Muito se conta, se estuda e compila sobre o Saci. Um dos mais bem documentados mitos brasileiros. Porém atribuir origem nacional ao ser de uma só perna, seria incorreto. O saci está representado de maneiras diversas do norte ao sul do país, e ultrapassando nossas fronteiras, o saci assume outros nomes, perde o capuz e ganha até varinha mágica.
Entretanto, o saci é legitimamente brasileiro quando pensamos nele como o resultado prático de uma mistura que pega algumas coisas da Europa, outras da américa central, África, oriente e bate no liquidificador com passarinhos amazônicos e demônios da idade média portuguesa.
O Saci é pererê porque pererê é aquilo que salta na língua Tupi. O Saci do monteiro Lobato, que eu reconheço seu mérito por divulgar e tornar vívida a imagem deste mito nos tempos atuais, insisto, não reflete os aspectos amplos e versáteis que o ser assume pelo país afora, sendo apenas a referência mais próxima do Saci do sul do Brasil.
As coisas que mais me atraem no Saci em comparação com outras lendas são o pé único – ( o saci não é aleijado, nem perdeu uma perna, como tantos imaginam. Dá dó de lembrar daquele shortinho vermelho com uma perna sobrando que o coitado do ator sem perna ( não lembro o nome dele) usava no Sitio do Pica-Pau Amarelo. O Saci oficial, pula pelado e não lhe falta uma perna. Na verdade é uma só e pronto.
Sempre foi uma, em referência a sua origem derivada de outros mitos, como os Ciapodos, os Monocoles e os Trolls. Os próprios Maias da Guatemala cultuaram deuses de uma só perna e esse poder do unípode vem daí.
A carapuça por sua vez, tem o efeito simbólico vivo que o vermelho traz consigo. Talvez ela tenha surgido do cabelo vermelho do Caipora, ou seja uma referência ao penacho avermelhado do pássaro que lhe dá nome. Ou ambos.
Lembram-se do Flautista de Hammelin? Um tocador de pífano que usava um gorro verde, cujo poder sonoro atraía todos atrás de si, e fora contratado a troco de ouro e diamantes pelo prefeito para que durante a peste bubônica, usasse o pífano e sua musica encantada para atrair os ratos para um lago e afogá-los, salvando a cidade.
Ele assim fez. Mas uma vez passada a necessidade, os donos do dinheiro recusaram-se a pagá-lo. Não haviam mais ratos. Por que pagá-lo?
O tocador misterioso foi embora com ódio e voltou – dessa vez com um gorro vermelho, tocando uma música que hipnotizou todas as crianças que começaram a segui-lo até um penhasco, todos em transe. O flautista deixou que caíssem e morressem para dar o troco ao cidadãos que recusaram a pagar-lhe.
Note a mudança da cor do chapéu como um prenúncio sangrento do destino. Para os ratos, foi verde. Para as crianças, vermelho.
Então o poder do saci está em parte no gorro, possivelmente vermelho em uma alusão ao fogo e ao demônio. Não é de estranhar que um saci só possa ser preso ao retirar-lhe o gorro e prendê-lo em uma garrafa com uma cruz na tampa. Da cruz ele não passará.
Em estatura, o saci varia. Isso porque não há apenas um saci, como é com o Caipora e tantos outros. Saci parece mais uma classe. Uma raça. Um grupo.
Parece que o saci nasce e fica sete anos na mata, no meio dos bambuzais e só sai aos sete anos. Então ele apronta maldades e crueldades mil até fazer 77 anos. ( o sete é um número cabalístico) quando volta para morrer – ou renascer – na muita de bambu.
Com o tempo, o Saci vem perdendo a aura de ameaça que ele tinha originalmente e a medida em que vai se diluindo na memória coletiva seus aspectos assombrosos, ele vai ficando mais e mais humorista, diluído, menos malicioso e assombrador.
