Malphas sofreu um brusco espasmo, e sorrindo, com os olhos fechados, parecia em absoluto êxtase. Tremendo de forma estranha ele colocou a moeda com cuidado na sua caixa original. Segundos depois, outro espasmo, fez sua cadeira se afastar da mesa. Don Goodman pulou para trás num susto.
Seu sorriso gradualmente começou a se converter em uma careta grotesca.
Dave olhou para Dean Goodman com os olhos arregalados de pavor.
Os dois se entreolharam por um breve segundo que antecedeu a macabra cena que estava apenas começando diante deles.
O olhar de Dean Goodman estava injetado de medo e perplexidade, enquanto os olhos de Dave carregavam a desesperança de quem já tinha testemunhado o horrendo e macabro espetáculo antes, num tipo de dejavu maldito.
Tal qual Larry, no passado, o milionário com aquele seu terno italiano bem cortado de alta alfaiataria e relógio caríssimo, começou a derreter numa poça fétida, preta e malcheirosa.
Dean gritou horrorizado quando a cabeça de Malphas caiu do pescoço e rolou pelo chão, se corroendo em uma gosma escura, que se uniu com o caldo viscoso que pingava da cadeira.
Agora, ali diante deles, o que antes era só um monte de carnes, ossos e músculos se convertia numa poça que lembrava petróleo, mas fedia um odor odioso de morte.
Dave notou Goodman olhando para ele estarrecido, enquanto apertava o próprio corpo contra a parede oposta à poça de gosma, que já estava sendo absorvida pelo carpete. O jornalista sensacionalista murmurava sem parar a mesma coisa.
— Puta que pariu! Puta que pariu… Puta que pa…
A porta da sala se abriu de supetão e um daqueles “clones” do milionário entrou, personificando-o como se nada tivesse acontecido.
Ele sorriu ao olhar para os dois homens. Dave atrás da mesa, chocado e Dean se esgueirando junto à parede.
O homem sorriu e se aproximou da cadeira, como se nada tivesse ocorrido:
— Desculpem pelo mal jeito. É ela mesma. É a moeda que eu quero. — Ele disse, e quando ele falou aquilo, Dave se impressionou, porque era exatamente a mesma voz, a mesma entoação, o mesmo porte físico e inclusive, as mesmas roupas do homem que havia acabado de derreter diante de seus olhos.
O novo Malphas Tenebris parou diante da poça escura e ficou olhando para aquilo, mexendo a cabeça num tipo ne movimento negativo, enquanto sorria.
Dave Atkins num movimento rápido, fechou a caixa com a moeda dentro e puxou-a para si, ocultando-a sob a mesa.
Malphas virou-se para ele lentamente.
— O que foi isso, rapaz?
— Eu… Eu… Desisti do negócio. Tenha, te… Tenha um bom dia!
— Você não pode desistir! Eu vou ficar com a moeda. — O bilionário respondeu calmamente.
— Dá.. Dá a moeda pra ele, Dave. Dá essa merda logo pra ele! — Gemeu Goodman lá do outro canto da sala, trêmulo. Dean Goodman parecia estar a ponto de ter um colapso nervoso.
Dave agora estava diante de uma situação estranha. A mais estranha e perturbadora de sua carreira na Twins Pawn.
— Eu não vou fazer negócio. Eu decido com quem eu negocio nesta loja e ela é minha. — Ele disse, decidido.
Malphas soltou uma profunda gargalhada.
— Acho que você não está entendendo. Não estou pedindo. Isso é uma ordem. Me dê a moeda.
— Ou? — Dave estava tenso. Todos os seus músculos estavam retesados. Ele acionou o botão do pânico sob a mesa.
— Ou eu vou ter que pegar ela de você e posso assegurar que a experiência não lhe será muito agradável. — Malphas sorriu maliciosamente enquanto respondia.
Nisso a porta da sala se abriu e Zed apareceu, segurando uma pistola 9mm.
— O que tá pegando aí? — Gritou o segurança.
— Ai caralho! — Gemeu Goodman ao ver o homem armado.
