O velho oeste que fica na Europa

Eu tava viajando amarradão nas musicas de bang-bang aqui… Volta e meia o random de minha playlist se inspira e começa a só tocar soundtracks de Bang-bangs. E tome de Ennio Morricone!

Muita gente hoje, só conhece certas musicas dos clássicos do Bang-bang em função dos filmes do Tarantino, como Django. Em Django, o Tarantino – que é um exímio coletor de boa musica para seus filmes e composições de personagens – colocou muitas ótimas musicas de filmes antigos, muitos deles esquecidos, como o  I giorni dell’ira ( de 1967) .

Este post tem trilha sonora. Clique aqui:

Eu cresci vendo esses filmes de bang-bang. Vi incontáveis com o John Wayne, e suspeito que todos os do Clint Eastwood. Talvez por isso, o desenho que mais me empenhei em toda minha infância que eu me lembro claramente era um cowboy saltando com duas armas. Fiz aquele desenho para me exibir. Eu percebi que o filho do chefe do meu pai, que estudava na mesma escola que eu, estava me olhando, meio sem graça de vir falar comigo.

Eu era um pária. Na segunda série, eu era o cocô do cavalo do bandido. Sem amigos, recluso, passava o recreio inteiro sozinho… Naquele ano a professora de matemática havia me ridicularizado na frete da turma, me levando lá na frente para todo mundo me chamar de burro porque eu não conseguia ver horas no relógio de ponteiro… Assim, a insígnia de “perdedor” aderiu à minha pessoa de modo dramático. Era como ser um leproso. Tornei-me um câncer ambulante. Ninguém nem mesmo se aproximava de mim. O tempo da escola em Juiz de Fora não era fácil. Aquilo não era para os fracos.

Ao ver que um garoto de uma turma na frente estava querendo falar comigo, mas estava sem jeito, me deu um certo ânimo. Eu precisava fazer alguma coisa para ser amigo daquele cara, e mostrar para o bando de otários da minha turma que se eles não me queriam, os mais velhos (e mais inteligentes, claro) seriam os meus amigos. Eu estava disposto a “pegar um elevador social”, e aquela era a minha única chance.

Então, facilitei as coisas. Saquei uma folha e comecei a desenhar. Rapidamente se formou um bolinho de gente ao meu redor e ante a interjeições diversas, começou a sair o desenho mais foda que eu já tinha feito. Não sei se por empolgação do momento, por ter pela primeira vez uma plateia, eu mandei bem pra caralho. Arrematei com o bigodinho, e quando percebi eu tinha feito ninguém menos que o Lee Van Cleef. Eu havia visto tantos filmes de bang-bang com meu avô que de uma forma que não sei explicar, o Lee Van Cleff ficou registrado na minha mente.

Saiu uma cena de um pistoleiro saltando de lado, o capotão esvoaçante como a capa de um super herói. O chapéu furado voando da cabeça. Era a primeira vez que eu conseguia dar movimento no desenho. Percebendo que “o time estava ganhando”, me empenhei mais e comecei a fazer sombreamentos de hachura, rabiscando o desenho todo.

-Noooossa! Olha! Que legal!  – A galera exclamava ao ver cada parte brotando.

Quando eu terminei, estava diante de uma obra prima para os meus oito para nove anos.

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 [box type=”warning”] É óbvio que o desenho não era este. Isso é só uma simulação do que o meu desenho parecia.[/box]

Com aquele desenho virei uma celebridade meteórica como só um Ex BBB consegue ser. Infelizmente minha moral de celebridade meteórica sumiu tão rápido quanto a fama dos ex BBBs, hahaha.

Mas naquele momento de glória, eu estava prestes a incorporar mais uma lição em relações sociais… Com a arte pronta, meus amigos todos bolados, eu arranquei a folha do caderno. Embolei numa bolinha e joguei no chão, bem aos pés do filho do chefe do meu pai. Todo mundo boquiaberto com aquilo. Então exclamei:

-Ficou ruim. Foi o pior desenho que eu já fiz!

Pensa numa moral multiplicada por um milhão em menos de um segundo.

Claro que o moleque se engalfinhou no bolinho de garotos da segunda série que tentava pegar o desenho. O papel acabou rasgando, mas o cara certo ficou com a minha arte.

