A caixa – Parte 12

Tudo ficou branco, e eu não senti mais nada.

A lembrança do “branco” é estranha, porque parece que eu agarrei nele, e lá fiquei por um tempo. Não havia som, nem frio, nem medo. Apenas o branco puro. Eu também não conseguia pensar direito, tudo parecia lento, como se estivesse debaixo d´água. Era como mergulhar numa piscina de leite. Após um longo tempo em que só havia o branco, e eu mal tinha consciência de mim mesmo, percebi que eu estava deitado. Ainda havia o branco, mas lentamente ele foi se tornando menos denso. Era como se eu descesse num avião que perfura nuvens.
Eu percebi algumas coisas, mas a primeira delas e que mais me intrigou é que agora eu tinha o dente de volta na boca.
Abri os olhos e estava vendo tudo embaçado. Eu estava deitado, e quando minha visão se clareou suficiente, eu vi uma pessoa parada perto de mim. Era uma pessoa desconhecida. Era um homem meio gordo, de uns cinquenta anos. Cabelos grisalhos, camisa de botão aberta. Relógio dourado no pulso entre algumas pulseiras de elos grossos. Ele estava encostado numa cadeira, dormindo, com a cabeça emborcada para a frente. Roncava baixinho.
Eu chamei, mas o sujeito não acordou.
Olhei ao meu redor e vi um quarto. Estava na penumbra. Mas vi a televisão pendurada num suporte perto do teto e um frigobar do outro lado do quarto. Havia também um sofazinho e perto dele a cadeira com o sujeito. Pensei se não era um hotel, mas a cama denunciou. Eu estava num hospital.
-Puta merda! Eu voltei! – Pensei extasiado.
Minha vontade era de gritar, de levantar e dançar. Eu era o homem mais feliz do mundo. Mas estava absurdamente esgotado. Parecia estar com ressaca.
-Ei! Ei! – Chamei. O cara estava desmaiadão e não se mexia.
Então eu olhei do lado e vi uma campainha de interruptor-pêra pendendo de um dispositivo na parede, junto à cama. Agarrei o troço e apertei.
Uma luzinha vermelha de led se acendeu na parede.
Dali um tempo, a porta do quarto se abriu e entrou uma enfermeira. Ela pareceu assustada ao me ver. Ela veio correndo na minha direção.
-Você pode me ouvir? – Ela perguntou.
-Claro.
-Quantos dedos tem aqui? – Ela estendeu a mão na minha frente. Mostrava apenas três dedos esticados.
-Cinco. Mas dois estão dobrados – Eu disse.

Com a falação no quarto, o sujeito estranho acordou. Ele arregalou os olhos quando me viu deitado na cama.
-Anderson! – Ele gritou.
O sujeito se jogou em cima de mim chorando como um bebê, e eu mal tive como contê-lo.
-Ei, ei, calma… Ai! – Eu gemi de dor. Minhas costas estavam doendo.
O homem pareceu se tocar que estava me sufocando. Levantou-se arrumou os cabelos desgrenhados, ajeitou a camisa, se deu ares. Eu olhava para ele, tentando identificar quem era aquela figura. Ele pareceu extremamente desapontado com meu olhar inquisitório.
-Não tá me reconhecendo?
Eu não disse nada. Aquilo parecia até uma cena de filme que a gente pega pelo meio e não sabe quem é quem.
Entrou um médico que explicou que eu levaria algum tempo até recobrar minhas funções cerebrais, mas que eu parecia bem.

– Ele não apresenta sequelas… – Ele disse. O homem gordo sentou-se no sofá. Parecia animado.

Os médicos devem ter me dado algum sedativo, porque não me lembro de qualquer coisa além de pensar quem poderia ser aquele cara. Apaguei.

Quando acordei, o quarto estava vazio. Vi um ferro com duas bolsas de soro ao lado da cama. Fiquei olhando o soro pingar… Lentamente.
O quarto estava vazio. Eu olhei ao redor, e já era de manhã. Presumi que eu havia voltado ao mundo na madrugada. Por isso me colocaram para dormir. Após algum tempo, a porta se entreabriu e uma pessoa botou a cabeça para dentro. Eu não sabia quem era, obviamente. Ela voltou lá fora e ouvi ela chamando o pessoal: “Ele acordou gente!”.
Minutos depois o quarto estava lotado com umas seis pessoas (seis pessoas lotam um quarto de hospital ao ponto de parecer um show do Rock in Rio) todas elas falando ao mesmo tempo. Eu não sabia quem era nenhuma delas, lógico.
Eu estava quieto. Não falei nada. Tudo ainda era muito confuso para mim.

Entre as pessoas eu finalmente reconheci um: O Cabelinho.

