A 171 que venceu uma maratona praticamente sem correr

O mundo está repleto de malandros e também, por que não dizer, de otários. Mas eu tenho a sensação que os malandros andam a se reproduzir com mais velocidade, dado o colossal volume de golpes para todos os lados.

Hoje vamos falar de uma 171 que protagonizou um golpe inédito, e pasme, diante de câmeras, na frente de milhões de pessoas. Ela é Rosie Ruiz, a corredora que não correu.

Tudo começa na Maratona de Boston de 1980

A Maratona de Boston, é uma das corridas populares mais antigas e famosas do mundo. É incrível como uma competição tão prestigiosa conseguiu proporcionar momentos de trapaça e escândalo.

A corrida seguia normalmente quando surgida do absolutamente nada, uma corredora numa excelente forma surge na dianteira, correndo em disparada rumo ao pódium, para se sagrar a campeã. Eram números de deixar até o Flash de queixo caído. Com um tempo impressionante de 2 horas, 31 minutos e 56 segundos, ela conquistou o primeiro lugar na categoria feminina. Todo mundo se espantou, pois a dona não parecia nem estar suada o suficiente, apesar do dia quente.

Rosie na reta final da corrida/ Crédito: Divulgação/ YouTube/ JOG ON

Com sua medalha de honra, coroa de louros, troféu de prata, tudo para celebrar sua vitória… Rosie estava escrevendo seu nome na história e deixando no esporte uma marca indelével.

Só que “marca indelével”, é mancha.

“Eu venci! #chupasociedade!”

Quem era essa dona?

Segundo a Wikipedia nos conta, Ruiz nasceu em Havana , Cuba, e se mudou para Memphis, Flórida com sua família em 1962 quando tinha oito anos.  Depois de imigrar para os Estados Unidos, Ruiz foi separada de sua mãe e morou com tias, tios e primos em Hollywood, Flórida . Em 1972, ela se formou na South Broward High School e depois frequentou o Wayne State College em Nebraska . Ela se formou em música em 1977.

Ela se mudou para a cidade de Nova York na década de 1970, eventualmente encontrando trabalho na Metal Traders, uma empresa de commodities. Em 1979, ela se classificou para a Maratona de Nova York – formalmente ninguém sabe como e até hoje (mas eu te conto no final do post). O fato é que lá ela foi creditada com o tempo de 2:56:29, a 11ª mulher no geral – o que era suficiente para se classificar para a Maratona de Boston.

Algo no mínimo curioso, é que a inscrição de Rosie Ruiz para a maratona de Nova York chegou após a data limite para a corrida, mas ela recebeu uma dispensa especial da federação dos New York Road Runners devido à sua alegação de que estava morrendo de câncer no cérebro.

Hahahaha caralho a mulher era muito 7. Mas continua:

Após a Maratona de Boston de 1980, os oficiais da Maratona de Nova York investigaram a corrida de Ruiz e concluíram que ela trapaceou e não correu todo o percurso, então, em 25 de abril de 1980, ela foi retroativamente desclassificada da corrida e obrigada pela justiça a devolver o dinheiro do prêmio.

Vamos analisar os fatos, meus caros. Rosie era apenas uma assistente administrativa em Nova York, nada de especial. Não era uma atleta, não treinava feito uma louca, correndo dia sim e outro também. Aquela era sua PRIMEIRA CORRIDA. Eu sei, é óbvio, mas por alguma razão as pessoas pareciam anestesiadas e não queriam acreditar. O fato é que por algum milagre (o pero non mucho como veremos la no final), ela conseguiu uma vaga nessa maratona lendária.

Ah, e não podemos esquecer que seu chefe, generoso como um príncipe, decidiu pagar sua viagem de Nova York lá pra casa do caralho de  Boston. Que gentileza, não é mesmo?

