O homem que conversou com espíritos

 

Uma estranha voz no meu rádio

Quando eu estava para fazer aquele curta metragem de filme de zumbi, comprei um radio de ondas curtas. O filme acabou não saindo porque eu não consegui a grana necessária, mas pelo menos eu podia ouvir ondas curtas que é um passatempo (de maluco) muito divertido. Basicamente, eu esperava todo mundo ir dormir, e os equipamentos eletrônicos serem reduzidos e ligava meu radinho numa engenhoca de antena que eu mesmo inventei com umas sucatas aqui em casa.  Então eu ficava ali girando o dial e ouvindo rádios da Rússia, China, Japão, e escutava, claro, toda sorte de barulhos esquisitos e chiados.

Eu gostava especialmente de uma radio de Londres que eu pelo menos conseguia entender um pouco do que estavam falando.
Numa noite dessas, eu já estava quase dormindo escutando essa radio de Londres, quando acabei dando uma cochilada, com o radio entrando numa frequência de ruído branco, que é aquele chiado onde não há nada.  Não sei bem quanto tempo dormi ali, mas acho que foi rapidinho, porque então apareceu uma voz de duas mulheres falando absolutamente claro e sem nenhum chiado:

-Shhhh! Ele está acordando. Ele vai acordar.

E ficaram quietas e em seguida o radio voltou ao chiado. A parada foi tão clara e perfeita que eu levei um puta dum susto, pq nem parecia que a voz veio do radio, parecia que elas estavam do meu lado na cama, como se tivessem falado direto no meu ouvido.
Meu coração foi a mil e sabe quando o brioco da uma travada de cagaço, porque você sabe que você não sonhou aquilo?

Comecei a pensar que talvez eu tivesse captado uma frequência de algum radio amador das proximidades.  O que me intrigou também foi o teor do que a mulher falou. Na minha cabeça, “ele está acordando” só podia ser eu mesmo, de modo que isso ou é uma puta coincidência estratosférica, ou de fato alguma coisa fora da normalidade ocorreu no meu radio de ondas curtas naquela madrugada.
Outra coisa que eu notei e sempre acabo rememorando esse estranho episódio, é que mesmo que eu tivesse dado uma cochilada, havia um detalhe que foi físico e que mostrava que algo estranho havia ocorrido ali: O ruido branco sumiu antes e depois um tempo depois que elas ficaram em silêncio. Era realmente como uma uma freência específica tivesse sido captada, com som absolutamente cristalino, então, quando elas ficaram em silêncio, o vácuo não foi preenchido com o ruído de fundo, que seria esperado no caso de uma interferência ou sobreposição de faixas.  Ficou uns quatro segundos de absoluto silêncio e então o ruído de fundo foi “ligado” e nessa hora eu já estava mais acordado que qualquer um devido ao elemento “cagaço” então eu acho que não podia ter alucinado aquele silêncio.

Até hoje não sei explicar. Infelizmente eu não entendi o que elas estavam falando antes dessa frase, porque ali sim eu estava despertando do sono e era confuso, eu ouvi que elas falavam mas não sei o que era.  Ainda hoje consigo me lembrar claramente do tom de voz da mulher misteriosa. Depois disso passei um bom tempo com cagaço de ligar minha engenhoca. O medo nem era de ouvir a voz, mas sim de despertar qualquer coisa e minha casa voltar a ficar mal assombrada, porque cara, isso é uma MERDA.

Mas de volta a questão subjacente a todo esse lance da comunicação de vozes misteriosas em dispositivos, uma das coisas que considero mais intrigantes reside na possibilidade que a consciência, portanto, o “eu”, não esteja fisicamente localizado no cérebro, mas apenas use sua estrutura complexa baseada em conexões elétricas muito discretas para literalmente controlar o nosso corpo. Essa ideia, retira a pessoa de seu corpo. O “eu” seria então como um passageiro e o corpo, seria então como o carro.
A visão predominante até hoje conclui que o cérebro é como o motor do carro, e o corpo o restante do veículo. Nessa visão de mundo, quando o corpo para, ocorreria a real “morte” do “eu”. Assim, a morte constitui a finitude do indivíduo e a anulação completa do “eu”.

Já se considerarmos que o corpo humano é apenas um tipo de avatar físico com o qual uma entidade sutil, não localizada nessa dimensão, usa para habitar uma faixa densa do espaço-tempo, então a morte não é o fim, desde que essa entidade sutil consiga se libertar do veículo denso que anteriormente usava.  E nesse caso, após esse desacoplamento, seria possível contatar o elemento sutil que era o “Eu” anteriormente acoplado ao corpo denso?