-Cabelinho! – Eu disse.
-E aí meu brother! – Ele veio e me cumprimentou.
-Quem são eles? – Perguntei baixinho.
-Ah, esses são os caras do seu trabalho. – Cabelinho falou. Eu estranhamente não estava reconhecendo nenhum deles.

Os médicos apareceram, eram três. Dois ocidentais mais novos e um oriental mais velho, que devia ser o chefe, pois andava na frente. Eles traziam uns exames dentro de envelopes grandes. Disseram que haviam feito os exames e que meu cérebro estava perfeito. Imaginei que tinham me examinado depois que me apagaram na madrugada. Eu passaria mais dois dias em observação, e então estaria “de alta”.

-Moço, a quanto tempo estou apagado? – Perguntei ao homem que dormira no meu quarto.
-“Moço”? – Ele estranhou.
– É normal alguma confusão na memória ou na fala após o trauma. -Interrompeu o médico japonês.
-Ah, sim. Claro. – O homem concordou. Ele se virou pra mim, encostou ao lado da cama e disse: -Duas semanas e dois dias.
-Como… Como que foi que eu vim parar aqui? – Perguntei.
Todos se entreolharam, meio que tentando definir se iam me falar ou não, mas o homem tomou a decisão de abir o jogo. Ele disse que eu estava atravessando a rua. Houve uma acidente de carro. Um caminhão que vinha em alta velocidade perdeu a direção e me atropelou. Pelo acidente, eu devia ter morrido na hora, mas isso não aconteceu. Estranhamente, só eu havia sobrevivido ao impacto. A equipe de emergência havia me removido em um helicóptero para o hospital, e fui parar no CTI, em coma profundo.

Foi assim, gradualmente, que fui juntando as peças daquele quebra-cabeça.

Isso explicava porque eu não lembrava de absolutamente nada após sair da pizzaria do Mario naquela noite fatídica.
Após ser novamente apresentado à minha equipe de trabalho no jornal pelo Cabelinho, as pessoas foram embora e eu fiquei sozinho.

Foram importantes aquelas horas sozinho, para recolocar a mente no lugar. Achei graça de perceber que todo aquele sofrimento, teria sido uma viagem da minha mente. As caixas não existiam, nem Mara, nem Mungo… Ainda bem. Eu havia voltado ao meu mundinho simples de ganhar mal, pagar aluguel, jogar videogame, ir ao cinema e mandar grana para minha mãe em Portugal.

Os dias se passaram arrastados no hospital.

-Dê graças a Deus pelo plano de saúde da empresa, brou! – Disse Cabelinho enquanto me ajudava a colocar o casaco. Eu estava com uma fratura no braço.
-Teria saído uma nota.
-Nota? Meu, no hospital público nego teria é “liquidado a fatura” no seu segundo dia de coma. Tá pensando que aqui é o quê? A Suíça?

Concordei. Saímos do hospital, demos baixa assinando a papelada do plano, recebi os exames num saco plastico e fomos para a rua. Eu andava me sentindo absolutamente sensacional, mesmo com o braço quebrado e engessado. Eu olhava tudo. Olhava para todos os lados o tempo todo. Eu comecei a ver a beleza nas coisas mais feias, mais inúteis. Eu estava vivo. E só aquilo que me importava.

Fomos comemorar na pizzaria do Mario. Meu maior desejo era ter a revancha da pizza de calabresa com borda de cheddar. Depois da pizza, fomos ao Herculano para Jogar sinuca, eu Cabelinho e a rapaziada. Havia pelo menos uns cinco caras que eu sabia que conhecia, mas o nome não vinha na minha cabeça nem a pau.

Enquanto afogávamos a alma entre cervejas e conhaques, Cabelinho contava piadas.
-…E foi só ele terminar com a maluca da Jane para, aí…. Pá! Quase morreu! – Ele imitava a pancada. Todos riam ao redor da mesa. Eu, ali, sentado, ri amarelo.
A noite foi divertida e voltamos para o “apertamento” quase trocando as pernas.

Lá pelas tantas, o Cabelinho me perguntou como era o coma.
-É tipo dormir, véio?
-Não… É um lance meio bizarro. – Eu me limitei a falar, mas ele estava curioso.
-Pô cara Conta aí… Viu espíritos? Viu o túnel de luz e uma voz te chamando?
-Não Cabelinho. – Eu disse, abrindo a porta da sala com certa dificuldade. – Você quer mesmo saber, cara?
-Quero meu! Sou amarradão para fazer tipo uma viagem astral desse naipe, saca? – Ele dizia, acendendo um cigarro de maconha. Jogou-se no sofá.
Eu me sentei junto dos almofadões da janela. Comecei a contar a ele minha situação na caixa.
Cabelinho ouvia tudo com um misto de interesse, estupefação, curiosidade e descrença. Eventualmente ele me perguntava o nome do monstro.
-Mungo. – Respondi.
-Hahahahaha… Tu que era o Mongo lá, meu!
Contei toda a situação, e quando cheguei na parte do Guru, magro, quase pelado e ainda por cima segurando um guarda-chuva, o Cabelinho não se aguentou e se mijou.

