A busca de Kuran – O templo da morte

Quando Carlos e Richard se aproximaram o suficiente para ouvirmos, eles gritaram:

-Achamos um templo! Dentro da montanha!

Petrus me olhou em silencio. Imediatamente, ouvi o pensamento dele:

“Gaap está lá.”

Nós nos juntamos a eles e corremos pelo paredão de rocha até sua face menos atingida pela erosão.

Quando me deparei com a entrada do templo,fiquei completamente impressionado. A rocha havia sido escavada na forma de uma grande cruz, estando a porta do templo no centro da cruz.

-Eu vou ter que registrar isso para a posteridade. – Eu disse, já pegando a câmera. Corri para me distanciar o suficiente afim de realizar um bom registro. Eu nunca havia sonhado em ver algo assim antes.


O templo havia sido talhado na rocha de maneira que não havia nenhum sinal da escavação. A sensação que nós tínhamos era que algo havia cortado a pedra como se ela fosse manteiga e gravou em baixo relevo imagens muito antigas, que a erosão e o vento do deserto se encarregavam de apagar. A porta do templo estava a cerca de uns oito metros de altura do chão do platô. Não havia nenhuma escada, recortes na pedra ou outra forma de acessar a parte inferior do recorte da cruz.  Quando voltei até o grupo, encontrei Petrus e Carlos Refacho conversando sobre a origem milenar daquela construção.

-Templos gravados em rochas não são incomuns. – Carlos disse – Mas eu nunca tinha visto nada assim antes.Podemos dizer que este templo é muito antigo, porque os primeiros templos que se conhece eram ligados à entidade terra e por isso eram em grutas, em cavernas naturais ou artificiais. Quando o homem começa a dominar os metais, surgem os templos cravados nas rochas. Existem alguns na Índia, no Egito e na Jordânia. São em sua maioria construções pré-islâmicas.

-De que ano você acha que é? – Perguntou Richard.

-Difícil dizer. As linhas retas e a falta de adornos sofisticados sugerem algo em torno de 4000 antes de Cristo. Isso é de um tempo em que a forma de cruz ainda não estava ligada diretamente a religião cristã. Observe a cabeceira da cruz. Temos ali um relevo, que parece bem característico do início da era do bronze, quando a Suméria e o Egito foram fundados.

-Você está dizendo que este templo é mais velho que as pirâmides?- Perguntei, estarrecido.

-Muito mais, guri! Isso aí é de quando surgiu a escrita. Uma coisa no entanto, não parece fazer muito sentido. O estilo de construção é sumério, mas este deserto está muito longe da suméria. Seja quem for o rei que mandou construir isso, ele deve ter enviado um verdadeiro êxodo de escravos e trabalhadores atravessando o mundo conhecido até chegar aqui. Por que razão eu não sei. Talvez o deserto fosse sagrado para eles. Talvez ele quisesse resguardar seus tesouros mais preciosos num lugar onde nenhum invasor conseguisse alcançar. Se foi isso, deu certo até o dia de hoje.

-Isso deve ter levado séculos para ficar pronto. – Disse Petrus observando a fachada do templo.

-Sem dúvida nenhuma. Olhe em volta e não veremos nenhum indício de cidade ou ruína ao redor. Isso é estranho e me faz pensar em algum tipo de missão. Os missionários eram enviados para escavar o local, e após a conclusão da obra, todos eram assassinados, para que o local permanecesse sem segredo. Os homens do rei devem ter desfeito a pequena vila que deve ter sido formada ao redor da montanha. O lugar é seguramente inexplorado, até porque os Uigures consideram a região sagrada e não aceitam vir até aqui.

-Talvez eles tenham seus motivos. – Eu ri.

-Ei, pessoal, vejam aqui. Tem uma inscrição na pedra. -Disse Richard, examinando a rocha. Nos aproximamos e vimos um baixo relevo na lateral da pedra, mostrando um homem usando um colar de bolotas e um chapéu engraçado, apontando uma espécie de placa com inscrições.

Carlos Refacho se aproximou para analisar melhor.

-Consegue entender o que está escrito? – Perguntou Petrus.

-Hummm. Espere. Onde estão as minhas coisas?

Levou mais de quarenta minutos para desmontarmos os pacotes e Carlos localizar seus livros e sua lente de aumento. Enquanto ele sentava-se diante das escrituras na pedra munido de livros grossos, cheios de desenhos e letras esquisitas, eu, Petros e Richard montamos um simplório acampamento. A noite já começava a cair e acampamos bem abaixo da entrada do templo. O frio era causticante. Chegava a arder pra respirar.

