fraude e não apesar dele. Talvez os presidentes dos bancos precisassem de alguém disposto a se envolver em pequenas manobras monetárias ilícitas. Por fim, Marang e Hennies decidiram que o melhor curso de ação era levar o contrato para uma gráfica em potencial⁠⁠—se uma grande gravadora aceitasse o contrato, ele só poderia ser legítimo.

Para sua primeira tentativa, em 03 de dezembro de 1924, Marang visitou uma empresa chamada Enschedé, a gráfica responsável pelas notas de dinheiro da Holanda. No grande museu do gravador em Haarlem, cercado por mais de 200 anos de espécimes de impressão fina e réplicas de pinturas famosas, Marang se encontrou com um representante da empresa para explicar a missão do sindicato. O representante examinou a página de espécimes e explicou educadamente que sua empresa não poderia reproduzir o trabalho de outra empresa, esta era uma regra ética da profissão. Mas por acaso, ele conhecia uma conceituada firma de gravuras que já havia impresso notas para Portugal: Waterlow & Sons Limited de Londres. O representante disse a Marang que ficaria muito feliz em escrever uma carta de apresentação.

Sir William Alfred Waterlow ca. 1926

Marang chegou à Waterlow & Sons na Great Winchester Street no dia seguinte, com a carta na mão. O prédio era simples, mas a firma era distinta; A Waterlow & Sons fazia negócios há mais de um século. Fundada em 1810, a empresa era uma importante gravadora internacional de moeda, selos postais e certificados de ações e títulos. No grande escritório de Sir William, Marang explicou que representava uma parceria “luso-holandesa estabelecida para melhorar a economia angolana”. A situação de Angola era amplamente conhecida, a situação era suficientemente desesperadora para ser notícia internacional. A moeda da colônia havia hiperinflacionado para essencialmente inutilidade, o governo colonial estava falido e sua infraestrutura estava desmoronando no país.

Sir William simpatizou de cara com a causa e estava satisfeito por ter um novo negócio. Mas quando ele virou para a página de espécimes do contrato, sua expressão escureceu. Ele conhecia a firma que imprimira as notas anexas; era um de seus principais concorrentes. Ele devolveu o contrato e informou a Marang que sua firma não poderia imprimir aquelas notas na proposta. Não essas notas de dinheiro. A Waterlow & Sons já imprimiu notas de 500 escudos no passado, explicou, mas eram da série “explorer”, com uma efígie do explorador português Vasco da Gama. A nota no contrato era de uma série de “poetas” em homenagem a poetas portugueses famosos. Sir William abriu a gaveta, puxou uma nota da linha “explorador” e Marang o inspecionou com aprovação. A boa notícia era que este desenho de Vasco da Gama ainda estava em circulação, então era trivial mudar o contrato para a cédula alternativa. A má notícia era que a Waterlow’s nunca havia impresso nenhuma nota de 1.000 escudos para Portugal, então eles não tinham as placas para cumprir essa parte do contrato. Mas isso era algo que eles poderiam resolver no futuro. O contrato permitia até 200.000 notas no valor de 500⁠⁠—100 milhões de escudos. Isso já seria um bom começo.

Até onde Sir William sabia, o contrato era legítimo. O advogado da empresa observou alguns problemas menores, como ordenação de páginas não convencional, mas nada que invalidasse o documento. Entretanto, o representante da empresa em Lisboa, um homem chamado Romer, enviou telegramas expressando suas fortes dúvidas sobre a legitimidade daquele contrato, mas foi obrigado a silenciar seus protestos. Era um contrato incomum, é claro, mas as explicações da conspiração financeira de Portugal fazia total sentido e essas eram “circunstâncias incomuns”.

Sir William mandou verificar os antecedentes de Karel Marang, e o relatório veio: Ele era impecável. E a carta de apresentação de seus colegas de Enschedé  também foi verificada e foi tranquilizadora. Ainda assim, era sempre prudente ser cauteloso. Sir William explicou a Marang que precisaria de uma carta de autorização adicional assinada pessoalmente por  ninguém menos que Camacho Rodrigues, o governador do Banco de Portugal. Isso, Marang assegurou-lhe, conseguiria em breve.

