A esquisita história da viagem de Marcos

Uma das histórias mais intrigantes que ouvi esse ano foi contada pelo próprio protagonista desse bizarro caso no podcast dos meus amigos Cristiano Zoucas e Fernando Ribas, o Hangar 18, podcast maravilhoso que tenho não apenas o prazer de apoiar como também o orgulho de já ter sido entrevistado. O Hangar tem uma parte do “show” em que pessoas que escutam mandam relatos e histórias. Pela temática do podcast ser ufologia, quase tudo ali envolve naves, avistamentos, criaturas estranhas e aliens, mas vez ou outra, surge um relato que quebra com tudo e esse é um deles. Eu recomendo que você escute o relato, e vou deixar o link para o programa de retorno (eles estavam de férias) no final do post.

A bizarra viagem de Marcos

Era Novembro do ano de 1972. Na época com cerca de 18 anos, (hoje ele tem 66) Marcos estava trabalhando como tradutor, pois falava inglês muito bem. Ao ponto de se tornar o intérprete do famoso grupo de basquete Harlem Globetrotters quando eles estiveram em turnê mundial com passagem no Brasil.

Harlem Globetrotters

A turnê do grupo começou pelo Ginásio do Ibirapuera, e de São Paulo vieram para o Rio e de lá seguiriam para Buenos Aires. Marcos veio com o time para as apresentações no Maracanãzinho, mas por um problema que não se recorda, não conseguiu fazer a perna internacional para Buenos Aires com o grupo, retornando então para sua cidade, São Paulo.
Marcos os acompanhou até o Galeão, e os colocou no voo para Argentina, com embarque por volta das dez e meia da noite. De lá, ele pegou um táxi para o aeroporto Santos Dumont.

Marcos planejava pegar o último voo da ponte aérea Rio-São Paulo, chamado popularmente de “corujão”, pois ele decolava à 0:00 (próximo do horário onde na época começava os filmes da madrugada na televisão, “O Corujão” talvez por isso o nome.)

Marcos lembra que naquele tempo, havia um bilhete em varias vias de carbono, que era trocado no balcão de embarque por uma cartela plástica, com os dados do voo. Essa cartela era recolhida no embarque na aeronave, que ocorria diretamente na pista do aeroporto, pois naquele tempo, o Santos Dumont ainda não havia passado pela grande reforma após o incêndio de 1998, onde ganhou sala de embarque entre outras melhorias.

 

Esse bilhete de varias vias era então trocado pelo famoso “passate” que era recolhido no checkin do voo.

Passate e revista de bordo da época

Então ao entrar no voo seu passate era recolhido e você ia para o seu assento.

Naquela noite, Marcos chegou no aeroporto e estranhou pois o mesmo estar totalmente vazio. Ao chegar no portão de embarque do voo, notou que não só não havia ninguém para pegar o avião, (algo já estranho) como a porta de acesso à pista estava aberta e desguarnecida. Mas eram outro tempos e a segurança era bem ineficiente, bem como as neuroses de ataques e roubos e etc.

Marcos olhou pela porta aberta e viu o turboélice de dois motores já na pista, com a cabine acesa, a escada acoplada e a porta aberta.

Ele imaginou que fosse seu voo, mas ficou esperando e como não veio ninguém, Marcos consultou as horas. Eram 3 para meia noite. Com medo de perder o voo, ele foi com o passate no bolso e subiu no avião.
Nesse tipo de avião você subia direto pela cozinha, onde havia uma espécie de cortininha (essa cortina ainda existe em muitas aeronaves) separando os ambientes. A cortininha estava fechada e não havia ninguém no “salão” de passageiros. Ele foi até sua poltrona e sentou-se no lugar 4A e ficou esperando a decolagem.

Marcos conta que estava sentado na janela, do lado esquerdo do avião, com vista para o aeroporto, onde podia ler claramente o nome do aeroporto “aeroporto Santos Dumont”  e olhando para fora,  talvez na tentativa de ver se alguém estava vindo. Ele então foi subitamente distraído pelo barulho da cortina sendo fortemente puxada: fazendo o clássico som de “sheeeck”.