Quando a noite caiu, Carlos pediu a Richard para iluminar o lugar com uma tocha, de modo que ele pudesse continuar o trabalho de decifração.

Enquanto jantávamos a conversa era sobre o estranho templo.

-Eu acho que pode não ser um templo. Talvez seja apenas uma câmara mortuária. – Disse Carlos.

-Caso seja uma câmara mortuária, pode estar cheia de tesouros, né? – Questionei.

-Certamente. Uma coisa eu posso garantir. Quem tinha poder para mandar cortar isso aí na pedra, devia ser muito rico.

-Esperem… – Disse Richard. – E se… eles fizeram isso assim, bem longe da terra deles para deixar alguma coisa perigosa afastada? Já pensaram nisso? Pode haver algum tipo de doença contagiosa presa aí.

-Bem pensado.- Disse Petrus. E virando-se para Carlos, perguntou: – Você conseguiu descobrir algo das inscrições?

-Nada concreto. Consegui deduzir que o homem que aparece gravado na rocha não é o rei. Ele é um sacerdote, ou algo do tipo.

-Como você sabe?

-Os reis tinham barba, e eles sempre eram representados assim. A análise grafolinguística não combina com nenhuma base linguistica conhecida e por isso eu deduzo que talvez este seja um templo Elamita. O elamita não tem afinidades estabelecidas com qualquer outro idioma, e parece ser uma língua isolada, como o sumério

-Elamita? – Todos perguntamos.

-Sim. Os elamitas foram um povo que antecedeu os sumérios e foi uma das primeiras civilizações de que se tem registro no extremo oeste e sudoeste do que é hoje o Irã. Eles eram politeístas, e foram grandes inimigos dos babilônios. Nabucodonosor II acabou com eles.

-Então é possível que este seja um templo dedicado a um dos deuses deles? – Perguntou Petrus, olhando pra mim.

-É perfeitamente possível. A única coisa que não faz sentido é fazer um templo, que geralmente corresponde a um local sagrado e de adoração numa região tão remota. Pelas características parece um templo. Mas pela localização está mais para um túmulo.

-Então fechamos com um tumulo de um deus e não se fala mais nisso. Riu Richard, ignorando que eu e Petrus já tínhamos certeza que era mesmo isso.

Bom, gente. Tá ficando uma friaca danada. Vamos dormir que amanhã de manhã temos que bolar um jeito de escalar esse negócio ali e entrar no templo.

Eu custei a dormir naquela noite. O misto de excitação com o medo de estar na porta da casa de Gaap me tiravam o sono. Quando finalmente meu corpo cedeu ao cansaço da escalada das montanhas, dormi sem sonhar. Acordei pensando que estava no meio da noite. Petrus estava me sacudindo, como de costume.

-Acorda, garoto!Vamos!

-Já tá de manhã?

-Faz tempo. O Carlos tá lá em pé na frente da pedra desde que o sol surgiu.

Eu me levantei, tomei o chá e comi as bolachas duras dos Uigures. Em seguida, peguei a câmera e fui até a pedra, fazer um retrato. Carlos me agradeceu por registrar a inscrição. Ele estava exultante, pois havia conseguido fazer uma tradução muito superficial de um pequeno trecho.

Segundo ele, uma das poucas linhas visíveis, da pedra referia-se a uma divindade bondosa, que levou o povo de Elam à glória. Carlos ainda não sabia se a divindade era mesmo uma divindade ou seria um rei. Baseando na aparência do homem gravado na pedra, ele estimava que seria uma divindade religiosa, pois se fosse um rei a inscrição seria acompanhada de um retrato dele, possivelmente em batalha.

Desmontamos o acampamento e arrumamos os sacos de modo a não precisarmos buscar as coisas do lado de fora. Cada um explorador recebeu uma mochila contendo um pedaço de rapadura, dois cantis de água, uma faca, cordas, e seus itens. No meu caso, era apenas a câmera de Joseph a qual eu havia me apoderado.

Fomos até a frente da grande cruz que marcava a fachada do templo.

Saquei a câmera e fiz outros retratos.


Enquanto eu fotografava, Carlos observava atentamente os desenhos esculpidos em baixo relevo no ato da cruz. Agora com a luz do sol, era possível ver melhor os detalhes. Carlos reconheceu a figura de uma procissão de escravos, seguindo em fila para uma espécie de altar. Sobre eles estava o rei, segurando um cetro e ao lado uma figura maior, que provavelmente seria a divindade para a qual o templo teria sido ofertado.