 

Para satisfazer o pedido de Sir William, Alves Reis dirigiu-se a uma pequena tipografia independente em Lisboa. Ele questionou longamente o lojista sobre um pedido de impressão caro e hipotético que ele planejava levar para o estabelecimento. O lojista com olhos arregalados e boca salivando por um contrato fabuloso, respondeu alegremente, todas as duvidas de Alves Reis. Ao despedir-se, Alves Reis referiu que acabava de regressar de Paris, e que se tinha, veja você,  “esquecido” de levar para o seu amigo Camacho Rodrigues, do Banco de Portugal, uma bela papelaria francesa.
O lojista, inclinado a agradar seu futuro cliente valioso, se ofereceu prontamente a rodar um pedido para ele. Alves Reis agradeceu e alertou o impressor para guardar o aquele papel de carta com segurança⁠⁠ — pois não gostaria que caísse em “mãos erradas”.

Uma nota de 500 escudos da série ‘explorer’

Armado com papel timbrado e envelopes convincentes, Alves Reis datilografou uma carta em nome do governador, assegurando a Sir William que o contrato que Marang carregava era mesmo legítimo. Ele elogiou Sir William por sua cautela em relação a um assunto tão delicado e o instruiu a encaminhar todas as comunicações futuras com o banco por meio de Marang e seus associados por uma questão estratégica de sigilo. A assinatura final dele era feita com o pantógrafo, é claro.

Cerca de uma semana depois, Marang entregava em mãos a última falsificação de Alves Reis ao distinto lorde da Waterlow & Sons. A casa da moeda  iniciou os preparativos para a impressão. Apesar de terem concordado em que toda a comunicação sobre este assunto passasse pela Marang, Sir William decidiu fazer uma última verificação final de que o contrato era legítimo. Enviou a Camacho Rodrigues uma carta discreta pelo correio normal:

Tenho o prazer de acusar o recebimento de sua carta confidencial de 23 de dezembro, cujo conteúdo anotei e pelo qual estou grato.

Atenciosamente,
William A. Waterlow
Presidente da Waterlow & Sons Limited

A secretária de Sir William colocou a carta no correio de saída e guardou uma cópia no arquivo oficial de correspondência. Se Camacho Rodrigues tivesse de fato escrito a carta autorizando o contrato, Sir William não esperava resposta. Mas se não fosse o autor da carta, esta mensagem enigmática da Waterlow & Sons iria certamente alarmar o Banco de Portugal, e os funcionários do banco iriam intervir. Sir William nunca recebeu resposta a esta carta, embora não pelo motivo que supôs⁠⁠ – foi porque a carta de alguma forma nunca chegou a Camacho Rodrigues. Uma dessas coincidências incríveis que parecem brotar em toda boa história de golpistas.

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Em 10 de fevereiro de 1925, Karel Marang estava sentado em seu luxuoso quarto no London Ritz Hotel, esperando sua entrega chegar. Ele tinha esticado as suas finanças nesta empresa, incluindo dezenas de milhares de escudos indo para Alves Reis para subornos imaginários a diretores de bancos. Mas agora o empreendimento estava quase se concretizando, e Marang esperava um grande retorno de seu investimento, bem como a satisfação de fazer algo de bom para Angola. Houve uma batida na porta e Marang a abriu para cumprimentar o mensageiro. O mensageiro transportou um carrinho contendo uma valise de couro enorme, do tamanho de um baú de tesouro, pesando cerca de 45 kg. O mensageiro não sabia, mas aquela mala continha 20.000 notas de dinheiro recém-impressas⁠⁠— no valor de 10 milhões de escudos  (algo como $ 7,6 milhões de dólares hoje). E isso ainda era uma mera fração de todo o pedido; o resto estaria pronto em duas semanas. O pagamento de toda a tiragem custou a eles 1.500 libras esterlinas (equivalente a cerca de US$ 120.000 em 2022). Para o grupo, isso representaria um retorno sobre o investimento de mais de 6.000%.

No dia seguinte, Marang voltou para sua casa em Haia, a valise enorme amarrada em adesivos de serviço diplomático de cores vivas que a haviam protegido da inspeção alfandegária. A ele logo se juntaram Alves Reis, Bandeira e Hennies. Os maços de notas arrumados ainda cheiravam a tinta fresca. Os quatro homens redigiram um contrato muito curto estipulando que os “lucros” seriam divididos igualmente à medida que chegassem, 25% por homem, após os devidos reembolsos.

Adolph Hennies ca. 1924

Embora Marang e Bandeira possam ter acreditado que esse projeto era legítimo, é bem provável que Hennies não acreditasse. Seu treinamento como espião o tornou incomumente cauteloso com histórias de estranhos. E ele já tinha um histórico de participação em esquemas com notas de dinheiro. Em 1923, ele soube que a Alemanha estava planejando discretamente substituir o papel-moeda nacional por um novo para combater a hiperinflação, e ele sabia onde estava armazenado um grande estoque da moeda que logo se tornaria obsoleta. Com a ajuda de pessoas de dentro que subornou,  Hennies levou uma parte das notas antigas para as bolsas internacionais para convertê-las em libras esterlinas e francos suíços pouco antes de as notícias da nova moeda se tornarem de conhecimento geral. Esse esquema havia sido lucrativo, resultando em um bônus respeitável, mas esse novo projeto prometia uma fortuna incalculável.

