Um cara perguntou no Threads qual era o livro mais antigo que as pessoas têm em casa.
Eu acho (porque estou com preguiça de ir lá no quartinho da bagunça apurar o fato) que o livro mais antigo que eu tenho aqui em casa – pelo menos ao alcance da mão – é um livro que comprei num sebo, por puro, absoluto, acaso.
Eu estava num sebo, porque a gravidade especial desses estabelecimentos me afetam de maneira estranha, assim que passo pela rua diante de um sebo, sou logo tragado lá pra dentro, de onde sair é uma grande dificuldade.
E num desses dias, no centro do Rio, eu acabei dentro de um desses sebos apertadinhos que tem lá pros lados do Saara e comecei a futucar de um lado para o outro para ver o que tinha de legal. Eis que um livro que parecia horrivelmente velho e carcomido, com paginas amareladas já quase na cor de mostarda me chamou a atenção. Pensei: “Esse ficaria bom ali debaixo da minha caveira na estante”.
Sim, esse pensamento absolutamente medíocre foi o que me levou a pegar no livro velho. Eu não fazia nenhuma ideia sobre o que ele era ou o que tratava, o peguei porque estava coberto de poeira e teias de aranha, esquecido num cantinho, perto de uns dicionários velhos de espanhol e grego. Ele era apenas o protótipo do livro velho da biblioteca do Harry Potter, e eu planejava usá-lo como elemento de decoração. Mas ao abrir o livro, uma surpresa, ele era COMPLETAMENTE ilustrado.
Tratava-se de um volume de um dicionário (por isso estava junto com os dicionários). Era o “Dicionário gráfico de artes e ofícios”. Para minha surpresa o livro não era tão velho. Parecia ter uns 500 anos, mas ele era de 1945. Porém seu papel acidificou, e ele estava despencando, desmanchando na mão da gente, o que é uma pena.
O homem do sebo praticamente me deu o livro de presente, pedindo somente CINCO REAIS, já que 1- era um dicionário e ninguém compra isso. 2- Era velho e detonado e ninguém compra isso. 3- Ele só tinha um volume, e sem a coleção não tem muito sentido.
Eu fiz assim a caridade de abrir um espaço na minha carteira (agora sem a nota de cinco) e também abri espaço na estante do sebo.
A leitura desse livro é algo extraordionário de divertida. Primeiro porque sendo um dicionário, eu não preciso seguir uma ordem, qualquer página que eu abro é legal. É uma surpresa. É a roleta-russa da felicidade.
O livro é magnificamente ilustrado. E por isso vou pegar algumas paginas aleatórias aqui pra mostrar.
Infelizmente, o meu livro só vai da letra E até a letra O. É o livro três. Imagino que sejam quatro livros no total essa coleção. Mas eu nunca mais encontrei nenhum deles, provavelmente algum espanhol trouxe para o Brasil, já que o livro é da editora José Montesó, de Barcelona.
Quem sabe, com sorte, algum dia eu encontre os outros volumes.
Uqe legal. seria possível você postar em alta definição? gostaria muito de conseguir ler.