As crianças da noite – parte 4

-Ai meu Deu! A gente vai morrer! – Gritou Martina.
-Calma, porra!
-Calma! Cala boca Martina! – Gritaram Regina e Carlão. A casa agora estava em silêncio. Eles tateavam pela cozinha em busca da saída.

-Será que ela entrou? – Sussurrou Regina no ouvido de Carlão.
-Shhhh! -Ele respondeu baixinho.

Não se via absolutamente nada. Aquela era uma noite sem lua. A escuridão era total.
Os três andavam com cuidado.
-Sabe se tem uma lanterna, velas ou algo assim? – Sussurrou Carlão.
-Tenho uma lanterninha na bolsa. Tá em cima do sofá. -Disse Regina.

-Não me deixem, gente. Não me deixem. Cadê vocês? – Falou Martina. Ela estava perdendo o controle.
-Calma, porra! Tô aqui. Ó, segura aqui no meu braço, Má! – Disse Regina, agarrando a mão fria da Martina e colocando no braço dela.
-Ai meu Deus. Eu quero ir pra minha casa! – Ela gemeu.

Vem, é por aqui. Disse Regina, guiando os dois amigos pela casa.
Eles podiam sentir o vento frio entrando na sala. A porta estava aberta, arrombada.
Alguém chutou a mesa de centro, e um bibelô de cristal se quebrou. Martina se assustou e começou a gritar. Pensando que a amiga estava sendo atacada, Regina começou a gritar também.

-Que foi? Que foi, porra?- Carlão berrava, se saber para onde olhar.
-Uma coisa! Aaaaaa! Na minha perna! Tem uma coisa pegando na minha perna! – Gritava Martina.
Regina abaixou-se e constatou que era uma parte da mesa de centro.
-Calma! Calma! – Gritava Regina. – Isso é a mesa, porra! Mas Martina estava tendo um ataque de medo. Tremia feito uma vara verde.

-Aqui! Achei o sofá! – Disse Carlão, tateando. Me dá sua mão. Aqui, procura a bolsa. Tava nesse?
-Calma. Segura a Martina. Deixa eu achar aqui. – Disse Regina.
Não se via absolutamente nada.

Então uma luz branca se acendeu. Era a lanterna.
-Ah! Aleluia! – Gritou Carlão quando viu a amiga acendendo a lanterninha do chaveiro.
-Regina apontou a luz para os amigos. Eles estavam abraçados atrás dela.
Ela então apontou a luz para a porta. A porta estava caída sobre os primeiros degraus da escada no fundo da sala. O que quer que tivesse atingido a porta havia arrancado as dobradiças e lançado a porta a metros de onde ela estava originalmente. A casa parecia intacta, mas sem a porta.

-Puta que pariu! Olha isso! -Disse Carlão apontando para a porta caída na escada.
-Nossa mãe! Arrancou e jogou longe. -Constatou Regina.
-Então ela não morreu! -Disse Martina. -Nós temos que dar o fora daqui! Vamos embora, gente!
-Calma, Martina!
-É, porra. Espera. Se ela arrancou a porta, ela não morreu com o ferro. -Disse Carlão.
-Acho que só irritamos ela. -Sussurrou Regina.
-E agora? O que a gente faz? -Martina quis saber.
-Ela deve estar lá fora… -Disse Regina.
-Como você sabe?
-Porque ela estava pedindo pra entrar.
-Mas e daí?
-Se ela tava pedindo e não entrou, direto, é porque não deve poder. Ela deve estar tentando tirar a gente da casa. O que ela quer é a gente lá fora.
-Ai porra! – Gemeu Martina. O que Regina dizia fazia sentido.
-Ilumina aqui, Rê… É! Ela cortou a luz. -Constatou Carlão, tentando o interruptor.
-Pode ser um blecaute. -Disse Regina.
-Claro que não. Só pode ter sido aquela porra lá. Vocês viram! Ela jogou a gente longe. Aquilo é o diabo!
-A casa tá aberta. Não é seguro aqui. E se ela entrar?
-Ela não vai entrar, Carlão! -Disse Regina, com muita certeza.
-Você está esquecendo a mão na parede! – Ele disse.
-Puta merda…
-É! Vamos, vamos sair! A gente corre até a casa do vizinho! – Implorou Martina.
-Não, a casa do vizinho é quase um quilômetro lá pra baixo. Não dá pra ver nada! É perigoso!
-Bosta, meu! Quem manda morar na puta que pariu também?
-Calma, calma! Se a gente brigar agora vai ficar pior ainda. Temos que agir de forma inteligente! -Disse Carlão.

Então uma coisa voou e explodiu contra a lareira.
-Aaaaaah! – Gritou Martina.
-Que isso?
-Tacaram alguma coisa na gente!
Regina tentava iluminar a sala, mas a lanterna do chaveiro tinha um foco fraco. Ela viu os cacos azuis espatifados pelo chão.
-Era um cinzeiro de cristal alemão. Isso estava aqui. Como pode…
Então uma outra coisa voou e atingiu Carlão na cabeça. Era um jarro de porcelana. Carlão caiu desacordado entre o enorme sofá de couro e a mesa de centro.
-Carlão! Carlãããão! – Gritou Martina, tentando acordar o amigo.
-Me ajuda, Má! Vai! -Disse Regina. A barriga pesava, era difícil gerenciar aquilo tudo. Ela estava ofegante e se sentia mal.
-Vem! Vem! Pega daí! – Disse Martina, Pegando o amigo pela cintura.
Então mais uma coisa voou pela sala escura.
-Filha da putaaaa! – Gritou Martina!
-Ela tá tacando coisas! Temos que sair daqui! -Gritou Regina.
Os sofás começaram a tremer e balançar. A casa toda parecia chacoalhar. Quadros caíam das paredes. Móveis tombavam.
-Arrasta ele! Isso. Vem! – Disse Regina, agachada, puxando o amigo pela perna. – Vamos por ali!
Regina prendeu a lanterninha na boca para puxar melhor. O facho de luz iluminava o rosto do Carlão. A cabeça pendia para trás. Ele estava desmaiado, ou talvez pior.

