Escultura cretina

Desgraça pouca é bobagem
Quando a gente menos imagina
Fica olhando a paisagem
e pisa numa escultura cretina
Aí se transforma no capitão latrina

As pessoas passam por você
E constrangidas fingem não ver
A menos que seja um peão
Esse vai dar gargalhada da sua situação

Pra piorar estava escuro
Se você deu sorte, era duro
Se deu azar é cremoso
Mas não fique ansioso,
Pior ainda é quando você sente
Que pisou no cocô de gente

No início você amaldiçoa
Mas logo se convence
Que sapato fechado foi uma boa escolha
Do contrário só lhe restaria
Com seu chinelo agarrado na agonia
Uma pirueta circense
Foi um maldito passo em falso
mas pelo menos você não tava descalço

O troço vai aderir de fato
O calçado vai dar perda total
Vai colar no seu sapato
naquela situação surreal
Camadas geológicas de puro excremento
Piorarão quando bater o vento
e você cheirará como um manguezal
com seu pé todo gosmento

Sem graça você faz papel de ridículo
Esfrega seu pé na calçada
Tentando se livrar do montículo
Mas é inútil sem uma enxada
Tamanha quantidade de merda aderida
Parece que vai consumir sua vida
O inesperado exercício
Chega a dar dor no ventrículo
É tanta bosta que fica difícil
Dá até pra colocar no currículo
Pois se merda fosse grana
Você já estava rico

Olhe para trás e veja o rastro
Marcado de marrom na passarela
Parece até cena de novela
A cada passo que você dá
A merda só faz aumentar
Consternado, você se convence
Que é o milagre da multiplicação
Parece que você se cagou
E derramou a merda pelo chão
A merda que não te pertence,
Mas já pode exigir usucapião.

Nada é tão ruim que não piore
O chão cagado parece um sabonete
Agarre na parede e se escore
Pois a bosta é igual sorvete
Num passo em falsete
Pode te levar ao estabaco
borrocando até o seu casaco

Sem saída você aceita resignado
você está todo cagado
que terrível a situação
Anda na rua apressado
com passos lambrecados
Tentando não chamar a atenção

Essa é a parte complexa
Pior que seu andar esquisito
É que não fica bonito
sua aparência desconexa
Eu sei que não é muito bom
ficar com um sapato preto e o outro marrom

Meu amigo você tá ferrado
Você analisa cada opção
Tirar o sapato e jogar no gramado?
Mas pra isso precisa meter a mão
Você se pergunta quem foi o desgraçado
Que pariu aquela maldição.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. HA HA HA! tá sobrando tempo, heim?
    EU JÁ, também. Poir: indo pra um casamento. de termo e sapato de couro (normalmente uso tênis) , novo! PUTZ!

  2. “A merda que não te pertence,
    Mas já pode exigir usucapião”
    Oh God kkkkkkkkkkkkkkkkk! Eu ri tanto que perdi o folego…

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