A sensação que eu já não tinha fazia tempo, de uma presença me olhando voltou com força total. Eu sentia a coisa me olhando no escritório. Vultos da visão periférica começaram a ficar mais e mais comuns. Eu até já estava me acostumando, mas a coisa foi num crescendo.
As portas batiam sem vento, livros caíam da estante do nada, coisas trocavam de lugar. A noite eu ouvia copos se arrastando pela pia. Um dia, um copo explodiu sem razão.
Luzes passaram a acender ou apagar sozinhas, eram coisas que se quebravam e apareciam quebradas misteriosamente.
Parece até zoação, mas até meu computador começou a agir estranho daquele dia em diante. E o telefone tocava mas não era ninguém. Começou logo depois que ela foi la em casa e ficou chamando o velho. O telefone tocava, eu atendia e nada… Só um ruído estranho de fundo. No inicio achei que era trote, mas depois comecei a desconfiar que aquela porra tinha relação. às vezes tocava, eu ia atender e parava.
Foi quando começaram os vultos mais densos. Primeiro no corredor, onde ela beijou as paredes, e depois no banheiro, no quarto e na área de serviço. Era vulto toda hora. Eu comecei a ficar com cagaço de ficar sozinho naquele apartamento. E o pior é que eu ficava porque a Nivea começou a dar aulas na pós graduação e viajava nos finais de semana. Eu ficava muito tempo sozinho em casa e aí o fantasma fazia a festa. Havia um lugar atrás da parede da cozinha, que era tipo um porão. Uma portinha pequena, de um metro, onde ficava o botijão de gás. Era um espaço pequeno, apertado, comprido. E lá no fundo tinham umas caixas, com coisas do velho (umas revistas, umas caixas, ferramentas). Eu mudei às pressas e nunca tinha jogado nada daquilo fora, porque eu não curtia entrar naquela porra lá, talvez porque mais parecia um túmulo.
E inúmeras vezes ouvi barulhos vindo de lá, como se alguém estivesse ali dentro cochichando. Volta e meia aquela portinha dava uma sonora porrada. O espaço era fechado, sem janelas, não tinha como aquela porta bater, até porque ela era meio emperrada, porque a madeira estufou com as lavagens da cozinha. Aquilo era algo que me dava um medo da porra, porque eu sabia que não era natural.
Aí a casa começou a dar umas coisas estranhas, tipo ela esquentava, esfriava…