Zed viu a poça no chão e o milionário de pé diante dela. Olhou para Dave Atkins que disse:
— Zed, leve esse… Homem lá pra fora! Não vamos fazer negócio!
— Senhor, me acompanhe. — Disse o segurança apontando a arma.
Malphas olhou com desdém para o enorme homem de jaqueta de couro preta e arma na mão. E perguntou: –Rapaz, por que você está segurando essa aranha preta?
Zed então olhou para a pistola 9mm e num grito largou a mesma no chão.
Dave percebeu que Zed estava sendo hipnotizado de alguma forma.
— Caralho, bicho nojento! — Ele gritou e começou a pisar na arma, pensando estar esmagando uma aranha.
— É uma ilusão, Zed! É uma ilusão!
Malphas soltou uma gargalhada. Dave agora estava estupefato, vendo a arma gradualmente se metamorfosear numa enorme aranha esmagada no chão.
Dean GoodMan agora estava chorando no canto da sala, em posição fetal.
Malphas voltou-se para Dave Atkins: — Vou contar até cinco para você ser um bom rapaz, um bom empresário e empurrar essa caixa para o meu lado da mesa. Como um bom empresário, você vai aceitar o meu cheque e ficará satisfeito. Vou pagar um adicional de quinhentos mil pelo incômodo e pelo, err… claro, pela limpeza. Desculpe a sujeira.
Dave sabia que estava diante de alguma coisa que não era gente. Malphas não era humano. As coisas estavam saindo do controle. Zed Agarrou no braço de Malphas.
— Senhor, você ouviu o chefe. Não dificulte, por favor.
Malphas apenas olhou com absoluto desdém para Zed.
Ouviu-se um “cleck” na sala e a cabeça de Zed dobrou 90 graus para trás. A cena arrancou gritos de pavor de Dean Goodman e de Dave Atkins. O corpanzil de quase dois metros do segurança tombou para trás pesadamente, caindo sobre a poça escura na sala, que fez respingar o caldo nojento sobre Dean Goodman.
Malphas voltou a se virar para Dave.
— Bem… Onde estávamos mesmo? Ah, sim, você vai me entregar a caixa agora.
Dave concordou em silêncio. Trêmulo, tornou a colocar a caixa sobre a antiga mesa de mogno com tampo de pedra. Ele esticou os braços e lentamente empurrou a caixa na direção de Malphas.
Malphas por sua vez, meteu a mão dentro do terno e retirou um talão de cheques. Ali ele preencheu a soma de doze milhões e quinhentos mil dólares. Assinou. Em seguida, ele estendeu o papel no ar.
Dave, ainda trêmulo, estendeu a mão e pegou o cheque em silêncio.
Malphas pegou a caixa e se dirigiu para a porta. E então estancou.
Lentamente ele se virou. Dave Atkins estava segurando a pistola apontando para ele.
Malphas sorriu novamente. — Poucas vezes eu vi alguém da sua coragem e petulância.
— Pra que você quer isso? Que obsessão é essa por essa merda amaldiçoada? — Dave continuou apontando a arma.
Malphas se virou, segurando a antiga caixa fechada.
— A moeda não é apenas um artefato amaldiçoado, mas uma chave para algo maior. Mas isso não está ao seu alcance conhecer. Guarde a arma. Aceite o dinheiro. O negócio já foi feito…
Dave nada respondeu. Apertou o gatilho com força e atirou duas vezes no magnata. As balas o atingiram bem no peito. Ele bateu contra a parede com o impacto. E a caixa de madeira caiu no chão.
— Dave! O que? O que está fazendo? Tá maluco? — Goodman gemeu do cantinho da parede, com a cara toda lambrecada da gosma preta.
Dave tornou a atirar. Deu mais dois tiros. Malphas Tenebris caiu no chão, bem ao lado do corpo de Zed. Dos buracos minava um sangue completamente preto, que estava empapando o terno.
Então o bilionário tombou no chão. Estava morto.
Dave olhou para Goodman.
— Acabou.
— Tá louco? Acabou? Tá maluco? — Goodman chorava, trêmulo.