 

Marcos conta que não se assustou, pois era um barulho corriqueiro nas aeronaves, mas ele teve sua atenção atraída, pois naturalmente pensou se tratar de alguém do comissariado de bordo, o que aliás era de se esperar que de fato, fosse.

Então foi que Marcos viu, de sua poltrona 4A uma mulher que era muito alta, fora dos padrões “normais” dos anos 70. Ela devia medir entre 1,85 e 1,90 metros de altura. A mulher era diferente. Ela tinha olhos muito azuis, um rosto excessivamente angulado, com queixo angulado e aparência nórdica.   Marcos conta que no final dos anos 80 (atingindo seu auge nos anos 90) apareceu uma modelo-atriz-jornalista chamada Doris Giesse. Ele diz que a mulher que ele viu no avião era praticamente idêntica a famosa Doris (certamente não era a própria Doris, pois em 1972 Doris era uma criança de 12 anos) .
A mulher chamou a atenção por seu porte muito alto, e também porque usava um corte de cabelo absolutamente incomum nos anos 70. Um cabelo curto com laterais raspadas, espetadinho tipo escovinha no alto da cabeça e a cor era quase um branco platinado.
Marcos também observou que a mulher estava se movendo de um jeito bizarro. Ela se movia de forma meio dura, meio robótica entre os bancos da aeronave.

Doris Giesse

Essa estranha mulher, muito bonita, mas muito estranha, andou até a fileira 3 e parou diante de Marcos. Ela olhou fixamente para ele. Mas não falou nenhuma palavra.
Tudo era muito estranho e Marcos conta que tentou falar alguma coisa. A mulher respondeu a ele com um gemido, não emitiu palavra alguma, apenas uma espécie de muxoxo e dando-lhe as costas foi embora com seu andar robótico, e fechou a cortina do avião.

Marcos achou aquilo esquisito, mas o grande susto só ocorreu momentos depois, quando ele se virou para a janela e antes onde segundos atrás ele tinha lido Aeroporto Santos Dumont – Bem vindo ao Rio de Janeiro” estava um letreiro escrito “AEROPORTO DE CONGONHAS – São Paulo”.

Marcos não entendeu. A ficha não caiu. Não fazia o menor sentido aquilo. O susto foi muito grande e ele como viajava muito, conhecia bem aquele letreiro.

Ele sabia que estava MESMO em outro estado.

O rapaz pegou a mochila e desceu correndo do avião completamente vazio. Pegou um taxi, e ainda transtornado com sua bizarra experiência e no caminho para a casa dos pais, contou ao taxista sua insólita situação. O Taxista, é claro, não deu qualquer atenção, muito provavelmente porque parecia causo de cascateiro ou pior, de maluco. Deve ter pensado ser alguma maluquice da cabeça do rapaz.
Ao chegar na casa dos pais, Marcos os acordou para contar sua incrivelmente GUMP aventura. Os próprios pais não acreditaram nele. Mas enquanto contava, Marcos botou a mão no bolso e o que ele encontrou? O passate de plástico, que mostrava claramente a hora do voo: Meia noite. A família olhou no relógio e ainda eram meia noite e trinta e cinco.
Aquilo não batia, pois seria impossível que um turboélice saísse do Rio, descesse em Congonhas, São Paulo e ele ainda pegasse um taxi para chegar na casa dos pais, no bairro dos Jardins 12:35.

Pelo tempo decorrido no taxi, Marcos calcula que teria descido no aeroporto de Congonhas 12:05. Nesse caso, como o avião foi do Rio para São Paulo em cinco minutos?

Custou aos pais do jovem acreditarem na história e ele foi dormir, mas nunca esqueceu o que de fato ocorreu. Marcos diz que não usou drogas, não dormiu, não bebeu e até hoje não sabe explicar o mistério daquele voo que nunca aconteceu.
Como isso é possível? Marcos diz que essa é uma pergunta que lhe atormenta, pois também não sabe explicar como em um minuto estava na pista do Santos Dumont e no minuto seguinte à misteriosa mulher aparecer e olhar pra ele sem nada dizer, ele estava em São Paulo.
A história incrível de Marcos acaba aqui.