Antes que Alves Reis pudesse começar a distribuir o dinheiro para si mesmo e seus cúmplices, ele precisava ser lavado ⁠ – os banqueiros tendiam a desconfiar de grandes quantidades de notas sequenciais que ainda tinham aquele cheiro de nota nova. Para o efeito, Alves Reis deslocou-se ao Porto, cidade onde era costume os bancos fecharem os olhos, sobretudo para determinados tipos de serviço monetário. Com a ajuda do seu chefe de gabinete Ferreira, Alves Reis contratou um grande número de “laranjas” na cidade e deu a cada homem uma pilha de escudos. O trabalho deles era visitar vários bancos e fazer muitos depósitos de aparência honesta.

Alternativamente, eles poderiam levar o dinheiro para trocas de moeda estrangeira e trocá-lo por libras, francos ou dólares. Os laranjas ficariam com 2% de todo o dinheiro que movimentavam. Alves Reis transferiria mais tarde os fundos depositados para as suas contas nos bancos das grandes cidades, e aí os retiraria, e assim a sua riqueza foi dissociada das notas de dinheiro que não eram falsas, mas eram novas demais.

À medida que o dinheiro lavado entrava, Alves Reis pagava aos seus três cúmplices de aparência diferente pagamentos generosos para a sua “comissão”, incentivando-os a investir alguns dos despojos em negócios angolanos (especialmente na South Angola Mining Company).

Enquanto isso, novas malas cheias de dinheiro zero km chegavam periodicamente da Waterlow & Sons.

Tudo parecia ir bem, na “jogada do século” até que…

Em uma ocasião, um laranja preguiçoso  depositou uma grande quantia de seus escudos em uma única transação, fazendo com que um gerente de banco de olhos aguçados examinasse os antecedentes do depositante. O homem, descobriu-se, tinha uma prisão anterior por peculato. Suspeitando de uma operação de falsificaão de dinheiro, o gerente do banco enviou duas notas de prova ao Banco de Portugal para inspeção. O banco central devolveu as notas, certificando-as como notas legítimas impressas por um gravador licenciado, logo, sem motivo de preocupação.

Noutra ocasião, enquanto Alves Reis e Hennies escoltavam um carregamento de notas de Londres, um rabugento funcionário da alfândega de Lisboa decidiu deliberadamente que não respeitaria os selos diplomáticos e disse a Alves Reis que os seus agentes iriam sim abrir a valise de grandes dimensões para inspeção.

Se os agentes alfandegários vissem o dinheiro bruto dentro, eles certamente entrariam em contato com as autoridades, e o plano teria ido “para o saco”. Hennies ficou seriamente preocupado, mas Alves Reis, de posse de todo sangue frio possível para um ser humano,  acenou com desdém para o agente alfandegário e levou Hennies para um jantar requintado⁠⁠ – tranquilamente ciente de que poderia ser sua última refeição como um homem livre.

Eles voltaram ao balcão da alfândega no dia seguinte. Assim que bateram os olhos nas bagagens, viram que o baú permaneceu lacrado. Numa dessas sotes que só ocorrem em filmes, houve uma mudança de turno no exato momento em que as bagagens seriam examinadas, e o novo supervisor estava menos inclinado a encher o saco dos “diplomatas”.

Em Março de 1925, o sindicato Alves Reis tinha recebido todas as notas da Waterlow & Sons⁠⁠— os 100 milhões de escudos.

Os laranjas continuaram a dispersar o dinheiro nos bancos dia após dia, mas pela estimativa de Alves Reis, a lavagem das 200.000 notas físicas levaria meses, ou até mesmo anos.
Entretanto, começaram a circular rumores de notas falsas de 500 escudos, tanto que o Banco de Portugal inspecionou ainda mais as notas suspeitas e publicou avisos nos jornais locais assegurando ao público que as notas tinham sido examinadas e foram certificadas como autênticas.

