Diástole do ponto final

Já Turvando o olhar
O calor e o cansaço
Dor no peito a espetar
Espalhando pelo braço

São as últimas batidas
numa franca contração
Você pensa que é fadiga
e se agarra no portão

Quando olha para cima
não acha explicação
Sua perna já fraqueja
Tentando se apoiar no chão

O povo vem correndo, pra assistir e ajudar

Junta gente curiosos,
alguém diz que é possessão,
Chamam polícia ou bombeiros,
emergência ou rabecão
Chama o padre para dar
a extrema-unção

Alguém grita “abre espaço”
no meio da multidão
soca seu peito e até machuca
A morte bafeja na sua nuca
Enquanto o cara te batuca
tentando a reanimação

Mas nada vai dar jeito
Na sua situação
Com os olhos revirados
branco como assombração
Uma moça se benzeu,
Uma velha passou mal
o povo em aflição,
Te cobriu com um jornal

Acenderam uma vela, ali perto do seu pé,

E você percebeu até
como é bom ser atração
em breve vai passear
Deitado no caixão

Seu nome vai surgir
bem na pagina central
Perto de um político
da coluna social

O jornal vai te estampar
de uma forma mais banal
num tom mais funerário
diria até sepulcral
seu nome no obituário;

e então, ponto final

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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