-Já notaram que a porta do templo está entreaberta? – Disse Petrus.

Curiosamente, aquele detalhe havia passado despercebido de todos nós.

-Talvez o templo já tenha sido saqueado. – Disse Carlos.

-Ou o que quer que seja que estivesse aí dentro saiu para dar um passeio. – Riu Richard.

E e Petrus nos entreolhamos com uma expressão estranha. Richard percebeu.

-O que foi? Não vai dizer que vocês acreditam que…

-Não, deixa pra lá. Vamos em frente. – Disse Petrus.

-E como vamos subir nisso aí?

-Pois é. esta é a parte mais complicada. Eu ainda não sei. A pedra está bem lisa e os construtores cinzelaram todas as possíveis reentrâncias para dificultar o acesso.

Eu tive uma ideia, que no início me pareceu meio idiota, mas depois se provou eficaz.Como éramos quatro, Petrus e Richard cruzavam os braços, de modo a formar dois X. Eles então se agachavam, e sobre cada um dos X, Carlos apoiava uma bota, também agachado. Eu era o mais novo e leve, e escalava Carlos. Eu subia nos ombros dele, então Petrus e Richard levantavam-se Carlos se erguia e eu me esticava ao máximo para agarrar numa reentrância pequena, que era uma fenda na rocha. Dali eu conseguia enfiar a ponta da bota e trepar para o platô da base da cruz.

A minha solução funcionou perfeitamente. Consegui chegar à base do platô. De lá, eu lancei a corda e puxei primeiro o homem mais leve depois de mim, que era Carlos. Carlos custou a conseguir chegar à base da cruz, mas finalmente alcançou. Agora estávamos com dois no chão e dois na base da cruz, com cerca de quatro metros de altura.

Eu e Carlos jogamos a corda e içamos primeiro Richard e depois Petrus. Então repetimos o feito para chegar ao meio da cruz.O problema é que dali para o meio, não tinha a fenda que eu havia usado para me apoiar na subida. E todos já estávamos bem cansados. Não só pelo calor que a essa altura estava esturricante, mas também pela altitude, que conspirava contra nós.

Repetimos o processo e agora eu estava tateando a rocha, em busca de alguma forma de subir, mas não via nenhuma.Ficava faltando mais ou menos uns trinta centímetros para minhas mãos alcançarem a borda.

Desmontamos a pirâmide humana para pensar e descansar.

Após um tempo de descanso e muitas ideias malucas, a única alternativa mais viável seria tentar a sorte num salto. Se eu errasse a borda, poderia me machucar feio despencando lá de cima.

Petrus sugeriu então que mudássemos a organização da pirâmide, de modo que Carlos e Richard ficassem na base e ele fizesse o meio. Eu continuaria na ponta.  A explicação para isso é que Petrus era o mais forte de nós e ele poderia me erguer pelas botas com os braços para cima, o que me daria os preciosos centímetros que estavam faltando.

Assim fizemos e deu certo. Após a tremedeira e gemeção entre os dois homens da base, Petrus se levantou e me pegando pelas botas, ergueu os braços. Eu finalmente alcancei a borda e precisei me arrastar bastante contra a pedra para conseguir girar o corpo lá pra cima.  Foi a sorte, pois Richard cedeu e Petrus despencou sobre Carlos.

-Tá tudo bem? Alguém se machucou?

-Não, ung… Tudo bem. – Gemeram eles.

Eu então joguei a corda e puxei Carlos. Em seguida eu e Carlos puxamos Richard e nós três puxamos Petrus.

Carlos estava feliz como um pinto no lixo, olhando e sacando a lupa para examinar detalhadamente a pedra em busca de evidências históricas.  A parte mais trabalhada no meio da cruz era justamente a porta, que estava entreaberta, sustentada por dentro, por uma coluna de pedra.

-De fato, esse negócio aqui está aberto há muitos milênios. veja, foi aberta por dentro, não por fora. Não há sinais da ação de ferramentas na porta. Talvez o templo nunca tenha sido lacrado. – Disse Carlos examinando a porta.

-Mas por que?- Perguntou Richard.

-Eles tinham certeza que ninguém chegaria aqui. Isso é apenas uma hipótese, claro. A outra é que eles talvez cultuassem o sol, como os Egípcios, e talvez a entrada de luz tenha algum significado ritualístico pra eles.

-Quem vai entrar primeiro? – Perguntei.

