Carl deu a última tragada no cigarro, que já era uma pequena guimba entre seus dedos. Apreciou a escuridão daquela noite gélida.
A neve havia finalmente parado de cair e o silêncio parecia egolfar a cidade como num vácuo opressor. Carl estava no escuro, segurando o taco de baseball. Na cintura, o revólver.
Seus músculos retesados aguardavam o momento de agir. Aquele era o oitavo dia em que Carl ficava no escuro, armado, pronto para o combate. Carl morava na rua Madison desde que nasceu. Cresceu andando de bicicleta naquela rua. Fez amigos, inimigos, conheceu Sarah, namorou com ela, apanhou dos dois irmãos dela, depois ficou sem ver Sarah por quase vinte anos, porque ela se mudou. Quando se reencontraram por acidente no metrô de Nova York, ela já estava casada, com filhos gêmeos.
Após Sarah, Carl nunca amou ninguém. Se alistou na Marinha e virou fuzileiro.
Carl perdeu os pais, testemunhou quando o bairro começou a gradualmente entrar em uma espécie de decomposição social. Quando os primeiros traficantes surgiram, no início da década de 80, todos os que podiam se mudaram. Viu o bairro de brancos se tornar um bairro negro e depois, quando nem os negros aguentaram o rojão, o bairro Bowling virou um bairro de chicanos.
O bairro se chamava Bowling porque nos anos trinta havia um boliche famoso no fim da rua Madison. Grandes campeonatos mundiais aconteceram naquele local. Hoje, só resta um monte de ruínas que sobraram de um cinema decadente que abriu no local onde existira o boliche. De fato, as pessoas faziam piada com o estado de degradação daquele local, onde a polícia nunca ia. O bairro, repleto de bandidos, gangues, traficantes e viciadas doentes, que se prostituíam nos canteiros e becos, era famoso pela prostituição que corria tão solta que o bairro já era chamado de “Blowing”.
Os que não podiam, acabaram gradualmente abandonando as casas e indo viver em outros lugares. Apenas uma meia dúzia de corajosos havia resolvido ficar na Madison, a despeito dos traficantes e das gangues, que agora tornavam a vida naquele local um inferno. As casas ao redor da dele, já haviam sido invadidas e saqueadas. Eventualmente, mafiosos vindos da Rússia desfilavam em carrões imponentes. Chefões mal encarados se atracavam com mulheres voluptuosas da Europa Oriental enquanto eram atentamente vigiados por capangas armados. Ninguém ousava mexer com aqueles caras. Eram os novos donos do pedaço.
Mas no fim daquele ano, alguma coisa aconteceu que atrapalhou os “negócios”. Os chefões mafiosos, cheios de joias, carrões mulheres, charutos, casacos de pele de foca e vodka sumiram de uma hora para outra. E faltou droga.
Carl sabia que os viciados em crack estavam entrando em crise. Aquele inverno havia sido severo demais, e por alguma razão que ele não saberia explicar, a droga não havia chegado ao distribuidor. Quando falta de um lado, alguém lucra mais do outro. Isso é um fato. Quando o preço do crack disparou, os maloqueiros começaram a se desesperar como siris na lata de um pescador.
Sem ter como obter dinheiro, e com menos gente nas ruas devido ao frio, mendigar já não dava certo. Foi quando as invasões nas casas começaram a se tornar mais e mais comuns. Fazia mais ou menos uns nove dias que a casa da senhora Huppert havia sido invadida na calada da noite.
A idosa fora surpreendida quando via Tv. Segundo a noticia patética que saiu nos jornais, a senhora Huppert tentou gritar por socorro, mas foi violentamente chutada pelo invasor, que levou suas recordações de família. A viúva morreu com traumatismo craniano e hemorragia interna. O mais triste de tudo, é que a senhora Huppert não havia sido a única. Outras pessoas como a família Slinks no fim da rua tiveram a casa arrombada. Equipamentos eletrônicos, dinheiro, e joias foram levados. Os Slinks foram amarrados no sótão, e a Nora, a filha mais nova, sofreu abuso sexual.
