Ouvi essa história de um amigo meu de infância, que sempre foi um cara estranho. De modos contidos, óculos fundos de garrafa e um dente quebrado bem no meio do sorriso, Renato nunca foi um cara comum. Na escola algumas pessoas implicavam com ele e com seu jeito desengonçado de jogar futebol, mas ele nunca pareceu dar importância a esses detalhes da vida.
Aquela era uma noite amena de maio e as corujas que sobrevoavam o deserto em busca de seus pequenos roedores não imaginavam que bem perto dali, ocultos pela enorme montanha, homens corriam de um lado para o outro.
Lá dentro do complexo de pesquisas, as pessoas estavam nervosas...
Meu amigo Cosme é um engenheiro de som de Londrina. Cosme trabalhava num estudio de gravação em Nova York, mas diz que se cansou "da neve e do frio miseráveis" do Meatpack...
Fazia um frio cortante. O vento que soprava, inclemente, incessante, estava a ponto de lhe congelar as orelhas.
Sentado com as pernas cuzadas em posição de lótus, Dick olhava para um buraco na terra. Era somente um buraco, cheio de terra preta e nada mais. Uma ou outra pedrinha mais clara despontava entre os pequenos torrões da terra escurecida e estéril. Não havia formiga ou inseto.
Era o alto de uma montanha. E nuvens distantes prenunciavam uma tempestade para dali a algumas horas. Não muito distante, as gigantescas torres de dolomita cortavam os céus, a mais de três mil metros de altitude...
Valdmir Obrushev correu de volta para os fundos. Ele temia que o Ganzu percebesse sua presença. Acuado perto do quartinho, seria uma presa fácil para o monstro. Vladmir precisava sair de lá. Escondeu-se atrás da parede e ficou esperando o Ganzu conseguir chegar ao meio da escada.
-Ung... Ai minhas... Costas. - Marcelo gemeu.
O Nerd, que lia um livro ao lado dele, sentado numa cadeira pareceu levar um choque. Ele deu um pulo e saiu correndo do quarto, aos gritos:
-Ele acordou! Ele acordou! - Gritou Vladmir.
-Quer mais uma fatia, seu Inácio? - Perguntou Aninha.
-Não, minha filha. Obrigado. Estou satisfeito. - Respondeu o caçador, recusando a fatia do bolo.
-Guarda meu pedaço aí! - Disse Greg, enquanto escovava o chão cheio de espuma.
Ali diante da porta aberta, estavam dois homens. Ambos montados em cavalos, sob a chuva que estava apertando novamente. Os homens estavam encharcados, e do chapéu do que era mais velho, descia um filete contínuo de água, como a aba de um chafariz.
O mais novo estava enfiado num saco de lixo preto, onde furara buracos para os braços e a cabeça. Já o mais velho vestia uma capa de chuva amarela e sobre ela um chapéu de aba longa. As figuras eram estranhas, tinham mochilas nas costas, cobertas com plástico.
Greg, Nareba e Marcelo resolveram descer para verificar o que era o barulho. No caminho passaram no quarto da Aninha e chamaram Vladmir.
-Que foi, véio? - Perguntou o gordinho, com a cara inchada e os cabelos para o alto.
-O Greg ouviu uns barulhos estranhos la no quartinho. - Sussurrou Nareba.
-No quartinho?
-Isso.
-Cês vão lá ver?
-Yep!
-Peraí que eu vou também! - Disse o russo.