Dias depois, meu pai me disse que o chefe dele tinha visto meu desenho e ficou impressionado quando o filho dele disse que “aquele era o meu pior desenho”. Eu me senti muito fodão, porque havia atingido meu objetivo. “Impressionar pirralho era mole, mas impressionar o chefe do seu pai é só para os grandes mestres, hahaha”.

Bom, passado um tempo, aquela moral desapareceu rapidamente, porque eu precisaria provar aos meus fãs que não era um golpe de sorte, e que se aquele era o meu pior desenho… Todos queriam ver o melhor. E aí foi que eu me ferrei. Eu simplesmente não conseguia lidar com a pressão de todos os meus amigos pedindo um desenho meu no caderno deles. Teve um que queria me pagar (pagar!!!) para desenhar um cowboy no caderno dele. Mas eu sabia que não conseguiria. Eu sabia que eu era uma fraude… Comecei desesperado a copiar figuras de revistas, tentando algum jeito de decorar os movimentos e ver se eu conseguia reproduzir de cabeça, mas jamais consegui repetir o Lee Van Cleef. E eu nunca mais vi aquele desenho.

A dor de ter feito uma bolinha de papel com meu melhor desenho nunca mais me abandonou. Eu sentia como se ao dizer que meu melhor desenho era o meu pior, eu houvesse traído o cowboy e o meu talento, e talvez por isso, ele nunca mais voltou…

Mas, tirando esse pequeno detalhe autobiográfico, eu sempre curti os Westerns.

Durante décadas eu pensava que todos os filmes de Bang-Bang (como a gente chamava) eram feitos nos estados Unidos, já que naquele tempo, era impensável um filme de cowboy no Arizona sem ser filmado lá.

Curiosamente, depois que eu cresci e descobri a verdade, percebi que muita gente ATÉ HOJE nem imagina que um volume imenso de filmes de faroeste eram filmados na Europa, mais precisamente na Espanha.

O nome do gênero Western spaghetti foi  o título popular dado aos westerns realizados por diretores italianos.

Embora fossem produzidos na Itália, a grande parte dos filmes era rodada na Espanha, na região da Almería, que se parecia com o Velho Oeste Americano. Nessas produções, marcadas por baixo custo, você podia esperar de tudo. Havia atores das mais diversas nacionalidades: americanos, italianos, espanhóis, alemães, etc.

Estima-se que foram feitos mais de 600 filmes entre 1963 e 1977. Esses filmes eram uma maneira do cinema europeu faturar em cima do sucesso dos westerns americanos, que já estavam em baixa em Hollywood na época. Temos que lembrar que neste tempo, não rolava muita diversão, e o que havia de montão era sala de cinema em busca de uma película nova. Os westerns eram relativamente fáceis de fazer e vendiam bem. Assim, lá pelo fim da década de 1960 os filmes de western começaram a “cansar” o público. Logo iriam decair de popularidade.

Aqui no Brasil, convencionou-se chamar este estilo de filmes por “Bang-Bang à Italiana” , que era justamente o nome de uma famosa sessão de filmes da TV Record e também da TV Bandeirantes, exibida até meados dos anos 1980.  Era justamente esse  programa que eu assistia ávidamente, tentando imitar os trejeitos e sacar minhas pistolas de espoleta com classe, em duelos no jardim da minha avó.

Mas como será que estão essas cidades onde grandes diretores filmaram nos dias de hoje? Será que elas ainda existem?

Para nossa alegria, o lugar está lá, intacto! …  Seu apelido é Mini-Hollywood. O cenário dos grandes faroestes é uma área localizada no deserto de Tabernas , Almeria, o único deserto da Europa.

Almeria é um lugar único, bonito e cheio de paisagens enigmáticas fornecendo os cenários perfeitos para filmes históricos lendários como “Um Punhado de Dólares ‘,’ Por alguns dólares mais ‘,’ O Bom, o Mau e o Feio”, “Indiana Jones e a Última Cruzada” … Entre tantos outros.

Dá uma olhada nas fotos do lugar!