Novamente, a porta se abriu e outra copia de Malphas Tenebris entrou. Ele parou, olhou o corpo de Malphas no chão, cheio de tiros. Olhou a poça fétida diante da mesa, e o corpo de Zed caído com a cabeça dobrada para trás.
— Tsc-tsc… Como vocês tão idiotas — Ele disse — quantas vezes essa palhaçada vai se repetir aqui, rapaz?
Ele então se abaixou e pegou a caixa. Dave tentou atirar nele, mas a arma já estava sem balas.
Malphas abriu a caixa e constatou que ela estava vazia. Ele se virou para Dave e mostrou a caixa vazia com o forro de tecido vermelho em seu interior.
Agora ele pareceu deixar sua calma ameaçadora de lado.
Uma voz poderosa e carregada de tanto ódio que seria impossível descrever, emanou de sua garganta como um jorro de maldade condensada em três palavras:
— Cadê a moeda?
Dave nada disse. Estava pronto para uma morte terrível como a de Zed, mas não ia entregar a moeda, porque algo em seu âmago o impedia de negociar com uma criatura daquele tipo.
Malphas estendeu sua mão na direção de Dave, e a pesada mesa de mogno com tampo de pedra voou sobre ele, o pressionando contra a parede.
O som abafado da respiração de Dave e os gemidos de Dean Goodman foram os únicos sons audíveis na sala. O ar estava denso, quente e sufocante , carregado de eletricidade estática e um cheiro acre de carne putrefata. A luz da lâmpada fluorescente piscava de forma irregular, criando sombras retorcidas sobre as paredes sujas de sangue.
Dean Goodman estava encolhido no canto da sala, com as mãos pressionando as têmporas, balbuciando palavras desconexas enquanto encarava a poça negra e viscosa que era, segundos antes, uma das cópias de Malphas.
Dave Atkins arfava, o peito esmagado pela mesa maciça, seu rosto rubro de esforço e desespero. Ele sentia as costelas pressionando os pulmões, os músculos em espasmos de dor enquanto tentava se libertar do peso da mesa.
Suas unhas cravaram no chão de carpete embebido no sangue ainda quente de Zed, cuja cabeça pendia num ângulo impossível. Dave viu de onde estava o pescoço quebrado de forma grotesca, como uma marionete de cordas cortadas.
De pé, no centro da carnificina, Malphas Tenebris.
O ser que, até então, vestia uma forma humana, agora estava transformado. Seus olhos, antes sombrios e cheios de cinismo, agora eram poços flamejantes de puro ódio, queimando em um vermelho sulfuroso. Sua pele, antes lisa e impecável, começava a rachar, revelando fendas negras das quais escorria uma fumaça oleosa, como um carvão incandescente prestes a estourar.
Seus dedos haviam se alongado, transformando-se em garras escuras, e a voz que saiu de sua boca era um rugido sobrenatural, mais parecido com o som de um milhão de dentes rangendo em uníssono do que com algo humano.
— SEU INSETO DE MERDA! — urrou Malphas, cuspindo saliva negra pelo chão. — ONDE ESTÁ A MOEDA? O QUE VOCÊ FEZ, VERME?!
Ele ergueu uma das mãos, e um turbilhão de sombras começou a girar ao seu redor, sugando o ar da sala, transformando a poeira e o sangue em um furacão de trevas vivas.
Dave apenas gemeu, tentando respirar, o peito rangendo, sua visão começando a falhar. Ele sabia que ia morrer.
Foi então que a porta rangeu lentamente.
O cheiro de incenso queimado e papel velho inundou a sala.
E então ele entrou.
Doutor Lao.
O ancião chinês não parecia afetado pelo horror da sala, pelo cheiro pútrido de morte, pelo sangue espalhado como uma pintura macabra nas paredes. Ele entrou calmamente, como se estivesse prestes a servir chá para um amigo. Seu rosto não trazia medo, nem raiva. Apenas desapontamento.
— Miseráveis seres da escuridão… Sempre tão teatrais. — Lao suspirou, ajustando os óculos de aro redondo sobre o nariz envelhecido.