Ainda assim, as empresas do Porto começaram a ter receio de aceitar notas de 500 escudos. Alves Reis também descobriu que havia cometido alguns erros ao instruir o impressor a numerar as notas, então algumas tinham números de série que não deveriam existir e, portanto, eram muito arriscados para depositar. Sentindo o aperto se aproximando, Alves Reis decidiu dar início à próxima fase do seu esquema secreto. Você não vai acreditar na ousadia sem noção do cara…

Ele enviou um telegrama para Marang, Bandeira e Hennies:

ENCONTRO MAIS IMPORTANTE CLARIDGE PARIS 29 DE ABRIL

No dia indicado, os três homens se instalaram em seus quartos no Claridge Hotel em Paris, sem saber que tipo de notícias esperar. Reuniam-se na luxuosa suíte de Alves Reis enquanto esposas e namoradas faziam compras (elas tendiam a ficar de fora dos negócios de seus parceiros, que era o estilo da época). Foi aqui que Alves Reis revelou a verdadeira dimensão das suas intenções: nos próximos meses, os senhores desta sala iam juntar as suas fortunas, arquivar a documentação necessária e… fundar um banco! Viria a ser o Banco de Angola & Metropole⁠⁠—”A&M Bank” para abreviar.

A grande revelação de Alves Reis foi recebida com uma piscada de confusão. Fundar um novo banco era um empreendimento extraordinário que convidaria o escrutínio do governo; dessa forma, o que eles teriam a ganhar?

O principal benefício, explicou Alves Reis, foi simplificar a tarefa de processamento das notas de Waterlow. Explicou (obviamente mais uma cascata) que o próprio governador Rodrigues havia recomendado essa linha de ação (os homens ainda falavam entre si como se seu empreendimento fosse legítimo, apesar de provas contundentes em contrário). Em vez de depositar pequenas quantias de dinheiro em muitos bancos, eles depositariam tudo em seu próprio banco como capital fundamental. Isso os economizaria em taxas de câmbio e na comissão que eles estavam pagando aos laranjas no Porto. Foi uma proposta bastante econômica. Nem é preciso dizer que operar um banco real, de verdade, poderia ser extremamente lucrativo para todos eles. Os parceiros comerciais  Alves Reis começaram a gostar deste plano audacioso.

Ele fez uma pausa por alguns momentos em silêncio, depois deixou cair uma segunda etapa do plano: uma vez que o A&M Bank estivesse no negócio, eles usariam seu capital considerável para comprar ações do Banco de Portugal silenciosamente até que tivessem o suficiente para se tornarem acionistas majoritários, assumindo assim o controle do banco central do país. Os sócios nesse momento estavam de queixo caído.

Descobriu-se que a maior parte das leituras de Alves Reis durante seus 54 dias de prisão quase um ano antes, tinha sido justamente dos estatutos e regulamentos do Banco de Portugal. Apesar de ser o banco central do país, era uma instituição privada. O governo português detinha uma pequena parte das ações, e o restante estava em mãos privadas. Esse tipo de arranjo não era incomum na virada do século 20, mas ninguém jamais havia tentado realizar uma aquisição hostil de um banco central privado antes. Era uma ideia tão nova que não havia um corpo de lei para abordá-la, o que significava que era tecnicamente legal.

Como uma ficção reconfortante para seus cúmplices, Alves Reis afirmou que Camacho Rodrigues e seu vice-governador Mota Gomes apoiavam secretamente esse plano. Eles queriam o poder para desalojar alguns diretores problemáticos, disse ele. Alves Reis não mencionou sua outra grande motivação: proteger-se da acusação caso seu contrato fraudulento com Waterlow de fabricação de dinheiro fosse descoberto. De acordo com os estatutos do Banco de Portugal, a única entidade que podia agir judicialmente contra os falsificadores era o Banco de Portugal. Uma vez que Alves Reis controlasse o banco, ele simplesmente se recusaria a apresentar queixa contra si mesmo se a questão fosse levantada. O maldito era um gênio!

O clima na sala mudou de estupefato para eufórico. Se esse plano funcionasse, os colocaria em posições de tremendo poder e importância, ao mesmo tempo em que os tornaria fabulosamente ricos. Mesmo Adolf Hennies, normalmente bastante circunspecto, foi obrigado a declarar que Artur Alves Reis era “um dos grandes gênios financeiros da época!” Para o primeiro passo, Alves Reis atribuiu a José Bandeira a tarefa de comprar discretamente ações do Banco de Portugal através de intermediários.