O cara fez xixi nas calças de tanto que ria. Estava bêbado e fumado. Foi cambaleando para o banheiro. Enquanto ele tomava um banho afim de se recuperar, eu podia ouvir suas gargalhadas ecoando do box, vindas da janelinha do banheiro que dava para a área.
Me senti realmente um completo idiota. Contando a história, dava pra ver que não fazia o menor sentido.

Quando Cabelinho saiu do banho, enrolado numa toalha encardida, prestes a acender seu último baseado, virou-se pra mim e disse:
-Cara tu ta ligado que isso tudo foi resultado da pancada na tua cabeça né cumpadi? Misturou suas ideias, parceiro.

-Lógico… Sim, sim. – Eu disse, bebendo água em copo de requeijão.

Fui dormir e cabelinho “capotou” ali mesmo, no colchonete da sala.

Na madrugada, cabelinho dormia, mas eu não. Eu não tirava Mara da cabeça.

Na noite seguinte isso se repetiu. Eu acordava com sonhos envolvendo o Mungo, as caixas… às vezes eu estava pensando nisso no meio do dia. No elevador. Começou a virar tipo um pensamento obsessivo.
Eventualmente eu me pegava tentando lembrar os perrengues passados na escuridão das caixas. Cada dia que passava, parecia que mais e mais eu ia esquecendo os detalhes das caixas. As lembranças se esvaíam. Mas era como se eu precisasse me lembrar daquilo todo o tempo.

Eventualmente eu conversava com o Cabelinho sobre aquelas lembranças e coisa e tal. Mas ele me convencia do óbvio. “Caixas de aço não encolhem”. Tornou-se sua máxima. Eu concordava com ele, mas não entendia porque a ideia fixa em Mara não saía dos meus pensamentos. Certa vez numa mesa de bar enquanto tomávamos uma cervejinha no happy hour, confessei.

-Eu penso nela até quando estou tomando banho, cara. – Eu disse a ele.
-Anderson, essa Mara é produto da sua mente perturbada, meu. Tipo… “Mara” . É óbvio que esse “Mara” é de MARA-vilhosa. É que você quer uma mulher assim, aí sua mente foi lá e pá! Tá ligado? Tipo… pegou e pá. Fez a maravilhosa lá. Que aliás, é bom que se registre nos autos do seu prontuário, você é tão merda que não comeu!
-Não fode, cara. Tu não perde essa mania de estar me tirando?
-Não tô tirando não, véi! Tirando eu estaria se mencionasse que podendo imaginar estar num harém cheio de mulher boazuda você me sonha com um indiano de cueca e guarda-chuva no escuro. Aí é foda!

Demos boas gargalhadas daquilo tudo.

À medida em que os meses se passavam, eu gradualmente fui me desligando daquilo tudo, abandonando aqueles pensamentos recorrentes e retomei minha vida que era de casa para o jornal, do jornal para a balada, e da balada para casa. Eu havia retomado meus planos de escrever romances, mas ainda me via sem boas ideias que fossem vendáveis. Parecia que sempre que eu pensava algo interessante, ou já tinham feito igual ou parecido, ou não era comercialmente viável.

Certo dia, caiu uma pauta no meu colo lá no jornal. Uma fundação que ministrava cursos de Yoga estava financiando uma grande cota de publicidade e me pediram para fazer uma matéria de ocasião sobre a Yoga para a terceira idade. Eu não entendia lhufas de Yoga, de modo que precisei ir a luta e pesquisar. Conversei com alguns professores de Yoga, para estruturar a pauta, elaborei alguma coisa de texto, mas ainda me faltava um subsídio técnico. Fui ao centro Rasmann Yôga e eles me forneceram alguns livros. Eu levei para casa, na esperança de entender um pouco mais.

Já devia ser quase dez horas da noite quando o Cabelinho chegou no nosso “apertamento”.
-Qual é?
-E daí? – Nossa comunicação era sempre altamente eloquente e minimalista.
-Tá lendo o que?
-Yôga.
-Ah… Putaquepariu. Yôga de cu é rola! Vai virar New Wave agora?
-New Age, seu mongol!
-Foda-se é tudo a mesma merda.
-Não, é pra uma matéria lá do jornal. Matéria paga, tá ligado?
-Ah, tô ligado. Porra, mas escolheram logo você? Que bosta, maluco.
-Fazer o que, né? – Respondi e me concentrei na leitura. Eu estava tentando achar uma boa citação para fechar a minha matéria com chave de ouro. Enquanto isso, Cabelinho folheava alguns dos livros sobre a mesa da sala.
-Porra véi, me diz que um desses aqui é o Kama Sutra!
-Não fode, Cabelinho. Quer Kama Sutra pra que? Você não pega mulher!
-Mas com o Kama Sutra, né? Aumenta minhas chances… Tá ligado? Sexo tântrico… Transcendental! Só no suíngue… – Ele disse rebolando sinuosamente como uma cobra.