Todos eles olharam pra mim e eu percebi que aquela pergunta parecia respondida.

Eu me abaixei e entrei no salão. Para minha surpresa, o interior do templo era enorme, repleto de colunas de pedra. Logo atrás de mim entraram Carlos, Richard e Petrus. Richard e Petrus se apressaram em pegar os lampiões de querosene nas mochilas, já que a fraca luz do sol que entrava não era suficiente para ver em mais detalhes o interior do templo.

Carlos Refacho correu para as paredes em busca de afrescos ou entalhes.Me aproximei da entrada onde havia mais luz e fiz um retrato do interior do salão.

No interior do templo, todo cortado no meio da montanha, não havia marcas escrituras antigas ou entalhes que indicassem mais pistas sobre tesouros ou sobre os povos antigos que criaram o lugar. Eu vi seis colunas principais, que começavam quadradas e então se tornavam cilíndricas, sustentando vigas no teto. Adiante, era uma escuridão só. O lugar era muito frio e tinha um cheiro forte de poeira. Nós quatro ficamos no salão, esperando a luz dos lampiões nos ajudarem a enxergar melhor.

Quando os lampiões finalmente fizeram seu serviço, avançamos pelo meio das colunas e eu contei um longo corredor que parecia nunca terminar, formado por dezesseis colunas de pedra. Ao final, havia uma parede de rocha, também sem nenhuma decoração. E nesta parede, havia um enorme disco de pedra, com forma circular. Esta era a única coisa com gravações no interior do templo. Havia uma representação do sol, da Lua e símbolos diversos. Reconhecemos esqueletos, e uma figura enorme, apontando para o céu. Pedi que eles iluminassem o enorme disco pra mim e tomei mais um registro, mas esse retrato se perdeu ao longo dos anos. Imediatamente, Carlos correu para o disco de pedra e começou a estudá-lo. Nós nos entreolhamos meio cabisbaixos, pois esperávamos algo mais esplendoroso. Não havia ouro, nem diamantes ou jóias dos reis antigos. Era apenas pedra, poeira, teias de aranha, cheiro de mofo e nada mais. O único que estava feliz era Carlos, que examinava com cuidado cada pequeno detalhe do grande disco de pedra.

-Aqui diz que o grande … Sei lá. Não dá pra entender o nome desse deus deles aqui, veio das águas. É um deus das águas. Ele proveu água para o povo do deserto e por isso foi cultuado.  Quer dizer, eu acho que é isso. Tá vendo este símbolo? Ele é a água. É igual ao egípcio. As caveiras simbolizam o sacrifício… Este deus exigia sacrifícios humanos, tá vendo?

Nós já estpávamos de saco cheio de aulas de arqueologia, e largamos Carlos Refacho junto ao enorme disco de pedra, que media cerca de quatro metros.

-Deve haver uma outra câmara anexa. Não faz sentido este corredor e nada mais. Se eles forem iguais aos egípcios, a entrada verdadeira do templo nem deve ser esta. Talvez haja alguma passagem oculta nas fendas das rochas… – Disse Petrus, escrutinando as paredes do salão com o lampião.

Eu fui até a porta de entrada e olhei lá pra fora. O lugar tinha uma vista espetacular do deserto, que se estendia à frente das montanhas como um manto amarelo estendido até onde a vista alcançava.

Carlos estava lá no fundo, copiando num caderno os desenhos e escrituras indecifráveis, quando bateu na pedra e um som oco ecoou no interior da câmara.

-Vocês ouviram isso? – Questionou Richard.

-O que foi isso? – Perguntou Petrus.

-Fui eu. Eu bati aqui ó. – Disse Carlos, socando a pedra no meio. O ruído ecoou novamente, mas então ouvimos um estalo, e surgiu uma poeira que caiu do teto.

Todos ficamos nos olhando em silêncio. Mas ficou tudo quieto novamente.

-Que estranho. – Eu disse.

-Eu acho que esta pedra aqui… – Disse Carlos Refacho. Mas ele não conseguiu terminar a frase. A pedra desabou sobre ele, explodindo contra o chão. A montanha inteira pareceu tremer e a rocha levantou uma nuvem que tomou todo o lugar.

Nós corremos para a porta, temendo que o templo inteiro fosse colapsar, mas novamente se fez o silêncio sepulcral.

-Caralho! Caralho! – Richard repetia em estado de choque.

Petrus correu com o lampião lá pra dentro, em busca de encontrar Carlos Refacho ferido. Eu fui com ele. Era quase impossível enxergar na poeira em suspensão no templo. Nós tampávamos o rosto com a camisa.