Malphas girou a cabeça num estalo doentio , como se os ossos estivessem quebrando dentro da carne.
— Lao… — Murmurou ele, e sua voz parecia ecoar de dentro de um poço profundo , reverberando com uma camada dupla, como se muitas vozes falassem ao mesmo tempo.
Doutor Lao se curvou levemente, com a paciência de quem já esperava aquele momento.
— Você veio longe demais por algo que não lhe pertence.
Malphas rugiu em fúria, e em um piscar de olhos, ele investiu.
A sombra se lançou na direção de Lao , abrindo-se como uma miríade de tentáculos negros. O ancião apenas girou levemente o pé esquerdo, desviando-se como um lenço sendo soprado pelo vento, seu manto branco não foi sequer tocado pelo turbilhão de trevas que avançava sobre ele.
E então, ele contra-atacou.
Lao ergueu um único dedo, e o tempo pareceu parar.
De sua mão emanou um clarão dourado, que estourou como o sol nascendo em um campo de batalha mergulhado em trevas.
O corpo de Malphas parou no ar, congelado, como se tivesse sido cravado no espaço por correntes invisíveis. Seus olhos se arregalaram em puro choque, e seus tentáculos se contorceram violentamente, tentando se libertar de algo que não era visível a olho nu.
Então Lao fechou a mão em um punho.
E Malphas gritou.
Não era um grito humano. Era o som de vidro se partindo, de aço sendo triturado, de uma tempestade se rasgando ao meio.
O corpo do mago negro começou a se despedaçar, como um castelo de areia sugado para dentro de um redemoinho.
Primeiro os dedos, que se dissolveram em faíscas negras e se desintegraram no ar.
Depois os braços, que foram sugados para dentro de si mesmos como papel queimando.
Seus olhos se tornaram fendas escura, sua boca se alargou em um grito sem fim, e então… Ele implodiu.
A sala foi varrida por uma poderosa onda de choque, jogando móveis pelos ares, apagando as luzes, fazendo o chão tremer como se um terremoto estivesse sacudindo a loja de penhores. A mesa caiu com Dave Atkins, que bateu no chão.
Quando tudo silenciou, só restava Lao em pé, intacto.
O corpo de Malphas já não existia mais. Restava apenas um resíduo de fumaça negra , rodopiando no ar como o último suspiro de algo que nunca deveria ter existido.
Doutor Lao deslizou os olhos pela cena, ajustou os óculos e caminhou até Dave, que ainda tentava se libertar da mesa.
Com um único gesto, Lao ergueu a mesa no ar e a lançou para o lado, como se não pesasse mais que uma pena.
Dave arfou, tossiu, sentiu gosto de sangue na boca. Tentava entender o que tinha acabado de ver quando Lao apenas olhou para ele e sorriu, calmo como sempre.
— Você está bem?
Dave não conseguiu responder. Apenas encarou o velho que, até aquele momento, pensava ser apenas um homem frágil, mas que agora, diante da destruição ao redor, parecia mais poderoso do que qualquer coisa que ele já tinha visto na vida. E ele não demonstrava sentir sequer um pingo de cansaço.
Doutor Lao havia vencido.
Mas Dave sabia… Aquilo não tinha acabado.
Lao se abaixou diante dele. Arrumou com seus dedos esqueléticos o cabelo de Dave.
— Os outros lá fora…
— Eles se foram. Fez bem em não entregar a moeda. A moeda é preciosa pra eles.
— A moeda, doutor… A moeda esta ali. — Dave estendeu a mão apontando para a mesa, que estava caída, tombada de lado sobre o corpo de Zed.
Lao se levantou foi até o chão e pegou a caixa de madeira. Em seguida ele caminhou até a mesa, Dave indicou a gaveta secreta sob o tampo. Lao abriu a gaveta e olhou firmemente para dentro. A moeda levitou no ar. deu dois giros sobre seu próprio eixo e pousou com suavidade dentro da caixa de bambu antigo.
