A costela de dragão na Itália

Nós sabemos que a Igreja Católica passou séculos apresentando toda sorte de relíquias bizarras. Já falei de algumas aqui no Mundo Gump, mas essa aqui eu não sabia que existia:

Uma costela de dragão na igreja

Olha a costela do dragão aí, gente!

A história dessa costela que está na Catedral de San Lucio e parece coisa de filme.

Os dragões inspiraram tudo, desde contos de fadas a romances em todo o mundo durante séculos. Até mesmo homens religiosos corajosos os desafiaram a lutas injustas por santificação, honra e grandeza. Esta é uma narrativa bem conhecida do povo de Atessa, Itália, onde preservam um grande osso que se dizem ser uma “costela” de uma das criaturas míticas.

Dragões fazem parte do imaginário humano há milênios

A lenda local diz que Atessa já foi duas aldeias diferentes, Ate e Tixa. As duas pequenas aldeias eram separadas por um pântano ou rio que era quase impossível de cruzar devido ao dragão que vivia lá.

Depois de passar anos pagando tributos ao dragão na forma de comida e gado, as duas aldeias resolveram procurar a ajuda de um especialista: Leucio, bispo de Brindisi era um  caça-dragões, que  supostamente já havia matado um dragão em sua cidade natal.
Invocado para lidar com tal monstruosidade abjeta do pântano, nosso herói partiu pra dentro da aventura: Foi para o covil sozinho e subjugou a criatura vil com apenas seu olhar e força de vontade, acorrentou o monstro por sete dias para satisfazer a curiosidade das pessoas, afinal, era preciso provar que conseguia matar o dragão.

Após sete dias de exibição da criatura monstruosa, ele então o matou. O sangue mágico do dragão foi usado para curar doenças e transformar o pântano em terras férteis. Depois dessa luta épica, o osso foi mantido para preservar a história e há uma estátua do intrépido bispo matador de dragões:

O herói matador do dragão

 O grande osso é mantido atrás de um vidro em uma caixa de visualização que está atrás de barras de ferro. Os céticos acreditam que o osso longo e curvo seja parte de um esqueleto de mamute, mas isso nunca foi verificado, e segundo os padres, é mesmo a parte da costela de um dragão. 

Você acha que é só essa? Tem mais!

Por mais bizarro que possa parecer, existe mais de uma igreja católica com esse tipo bizarro de relíquia: Ossos de um dragão. 

Esses ficam em Veneza, numa igreja medieval. Você poderá ver como testemunhar com seus próprios olhos esses ossos de dragão, que ficam suspensos atrás do altar.

 Segundo a lenda, os ossos pertenceram a um dragão feroz que foi morto por um santo.

A Basílica de Santa Maria e San Donato data do século VII, quando as ilhas que formavam o arquipélago veneziano eram uma associação solta de comunidades que buscavam refúgio das invasões germânicas. A dedicação original da igreja era apenas para Santa Maria— e São Donato foi adicionado em 1125 depois que os restos mortais do santo e do dragão que ele matou foram roubados de Cefalônia pelo Doge veneziano Domenico Michiel.

O altar de mármore de São Donato

 

A igreja que guarda os ossos do dragão, em Veneza

 

Os ossos do dragão pendurados atrás do altar

A proveniência desses ossos bestiais antes do século 12 já está perdida na história.

O que se sabe começa na década de 1120, quando o Doge Michiel partiu em uma cruzada para a Terra Santa para ajudar o sitiado Rei de Jerusalém, Balduíno II. O objetivo principal de Veneza era esmagar o bloqueio egípcio do Mediterrâneo oriental, mas vendo que os bizantinos haviam acabado de irritar Veneza ao cancelar um valioso acordo comercial, o Doge Michiel demorou a saquear a Grécia bizantina em seu caminho para encontrar Baluíno.

Entre a pilhagem resultante estavam os restos mortais de São Donato, junto com os ossos do dragão que ele matou.

Embora São Donato possa ter existido realmente, os detalhes da história de sua vida são completamente lendários.

Ele era supostamente um amigo de infância de Juliano, o Apóstata, o último imperador pagão. Conforme a história conta, Juliano foi eventualmente o responsável pela execução de São Donato. Mas antes de sua morte, Donato disse ter realizado muitos milagres. De acordo com a tradição, ele ressuscitou uma mulher dos mortos, exorcizou um demônio de um menino, restaurou a visão de uma mulher cega e, finalmente, (talvez pra dar aquela diferenciada de Jesus) matou um dragão, depois que ele supostamente envenenou um poço no Épiro.

Os “ossos de dragão” – que provavelmente são os ossos de um grande mamífero, talvez uma baleia – agora estão pendurados atrás do altar, acessíveis, mas principalmente fora da vista de qualquer pessoa que não esteja procurando por eles. Nenhum dos marcadores informativos na igreja menciona os ossos como sendo de dragão, talvez por medo do ridículo disso hoje, mas temos que lembrar que os ossos remontam a um tempo em que as pessoas acreditavam em simplesmente qualquer coisa, e ignoravam fosseis e muitos seres como certas espécies de baleias.

Em vez disso, eles apontam para outros tesouros notáveis ​​da igreja, como seu exterior bizantino de tijolos de dois andares, o mosaico de ouro da Virgem Maria do século 11 e e os vibrantes mosaicos de piso de animais (especialmente um mostrando duas galinhas carregando uma raposa amarrada ) datando do século seguinte.

Galinhas com raposa

A igreja está aberta para visitação das 9h às 18h, de segunda a sábado, e das 12h30 às 18h, aos domingos e feriados.

 

É gump ou não é?

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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