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Almeria fica na Andaluzia, no Sul da Espanha. O lugar não tem só cavalos, casas de madeira e cowboys se socando e trocando tiros. Lá também rola uns bons resorts e parques aquáticos.

Centenas de celebridades e atores deixaram suas pegadas aqui, como Clint Eastwood, Brigitte Bardot, Anthony Quinn, Claudia Cardinale (e como era gostosa essa mulher!), Alain Delon, Sean Connery, Raquel Welch, Orson Wells… Era o paraíso para o cinema de Hollywood por duas décadas, dos anos 60 e 70 e o local perfeito para os filmes do mestre Sergio Leone.

Atualmente, existem três “fazendas” que são operadas de forma independente, e que estão abertos para os visitantes: Oasys Theme Park, Fort Bravo e Ocidental Leoa. Todos eles oferecem uma variedade de atrações cujo forte é o estilão americano Wild West, ainda hoje, algumas delas estão sendo usados como locações!

Ir lá é como entrar num túnel mágico e sair dentro de um filme. Dá pra fazer um excelente RPG live de Red Dead Redemption! Se você curte westerns também, tá aí uma boa dica de lugar para visitar.

fonte fonte fonte

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Ah o “Bang Bang à Italiana” da Record com aqueles tiros de muita fumaça. Parecia talco eheh… Toda molecada adorava. Quem não se lembra do Sabata e dos ótimos vilões que o Lee Van Cleef encarnava. Bom demais relembrar tudo isso.

  2. Minha cena favorita de western é o Clint Eastwood jogando os corpos dentro de uma carroça e contando no fim de “por uns dólares a mais”. Aí chega um dos bandidos e tenta pega-lo de surpresa e acaba caindo dentro da carroça já morto. O Clint conta o corpo dele e prossegue jogando os outros tranquilamente.
    Também adoro o final de “Três homens em conflito”, quando, depois de matar o lee van cleef (o mau, do filme) num cemitério gigante – o corpo cai direto numa cova aberta – o Clint coloca o “feio”, interpretado pelo Eli Walach, equilibrado numa tumba com uma corda do pescoço e bem de longe atira na corda, libertando o personagem que é o maior traíra.
    Bons tempos, quando a gente achava que os bandidos de western eram o máximo da maldade do mundo…

  3. Pra mim… “Era uma vez no oeste”. Conhece as curiosidades do filme ? O loiro da primeira sequência, era um dos vilões, se matou após as filmagens pulando da janela do hotel ainda caracterizado. Sergio Leone friamente não perdeu tempo, falou para o assistente pegar a roupa dele, não teriam como fazer outra a tempo se por algum motivo ainda precisassem nas filmagens. O Diretor usou a experiência que tinha em experimentação de sons na juventude com amigos e produziu aquelas brincadeiras sonoras da mosca, moinho e goteira. A história da colonização americana no oeste e radicalmente transformada com a chegada da ferrovia e ele resume visualmente isso na sequencia da chegada da Claudia Cardinale na estação. Quanto as locações… não foram preservadas na Espanha, mas um fã percorreu elas e montou no youtube elas em fusão com as cenas do filme.

  4. Hahaha! Viajou legal!
    Mas não se esqueça do “Jiulianno Gemma”. e o “dolar furado,”, entre outros.
    Django que arrastava um caixão com uma metralhadora giratória e quando lhes perguntava quem estava lá dentro ele dizia: !Django”!
    Muito dez cara, parabéns!

  5. Cáspita….tu reavivou minha memória!!!!
    Quando moleque eu tinha uma fita cassete deste disco….chegava estar desgastada de tanto ouvir!
    Obrigado por dispor o link. Foi uma surpresa muito agradável!

  6. Adoro esse tipo de filme, sempre fui um cara mais de ficção cientifica mas quando passava um filme de faroeste era dificil eu mudar de canal, a ação, a trilha sonora, os cenários e os personagens são algo que eu sempre gostei no gênero.

  7. Filipe.. Sugiro que dê uma olhada no seu site.. Se abro umas cinco guias, o navegador (Firefox 28) chega a travar completamente, me obrigando a matar o processo!
    Muita memória e CPU utilizadas. E só acontece com seu site!
    No mais, sou admirador do seu trabalho!

    Obrigado!

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