Petrus iluminou o chão e vimos a enorme pedra circular que tinha mais de um metro de espessura. Ao redor dela uma poça de sangue escorria. Era tudo que havia sobrado do famoso arqueólogo.

-Santo Deus, Petrus.

-Esmagou ele.

-E agora?

-Veja, era uma porta. Tem uma passagem ali. – Apontou Petrus. Richard veio correndo até nós.

-Ah, não. Olha isso, olha só pra isso! Ele foi esmigalhado! – Dizia ele com horror ao se deparar com o filete de sangue que escorria sob a pedra.

-Calma, calma! Você é médico. Devia estar acostumado a ver sangue.

-Sou médico. Não açougueiro, Petrus!

-Bem. Nós não podemos fazer nada. Essa pedra deve pesar umas dez toneladas. Ou mais.- Eu disse, tentando animá-los.

-Vamos, vamos em frente. Veja quantas teias de aranha.- Falou Petrus, iluminando a passagem estreita.

-Que nojo. – Gemeu Richard. – Isso está um pesadelo. Não pode ficar pior.  – Ele disse.

-Não pode? Dá só uma olhada nessa coluna!- Petrus iluminou uma grande coluna num novo salão. Para nossa total estupefação e horror, a sala era quase inteiramente construída com ossos humanos.

Richard ergueu os único lampião que nos restava e eu registrei o momento.

-Oh Shit! – Berrou Richard.

Não era apenas um pilar, mas um intrincado conjunto de salões com paredes forradas de ossos humanos.

-Eu acho que são os ossos dos homens que construíram este templo. – Disse Petrus.

-Faz sentido. – Respondi.

-Meu deus, são milhares, milhares de pessoas que morreram aqui. Olha só aquela parede ali no fundo! – Disse Richard, estupefato. Com a ajuda deles, tentei registrar o melhor que pude o lugar.

Estávamos olhando a parede cheia de ossos quando ouvimos uma risada gutural vindo da uma área escura no interior do templo. Eu conhecia aquele riso maligno.

Petrus levantou o lampião e vimos no escuro, um homem velho, calvo, de pele muito branca, e olhar cheio de ódio. Ele vestia o mesmo manto preto de quando apareceu pra mim. Petrus o reconheceu de imediato.

-Cuidado Wilson! – Gritou Petrus.

-É Vetrahl! – Eu respondi.

-Hã? Como você sabe? – Petrus tinha uma expressão confusa.

Nisso ele foi atingido com violência por Richard. Os dois caíram no chão.

Vetrahl ria junto a porta da sala dos ossos.

Eu estava petrificado. Na minha frente, Richard e Petrus, meus dois amigos estavam se estapeando em uma luta ranhida. Corri para ajudar. Richard estava como que dominado pela magia do guardião e atacava e mordia Petrus como um cão raivoso.

Tentei contê-lo mas ele era muito forte. Os dois rolavam pelo chão em meio aos ossos. Petrus estava tentando aplicar socos em Richard, que agarrava-se com violência no pescoço de Petrus. Eu sabia que um dos dois iria morrer se eu não fizesse nada. Agarrei um fêmur do chão e corri na direção de Vetrahl, tentando acertar o bruxo. Mas foi em vão. Antes mesmo que eu me aproximasse, ele estendeu a mão e todos os meus músculos simplesmente não respondiam mais. Eu quase caí de cara no chão de pedra. Antes que desse por mim, uma força desconhecida me puxou para trás com enorme violência e eu fui lançado no ar por quatro metros até atingir a parede de ossos. Senti um cranio se espatifar nas minhas costas quando colidi com a parede. A força que agia sobre meu corpo era tremenda e eu não conseguia nem respirar. A força me pressionava contra a parede e eu senti que estava prestes a desmaiar. Vi meus amigos lutando como dois animais pelo chão do templo.

Subitamente, tão misteriosa como surgiu a força que me esmagava cessou. Cai no chão. à minha frente, também caídos, gemendo muito e sangrando estavam Petrus e Richard.

Levantei a cabeça e a última coisa que vi antes de perder os sentidos foi Vetrahl cambaleando na nossa direção. Seus olhos sempre injetados de ódio eram agora bolotas arregaladas de desespero. Ele se agitava como se estivesse sendo eletrocutado. Começou a gritar desesperadamente e seus olhos explodiram em milhares de faíscas prateadas que iluminaram o salão dos ossos. Vetrahl caiu de cara no chão. Ao cair, vi que Kuran estava espetada nas costas dele.

