Motoboy – O filme

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Em parceiria com a Groia Filmes, estou trabalhando num novo filme. Chama-se MOTOBOY. Será uma adaptação para o cinema da história em quadrinhos MOTO do mestre Laerte. Desde que li essa história imaginei ela rolando numa tela. E com a amizade que desenvolvi com o Franco e a Flavia, isso acabou se tornando realidade.
Ao conhecer o ator que iria desempenhar o papel do cara que vira uma moto, (puts! Contei o final!!!)Image Hosted by ImageShack.us
Vi que era um sujeito muito maneiro. Uma vasta cultura geral, rato de sebo como eu e como o Franco já havia me falado antes, descobri o inacreditável profissionalismo e seriedade com que ele encarna o trabalho de ator. Sabe o que é uma concentração absurda? Pois é. O Samir é foda. Eu confesso que estava meio em dúvida se seria mesmo possível criar uma réplica 3d dele para a complexíssima sequência da transformação, que é basicamente – o miolo do filme.
O trabalho começou com um encontro em JF, terra mineira onde morei por dez anos e agora estava de volta para dar cursos na Groia. Conheci o Samir no restaurante, e no dia seguinte já estávamos nos preparando para uma complicada sessão de fotos. Partimos para o estúdio so Kempton, um dos melhores fotógrafos da cidade. Me impressionei como o Kempton é gente fina. Um cara bacana mesmo. Prestativo, atencioso e absolutamente conhecedor daquilo que fazia. Entendeu direitinho o que precisávamos. Uma imagem sem sombra. Pode parecer estranho mas fazer uma foto sem sombra é difícil pra dedéu.
A sessão de fotos começou e o Samir ficou peladão. É uma coisa estranha ter que ficar olhando um caboco pelado. Pior ainda é ter que fotografá-lo e levar pra casa pra copiar. Passamos um bom tempo fazendo fotos desse tipo:
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( Samir, se estiver lendo isso, espero que não se importe. Afinal nessa não parece aquele seu negócio descomunal!)
Depois de amargar piadinhas e zoações da maior galera inclusive da minha mulher, terminei de modelar o Samir. Deu um trabalhão do caramba. Mas agora está quase pronto. Tem algumas imagens dele aqui. Saca só:
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e usando as centenas de texturas gigantescas geradas pela câmera absurda do Kempton,comecei a fazer também os estágios da transformação. Aqui está um teste de um deles, quando as veias começam a surgir. Estéticamente a ideia é gerar uma hiper-vasodilatação que prenuncia a horrível metamorfose.
veja:
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Nesta etapa a orelha ainda era provisória, pq eu tava sem saco de modelar as milhares de voltinhas da orelha do Samir. Mas atualmente a orelha já tá direita. Fiz o interior da boca, palato, dentes, língua. Fiz o interior do corpo. Gordura, músculos, intestino grosso, delgado, baço, fígado, estômago, rins, supra-renais, bexiga, reto, pulmões, esôfago traquéia, coração, ossos… Trabalheira de maluco.
O cabelo tb deu um trabalhão. Ele é feito de mesh. Isso significa que ele é um objeto real 3d. Pode parecer estranho dizer isso, mas pra quem entende, sabe que cabelo e pêlos em geral não são feitos assim. Eles são fórmulas matemáticas que geram a visualização dos pêlos sobre a estrutura já renderizada. No caso do Samir 3d o cabelo dele é um modelo como o olho, a boca e tudo mais. É um monte ( muitos mesmo mais de seis mil)de fios com um monte de vértices. Quanto mais vértices mais pesado fica. Com seis mil fios, fica pesado para pênis!
Meu computador primeiro senta. Depois deita e balança o rabinho pedindo arrêgo toda vez que eu carrego o layer do cabelo do Samir, hehe. Mas, tudo para manter este visual anos 80 dele com as costeletas. Graças a Deus o cabelo aparece pouco no filme, pois logo que começa a metamorfose o cabelo afina e cai, deixando ele carequinha e pronto pra virar a moto. O que acelera o render.
“Render. Que diabo é isso que tanta gente fala e eu nunca entendi?” Basicamente, Lester, render é quando um programa de computador, neste meu caso o 3D Studo Max, pega o modelo que até agora trata-se de um monte de equações matemáticas organizadas com o intuito de representar um sujeito virtual e converte isso em uma imagem, como uma foto. Ele pode também fazer muitas fotos, o que chamamos de vídeo! Sim, é com o Render que é feito aqueles filmes como Procurando Nemo, Os incríveis e etc. cada quadro, é renderizado. Um de cada vez! Na verdade, vinte e quatro deles para cada SEGUNDO de filme. É por isso que demoooora muito fazer um filme em 3d, sacou?
Passada a aulinha pra minha vó entender meu trabalho, continuamos:
A ideia é usar uma técnica chamada HDRI.
Dá a maior moral mencionar essas siglas misteriosas e cheias de significados ocultos.
Tipo a frase:

O problema com o CS é que quando eu aplico um fresnell ao diffuse começa a dar pau no HDRI e se eu não ajusto direito o IOR do Raytrace eu acabo obtendo pequenos flickers no especular que deveriam ser resolvidos usando Final Gathering, só que não resolvem, a menos que eu Flipe as edges e reagrupe as normais definindo novos ids de vértices e de materiais para igualar aos ids de efeitos. Nesse caso, renderizando pelo video post e usando glow e efeitos de fx eu consigo obter um shader mais próximo do que eu quero.

Quando eu era guri e via os programadores conversando coisas ininteligíveis e me sentia um cachorro, imaginava que diabo de linguagem complicada era aquela… Hoje vejo que pessoas na van fazem a mesma cara pra mim quando converso com meus alunos.
Bom, HDRI é a sigla de High Dinamic Range Images. Tá, eu sei que até aí nada. O lance é o seguinte, vó; presta atenção:

Eu vou no set de filmagem do meu filme. Pego uma bola espelhada. Boto bem no meio da cena. Então eu tiro uma foto apontando a câmera bem no meio dessa bola. O que sai?
Sai o meu cenário distorcidaço refletido na bola, certo? Como ela é esférica ela reflete as coisas ao redor. Depois eu tiro uma outra foto igual só que num ângulo de 90 graus em relação a minha primeira. No computador, eu misturo as duas fotos e assim obtenho uma imagem que é uma projeção em 360 graus do ambiente do set de filmagem. Ele vai me dar o posicionamento de todos os ambientes, textuas, luzes e cores do cenário.
Com processos especiais que não cabem aqui, eu converto essa imagem num mapa de textura especial que carrega nele informações pra cada píxel que compõe a imagem. (píxel é o nome do quadradinho colorido que juntando milhões deles um do lado do outro, faz a imagem, tá vó?)
Então o mapa de textura HDRI pega um valor de luz pra cada pixel.
Quando eu volto para o samir 3d lá no computador, eu aplico uma iluminação virtual nele, eu mando a luz reagir no boneco considerando o meu mapa de HDRI. Assim, ele vai ser iluminado tridimensionalmente com os valores que eu captei no set de filmagem verdadeiro.
O resultado é que quando eu faço o render, parece que o boneco tava no ambiente mesmo, porque não apenas ele fica na cor certa que ficaria se estivesse lá, como tudo que refletir na cena 3d irá refletir de modo correto o que havia no set de filmagem. E isso aliado a um montão de outras coisas, dá uma sensação boa de realismo.
Então a minha “quest” agora é encontrar uma bola reflexiva. Bem reflexiva.
Saí em busca disso outro dia e andei o Saara inteiro, sem sucesso. Eu queria uma simples bola de natal prateada com boa reflexão, mas nessa época do ano e dureza. Só tinha bola de futebol. Uma droga.
Até achei a maior (DESCOMUNAL) bola de natal que eu já vi na vida. Se fosse um pouco maior dava pra fazer de batscafo. Mas ela era pouco reflexiva e só me fez perder tempo e irritar o molequinho da loja que revirou o estoque pra me arrumar a bolona.
Então tive uma ideia. Uma bola de ESPELHO!
Mas bolas de espelho não são algo que se encontra em qualquer camelô. Vou ter que fazer a minha. No próximo post aí em cima vou falar sobre espelhamento.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
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Comentários

  1. Muito louco isso cara! Fazer o próprio mapa fotografando,modelar e tudo mais! Cara como fizeste esse cabelo? Nunca vi algo assim. Geralmente se usa cabelo liso e tal mas crespo… Eu uso o max tb, mas ainda to aprendendo, faço maquetes eletrônicas e tal. Tb tenho meu blog meio 3d, meio besteirol, ond mostro alguns trabalhos e estudos com o max. Quando puder de um pulo la pra ver alguns! Falow!

  2. King Kling,
    Boa tarde de sábado. Seguinte: prá ficar legal (parece jingle político…) você vai ter que contemplar a questão da transferência e da contratranferência do seu objeto libidinal em contrapartida ao seu processo terapêutico. Afinal, porra, pra que você passou aqueles anos todos no curso de psicologia? Só pelos belos olhos da querida Renata?

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