Em aparência ele é um negro do tipo baixo, com um brilho lustroso, pelado, sem pelos no corpo nem na cabeça. Tem olhos vivos como os da cobra ou de um rato branco. Sua altura raramente ultrapassa o meio metro e salta em alturas variáveis com a única perna que possui. è um pedinte contumaz, exigindo de suas vítimas alguma coisa, em geral bebida e fumo como oferta ( um comportamento de Exu) com quase sempre alguma ameaça. Originalmente eu acho que ele era mais psicopata e foi ficando cada vez mais politicamente correto com o tempo. Então no fim do sec. XIX e início do XX o saci começou a ficar apenas brincalhão.
Capturar o saci virou uma maneira folclórica de ganhar dinheiro fácil, pois ele usa magica para obter lucro ao seu captor em troca de devolver-lhe a carapuça.
Um humano que use a carapuça do saci pode ficar invisível ( outra referência europeia – aos mantos mágicos da mitologia nórdica e os anéis mágicos da mitologia celta)
Bem, é isso. Acabou meu render aqui. Chega de falar de Saci, afinal já até deu um rodamoinho aqui no meu escritório. Não que eu acredite, mas sabe como é…
Aqui vai uma ilustração que eu fiz do conceito do meu saci.
Ainda sobre o Saci
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Incrível, cara! Sensacional o Post.
Realmente o saci que tenho como referência é o Monteiro Lobato, ou melhor, é o da série de tv mesmo: que faz estripulias, que sacaneia, mas que é inofensivo. Nunca havia parado pra pensar que ele, inicialmente, poderia ser essa monstruosidade ( aliás, como a grande maioria dos mitos ).
òtimo desenho. mto bom msmm. e quando eu era mais novo eu achava mesmo que o saci era uma espécie de demônio. soh depois do sítio q achei q eu estava enganado..
Este post está fodástico Philipe. Vou encaminhar pros meus amigos, com o link do mundo gump.
O Guilherme é que vai se amarrar… O projeto dele, em desenvolvimento, envolve o mito do
Saci!
Grande abraço
Opa, valeu. E aí? E o projeto dele? Já filmaram? Outro dia encontrei com eles no Rio Sul. Era reunião do filme do Saci.
Só pra enriquecer seu texto, na verdade quem interpretava o Saci antigamente era o ator Romeu Evaristo que hoje está no Zorra Total ele tem as duas pernas, as cenas em que o saci aparecia com uma perna só eram feitas por uma outra pessoa que se chamava Genivaldo da Silva que foi chamado apenas porque tinha uma perna só, só que ele não conseguia decorar as falas aí chamaram o Romeu Evaristo pra fazer a parte interpretativa da personagem. É isso aí. Ah, eu acho que mais que o Monteiro Lobato, quem embabacou mais a imagem do Saci foi o Ziraldo, com aquela turma do PErerê. Vc nao acha?
Abç.
o pai de um amigo meu já encontrou o Saci… era bem de noite, e estava voltando da casa da namorada (futura mãe do meu amigo), na roça.
o Saci pediu fumo; o homem negou dizendo que o único fumo que tinha, era aquele que estava aceso e pendurado em sua boca… o Saci pegou mal com a “regulada” de fumo do homem, e sentou-lhe um tapão NA CARA! enquanto ele se recuperava do golpe, o Saci estava abaixado procurando a bita de palha acesa que caira no chão; o cara, puto, com a face latejando, e vendo que o Saci estava realmente decidido a levar seu último cigarro de palha, desceu-lhe um tapão nas costas com tanto gosto, que o fez dar um grito (de dor mesmo) tão alto, que tudo quanto é bicho gritou junto, tanto os do mato, quanto os dos sítios que haviam por perto! enquanto o Saci ia embora todo envergado por conta do tapão nas costas, o cara pego o bendito palheiro do chão, acendeu, e continuou seu caminho, NUMA BOA! o mais louco: ele nem se tocou de que era Saci nem nada, ele achou que era um vagabundo aleijado, ainda por cima folgado, querendo fumar às custas de seu ultimo cigarro! no dia seguinte, quando contou sua historia é que se deu conta de que tinha brigado com o Saci por conta de um cigarro! hahaha…