O corpo no chão começou a tremer violentamente. Ele babou sangue e gemeu coisas uma língua desconhecida. Retorceu-se em agonia, com uma expressão de dor no rosto pálido. Os olhos ficaram fundos. E enfim o bruxo parou de se debater. Seu corpo então começou a queimar e queimou rapidamente, até sobrar apenas cinzas. Agora a única coisa que restava era um monte fumegante de pó. Todos nos espantamos ao ver surgir da porta Leonard. Leonard aproximou-se do que restava de Vetrahl. Pegou Kuran e apontou para os ossos calcinados. A fumaça que se espalhava pela sala dos ossos rumou na direção da lâmina como que sugada por um aspirador.

Leonard ajoelhou-se e falou alguma coisa que não me lembro. Então perdi as forças e desmaiei.

CONTINUA

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1.  Caramba esta muito maneiro, seria legal depois do conto um post com um passo a passo de como foram feitas as fotos, quem sabe umas imagens do processo, umas descricoes e coisas assim.
    As paradas de arqueologia e inventada ou vc tem estudado p kct p fazer esse conto?
    Esta muito bacana espero que se torne uma saga com varias historias contando como cacaram outros demonios.

    •  Posso fazer um tutorial de como faço as fotos antigas sim. Sem problemas. Para este conto eu tenho pesquisado bastante. Por exemplo, esse deserto existe mesmo, e lá neva realmente. O povo Uigur, suas crenças, religião, comportamentos e até falas, é tudo pesquisadinho, o que me deu um bom trabalho. Já o templo nas montanhas é ficcional, embora o povo que criou este templo, que fica no Irã tenha sido mesmo os elamitas, que viveram há 3000 anos antes de cristo. Custei pra achar o templo certo porque eu não queria usar Petra, já que o Indiana a Jones já tinha usado.
      Enfim, é uma salada de coisas, que juntas dá uma base legal pra ambientar o conto. Parte do meu tesão na história é pesquisar o lugar e criar a mitologia própria dele, e também ilustrar as fotos, que é um desafio à parte. No caso da sala das caveiras, juntei varias fotos de uma igreja de Portugal com as catacumbas de Paris e mais um templo abandonado da Índia.

        • Anima sim, mas veja, eu acho que o problema é que não basta querer. è preciso que uma editora se interesse e invesita. Aí está o probema, porque nego quer pegar o bagulho já mastigado no Brasil, saca? POr isso é uma briga de foice pra pegar um Harry Potter, pra pegar um crepúsculo, um codigo davinci. Agora quem investe em novos talentos que poderia chegar a ser um sucesso? As editoras gringas. O povo daqui é infelizmente, doutrinado a tentar apenas o que já funcionou lá fora.
          Enquanto as editoras estrangeiras correm riscos, aqui os editores comportam-se como covardes. É uma pena.
          Meter a cara por conta própria é praticamente inviável, pois é um jogo de altas cifras, de grande poder de pressão para venda em lotes. Esses best sellers vendem muito porque estão ao alcance da mão em praticamente qualquer lugar.
          O mercado editorial é um jogo tão difícil, que eu diria que escrever um material de qualidade é a menor das questões envolvidas.

          •  SHOW DE BOLA.
            Fico ansioso aguardando o próximo capítulo.
            Sobre as editoras, você já ouviu falar em algumas que produzem “edição por demanda”?
            Acho que os leitores mais fanáticos (como eu, rsrsrs) adorariam te ajudar.
            Eu, sinceramente, me sentiria honrado em poder ajudar na publicação deste conto.

  2.  O Melhor de Simbah e Indiana Jones, muito bom! Espero que as aventuras de Wilson ,Leonard e a Dona Bonita Michelle Grutzmann, tenha mais algumas historias! e por falar em outras historias e a continuação de “Zumbi” vai ter mesmo?

  3. cara … já viu o novo filme do indiana jones ? o da caveira de cristal …

    tá o filme nem é tão novo, mais eu pensando aqui, vc já que é um quase ufolo, podia ter escrito algo naquele genero, na verdade, eu pensei que você fosse fazer algo alienigina no meio do conto …

    falow profiessor philipe (sotaque russo daquela cientista doidinha)

  4. Parabéns! O conto é muito bom.  Você é realmente um escritor fantástico, não só por este conto, mas pelo Zumbi, A Arte da Caça e suas histórias gumps em geral. Muito bom o post sobre meninas mulheres também.

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