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Edifício da sede do A&M Bank em Lisboa

A 27 de Junho de 1925, apenas dois meses após a reunião no Claridge, toda a papelada estava arquivada, os 20 milhões de escudos exigidos tinham sido produzidos, e o A&M Bank recebeu oficialmente um alvará pelo Conselho Bancário Português. Em antecipação, Alves Reis tinha adquirido um edifício na zona empresarial de Lisboa para albergar a filial principal. Sua própria residência também havia sido consideravelmente melhorada⁠⁠ — uma mansão de quatro andares mantida por seis criados. Para evitar que a esposa fizesse muitas perguntas, Alves Reis a encheu de presentes caros, roupas da moda, joias e outros luxos.

Um mês após a abertura do seu banco, Alves Reis criou uma nova falsificação: outra carta para Waterlow & Sons de Comacho Rodrigues, esta autorizando a impressão de mais 380.000 notas. Marang entregou em mãos a ordem de serviço a Sir William, juntamente com um pedido separado de milhares de certificados de ações para o A&M Bank. Enquanto isso, José Bandeira estava ocupado comprando fatias do Banco de Portugal, e o grupo de cavalheiros agora possuía 4.600 ações⁠⁠ – mais de 10% das 45.000 de que precisariam para tomar o banco central de Portugal pra eles.

O plano funcionava como um relógio, nada dava errado.

Em setembro, o A&M Bank estava realizando negócios legítimos, como empréstimos de dinheiro, investimentos e câmbio. Novas sucursais do A&M Bank estavam abrindo nas principais cidades de Angola. Os jornais começaram a elogiar Alves Reis por suas taxas de juros generosamente baixas para os negócios na colônia⁠⁠ – claramente ele estava ganhando dinheiro. O gerente de longa data de Alves Reis, Ferreira⁠⁠—agora no conselho de administração do banco⁠⁠—, juntou-se a Bandeira no esforço secreto para reunir ações do banco central. Em meados de setembro, eles compraram mais de 7.000. Alves Reis, Bandeira, Marang e Hennies estavam todos mais ricos do que nunca, e os novos escudos da Waterlow & Sons chegavam em malas cada vez ais repletas de dinheiro vivo.

Parecia que Alves Reis tinha levado a sério o velho ditado sobre a vida e os limões.

Então deu ruim…

O primeiro sinal de que as coisas azedarariam apareceu em novembro de 1925. Alves Reis e Hennies estavam de visita a Angola para explorar oportunidades de investimento quando um dos velhos amigos de Alves Reis lá, um homem que trabalhava para a polícia, informou-o discretamente que seu grupo de turismo estava “sob vigilância”. Mais tarde naquele mês, apareceu um artigo no jornal português O Século criticando um banco sem nome, questionando a linhagem de seus fundadores e a origem de seu capital, enquanto acusava o “banco misterioso” de compilar ações do Banco de Portugal. Nos dias seguintes, outros jornais publicaram histórias semelhantes, e logo O Século sentiu-se confiante o suficiente para nomear o objeto de suas críticas:

O notório Banco de Angola & Metrópole iniciou as suas manobras. De onde tira o dinheiro? […] Nenhuma das pessoas da nova organização é conhecida no mundo financeiro. […] Nomes são mencionados e tudo nos leva a crer que Portugal foi vítima de um bando que se prepara para devorar o coração da nação.

Esta onda de atenção negativa convenceu o Ministro das Finanças português a tornar pública a sua investigação em curso. Ele enviou agentes para visitar o A&M Bank e revisar seus registros internos em busca de possíveis irregularidades.

Em 25 de novembro de 1925, um repórter do jornal Imprensa Nova veio à sede do banco e visitou o escritório de Ferreira. Ele tinha um ultimato: A Imprensa Nova estava planejando seus próprios artigos negativos sobre o A&M Bank, mas por meros 50.000 escudos (um Pixuleco de US$ 38.000), o jornal poderia simplesmente “esquecer” a coisa toda.

Luis Viegas, o Inspetor de Comércio Bancário, estava por acaso em uma sala ao lado inspecionando o comércio bancário e ouviu a canhestra corrupta proposta. Ele entrou na sala na mesma hora e prendeu o repórter sob a acusação de extorsão. A notícia dessa prisão minou a credibilidade da mídia aos olhos do público, e os jornais logo perderam o apetite para criticar o A&M Bank. Enquanto isso, Bandeira mandou dizer que ele e Ferreira agora detinham 31.000 ações do Banco de Portugal, mais de dois terços do que precisavam.

Apesar do interesse cada vez menor da mídia, o governo ainda desconfiava de Alves Reis e seus associados.