Possíveis explicações

Marcos é enfático que não esteve sob efeitos de drogas.

Um elemento fundamental no caso é o Passate. O cartão de embarque não foi recolhido e estava com ele, e confirmava o horário e data do voo. Isso mostra que Marcos esteve no aeroporto e tentou embarcar no avião. O passate é a ligação da narrativa anedótica que não pode ser comprovada com o mundo real das evidências materiais.

Fora o passate, três elementos chamam atenção na história:

1-O voo vazio.

2- O aeroporto Vazio.

3- A mulher.

É curioso que muitos casos ufológicos são marcados por fenômenos conhecidos como missing time. No missing time a vitima de uma possível abdução é “desligada”. Ela fica em um tipo de transe provavelmente eletro-induzido. O abduzido é liberado do transe hipnótico para descobrir que se passou um tempo em que ele não sabe o que ocorreu nesse tempo. Esse tempo “perdido” é confuso e sem lógica. Só se descobre o que ocorreu no missing time, quando o paciente é hipnotizado e memórias potencialmente “bloqueadas” são liberadas. Então todo o tempo – e até elementos estranhos, como chinelos e sapatos em pés trocados, relógio no braço errado e etc” passam a fazer sentido.

A questão que levanto é: Houve um missing time nesse caso?

Se por ventura Marcos não tivesse guardado o cartão plástico, uma hipótese bastante válida para seu caso, seria uma abdução alucinatória.
Existem casos de abdução na ufologia, como podemos ver nos trabalhos do Budd Hopkins e também no caso Olívio Correia – O homem que teve os olhos roubados  -pesquisado por Carlos Alberto Machado  (Estranha Colheita – Ed. Mundo Estronho), que seres podem induzir um estado específico de alteração da consciência que age como uma espécie de camuflagem psicológica. Olívio, por exemplo, se lembra de ser levado por homens para um carro tipo um fusca onde foi atacado e teve seus dois olhos extraídos cirurgicamente com técnicas desconhecidas da medicina – fato atestado por cirurgiões.

Como ninguém rouba o olho dos outros dentro de um desconfortável fusca, parece obvio que Olívio teve suas percepções – ou memória – manipulados ao ser levado para uma espaçonave onde foi mutilado.
Budd Hopkins em seu livro Intruders, também conta casos de uma abduzida que foi também levada em plena reunião familiar. Sob hipnose, ela se lembra de ter visto seus parentes sendo “desligados” de um em um até que o ambiente estivesse pronto para levá-la. Há também um caso em que a mulher acredita ter recebido visitas de pessoas num chalé nas montanhas, pessoas que não se lembra bem. Pareciam humanos nas memórias, mas na regressão hipnótica, isso revelou a possibilidade de que os “visitantes” estivessem manipulando suas percepções afim de abduzirem-na com menor stress, provavelmente não por cuidado com a cobaia, mas por questões de que talvez o stress poderia afetar negativamente as suas operações naquele corpo.
Se não houvesse o bilhete, poderíamos supor que todo o aeroporto estranhamente vazio, o avião e etc poderiam ser alucinações implantadas para encobrir uma abdução.
Mas como ele realmente tem o bilhete, é sinal de que tentou pegar o avião e o ponto insólito ocorreu dentro da aeronave.

Por que não havia pilotos? 
Por que o avião estava aceso, na pista com escada montada e porta aberta? 
Onde estavam as pessoas? 

Essa pode ser uma questão fundamental para o mistério do homem que viajou de avião sem sequer voar.
O avião de porta aberta, o ambiente sem ninguém parece deliberadamente montado como uma arapuca para atrair aquele jovem.
Seria possível que TODO MUNDO que estava ali tivessem sido abduzidos, incluindo tripulação, outros passageiros, equipe de solo, pessoas do aeroporto e etc?
A resposta é sim. Há casos de abduções coletivas com pessoas sendo “desligadas” e  levadas para o interior das naves. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu aqui mesmo perto da minha casa quando todo mundo que estava numa praia em plena luz do dia foram desligados e levados para uma nave. Eu contei aqui. 