Após a vitória dela, entrevista e todos os salamaleques ao qual o vencedor da maratona tem direito, alguém finalmente parou, olhou esse negócio suspeito e falou “ei, pera aí…”

Essas suspeitas começaram a surgir justamente de quem entende dos paranauê, que foi  Bill Rodgers, o vencedor na categoria masculina. Ele sabe a desgrama que é essa prova e sabe que não tem A MENOR CHANCE de uma pessoa, virgem no bagulho, entrar e ganhar os caras que se preparam a vida toda. Não tem. Simples assim.

A primeira coisa que ele notou era extremamente básica: A camisa dela tinha mangas.

Ocorre que a corrida é tão extenuante que o corpo do atleta superaquece muito rápido. É preciso uma camisa larga sem mangas para que o calor possa rapidamente se dissipar. Mas ela correu com uma camisa de mangas de algodão comum. Além disso, ele notou que Rosie não tinha a memória de um corredor normal. Intervalos, divisões, detalhes que qualquer corredor lembra facilmente, ela simplesmente ignorava e desconversava nas entrevistas. Além disso, ela não estava suada ou ofegante como qualquer pessoa exausta estaria.

Quando questionada por um repórter por que ela não parecia cansada após a corrida cansativa, ela disse: “Acordei com muita energia esta manhã.”

Quase um “eu sou foda mermo”

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA O nivel Jedi da cara de pau da mulher!

Algumas competidoras acharam estranho que, quando questionadas sobre o que ela havia notado sobre o subúrbio de Wellesley enquanto corria por ele, ela não mencionou as alunas do Wellesley College , que tradicionalmente torcem ruidosamente pelas primeiras corredoras quando elas passam. E olhando os videotapes, Rodgers viu que as coxas dela, não eram compatíveis com a de um corredor. Não eram nem um pouco musculosas! Definitivamente não era o físico de uma atleta de alto nível, o que tornava a vitória dela algo bem peculiar.

Falando em peculiar…

Ah, e o tempo dela! Um verdadeiro milagre. Ela conseguiu melhorar em mais de 25 minutos o tempo que tinha feito na Maratona de Nova York, realizada apenas seis meses antes. Mais tarde, ela divulgou os resultados do teste de estresse mostrando sua frequência cardíaca em repouso como 76. A maioria das maratonistas do sexo feminino tem uma frequência cardíaca em repouso na casa dos 50 ou menos.

Mas então, como foi que Rosie conseguiu essa vitória?

Pode parecer até piada, mas após as investigações e após ouvir dezenas de testemunhas e rever videos e tudo mais, foi descoberto que ela fez o seguinte: Ela foi ficando para trás ao ponto que ninguém prestaria a atenção. Então ela saiu da prova calmamente entrou no metrô. Pegou a porra do trem e andou de metro até sair na estação perto da linha de chegada. Ali ela entrou na boleira da galera, deu uma disfarçada e entrou correndo na pista.
Mas ninguém viu?

Várias pessoas viram, mas muitos disseram que acharam que fosse uma piada ou que ela era só uma maluca. Ela correu alguns  metros e chegou em primeiro como se tivesse feito todo o percurso. Na caruda.  E ainda fez o teatrinho de que estava quase desmaiando, sendo amparada por dois policiais no apoio aos atletas.

Na área marcada a saída do metrô

Mas vamos lá, quem precisa de fotos ou vídeos para provar que você realmente participou de uma maratona, certo? E claro, todas as outras corredoras não tinham ideia de quem era Rosie. A verdadeira vencedora, Jacqueline Gareau, só descobriu que estava liderando a corrida na marca de 18 milhas. Ah, e ela também não apareceu em nenhuma foto ou vídeo. Para todos os efeitos, era uma artista da invisibilidade, essa Rosie!

É claro que, depois de uma semana, a Boston Athletic Association decidiu desqualificar Rosie. Afinal, uma trapaceira nunca deve receber honras indevidas. Gareau foi coroada como a verdadeira vencedora, e Lyons, a segunda colocada, foi promovida. Todos esses acontecimentos só mostram que a Maratona de Boston é um festival de surpresas e emoções.