Havia um escritório de contabilidade no Porto servido pelo Banco A&M, e um funcionário lá teve a certeza de que as notas do banco eram falsas. O funcionário informou o Banco de Portugal, e em 05 de dezembro de 1925, policiais e funcionários bancários cercaram a sucursal do Porto A&M. Eles prenderam o gerente da agência, o contador e o dono de uma empresa vizinha que também recebeu dinheiro do A&M Bank. A polícia apreendeu todo o dinheiro para fiscalização. O especialista em falsificação do banco central apresentou suas ferramentas de exame e examinou várias notas…

Não, ele finalmente concluiu, não havia nenhuma falsificação.

“É absolutamente impossível gravar uma placa forjada com a mesma perfeição e uniformidade”, disse ele. A impressão foi impecável, eles eram feitos de papel apropriado e as marcas d’água estavam corretas. Nem mesmo o poderoso Banco de Portugal poderia fazer notas tão boas, e é por isso que eles contratavam empresas externas para imprimir sua moeda em primeiro lugar. O especialista foi absolutamente certo de que essas notas foram impressas por uma empresa autorizada pelo governo.

A grande cagada

Tendo detido três homens e revirado três estabelecimentos comerciais, todos sem mandado ou provas físicas, os funcionários do Banco de Portugal ficaram compreensivelmente mortificados. Para ganhar tempo, eles instruíram os investigadores a separar todo o dinheiro pelo número de série, sob o pretexto instável de que isso prepararia as contas para um exame mais robusto depois.

Durante a triagem das notas, foram encontradas duas notas com números de série idênticos, o que não deveria ser possível. Um cliente deve ter trazido uma fatura legítima que por acaso se sobrepôs aos números de série que Alves Reis havia especificado para sua tiragem particular. Várias outras duplicações foram descobertas mais tarde e, em cada caso, era impossível dizer qual nota era real e qual era falsificada. Mas o simples fato de que a duplicação existia era uma evidência contundente.

No dia seguinte, a notícia da incursão chegou a Alves Reis e Hennies quando estavam no convés de um navio de transporte que se aproximava das docas de Lisboa, voltando de sua viagem a Angola. Alves Reis escreveu mais tarde:

De repente, uma lancha se aproximou e ouvi meu nome ser chamado. Alguns amigos vieram me avisar⁠⁠—que algemas me esperavam em Lisboa. Eles sugeriram que eu fugisse.

Adolf Hennies⁠⁠ — cuja experiência como espião o deixara com uma boa intuição para problemas⁠⁠ — reconheceu a gravidade desse estado de coisas. Aconselhou Alves Reis a ir para o estrangeiro em vez de ir para terra. O barco do piloto chegaria em breve, e eles poderiam embarcar nele para evitar a polícia no cais. Alves Reis recusou, confiante de que poderia se desvencilhar desse último inconveniente. “Eu não cometi nenhum crime”, disse Alves Reis à única pessoa no mundo que sabia exatamente quais crimes monumentais ele havia cometido. Depois de falhar repetidamente em convencer seu amigo teimoso a evitar a captura, Hennies desistiu e partiu para encontrar o capitão do navio. Por um velho hábito de espionagem, Hennies tinha feito amizade com o homem, e agora ele usaria essa conexão para se transferir para o barco do piloto.

Pouco depois de seu transporte atracar em Lisboa, Artur Alves Reis, de 29 anos, um dos homens mais ricos de Portugal, foi preso. Hennies observou a prisão de um pátio de café próximo. O capitão do transporte havia prometido esperar seu retorno antes de partir. Na primeira oportunidade, o ex-espião pegaria passagem de volta para sua terra natal, onde, como diriam os alemães, ele se arrastaria para dentro de um esconderijo durante o período. Descobriu-se que ‘Adolf Hennies’ nem era seu nome verdadeiro e, quando voltasse à Alemanha, voltaria à sua identidade anterior como um caranguejo eremita sentimental.

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Em 07 de dezembro de 1925, o Banco de Portugal anunciou que todas as notas de 500 escudos da série “Vasco da Gama” seriam retiradas de circulação. As ruas de Lisboa e Porto ficaram cheias de cidadãos fazendo fila nos bancos para trocar dinheiro. Uma vez descontinuadas, essas notas valeriam seu peso em papel, então os cidadãos foram instados a trocá-las o mais rápido possível. Qualquer pessoa que entregasse mais de 20 notas de uma só vez precisaria mostrar uma identificação adequada e a transação seria documentada.

A população faz fila para negociar notas de 500 escudos, 1925

Nos bastidores, apesar da certeza de que a fraude estava em andamento e de muitas indicações de que o A&M Bank estava envolvido, os funcionários só podiam adivinhar como essas notas perfeitas estavam sendo produzidas. Seriam produtos de gráficas alemãs intrometidas? A Rússia comunista estava tentando desestabilizar o mundo capitalista? Ou poderia ser uma trama corrupta de dentro do próprio Banco de Portugal?

