Desde a década de 1880, elas aparecem em revistas, calendários e em cartazes admirados por soldados em seus quartéis, em revistas e até mesmo pintadas na lateral de aviões de guerra. Vamos falar das Pin ups e como elas influenciaram a mente e os desejos de toda uma sociedade.
As pin-ups como ficaram registradas no imaginário coletivo, sobretudo dos homens, são um ícone da cultura pop que surgiu durante a década de 1940 e 1950, e que se tornou símbolo da sensualidade feminina. Essas imagens retratavam mulheres em poses provocantes, utilizando trajes curtíssimos e com um sorriso sedutor nos lábios.
Mas, qual é a história por trás das pin-ups e como essa representação feminina se desenvolveu ao longo dos anos?
Eu acredito que a origem das pin-ups remonte ao século XIX, quando o culto à beleza feminina começou a se popularizar. É obvio que do ponto de vista da História da arte isso pode soar questionável, até porque a beleza feminina é produto da representação e idealização desde sempre e está aí a vênus pré-histórica, que não me deixa mentir.
A pintura foi o meio utilizado para retratar a mulher como uma figura de desejo, como nas obras de Toulouse-Lautrec, que retratavam as mulheres da vida noturna de Paris. Nessa época, as mulheres já eram representadas como figuras sensuais e sedutoras.
No entanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial que as pin-ups ganharam popularidade. As imagens eram utilizadas para estimular o moral das tropas, sendo reproduzidas em cartazes e revistas.
O pintor Alberto Vargas foi um dos grandes expoentes desse estilo, criando algumas das mais famosas pin-ups da época, se tornando uma referência dessa estética até hoje.
Com o final da guerra, as pin-ups perderam sua função militar, mas continuaram a fazer sucesso na cultura popular.
Um exemplo antigo do último tipo foi a Gibson girl, desenhada por Charles Dana Gibson. O gênero também deu origem a vários artistas especializados, tais como Gil Elvgren, Alberto Vargas, George Petty e Art Frahm. Assim como, mulheres que fazem parte deste segmento também merecem reconhecimento por suas obras como: Olivia de Berardinis, Luma Rouge, Fiona Stephenson, Zoe Mozert, Joyce Ballantyne Brand, Pearl Frush, Jennifer Janesko, Ruth Deckard e Bunny Yager.
As imagens começaram a ser reproduzidas em revistas e calendários, tornando-se um símbolo de desejo e liberdade. Além da pintura, a fotografia também contribuiu para a popularização das pin-ups. A fotografia em preto e branco era capaz de capturar a beleza feminina de forma realista, e muitas mulheres se tornaram modelos para as imagens.
Bettie Page, por exemplo, foi uma das modelos mais populares da época, e suas fotos continuam a inspirar a moda e a cultura pop até hoje (difícil achar uma foto dela que o Google, do alto de seu puritanismo ridículo, não encrenque).
Nos anos 60 e 70, as pin-ups passaram por uma mudança radical. A revolução sexual e o movimento feminista questionaram a representação da mulher como objeto sexual, e as pin-ups começaram a rapidamente perder espaço na cultura popular. Mas não foi só isso.
As revistas de cunho sexual como a Playboy, que foram criadas na década de 1950, certamente tiveram um impacto na popularidade das pin-ups dessa mesma década.
Enquanto as pin-ups eram imagens sugestivas e provocantes, geralmente com uma atitude bem-humorada e inocente, as revistas como a Playboy apresentavam conteúdo mais explícito e direto, incluindo imagens de mulheres nuas em poses sedutoras. Essas revistas rapidamente ganharam popularidade entre os homens da época, e muitas vezes eram escondidas ou compradas em segredo.
A popularidade da Playboy e outras revistas de nudez gradualmente levou a uma mudança na percepção do público sobre o que era considerado atraente e sedutor. Imagens de mulheres em poses mais sugestivas e explícitas se tornaram mais comuns e aceitáveis, enquanto as pin-ups dos anos 50 começaram a parecer antiquadas e ingênuas em comparação.
Além disso, as revistas de nudez também tiveram uma vantagem em relação às pin-ups em termos de distribuição e alcance. Enquanto as pin-ups eram geralmente reproduzidas em calendários ou em revistas limitadas em número, as revistas de nudez podiam ser encontradas em bancas de jornal e em lojas em todo o país.
Embora a popularidade das pin-ups dos anos 50 tenha diminuído ao longo do tempo, elas continuam sendo um ícone da cultura pop e um símbolo de feminilidade e sensualidade. Enquanto as revistas de nudez como a Playboy podem ter tido um papel na sua queda de popularidade, a verdadeira razão pode ser mais complexa e multifacetada, envolvendo mudanças culturais e de percepção ao longo do tempo. É inegável também que a revista e congêneres, tiraram proveito da estética pin up em seus próprios produtos.