Motivações

Mas por que Rosie fez isso? Ah, essa é a pergunta que nunca foi respondida. Talvez ela só quisesse melhorar sua posição, mas acabou se perdendo nos cálculos e voltando para a competição tarde demais. Pobre Rosie, uma verdadeira vítima das circunstâncias… Ou talvez não. Possivelmente seria pelo dinheiro porque ao vencer a maratona ela ganhou um premio em dinheiro (o que talvez explique o chefe sendo o patrocinador da fraude)

 

O 171 da maratona de Nova York

Antes de dar esse perdido épico na maratona de Boston, nossa golpista predileta já havia feito a mesma mágica anteriormente. Sabe a maratona de Nova York, aquela que “ninguém sabe bem como ela conseguiu se qualificar e que entrou depois da data, com um caô de que estava com câncer no cérebro? Então, depois descobriram que ela tinha também pegado o metrô para dar uma ajudinha.

Isso foi esclarecido quando dois estudantes de Harvard , John Faulkner e Sola Mahoney, lembram-se de ter visto Ruiz sair de uma multidão de espectadores na Commonwealth Avenue , a meia milha do final. Pouco tempo depois, a fotógrafa freelancer Susan Morrow relatou que a conheceu no metrô durante a Maratona de Nova York e a acompanhou do metrô até a corrida. Ela perdeu contato com Ruiz depois disso, mas se apresentou quando a notícia da duvidosa vitória de Ruiz em Boston foi divulgada. Segundo Morrow, ela conheceu Ruiz no metrô e juntas caminharam até a área de chegada, onde Ruiz se identificou como uma corredora lesionada. Ela foi escoltada até um posto de primeiros socorros e os voluntários a marcaram como tendo completado a maratona, qualificando-a para a Maratona de Boston. EU não duvido que nessa hora eles fizeram isso com pena, acreditando que era sua ultima corrida por causa do câncer no cérebro, mas isso é minha suposição. O que se sabe é apenas que ela pegou o metrô com a fotógrafa, foi na linha de chegada e meteu essa de que estava lesionada mas tinha completado a prova.

Os oficiais da Maratona de Nova York iniciaram uma investigação e não conseguiram encontrar nenhum sinal de Ruiz perto da linha de chegada, o que confirma tudo isso que as testemunhas que a viram no metrô informaram.

Mas ela negava terminantemente. E negou até o dia de sua morte. Quando acuada, Rosie meteu um clássico caô-bandeira, dizendo que estavam fazendo isso por machismo, e que não aceitavam que uma mulher como ela vencesse e etc e tal.

 

Mais golpes e mais rolos

Em 1982, Ruiz foi presa por desviar $ 60.000 (equivalente a $ 168.000 em 2021) de uma imobiliária onde trabalhava. Ela passou uma semana na prisão e foi condenada a cinco anos de liberdade condicional.

Ela então voltou para o sul da Flórida , onde foi presa em 1983 por seu envolvimento em um tráfico de cocaína. Ela foi condenada a três anos de liberdade condicional. Em janeiro de 1984, Ruiz se casou com Aicaro Vivas,  teve três filhos e se divorciou em agosto de 1986, mas manteve o sobrenome Vivas depois disso.

De qualquer forma, Rosie Ruiz entrou para a história como uma trapaceira, e seu legado não é exatamente invejável. Além dessa façanha na maratona, ela ainda conseguiu ser presa por desviar dinheiro e vender cocaína. Uma pessoa de múltiplos talentos, não acham?

Enfim, Rosie Ruiz já se foi, mas sua memória permanece como uma lição de como não participar de uma maratona. E quem sabe, talvez um dia alguém tente imitar sua “estratégia” e falhe miseravelmente. Mas até lá, a Maratona de Boston continuará a nos proporcionar momentos inesquecíveis e histórias de trapaceiros lendários.

 

fonte

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
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