Carl não estava disposto a ter a casa dos pais dele arrombada. E era por isso que resolveu montar guarda e surpreender o maluco, caso cometesse o erro de invadir a sua casa. Noite após noite, ele montava guarda ao lado da porta, esperando que um dia alguém tentasse invadir. Carl só entregava os pontos e ia dormir quando o sol já iluminava o matagal da casa em frente.
A noite parecia não passar. Ex-militar e combatente, Carl sabia como era duro passar a madrugara acordado, montando guarda. Ele agora vivia sozinho naquela casa, e sem família, só podia se lembrar dos natais felizes que passava com os pais em suas memórias.
Era natal. Carl se surpreendeu ao perceber aquele detalhe peculiar. Imaginou as pessoas felizes, comemorando ao redor de grandes mesas fartas e bebendo vinho. Crianças abrindo presentes entre gritos e correria. Agora, pra ele, o natal era um dia como outro qualquer. Até mais triste do que o normal, pois era quando Carl se lembrava dos pais, há muito falecidos. Os pensamentos de Carl se apagaram como um passe de mágica, quando seus ouvidos escutaram um leve estalo na tábua da varanda.
Ele prendeu a respiração e ficou escutando. O ruído cessara tão subitamente quanto ocorrera. Carl se manteve alerta. Esperou. Mas não aconteceu nada. – “Talvez seja um gato” – Tentou justificar mentalmente.
Mas então a maçaneta da porta lentamente girou. Carl arregalou os olhos. Era aquele o momento. Ele se encostou na parede, perto da janela. Segurou o taco com as duas mãos retesadas. A maçaneta girou lenta e silenciosamente, até que fez um “clik”.
Carl esperou. Estava ofegante, ele sempre ficava ofegante em situações de combate.
Lembrou as instruções do sargento James que sempre eram de fazer uma boa base. Carl dobrou levemente os joelhos e afastou as pernas. Na porta, um outro clique se fez ouvir.
Ele sabia o que aquilo se tratava. O meliante vagabundo estava usando algum tipo de gazua para abrir a porta. Não parecia ser um mero gatuno maloqueiro querendo comprar uma pedra. O silêncio e o cuidado com que ele girara a maçaneta, a forma cuidadosa com que ia gradualmente testando o segredo da porta da sala, mostravam a Carl que ali talvez estivesse um profissional.
Carl esperou. Ele tiraria proveito do elemento surpresa.
Click.- A porta abriu.
Carl manteve-se frio e sem respirar. Seu pulmão já começava a arder. A porta havia sido finalmente destravada. Mas o bandido não abriu. Ficou ali, parado, do outro lado da porta. E não fez nada. Carl começou a se perguntar a razão pelo qual o meliante estava hesitando. Talvez com medo. Talvez estivesse pegando alguma coisa, uma lanterna… Talvez uma arma.
Aquilo fez os pelos da nuca de Carl se arrepiarem. E se o cara entrasse armado? Ele sabia que o sujeito estava ali. Carl então se perguntou se talvez o meliante não tivesse, de alguma forma, percebido que era uma emboscada para pegar o criminoso da rua Madison. Carl esperou. Respirava brevemente como um cachorro, usando apenas a parte alta dos pulmões. Os olhos dilatados para ver na escuridão. Carl notou uma luminosidade azulada entrando pela soleira. Ele soube na hora que era uma lanterna. Aquilo explicava então a lentidão do larápio em entrar na casa.
Carl manteve-se firme. A porta lentamente abriu, rangendo baixinho. A fraca luz do poste da rua penetrou pela fresta. Gradualmente, uma bota preta adentrou a sala. A bota, aos olhos de Carl, em meio à pouca luz, pareceu ser um coturno militar.
Em sua cabeça, Carl começou a contagem regressiva: – “É um… É dois… É…”
O sujeito já havia entrado. Estava cerca de quatro passos de Carl. Ele usava a lanterna para vasculhar o interior da casa. O facho iluminou a escada, os quadros na pade, o segundo adar, o corredor da cozinha, o sofá da sala de estar.
O bandido apoiou no chão o que parecia ser uma sacola de lixo enorme, provavelmente onde jogaria os objetos roubados. Ele vestia um pesado casacão que na fraca luminosidade da rua que entrava pela fresta, fez com que Carl julgasse ser de couro.