Então vamos imaginar uma abdução coletiva. No meio da parada, enquanto os alienígenas estão com as pessoas do aeroporto na nave, eles veem um sujeito sozinho entrando no avião. Essa alienígena vai lá buscar o jovem, que é desligado e abduzido. Isso acontece quando ela esta olhando nos olhos dele, mas aqui ocorre o bloqueio. É como um corte seco, uma anestesia mental completa onde ele não tem nenhuma memória.
Esse desligamento dele poderia ter ocorrido em dois momentos. Na hora que sentou e ouviu o barulho da cortina. Ou na hora que a mulher estranha olhava em seus olhos. Não há sentido prático na mulher gigante ter ido lá dentro do avião só pra olhar pra ele. Então, minha aposta é que ela foi lá “desligar” ele e depois voltou para “religar”.
Na tentativa de evitar um efeito de missing time, os alienígenas que agora estão de posse da informação que diz para onde aquelas pessoas deveriam ir, (provavelmente após capturar as tripulações) Então eles voam com todo mundo mais o avião para o ponto final, bloqueiam todo mundo em Congonhas e colocam o avião na pista. Eles podem religar um a um daquele voo. Ou talvez fosse mesmo um voo vazio, somente com o Marcos. Talvez ela o tenha devolvido primeiro e ele saiu tão desesperado do avião, que sequer se deu conta de se perguntar: Onde está o piloto?
O missing time pode ter sido compensado pela alta velocidade – que em certos casos, desafia a Física e também a Lógica. O resultado dessa experiência seria exatamente a que Marcos descreve. Olhou nos olhos dela, ela gemeu alguma coisa incompreensível e ele ficou ali, sem entender, tipo o meme do John Travolta… E então viu que já estava em São Paulo.

Outras possibilidades seriam dimensões paralelas, portais dimensionais e etc. Mas aí é uma viagem numa marca de maionese que eu já não domino.

Link para  o Ep 88 do Hangar 18

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Minha esposa tem um pézinho no sobrenatural, só pra contextualizar, quando ela se aborrece (não é muito comum), ela queima lâmpadas ao utilizar o interruptor (já aconteceu algumas vezes, ao ponto que já até brinco:: estava brava?

    Mas a estória parecida se deu no elevador do nosso antigo prédio, morávamos no 16o, e uma amiga nossa, no 15o, certa vez, subindo juntas, as duas marcaram seus andares, a vizinha desceu corretamente no 15o, se despediu, minha esposa se preparou para subir mais um e sair no nosso andar, o 16o.

    No que pra ela foi a sensação de subir um andar, ela saiu, abriu a porta correspondente do nosso apartamento, e… Era outro apartamento, vazio.

    Ela saiu por onde entrou e viu que estava no 3o andar.

    Ficou pálida (já é muito branca) e subiu novamente, dessa vez entrando em casa com cara de assustada e me contando a história.

    O detalhe mais emblemático é que a chave do apartamento serviu nesse outro….

    Explicações? rs Nunca teremos, mas ela jura que não desceu do 15o ao 3o, assim como não marcou o respectivo andar, até porque se o tivesse feito, teria aberto antes do 15o da amiga.

    Philippe, fique à vontade para teorizar, gosto muito de ler sobre o mundo “gump”

  2. O avião não poderia ter sido simplesmente “voado” até o destino. Iriam existir inúmeros registros (torre de controle/centro de controle, ambos com radar de monitoramento), os logs de manutenção da aeronave, contadores de horas de voo dentro do avião, etc. Iria dar muito furo no registro de muita gente. Mais plausível é que houvesse outra aeronave no solo em congonhas, e o rapaz foi deixado lá. Acredito que era comum as aeronaves não ficarem trancadas no solo, inclusive poderia ter alguém realizando um serviço e achou estranho alguém sair de dentro do avião (pois não deveria haver ninguém). Uma linha de investigação seria verificar se o voo que ele deveria ter embarcado realmente ocorreu, e checar a lista de passageiros. Imagino que o voo ocorreu normalmente, e a cia aérea considerou que este rapaz perdeu seu voo.

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