Os outros parte 5

A pobre criança se debatia, desesperada enquanto o raio a puxava para o alto, trazendo-a na direção do aparelho. Hug viu a portinhola abrir, e um caldo gosmento de sangue e vísceras de Cork escorreram quando a mesma abriu.

Hug apontou o cilindro de metal na direção da nave e projetou seu ódio para a coisa, torcendo para que o dispositivo alienígena fosse capaz de atirar contra um deles.

Passaram-se preciosos segundos e não saiu nada. Desesperado, Hug viu que Tarim se aproximava rapidamente do buraco sob a fuselagem da nave.

-Malditos! Não!!!

Então, numa fração de segundo, um espesso raio foi disparado do cilindro de metal. Hug chegou a se assustar com ele, pois era três vezes mais espesso que o raio emitido contra a rocha, em seu primeiro disparo.

O raio passou perto da nave, mas não a acertou.

Hug tentou novamente, apontando o cilindro na direção da nave. Ele sabia que aquela era a última tentativa.

O cilindro disparou um raio contínuo e grosso de luz. Dessa vez, atingiu o aparelho em cheio, fazendo um buraco na estrutura. Imediatamente o aparelho soltou Tarim, que rodopiou no ar e caiu no chão. Em seguida, todos ouviram uma poderosa campainha, exatamente como a que quase ensurdeceu Hug quando a bola azul caiu do embornal. Então, ouviu-se uma sucessão de pequenas explosões estalos e ruídos de catraca vindas do aparelho.

O disparo de luz provocou um defeito na sustentação do aparelho, que caiu. E à medida em que caía a luz o cortava como uma faca quente na manteiga. Quando a luz do cilindro se interrompeu, o aparelho já havia sido cortado em quase duas fatias. Mas ela ainda flutuava, girando descontrolada. Até que explodiu no ar.

A nave se partiu em duas metades, caindo em duas enormes bolas de fogo, bem perto de Tarim.  Hug correu para salvar a menina, mas viu que não ia chegar a tempo. A metade flamejante do aparelho atingiu o solo e quicou, rolando na direção de onde a criança estava caída, desacordada.

Hug correu o mais rápido que ele podia, mas antes que pudesse chegar até ela, viu Sirina, a filha de Cork sair do buraco correndo e pegar a menina.

Sirina pegou Tarim e correu de volta para o buraco entre as rochas no chão. Hug foi atrás.

Ao chegar na entrada do buraco, viu Sirina com a menina entre as pedras.

-Ei! – Ele gritou.

Sirina se assustou. Olhou para cima incrédula.

-Larga ela! – Hug gritou, apontando o cilindro para a mulher.

-Calma, calma! – Sirina disse, com os olhos esbugalhados de susto.

Então alguma coisa atingiu Hug pelas costas. Tudo se apagou imediatamente. Ele caiu no chão, com um baque seco.

….

Quando abriu os olhos, estava no buraco.

-Hung… – Gemeu. Sua cabeça doía e ele estava tonto.

No canto, viu Sirina, cuidando de Tarim. A menina estava muito fraca, no colo da mulher. Ela olhou para o pai e sorriu, antes de revirar os olhos e cair com a cabeça para trás.

-Tarim! – Ele disse. Levantou-se para chegar na criança, mas sentiu-se tonto, e precisou se apoiar nas pedras. Acabou caindo. Quando estava no chão, viu surgir Amon.

Amon não disse nada. Apenas estava apontando o porrete na direção dele.

-Foi você? – Perguntou Hug.

Amon apenas sorriu.

-Vocês roubaram a minha filha.

-Sim… E por isso pedimos seu perdão. – Disse Sirina.

-Malditos… Eu vou… Eu vou…

-Acalme-se. Você está muito ferido para fazer qualquer coisa agora. Sua filha estava doente. Eu a trouxe conosco porque do contrario ela morreria.  – Disse a mulher.

-Mentira!!

-Pense o que quiser! Não faz diferença! – Disse Amon.

A tontura de Hug já diminuía o suficiente para que ele ficasse de pé.

-Os outros!!! Eles vão voltar!  – Disse Hug.

-Como você sabe?

-Eu sei. Não interessa! temos que sair daqui.

-Não, estamos seguros aqui! -Respondeu Amon.

-Tão seguros que os outros pegaram Cork!

Houve então um silêncio na gruta. Nenhum deles disse nada.

Sirina virou-se para Amon e disse: – Ele está certo. Aqui não é seguro.