Nos poucos instantes que antecederam o golpe, Carl registrou a imagem do criminoso. Era um homem grande, com cabelos grandes, e vestindo um enorme casacão. Não dava pra ver direito, mas foi tudo muito rápido.
Num grito primal, Carl disparou a dar bordoadas com o taco, com toda a força que ele tinha, direto na cabeça no sujeito. O bandido nem teve tempo de gritar. Na primeira trauletada do taco de baseball, ele já caiu no chão, num barulho que revelou um grande peso.
Carl correu pra cima dele e viu o sujeito gemer e tentar levantar. Ao bater no chão, a lanterna apagou. Era só escuridão.
Carl então temeu que ele fosse sacar a arma. Com o taco ainda nas mãos, Carl levantou o bastão no ar e desferiu um novo golpe com toda sua força. O golpe atingiu alguma parte do meliante, e Carl escutou um barulho oco seguido de um sílvo.
Ele sabia que aquilo significava que havia atingido uma costela, quebrara a mesma e certamente ela tinha perfurado o pulmão do bandido. Mas o sujeito era forte demais.
Ele deu uma pernada, um chute bem no meio do joelho de Carl, derrubando-o. Carl caiu de bunda, bateu a cabeça na porta e sentiu que estava perdendo os sentidos. O homem então se levantou soltando um gemido. Carl ouviu a respiração ofegante do intruso, que ficou uns dois segundos se apalpando em silêncio. Carl teve certeza que ele estava procurando no casaco uma faca, ou mais apropriadamente, um revolver.
O dono da casa meteu a mão na cintura e sentiu o cabo da arma. O invasor andou na direção dele. Carl gritou:
-Pode parara aí filho da puta! Eu te mato!
O sujeito resmungou uma coisa que Carl não entendeu. Parecia russo.
Carl não hesitou em puxar o gatilho do revólver sem piedade na direção daquela figura. Disparou três tiros. O sujeito tentou correr. Mas tropeçou na mesa de centro. Carl levantou e apoiado na parede, apontou a pistola e deu dois tiros derradeiros.
Pá!- Pá!
O corpo pesado cambaleou e atingiu o chão novamente. Dessa vez fez-se um silêncio sepulcral e tudo que Carl conseguia escutar era sua própria respiração ofegante.
Apoiando-se na parede, Carl buscou com o tato o interruptor. Quando ele acendeu a luz, viu o corpo do invasor perto da escada. O grosso casaco de couro empapado de sangue cobria seu corpo. Ele estava de costas, a cabeça com os cabelos brancos desgrenhados voltada para a parede do corredor. Carl se aproximou com cuidado. A arma na mão, sempre apontada para o corpo. Ele chutou o sujeito, mas era como chutar um saco de lixo. Não houve reação. Carl viu dois buracos de tiro nas costas do homem.
Pegou o braço do cara e puxou para trás, na tentativa de imobilizá-lo. Foi quando notou um grosso anel de ouro e rubi na mão do homem.
-Puta que pariu! É um cara da máfia russa! – Pensou.
Carl começou a se desesperar, pois sabia que matar um figurão da mafia certamente seria seu fim. Aquilo não passaria desapercebido e os caras iam se vingar mais cedo ou mais tarde. Não haveria outra alternativa pra ele que não fugir. O jeito era catar o anel do chefão e dar no pé.
Ele puxou o cadáver pelo braço, e precisou fazer bastante força para virar o corpo de barriga pra cima. Era gordo. Devia pesar mais de cem quilos. Media cerca de 1,90m e aparentava ter uns sessenta, talvez até setenta anos. A aparência era de um mendigo. O rosto, castigado pelo tempo, cheio de rugas. Grandes bolsas de gordura sob os olhos indicavam ser um bêbado. Os olhos eram duas bolotas azuis arregaladamente apontadas para o teto. Da boca escorria um filete de sangue. Provavelmente do pulmão perfurado. A pele era branquíssima e um pouco flácida, com algumas manchas de idade. Carl percebeu então que o casaco de couro não estava empapado de sangue. Ele era um casaco aveludado, coisa fina. Na gola, um acabamento em pelo de marta alvo agora estava rosa, manchado de cuspe e sangue.
Carl olhou bem na cara do sujeito e teve a impressão de que talvez aquele anel, aquele casacão caro, tudo aquilo talvez fosse produto de roubos anteriores.