Dave percebeu que a moeda havia ficado preta novamente.
— A moeda, está de novo pre-preta…
Lao sorriu e disse apenas: — Mistério. Agora, pagamento.
Dave agradeceu. Disse que não precisava.
Nisso, Dean Goodman se levantou, parecia terrivelmente perturbado com tudo que viu, e saiu pela porta afora, falando frases desconexas.
Lao ajudou Dave a se levantar. Ele estava muito machucado.
— Você precisa ir ao um hospital. Costela quebrada!
— Sim… Ung, o-obrigado.
— Homem enlouqueceu. Poucos suportam.
Dave percebeu que Lao se referia a Dean Goodman. Ele por sua vez, sentia que um grande peso fora tirado de suas costas.
— Agora, pagamento. — Disse Lao.
— Não, não quero dinheiro. A moeda é sua, doutor Lao. Só peço que me diga, por que a moeda amaldiçoada é tão importante afinal?
— Amigo doente. Essa moeda é importante para salvar amigo de Lao de coma obscuro.
— Coma obscuro?
— Sim. Amigo entre lá e cá. Amigo prejudicado. Vou salvar! Moeda muito importante…
–Doutor o que era esse homem? Isso não era gente.
Lao Sorriu.
— Não, não… Gente, nunca! Forma de gente. É um ser da escuridão. Não foi morto, apenas banido. Sua essência maligna não é destruída, apenas banida…. Agora, pagamento.
— Eu já disse que não quero dinheiro.
— Não dinheiro. Com um gesto de gratidão. — Lao sorriu e se levantou. Caminhou até o meio da sala.
Alie ele fechou os olhos e movei seus braços em movimentos circulares. Dave testemunhou em silêncio quando Lao traçou um tipo de portal que se abriu na parede, revelando um tipo de rachadura. Lao meteu o braço até o ombro por dentro da rachadura na parede e puxou com violência. Um saco vermelho gosmento enorme como um grande verme caiu para dentro da sala. Dave se arrepiou ao ver aquilo.
Lao então fez mais alguns movimentos e a rachadura na parede se fechou e sumiu. Ele então foi ate aquela coisa que se contorcia no chão. Meteu as mãos enrugadas e rasgou um tipo de membrana. De dentro daquela coisa, embebido em sangue e gosma, estava Larry.
Dave teve um choque ao ver o irmão dele, que parecia estar sufocando, meio desmaiado.
— Ajuda Lao! — Exclamou o velho chinês, apontando para o corpo nu de Larry no chão.
Dave saltou sobre o irmão e começou a fazer massagem cardíaca. Larry então vomitou sangue e começou a tossir.
Lentamente ele foi abrindo os olhos, e então balbuciou: — “Da-Dave?”
Dave olhou com os olhos marejados para Lao e quis agradecer, mas soluçava muito com a emoção de rever o irmão.
O velho chinês sorriu feliz:
— Vocês dois em mal estado. Precisam médico!
O velho então se levantou e foi até o canto da sala. Ali ele se abaixou e pegou um papel. Voltou até Dave e o entregou. Era o cheque com a soma vultuosa.
— Um presente. Reconstruir a loja. Vai pagar os prejuízos! Compre presente para mulher e crianças, viu?
Depois, curvou-se num comedido cumprimento e partiu em silêncio.
Lao saiu levando consigo a caixa com a moeda, e deixou Dave abraçado com Larry, que não estava entendendo nada.
Sumatra, Indonésia
Em meio à densa selva tropical de Sumatra, onde o ar era úmido e carregado com o perfume de flores exóticas, um tuc-tuc vermelho e amassado parou no fim de uma trilha de terra enlameada. O ronco do motor cessou, deixando apenas o som distante de cigarras e o canto de pássaros tropicais que ecoavam entre as árvores gigantescas, cujas copas se entrelaçavam em um emaranhado verde e infinito.
O velho de roupas encardidas e chapéu vermelho desceu do veículo e bateu na lateral, acordando o passageiro que dormia profundamente deitado na poltrona de veludo com buracos queimados de cigarro. Ele falou em minangkabau, o idioma amplamente falado na região oeste da ilha de Sumatra:
— Kito lah sampeh! (“Chegamos!”)
