Midjourney tenta imaginar o que Roy Batty, o replicante, viu.

Eu estava tomando banho vendo a água escorrer na porta de vidro do box, como lágrimas,  quando me lembrei do clássico solilóquio que o replicante Roy Batty diz a Deckard no fim do clássico filme de Ficcção científica, Blade Runner:

“Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-C brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.”

Realmente é uma fala sensacional que tornou a cena memorável, mas afinal, o que será que Roy viu? Uma das belezas da cena é que justamente ela deixa uma lacuna na mente do espectador que ele pode preencher com as próprias imagens mentais. Roy era um replicante, um ser sintético movido por uma inteligência artificial, limitado existencialmente pela própria hora de morrer.
Roy lamenta ter conseguido ver coisas que seres humanos limitados à suas bolhas jamais saberiam.
Então eu fiquei pensando em como uma inteligência artificial como o Midjourney em sua versão 5 poderia imaginar essas visões. Aqui está o que o MJ acha que Roy Batty viu:

 

Eu vi raios-C brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser

“Naves de ataque em chamas ao largo de Órion”

Mitologias

A forma final do solilóquio foi escrita por Rutger Hauer, que eliminou algumas linhas do script original e colocou all those moments will be lost in time, like tears in rain, pois as do original parecia que não se encaixavam bem com o tom do filme.
Vale lembrar que o estranho monólogo do androide não consta no livro do escritor de ficção científica norte americano, Philip K. Dick.
O livro que inspirou o filme
O livro que inspirou o filme, cujo título original era “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” Não apresenta referência às Guerras de Orion, um tema da mitologia clássica e que às vezes surge na ufologia mística. O que poderia apontar para a completa falta de conhecimento da realidade em que estavam inseridos os habitantes da Terra, incluindo o próprio caçador de androides.
Outra referência que aparece neste monólogo é ao “Portal de Tannhäuser” referência provável ao tema básico do poema “Os Portais de Vênus” (http://library.flawlesslogic.com/venus.htm), atribuído a um poeta medieval do Século XIII, com o mesmo nome. O poema refere a existência de um pórtico em algum lugar da atual Alemanha, a um mundo místico, dominado por seres que vivem eternamente, ao modo das fadas, chamado Hürselloch. Pessoas que encontrassem a passagem para não envelheceriam nunca mais, o que condiz com o tema da busca da imortalidade.
O preço a pagar pela imortalidade, segundo Tannhäuser, seria ficar à mercê do poder da rainha das fadas e condenado a uma existência um tanto monótona, razão pela qual o poeta atribui sua própria presumida fuga. O que também condiz com o final da fala do andróide que refere o fato de que “todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva”, o que também parece conter uma referência a Mnemósine, segundo a mitologia grega, uma titânide, filha da conjunção de Urano e de Gaia.
O próprio tema “Lágrimas na chuva” parece referir à fonte de água da caverna de Trofônio, que promovia o esquecimento aos mortais. Um tema também ligado à titânide Mnemósine, por tantas vezes invocada pelos poetas da antiga Grécia.
O experimento de colocar uma inteligência artificial para imaginar o que um andróide teria visto com sua própria consciência sintética é divertido, mas talvez o resultado nunca chegue aos pés do que um ser humano poderá sonhar ao se deparar com essa cena do filme. Serão só mais imagens cheias de brilhos e reflexos, que sumirão no emaranhado de bilhões e bilhões de ilustrações criadas com inteligência artificial que se perderão nos confins da intrernet… como lágrimas na chuva.

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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