Carl apalpou-lhe o casaco em busca da arma. Mas só achou um crucifixo de prata antigo.
Não havia carteira, nem relógio, nem nada do tipo. Ele então voltou-se para a mão do anel. Era um anel grosso com um rubi vermelho maravilhoso. Carl olhou o anel e caculou que aquilo devia valer, no barato, uns dez mil dólares. Tentou arrancar o anel do dedo do defunto antes de chamar a polícia e “picar a mula”. Mas era impossível. O dedo gordo do velho era excessivamente grosso ou estava inchado demais para que o anel saísse.
Carl foi até a cozinha e buscou uma faca. Voltou para o corredor. Foi até a janela e olhou na rua. Não havia ninguém. Já passara da meia noite e a madrugada seguia seu curso. Carl voltou com a faca e esticando o grosso dedão do velho, cortou a carne. A lâmina atravessou a pele flácida, e uma boa quantidade de sangue escorreu. Carl precisou fazer alguma força para cortar o dedo. Quando finalmente amputou o dedo do invasor, conseguiu arrancar-lhe o anel.
Era mais pesado do que ele imaginava. Ouro puro. Carl viu seu rosto refletido no anel do velho. E então notou uma pequena inscrição na parte interna do anel. Mas era em latim. E ele não sabia ler latim. Carl então lembrou-se que o pai dele tinha um dicionário de latim em algum lugar do quarto dele. Correu para as escadas em direção ao quarto dos pais, no segundo andar, quando ouviu um estranho barulho atrás da casa.
Carl abaixou-se. Pensou que talvez se tratasse de um comparsa, talvez um capanga, que notando a demora do larápio, teria vindo para verificar o que acontecera.
Carl não estava mais armado, e agora seria uma presa fácil caso os mafiosos adentrassem a residência. Ele rastejou pela cozinha até a porta dos fundos, e lentamente se aproximou de uma fresta. Ali, através da fresta, Carl deu de cara com o que pareceu-lhe ser um cavalo. Ele levou um susto. Levantou e pela janela, viu, surpreso, que não era um cavalo. Estava mais para um alce.
Ele voltou-se para a escada e já subia, quando um pensamento invadiu sua mente: “O que diabos um alce está fazendo nos fundos da minha casa, no meio da cidade?”
Então, foi que gradualmente, no alto da escada, Carl parou e olhou para a cena imóvel na sala dele. Entre objetos caídos e a bagunça, o invasor jazia no chão. A barba branca e o cabelo bagunçado caindo-lhe no rosto. A idade, o corpanzil enfiado num casacão de cor vinho… Ao lado da porta, o saco enorme que parecia ser do mesmo material do casaco. Carl percebera que aquela era a madrugada do dia 25 de dezembro. Olhou a cena com os olhos arregalados.
Com o peito quase sem ar e sentindo um dos piores calafrios de toda sua vida, ele falou:
-Caralho, matei o Papai Noel!
FIM
Alguém anda jogando muito GTA San Andreas….
GREAT! GREAT!.
Cara… Fazia tempo que nao postava uma historinha.. rçrç.
Agora, vou te pedir uma coisa, de coração.
Se eu te mandar uma historinha voce posta no seu blog? Iria ser uma HONRA.
Ah, e, claro… Voce vai, sim, gostar da historia…
Joe, eu gostaria, mas não será possível. Dá uma olhada no item 5 do FAQ aqui:
http://www.mundogump.com.br/termos-de-uso/
QUE BELA PORCARIA!
Seerio. Era boa a porcaria da historia. Quem foi que inventou esses Termos de Uso?
HUMPF…
QUE BELA PORCARIA!
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Acabei de ler TODO o seu blog. *-*. Otimo’s,
E ah! Vou publicar no meu “blog”, então. Dai voce vai lá e da uma olhada.
beleza
termos Ex-power!!!! É tem que se dar os passos certos!
caralho eu matei o papai noel kkkkkkkkkkkkkk
Nuss
Parabéns cara!
Se quiser, dá uma passadinha no meu blog.
http://www.rabiscoliteral.blogspot.com
tem uma historias tbm.
abraço
genial a historia,mas tenho uma duvida,porq o papai noel entrou pela porta em vez de descer pela chaminé?