No entanto, a imagem da mulher sensual e provocante nunca deixou de existir, e pode ser vista em várias formas de arte até hoje.
Essa influência das pin-ups e da estética criada a partir delas teve um impacto significativo por exemplo, na arte de capas de literatura pulp e nas representações femininas nos quadrinhos.
Na década de 1930, as pin-ups começaram a ser usadas em revistas pulp, que eram publicações baratas e populares, muito marcadas por novos autores, geralmente com temas como ficção científica, mistério e horror com fartas doses de erotismo.
Havia também os livros de bolso, também chamados de pulp fictions.
As capas dessas publicações apresentavam imagens coloridas e provocantes de mulheres em poses sedutoras, muitas vezes em trajes escassos ou em situações perigosas.
Essas capas se tornaram muito populares entre os leitores de literatura pulp, e muitos artistas começaram a trabalhar no gênero, criando uma variedade de estilos diferentes. À medida que o tempo passava, muitos artistas começaram a se inspirar nas pin-ups dos anos 50 para criar suas capas de literatura pulp, levando a uma nova onda de representações femininas sedutoras.
Essa influência também se estendeu aos quadrinhos, com artistas como Frank Frazetta, Paolo Eleuteri Serpieri, Boris Vallejo e Milo Manara criando imagens de mulheres fortes e sedutoras, com traços curvilíneos e poses provocantes. A construção da idealização das mulheres variava entre mulheres frágeis e em perigo, quase sempre nuas ou com pouca roupa sendo defendidas pelo herói, ou ainda em uma situação invertida, sendo apresentadas como poderosas, eventualmente dotadas de poderes místicos e misteriosos, colocando-se como antagonistas ou mesmo como deusas poderosas, ressoando um ideal de mulher bela e dotada de poderes divinos e em plena posse de seus desejos, como a Calypso da Ilíada. Não raro, esses dois estereótipos da mulher sensual conseguiam aparecer juntas nas capas, como no exemplo abaixo:
Essas representações se tornaram um ideal estético para muitos artistas de quadrinhos e foram amplamente imitadas e reproduzidas em todo o mundo. Elas começaram nas capas das revistas de literatura pulp e logo se expandiram para quadrinhos, e de lá para capas de discos, pôsteres de filmes B, artes de videogames, literatura fantástica e Rpg. O grau de sensualidade era amplamente variável, saindo da inocência simples até a mais ampla imagem de nudez explicita no limite do que seria permitida a venda.
No entanto, é importante lembrar que as representações femininas nos quadrinhos e na arte de capas de literatura pulp eram praticamente edificadas numa estereotipação e sexualização total, perpetuando ideais que hoje são vistos como problemáticos sobre as mulheres e seu papel na sociedade. À medida que a cultura evoluiu e as questões de gênero se tornaram mais proeminentes, muitos artistas começaram a explorar outras maneiras de representar as mulheres em suas obras, criando personagens mais complexas e diversificadas que refletiam a realidade de uma forma mais fiel. Eventualmente isso vai e volta e acaba sendo contraposto e até mesmo apresentado como um contexto de “empoderamento feminino”.
O protagonismo feminino nas obras vai ganhando mais espaço e surgem guerreiras como Sonja, agentes e espiãs mulheres ganham um pequeno mas crescente espaço, num mundo antes dominado por Conans e James Bonds.
No Brasil um grande artista que nadou de braçada nessa estética foi o nosso querido Benício.
Benício costumava ilustrar as capas dos romances pulp da espiã Brigitte Montfort entre outras histórias de diversas editoras pequenas, especializadas em romances de bolso, onde histórias de crimes, detetives, espionagem, westerns e etc como as da editora Monterrey.
Hoje em dia, a influência das pin-ups pode ser vista na moda, na música e na cultura pop em geral. A estética dos anos 50 e 60, com seus vestidos rodados, cabelos escovados e maquiagem retrô, continua a inspirar a moda feminina. E a figura da mulher sexy e confiante, que surgiu nas pin-ups, continua a ser uma inspiração para muitas mulheres.
As pin-ups são um exemplo de como a representação feminina na arte e na cultura pode influenciar o comportamento e a estética da sociedade. Apesar de terem surgido como uma forma de propaganda militar, eu acredito que essas imagens se tornaram um símbolo de liberdade e desejo, e continuam a inspirar a moda e a cultura pop até hoje.
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Pinups são maravilhosas artes. Tenho um pequeno livro chamado 365 pinups (uma para cada dia do ano) que me anima. Realmente funciona.