Eu achei graça do Cabelinho. Ele era sempre assim, um doido. Concentrei-me no livro, mas novamente ele me interrompeu:

-Aí, maluco. Olha o naipe desses caras! Como que eles pegam mulher assim, meu?
Olhei apenas para constar. Cabelinho me estendia um livro aberto no meio. Estava repleto de fotos em preto e branco impressas em papel couché. O livro mostrava sadduhs indianos.

Assim que eu bati o olho, levei um choque. Ali estava ele. Era ele mesmo! O Guru. Na pagina central do livro. Sentado na pose de lótus, com um fraldão de tecido, sobre um tapete. A legenda dizia que alguns Sadduhs estão em transe há mais de dez anos, sem comer e nem beber.

-Caralho! Caralho! É ele!!! – Eu gritei, me levantando da cadeira e tomando o livro do Cabelinho.

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
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Comentários

  1. Tenho uma ideia do que pode acontecer, mas prefiro não me arriscar, porque do jeito que o Philipe é, acho que as sequências vão ser diferentes das que eu pensei. Philipe, parabéns, esse conto está cada vez mais ficando melhor, não ficava nessa expectativa desde Zumbi.

  2. Tenho uma ideia do que pode acontecer, mas prefiro não me arriscar, porque do jeito que o Philipe é, acho que as sequências vão ser diferentes das que eu pensei. Philipe, parabéns, esse conto está cada vez mais ficando melhor, não ficava nessa expectativa desde Zumbi.

  3. Eu também já tava triste aqui, achando que esse seria o último capítulo.
    Eu ri demais com esse Cabelinho! kkkk O cara é doido! “tu que era o mongo llá!” kkkk Muito show!
    Mudando um pouquinho de assunto, eu tava desanimado porque você não postava a parte 12 e como a maior galera ficava falando que o conto do Zumbi tinha sido legal, o melhor e tal, resolvi começar a ler. Comecei e não parei! kkkk Passei o domingo inteiro lendo aquilo! Cara, só vou te dizer uma coisa: SENSACIONAL!
    Só teve um problema, quando eu terminei de ler o cap 20 e tava lá assim “fim da primeira temporada”, eu quase tive uma síncope! kkkk Quando você vai escrever a segunda? Vi lá pelos comentários que já tem mais de 1 ano que vc ficou de escrever, mas ainda nada. Escreve aí, cara! To doido pra rever o David, Alice, Magrão e a menina do balanço.
    Valeu, Philipe.

    • Hahaha valeu cara. Então, eu não fiz a segunda temporada do zumbi, porque eu (e os leitores) estávamos tão animados com a história, que eu resolvi fazer um curta-metragem, esse curta seria parte do universo expandido do conto do zumbi, e parte dele se relacionaria diretamente com os elementos que surgiriam na segunda temporada (ou segundo livro). Consegui atores, locação, comprei todo o equipamento de filmagem, lentes, claquete, fundo gigante de chroma key, figurino, armas cênicas, eu gastei uma nota para preparar tudo e então meu filho nasceu e meu projeto embolou. Alguns atores tiveram problemas de saúde, e faltou grana para maquiagem, pois quero fazer uma parada de qualidade na questão da maquiagem dos zumbis, que é um assunto que eu entendo e inclusive estava desenvolvendo novas tecnologias de maquiagem e pretendia estrear nesse filme.
      Acabou que o atraso no filme, atrasou o conto e aqui estamos nós, com tudo embolado. Mas que deve sair, deve. Eu provavelmente terei que mudar o roteiro todo. Talvez eu deva dar uma puta simplificada, para evitar enolar ainda mais a minha vida, hahaha.

  4. Nossa que alivio sair da caixa, eu tava com claustrofobia já, é bom poder respirar ar puro outra vez e comer pizza com cerveja.
    Acho que agora a historia tomou rumos mais interessantes, legal!

  5. Hoje é um dia chuvoso e com trovoadas aqui no Sul. Dias assim me deixam mais calmo e reflexivo, a impressão é que hoje estou alinhado com o Universo. A tempo de hoje só foi o canal pra encontrar esse conto, agora vou ter de procurar o início dessa história. Muito bom!

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