-Mas quem garante que eles vão voltar? E se não voltarem? – Perguntou o homem segurando o porrete.

-Eles vão voltar! Tenha certeza disso. Eu os vi, eles emitem aquele barulho. O barulho atrai os outros. Quanto tempo estou aqui?

-Uns dez minutos, eu acho. O que é esta coisa? – Perguntou ele, segurando o cilindro.

-Cuidado!!! – Gritou Hug, desviando da frente do objeto.  – Isso é a arma deles!

-Mas como diabos você conseguiu pegar a…

-É uma longa história! Me dá! Precisamos sair agora! – Gritou Hug, ameaçando saltar sobre Amon.

-Cala a boca! – Berrou Amon de volta, preparando o porrete para um golpe.

-Nós vamos morrer! – Gritou Sirina, interrompendo o conflito. – Vocês dois!  Parem de brigar e me ajudem aqui com a menina. Temos que dar o fora deste buraco. Mesmo que eles não voltem, o lugar não é seguro. Se chover isso vai encher de água!

Os dois ficaram em silêncio e concordaram.

Hug ajudou Sirina e Amon a saírem do buraco.

Enquanto saíam eles ouviram o som do mato e das árvores sendo partidas.

-São eles! – Apontou Amon na direção da floresta. Hug olhou para trás e viu dois aparelhos  surgindo entre as folhagens. – Pegaí! – Ele disse, jogando o embornal com a arma para Hug. Sirina passou a criança para Amon.

-Corram!

Os três dispararam entre as árvores. Sirina corria na frente, seguida por Hug e Amon levava a menina desacordada no ombro.

Os clarões estouravam atrás deles, levantando poeira, areia e rochas no ar.

-Vai na frente! – Gritou Hug para Amon.

-Onde você pensa que vai?  – Respondeu Amon com a menina nos ombros.

-Vou detê-los!

-Hã???

-Cala a boca e corre!  – Ele disse, enquanto puxava o cilindro de dentro do embornal. Amon correu, carregando Tarim.

Hug escondeu-se atrás de uma árvore e esperou. Os barulhos dos aparelhos eram cada vez mais altos.

-Estão chegando! – Pensou.

Quando eles estavam perigosamente perto, Hug apontou o cilindro, mas  dessa vez não para os aparelhos, e sim para as enormes árvores. Em um só raio Hug decepou três grossos troncos, que cairam pesadamente, arrastando galhos e outras árvores menores com eles. Um dos troncos atingiu em cheio uma das naves, esmigalhando-a contra o  chão. A outra foi violentamente atingida, mas pareceu apenas se avariar. Ele perdeu sustentação e balançou no ar aparentemente sem controle.  Hug tentava mirar o cilindro para fazer um novo disparo, mas o aparelho parecia totalmente descontrolado. A nave acertou o chão com força e subiu no ar novamente. Enquanto estava no ar, sob a mira de Hug, a portinhola se abriu e um aliens saltou. A criatura apontou o clindro que tinha com ela na direção de Hug e ele foi forçado a saltar e correr para o mato para não morrer.

Antes que adentrasse a floresta densa, Hug viu a criatura voltando e ajudando uma outra a sair do aparelho amassado, que agora jazia no chão da floresta, soltando aquela fumaça preta malcheirosa.

Hug correu afobadamente pelo mato. Havia perdido o o contato com Amon e Sirina. Correu na direção que achava que os dois tinham ido com sua filha. Até que chegou na beira dum penhasco.

Hug conseguiu parar antes que caísse. A queda seria fatal para qualquer um.

-Por aqui, rápido!  – Apontou Sirina.

Hug olhou para o lado e viu os dois com a sua filha, a cerca de vinte metros adiante, saltando e correndo sobre um tronco caído. Era uma árvore apodrecida que havia caído, formando uma estreita ponte que ligava os dois lados do penhasco.

Hug correu para a árvore e trepou nela.  O trinco apodrecido parecia nitidamente frágil. Estava repleto de musgo, o que o tornava escorregadio. Enquanto corria sobre o tronco,  ele balançava de um lado para o outro, em falso. Abaixo dele, o buraco devia ter mais de cinquenta metros de profundidade e terminava num pequeno rio cheio de pedras o fundo. Sirina e Amon já haviam chegado com Tarim ao outro lado, mas Hug estava só no começo da travessia. Subitamente, Tarim levantou a cabeça e gritou, apontando para ele.

Hug jogou-se contra o tronco.

Ele viu assustado um raio branco passar bem perto de seu cabelo. Olhou para trás e viu os dois aliens já chegando junto ao penhasco.