Nestas circunstâncias, era natural que um funcionário português visitasse a gráfica original da série Vasco da Gama, Waterlow & Sons Limited em Londres. Escoltado por inspetores da Scotland Yard, um agente da embaixada portuguesa confrontou Sir William em seu escritório na Great Winchester Street. Sir William cooperou totalmente, entregando todos os documentos relevantes e recontando sua versão dos eventos. Ao abrigo dos dois contratos fraudulentos, a Waterlow & Sons imprimiu e entregou 580.000 notas, com um valor nominal total de 290 milhões de escudos (220 milhões de dólares em 2022).

Enquanto a investigação estava em andamento, Alves Reis desfrutava de um encarceramento luxuoso. Sempre o carismático homem de confiança, ele havia convencido o investigador-chefe de que era inocente e que os dois deveriam trabalhar juntos para combater o corrupto Banco de Portugal. O investigador-chefe providenciou para transferi-lo para um espaço confortável e bem equipado, e começou a se referir a Alves Reis como “sua excelência”. Alves Reis recebeu uma suíte privativa, móveis finos, visitantes irrestritos e comunicação livre com o mundo exterior, inclusive com os colegas suspeitos Bandeira e Ferreira. Instalou descaradamente em seu escritório uma estação de falsificação com a qual forjou uma coleção de documentos incriminatórios⁠⁠—recibos, correspondências, etc.⁠⁠— implicando os diretores do Banco de Portugal. Essa liberdade e falsificação irrestrita continuaram até que o investigador-chefe foi pressionado a renunciar depois de tentar prender pessoalmente dois diretores do Banco de Portugal. A polícia transferiu Alves Reis para uma cela mais convencional para a detenção restante.

As falsificações que Alves Reis havia criado eram suficientemente convincentes para que seu julgamento fosse adiado por anos enquanto os investigadores avaliavam sua autenticidade. Entretanto, Alves Reis recusou-se a falar com os investigadores⁠⁠—até ser informado de que a sua mulher tinha sido presa e que ela estava a definhar numa cela imunda. Ao saber disso, ele cuspiu maldições em seus captores, até que finalmente começou a chorar e admitiu tudo. Dentro de uma hora, ele retratou sua confissão. Ele escreveu um pequeno livro acusando os funcionários do Banco de Portugal de planejar toda a desventura. Ele tentou suicídio com uma cápsula escondida de veneno, que causou um breve coma e cegueira parcial permanente.

Como ele permaneceu no limbo legal, o governo de Portugal foi derrubado por um golpe militar. Portugal tornou-se uma ditadura. Alguns historiadores especulam que o golpe financeiro quase bem sucedido de Alves Reis acabou por quebrar a confiança há muito apodrecida do povo português no seu governo, e é por isso que o golpe foi bem sucedido. Embora essa hipótese pareça viável, talvez até provável, é impossível provar.

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O julgamento de Artur Virgílio Alves Reis e seus cúmplices começou finalmente em 06 de maio de 1930, mais de quatro anos após sua prisão. Ferreira e os irmãos Bandeira estavam entre os acusados. Marang foi julgado separadamente na Holanda e considerado culpado de recebimento de propriedade roubada. Como os promotores planejaram o julgamento, ficou claro que o sistema jurídico português não tinha as ferramentas para lidar com esse novo crime, então o governo inventou um novo processo: depoimentos seriam prestados perante um juiz e outros sete juízes serviriam como júri. O governo também aumentou retroativamente a pena máxima por falsificação de três anos para 25 anos. Essas mudanças eram tecnicamente violações da constituição portuguesa, mas ninguém com autoridade levantou qualquer alarido. A nova ditadura fascista ainda estava decidindo as regras.

O estado lançou a biblioteca jurídica no sindicato Alves Reis, incluindo acusações de falsificação, conspiração, fraude, falsificação de contratos, falsificação de correspondência, falsificação de credenciais e uma lista de acusações menores. Juntos, acusação e defesa chamaram 85 testemunhas.

Quando Artur Alves Reis foi chamado a depor a 11 de Maio de 1930, apresentou-se perante o juiz e o júri e confessou os seus crimes com aparente orgulho. Ele detalhou como duplicava assinaturas com o pantógrafo e como estimava quais números de série usar. A sala ficou em silêncio durante sua dramática oração de cinco horas. Seus supostos cúmplices eram de fato vítimas, ele testemunhou, sem saber que seus documentos eram falsificados. Alves Reis, no entanto, atribuiu a culpa a outro indivíduo: Sir William Waterlow. Se ao menos Sir William o tivesse impedido de cometer esse crime “estúpido e irresponsável”, afirmou, nenhum deles estaria nessa situação lamentável. Não importa que ele nem tenha conhecido Sir William pessoalmente.