Doutor Lao desceu do veículo. Sobre seu manto branco já manchado de poeira, ele trazia uma antiquada mochila de couro. Desceu e olhou ao redor. A vegetação ondulava suavemente com a brisa quente que vinha do litoral distante, enquanto, ao longe, um templo esquecido pelo tempo espreitava entre as folhagens, envolto por raízes que pareciam querer engolir suas pedras ancestrais.
O motorista do tuc-tuc cuspiu para o lado, ajeitou o boné gasto e, sem dizer uma palavra, deu a partida, sumindo pela trilha de terra com um rugido de motor que logo se dissolveu na floresta.
Lao ficou de pé na estrada lamacenta. Ele se esticou, respirou fundo, sentindo a umidade na pele. Sua jornada estava chegando ao fim.
Ele começou a caminhar da estrada para a floresta, na direção do templo. O som abafado dos próprios passos misturava-se com os ruídos distantes da floresta.
O vento frio da noite já se insinuava através das passagens e ruínas de pedra, carregando o cheiro de velas queimadas e ervas secas. Lao desceu por uma escada estreita cortada na rocha no canto do salão principal do templo onde morcegos voavam para todos os lados. Lá em baixo, a luz trêmula das chamas de archotes projetava sombras esguias pelas paredes de pedra do templo esquecido, criando um jogo de espectros dançantes sobre os pergaminhos espalhados pelo cômodo. O ambiente era antigo, carregado de segredos esquecidos, como se cada rachadura na madeira contasse uma história de feitiços antigos e promessas nunca cumpridas.
Doutor Lao avançou pelo aposento em passos silenciosos mas decididos. Sua túnica branca esvoaçava levemente à medida que atravessava a penumbra. Seus olhos, profundos e cheios de conhecimentos herméticos fixaram-se na figura imóvel sobre uma simplória cama de madeira escura, coberta por lençóis gastos e bordados com símbolos arcanos há muito esquecidos pelo tempo.
— Leonard?
O corpo imóvel do mago parecia frágil, um contraste perturbador com o que ele já fora um dia. Sua pele, antes vibrante, agora era pálida como mármore, os lábios finos e esmaecidos, as pálpebras cerradas há muito tempo, como se estivessem pesadas demais para se abrir.
Lao se aproximou, ajoelhando-se ao lado da cama. Com cuidado, apoiou na cama a mochila de couro desgastada. De dentro ele removeu a caixa. Seus dedos trêmulos deslizaram a tampa para o lado, revelando o brilho opaco e inquietante daquele pequeno objeto negro descansando sobre um tecido vermelho escarlate.
O ancião a observou por um momento, seu semblante sereno, mas carregado de um peso invisível. Ele sabia o que estava prestes a fazer. Lao conhecia o risco. Mas não havia outra escolha.
Ele se inclinou mais próximo, trazendo os lábios enrugados para perto do ouvido de Leonard.
Sussurrou, sua voz suave como a brisa noturna:
— A moeda está comigo, Leonard.
A chama das velas tremulou no cômodo de pedra, como que respondendo.
O ar ao redor pareceu se contrair, carregado por algo invisível, algo antigo e faminto.
Então fechou os olhos.
— Nós vamos trazê-lo de volta, meu amigo!
FIM
Caramba, olha só quem voltou!!!
Aeeeee, Leonard!!
valeu a pena esperar… muito bom, Philipe! até a próxima
gostei das referências ao Dr Lao e Breaking bad
Leonard está de volta!
Ele estava na “CAIXA”?
ele esta num lugar parecido. Mas pior.
E quando que eu fico sabendo agora? Só em 2026?
Cara eu estava com plano de fazer ainda este ano o próximo livro, mas não sei se vai dar.
Matou Zed e ressucitou o irmão. Deveria ser o contrário … O irmão merecia morrer por sua arrogância e ignorância … Mas tá valendo … Serviu pra distrair um pouco a mente … rsrs