-Corre! – Gritou Amon, enquanto passava a criança para a mulher.

Hug tratou de levantar-se e correr pelo tronco. Os aliens disparavam flashes de luz com as armas.  Hug apontou o cilindro na direção deles e disparou. Mas não os acertou. Os aliens saltaram no mato.

-Vem, rápido!! – Gritou Amon equanto fazia um enorme esforço para empurrar o tronco apodrecido.

O tronco balançou perigosamente e Hug temeu cair no abismo. Ele se agarrou ao galho, mas viu o clindro que segurava escapar de sua mão e cair na direção do fundo do abismo.

-Nãããão! – Hug gritou, em vão.

Percebendo que Hug perdera a arma, os aliens saíram do mato e vieram correndo, disparando freneticamente.

Hug levantou-se e tentando recuperar o equilíbrio, correu em meio aos raios e saltou para a beirada.

Os aliens vieram logo atrás. As criaturas já estavam sobre o tronco caído quando Amon e Hug se uniram para derrubar a árvore. Sirina correu para a floresta com Tarim no colo.

-Força! – Vamos derrubá-los!

-Huuuung! – Amon fazia toda força possível para empurrar a tora.

Hug usou toda a força que tinha. O tronco se moveu devagar, mas então rolou e se partiu na extremidade.  Os aliens cairam com tudo, gritando.

Os dois homens se abraçaram em comemoração!

As criaturas atigiram o fundo do abismo, estraçalhando-se contra os rochedos. E então houve silêncio na floresta.

-Vencemos!

Amon escarrou no buraco e deu uma poderosa gargalhada que ecoou no abismo.

Nisso, os dois ouviram um grito vindo da floresta. Era a voz de Sirina.

-Vamos! – Disse Amon correndo na direção do grito.

Os dois correram pela floresta densa e úmida.

-Espere. Escute. – Sussurrou Hug segurando o ombro de Amon.

Amon parou. Os dois ficaram em silêncio.

Ao longe, ouviram a voz dos alienígenas.

-Tem mais. – Sussurrou Amon.

-Acho que tem mais dois. – Disse Hug. -Veio de lá. – Ele apontou.

Os dois homens embrenharam-se no mato, esgueirando-se entre troncos e raízes. Não podiam fazer barulho.

Quando se aproximaram o suficiente, a comunicação dos dois passou a ser por sinais.

-Ali – Apontou Hug.

Duas criaturas estavam de costas para eles. Elas apontavam suas armas para Sirina, enquanto falavam naquele dialeto estranho cheio de gemidos, zumbidos e estalos. Hug notou que um deles era mais alto e forte. Parecia o chefe. Ele tinha uma marca distinta num dos braços e na frente de seu corpo, surgiam mais dois pequenos braços, com apenas dois dedos em cada mão, que pareciam atrofiados.

Hug meteu a  mão no embornal e tirou o revólver de seu avô.

Ele apontou a arma na direção da cabeça de uma das criaturas. Escolheu a que estava mais perto de Sirina e sua filha.

Hug puxou o gatilho e estourou os miolos do alien. Sirina saltou no chão com Tarim. O alienígena atingido caiu no chão, e o grande se virou, com imesa habilidade. Ele já virou disparando o raio. Hug viu o potente facho de  luz passar perigosamente perto e cortar Amon ao meio.

O corte foi tão preciso e rápido que Amon caiu no chão, separado em duas partes. Ele mal podia acreditar quando viu suas pernas ainda em pé. Então elas caíram.

Hug tentou conter o horror daquela cena macabra e disparou novamente o revólver, mas errou a criatura. O alien saltou de banda e  fez um novo disparo, mas também errou.

Amon se arrastava, urrando de dor. Ele tentava chegar até o tubo metálico derrubado pelo alien morto a tiros. Tão logo notou, a criatura ainda de pé apontou o tubo para ele.

Sirina e Hug viram horrorizados quando o alien apontou a arma na direção de Amon.  Ele, somente com a parte de cima do tórax, em meio a uma poça enorme de sangue e tripas gritou:

-Fujam!

O alien executou Amon com outro raio. Fatiando-o em pedaços fumegantes de carne.

Hug e Sirina corriam pela floresta com Tarim.

-Pára… Eu… Eu não aguento. – Disse Sirina caindo com a menina no colo.