Creio que a lenda de que ele desce pela chaminé começou porque as pessoas não faziam ideia de como o Noel entrava nas casas. Mas, talvez não tenha sido o Noel.
Cara, finalmente um novo conto. Do car%$*o!!
Cara parabéns pelo conto de NATAL, como sempre demais. Parabéns!!
PS. Vamos marcar aquele chopp.
Caralho matei o Papai Noel! Foda essa história, no começo não gostei, parecia uma história falha escondida atrás de palavras complicadas, mas a história é muito boa mesmo. Enfim, e agora quem será o Papai Noel?
HAHAHA muito boa, no inicio me lembrou muito do filme do clint eastwood “Gran Torino”, mas ficou exelente, uma pena q ficou um tempo sem formatacao e eu sem querer li o fim AHHHH, mas muito boa hehe. Abs e feliz natal cara.
Muito bom. Um conto de natal original e criativo.
Nossa matar papai noel foi totalmente macabro,mas com a vida que o cara levava naquela lugar realmente ele nunca iria imaginar, ótimo conto mas eu sei que você consegue escrever um conto que o final seja esperançoso,não sei mas o que eu venho notando não somente em mim mas nos outros e em blogs é que estamos cada vez mais amargos mesmo que não percebamos,eu mesma hoje estou totalmente deprimida porque amanhã meu pai faria faria 83 anos senão tivesse morrido em outubro deste ano :/
Mas parabéns você escreve muito bem e sempre me surpreende no final .
Eu queria sinceramente que desse uma olhada no meu blog mas nas postagens antigas, eu escrevia tambem contos e poemas mas agora estou na duvida se devo continuar, se for aprovado por você eu continuo.
http://mysecretsmylove.blogspot.com/
Feliz Natal e muita paz!
Sacerdotiza, nem todos os meus contos são trágicos, embora eu confesse a você que tenho uma tendência a deixar meus contos muito tragicos.
Engraçado tocar neste assunto. Teve um dia, numa mesa de bar, que cercado por amigos, uma colega de trabalho me perguntou isso: “Por que seus contos são tão trágicos e cheios de mortes?”
Dizer que é meu “estilo” não seria uma resposta exatamente comprometida com a verdade. Eu mesmo não sei bem explicar porque, mas tenho algumas hipóteses. A primeira delas é que nos contos, eu quase sempre escrevo coisas sobre as quais não vivi. Logo, ao contrario do que poderia parecer a princípio, eu tenho uma vida boa pra caramba, muito melhor que de mais de 80% das pessoas do mundo, e talvez por isso, eu escreva sobre o que é desconhecido pra mim. Eu perdi poucas pessoas na vida, passei por situações esdrúxulas, mas raramente por algo tão horrível que tivesse o poder de me deixar uma marca de amargura. Ou mesmo qualquer tipo de marca que precisasse ser exorcizada através da escrita.
Eu cresci lendo alguns classicos e tive muito contato com as tragédias gregas, e talvez por isso eu tenha me contaminado com esta coisa do final trágico.
A parte trágica do texto é sempre um exercício de um poder literalmente divino naquele universo ficcional. O autor pode matar pelo bel prazer de sentir que pode, e talvez, enquanto uma divindade dos meus universos ficcionais eu seja um tirano déspota, ainda imaturo, que precisa torturar, fazer sofrer e até matar os personagens para se sentir no controle.
Por outro lado, sempre que o final não é tragico, eu acabo me sentindo meio piegas… Meio autor de novela das 6. O que me deixa feliz é quando eu consigo conciliar a morte do personagem com um final esperançoso. (mas de fato só acho que consegui isso com “O dia que encontrei meu eu futuro”)
Mas nem tudo são mortes e finais trágicos. Veja o cubo da felicidade.
Minha dica é: Não pare de escrever contos e poemas. Nunca.
Obrigada,valeu!! Desculpa aí viu Philipe eu tava péssima nesse Natal e quando fui ler o seu conto acabei que esperando um final meio que milagroso sabe e nada de novela das 6 please rsrs.Obrigada pela resposta você é um cara que tanto eu quanto meu marido admiramos pela inteligencia e criatividade.
Pô, brigadão aí.