Ela chegou no armário sob a escada.
Aqui! Entra! Vamos!
O armário dava acesso a uma porta falsa, onde havia uma escada que levava ao porão.
Com dificuldade as duas colocaram o Carlão para dentro.
-Uung! Que peso! Esse desgraçado come chumbo!
-Fecha a porta, vai! -Disse Regina, iluminando a maçaneta.
Martina puxou a porta e travou.
Era um cômodo minúsculo. onde eles penduravam casacos de frio, guarda-chuvas e etc.

As duas ficaram em silêncio, sentadas no chão do armário.
-Pu-puta que pariu, Rê!
-Ele apagou! – Disse Regina, olhando as pupilas dilatadas do amigo.
-Será que é seguro aqui?
-Bom, tem a passagem para o porão aqui, ó. Mas a gente não vai conseguir descer as escadas com ele assim.
-Ele pesa uma tonelada…

Então a porta do quartinho começou a vibrar, batendo feito uma louca.

-Ah, não! Essa não!
-É ela!
-Ela quer pegar a gente!
-Segura a porta! Me ajuda aqui!

As duas agarraram na maçaneta e no gancho de prender casaco, tentando segurar a porta, que era sacudida ferozmente por uma força descomunal.
-Aaaaah! -Tá forte demais!
-Aguenta aí porra!
-Não-não tô conseguindo! É muito forte!
-Seguraaaaa!

Então a força que puxava a porta parou subitamente.

-Ih! Parou! -Disse Regina.
-Será que ela desistiu?
-Não confia! Continua segurando firme essa merda aí! -Sussurrou Regina.

Então, uma pancada seca atingiu a porta, seguida de um tenebroso silêncio, que perdurou por vários minutos.

-O que foi isso?
-Shhh! Fala baixo. Continua segurando!
-Tem uma coisa molhando meu pé. -Disse Martina.
Regina apontou a lanterna para o chão.

-Sangue! – Elas gritaram.
Uma grande quantidade de sangue entrava sob a porta.
-Meu Deus! Que merda é essa?

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. O conto está ficando cada vez melhor!

    Estou curioso para saber que raio de criatura é essa… De onde veio, o que quer…

    Você está matando as pessoas de curiosidade, cara!

    Abração e obrigado por mais um capítulo.

  2. Muuuuito bom! Não vejo a hora de ler a continuação! Vc está de parabéns! O seu blog é o único que entro todo dia para ler as últimas notícias, curiosidades e coisas incríveis haha

  3. A estória está interessante, bem ao estilo “poltergeist”… só torço para que não termine sendo um sonho, ou histeria coletiva. Capricha aí Philippe e arruma um final criativo e crível para o conto! No aguardo…

  4. Claramente você é um dos melhores blogueiros atuais,parabéns,continue assim ! Ps:morro de rir das suas aventuras, você nao tem mais nenhuma pra contar ? Abraço

  5. No início eu lembrei daquele filme de terror-pastelão “Arraste-me para o inferno”, em que uma bancária nega crédito a uma senhora esquisita, que lhe roga uma praga e a bancária passa o filme tentando se livrar da maldição.

    Depois da insistência da menina esquisita em querer entrar na casa da Regina, lembrei do filme “Deixe-me entrar”, em que a menina do filme, uma espécie de vampira, pedia ao seu amigo permissão para entrar em sua casa, onde ela só poderia entrar se o amigo permitisse. Aliás, quando ela não conseguia entrar as coisas começavam a tremer! Há várias indicações e referências de que “o mal” só pode entrar em sua casa se você permitir, né?! Gostei disso no conto!

    Estou adorando esse novo conto, Philipe! Está ficando excelente! Só não entendi essa parte da menina conseguir entrar na casa… Caso ela tenha conseguido, não sei.

    Ansiosa pela próxima parte!!

  6. Porra, sem palavras, só tenho a dizer que ta muito foda! O primeiro conto que leio aqui e to vendo que vou gostar dos outros u-u
    Mas me responde uma coiaa, todos os seus contos sao reais? Ou voce apenaa “inventa”?
    Ta de parabens cara, alem de escrever super bem, seu blog é dms!

  7. Philipe você é o cara, você é o Stanley Kubrick tupiniquim, kkkkk. É graças ao Mundo Gump é que a Internet se torna um lugar mais interessante e não servindo apenas para Facebook e fofocas sociais. Adoro esses contos, apesar do medo e apreensão que sinto, kkkkkkk. Abraço.

  8. Philipe, se A Caixa foi um dos contos mais fodas de tantos detalhes, acho que As Crianças da Noite será um dos mais fodas pelo nível do medo que ele dá, caramba Philipe, nem a Morte falando na cabeça do Gil lá em O Despachante da Morte me assustou tanto como essa filha do tinhoso dos zóio escuro. Ainda bem que eu tô lendo de dia.

  9. Philipe, você é o cara! Seu blog é massa. Até o que parece porcaria (não estou dizendo que é), é interessante. Acho você um cara muito inteligente.

  10. AIIIIII CONTINUUA O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL É MUITA VONTADEE DE VER O QUE ERA O SANGUE HAHA!!
    Sou sua maiooor fã Philipe!!!! Olha não é por nada não mas por que os personagens xingam tanto?? inclusive, porra aqui porra alii!! as vezes eu até corto os palavrões!!!!

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