Hug olhou a mulher nos olhos. Ela estava prestes a desistir. Ali estava um farrapo humano. Em poucas horas havia perdido tudo. Seu pai, seu marido, a esperança de uma filha adotiva…

-Vamos! Você não pode desistir agora! – Gritou Hug.

-Eu estou… Cansada. – Ela disse ofegante. Hug notou as lágrimas cortando a sujeira no rosto dela.

-Venha, vamos. – Ele disse, agarrando Sirina pelo braço e colocando Tarim no ombro.

Os três agora se deslocavam lentamente no meio da floresta. Enquanto Hug era um caçador experiente, com anos de incursões na floresta, a vitalidade de Sirina mostrava-se frágil. Ela não aguentava correr durante muito tempo, e parecia disposta a desistir a cada minuto. Não tardou a perceberem que o alienígena estava os perseguindo.

Hug tentou chegar num ponto que lhe desse alguma vantagem estratégica, para tentar matar o alien a tiros.

-Ali, vamos para as montanhas – Disse ele, apontando o rochedo.

Quando o Hug chegou num ponto que lhe dava uma boa vantagem, ocultou a menina e a mulher entre as pedras.

-O que vai fazer? -Perguntou Sirina.

-Vou matar o desgraçado! – Ele respondeu, fazendo mira atrás da pedra. -Se nós não matarmos essas coisas elas não desistem!

O alien finalmente apareceu lá em baixo. Hug impressionou-se com a incrível habilidade dele. Percebeu que aquele não era um ser comum.

Hug olhou o revólver. Só havia uma última bala.

-É tudo ou nada! – Ele sussurrou. Mentalizou sua filha. Sabia que o destino dela estava em suas mãos.

Então ele puxou o gatilho.

A arma disparou numa explosão. Hug viu o alien voar no ar e cair.

-Acertei! – Ele comemorou.

Mas antes que pudesse ter tempo de sorrir, viu o alien se levantar. A criatura olhou o ombro.

-Essa não! – Hug murmurou.

O tiro havia atingido a criatura de raspão. Ela agora sabia onde Hug estava com Sirina e Tarim.

A elevação do terreno que lhe dava vantagem minutos antes, agora trabalhava contra. Os dois não conseguiam subir o morro o suficientemente rápido. Enquanto isso, o alinígena corria com grande desenvoltura, saltando as pedras.

-Ele está chegando! – Disse Sirina, assustada ao ver disparos de raios atingindo as árvores ao redor.

Então eles deram de cara com um enorme paredão de pedra. Não havia onde se esconder. Ou onde agarrar e subir. O paredão de rocha nua repleta de limo os condenava.

-Estamos fritos. – Disse Sirina. Hug olhou nos olhos da mulher e percebeu que ela estava coberta de razão.

CONTINUA

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. muito legal esses seus contos. a gente fica maluco esperando a proxima parte. Fico imaginando vc aí,criando esses contos e pensando na trama pra prender nossa atenção. Paabens, vc é genio.

  2. Sempre que leio os seus contos, fico imaginando porrilhões de finais alternativos, e sempre eles terminam de um jeito completamente diferente do que eu tinha imaginado. Se eu tivesse a sua criatividade… A última vez que tentei escrever uma história recebi um elogio da minha melhor amiga: “Você me fez perder meu tempo lendo essa merda, pelo menos faça algo útil da próxima vez” (a história era sobre um planeta chamado Sitília, que ficava a 7 anos luz da Terra, na história os habitantes de Sitília estavam resgatando alguns habitantes da Terra, pois a mesma iria ser destruída na colisão com um asteróide, os habitantes de Sítilia resgatavam apenas pessoas puras de coração, pois Sítilia era um planeta completamente pacífico, onde todos se tratavam como irmãos)

  3. Só não comentei ontem porque eu tava querendo ir pra cama logo, mas ficou show, o jeito que você escreve coloca o leitor dentro do conto, faz o leitor sentir as emoções dos personagens. Você é um gênio Philipe

  4. Muito bom! Tô aqui imaginando tudo em detalhes. Gostei da forma como vc descreveu os aliens um tanto diferentes do “gray típico”, com tentáculos e braços extras(os líderes seriam de uma casta diferente, como ocorre em formigas e abelhas?). Daria um ótimo filme também, apesar de que iria ser “um pouquinho” mais caro que o dos zumbis, mesmo não gastando nada em cenários…rsrs

    • Sim, os lideres seriam de uma casta superior, com direito a mutações. As roupas deles são produzidas por microorganismos, formando uma cobertura de proteína gosmenta, capaz de nutrir e efetuar trocas gasosas específicas.

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