Alves Reis no tribunal

Dado que Alves Reis havia confessado seus crimes, a única tarefa que restava à defesa era tentar minimizar a severidade da punição. O advogado de Alves Reis argumentou que, embora a lei proibisse a falsificação de cédulas, era omisso quanto ao pagamento de uma gráfica licenciada para imprimi-las. Então Alves Reis não era um falsificador, era apenas um distribuidor não autorizado. Um “inflacionista”. Não houve crime aqui, argumentou a defesa, apenas contravenção.

Em 19 de junho de 1930, todos os depoimentos foram prestados, e o painel de sete juízes-jurados partiu para deliberar. Seis horas depois, chegaram ao veredito. Artur Alves Reis, José Bandeira e Adolf Hennies (à revelia) foram todos considerados culpados, condenados a 20 anos cada. A esposa de Alves Reis, Maria, foi considerada culpada de colaborar com o marido, mas condenada a pena já cumprida, e posta em liberdade. Fransisco Ferreira e Antonio, ex-diplomata irmão de Bandeira, receberam 16 anos cada. Hennies, incapaz de ser localizado, muito menos extraditado, nunca cumpriu sua pena.

Enquanto isso, o primo e codiretor de Sir William, Edgar Waterlow, apresentou uma moção ao conselho da empresa que era uma repreensão velada pela participação de Sir William no escândalo. A moção foi aprovada, Sir William renunciou. Em 1932, o Banco de Portugal moveu uma ação contra a Waterlow & Sons no High Court de Londres. O caso, que viria a ser conhecido como ‘Portugal Bank Note Affair’, foi um dos julgamentos mais caros e complexos da história jurídica inglesa. Em última análise, a Câmara dos Lordes descobriu que a Waterlow & Sons violou seu dever de cuidado e dever contratual para com o banco ao imprimir as notas para o sindicato. Um detalhe particularmente contundente era o registro de telegramas de e para Romer, o representante da firma em Lisboa que tentara avisar Sir William que o contrato havia falhado no teste de detecção. O Banco de Portugal recebeu £ 610.392 em danos. Sir William não viveu para ver esta decisão; depois de eleito Lord Mayor de Londres, ele morreu de peritonite em 06 de julho de 1931, aos 60 anos, quase um ano antes do caso ser decidido.

Durante sua longa permanência na prisão, Alves Reis escreveu um relato detalhado de sua participação no Caso das Notas de Banco de Portugal, um livro de dois volumes intitulado O Segredo da Minha Confissão ⁠⁠— O Segredo da minha Confissão . As vendas dos livros de bolso foram modestas, mas suficientes para oferecer alguma renda suplementar para sua família carente.

Quando Artur Virgílio Alves Reis saiu da prisão, quase 20 anos depois, em 07 de maio de 1945, as ruas de Lisboa fervilhavam de aplausos, multidões exultantes⁠⁠—não para comemorar sua libertação da prisão, mas para celebrar a rendição incondicional da Alemanha aos Aliados naquele mesmo dia, encerrando a Segunda Guerra Mundial no teatro europeu. Durante seu tempo na prisão, o outrora elegante e elegante vigarista ganhou peso considerável e perdeu bastante cabelo. Ele foi oferecido um emprego logo após sua libertação⁠⁠—em um banco, de todos os lugares⁠⁠—mas ele recusou.

Alves Reis reencontrou Maria e juntou-se aos seus três filhos adultos no negócio de importação/exportação. Ele afastou os homens que o procuravam por suas habilidades especiais. Mas ainda era Artur Alves Reis, e a irresistível inclinação para a fraude permanecia em seus ossos. Depois de um período de negócios legítimos, ele caiu em seus velhos hábitos e tentou subornar um contrato lucrativo para exportar arroz do Brasil. Alves Reis  perdeu uma fortuna quando o negócio desmoronou e passou seus anos restantes executando vários esquemas em busca de dinheiro fácil, mas sua sorte foi gasta e sua fraude atrofiada. Em 08 de julho de 1955, o “grande gênio financeiro da época” sofreu um ataque cardíaco em Lisboa, aos 58 anos.

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Pqp, que história sensacional. Alves do Reis tinha, além de um senso pra picaretagem notório, uma cara de pau singular. Obrigado Philipe

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