Há muita discussão se “o passarinho pode ou não sair da gaiola”.  Mas muito antes que essa ideia se popularizasse, um homem dedicou sua vida – e até mais que isso – a investigar cientificamente e o que ele aparentemente descobriu, pode impressionar as pessoas.

 Konstantin Raudive

Dr. Konstantin Raudive nasceu em Asune, República da Lativia, uma unidade administrativa do Império Russo, em 1909.

Foi um intelectual, pensador, escritor e pesquisador do fenômeno conhecido como “vozes do além”. Quase todos seus estudos foram feitos no exterior. Aos 22 anos deixou seu país pra estudar filosofia e história da literatura, em Paris. A Espanha foi sua pátria predileta.

Raudive estudou a parapsicologia durante quase toda sua vida, tendo tido a oportunidade de se tornar aluno de Carl Jung. Ele era católico romano praticante e especialmente interessado na possibilidade da vida após a morte. De 1937 a 1944 sua atividade em seu país consistia em traduções e redações de livros, pois era um poliglota. Nesta oportunidade, conheceu sua esposa, Zenta Maurina, uma estudiosa, especialista em filologia.

Com os avanços militares na Alemanha, ele partiu com sua esposa para a Suécia onde passaram muitas dificuldades, pois sua esposa estava presa a uma cadeira de rodas devido a sequelas da  paralisia infantil.

 

Zenta Maurina

Apesar de sua deficiência física, Zenta Maurina sobressaiu-se intelectualmente. Ela estudou filosofia na Universidade de Latvia, em Riga (1921-1923), estudou filologia com destaque para as línguas bálticas (1923-1927), lecionou no Instituto de Latvia para Professores da Universidade de Latvia, em Riga e, em 1938, alcançou seu doutorado em Filologia pesquisando os trabalhos do poeta da Fricis Bārda.

Até 1944, Mauriņa publicou 19 livros na língua latvia incluindo artigos sobre escritores da Lativia como Rainis Jānis Poruks Anna Brigadere e Fricis Bārda, assim como sobre  Dostoyevsky Dante.

Durante este período ela também escreveu a novela Vida em um trem(1941). Após a guerra, ela publicou 20 livros em sua língua materna, 27 em alemão e sua obra tem sido traduzida para o italiano, inglês, russo, sueco, holandês, finlandês e dinamarquês. Ela foi sempre presente e incentivadora das pesquisas de Raudive.

 

Raudive e Friedrich Jürgenson

No ano de 1964, ocorreu um ponto de inflexão que mudaria a vida do pesquisador: Raudive leu o livro Voices from space (Vozes do Espaço) de autoria de Friedrich Jürgenson (1903-1987)

Assim que acabou de ler, Raudive ficou completamente impressionado com os relatos do autor, e tudo que ele tinha lido parecia fazer sentido com seu background de investigações no campo da parapsicologia.

Jürgenson era um cantor de opera e também pintor sueco. O cara entrou nesse tema misterioso por absoluto acaso. Certa vez, ele instalou um microfone nos jardins de sua casa de campo nos arredores de Estocolmo com a intenção de gravar o canto de pássaros. Ao reproduzir as gravações, ele ouviu vozes de pessoas falando junto ao canto dos pássaros. Ele continuou suas gravações em horas e lugares diferentes e silenciosos, obtendo uma série de gravações de vozes que foram analisadas por especialistas que comprovaram a veracidade do fenômeno. Havia vozes ali e isso era inequívoco. Mas se elas estavam sendo registradas em lugares desertos, como isso seria possível?  Assim, ele concluiu que estava gravando vozes de “gente invisível”. Seu trabalho foi publicado no livro acima citado.

Em 1965, Raudive encontrou-se com Jürgenson, ficaram bastante amigos e passaram a trocar informações sobre suas experiências. Enquanto Friedrich tinha registrado o fenômeno por acaso, Raudive questionava se seria possível ampliar essa investigação mais ativamente.

Ao retornar para a Alemanha, iniciou seus experimentos em EVP (EletronicVoice Phenomenon) , Fenômeno de Voz Eletrônica – e obteve bastante êxito em suas pesquisas, comunicando-se inclusive com sua falecida mãe deixando na fita magnética um carinhoso recado de nome “Kosti”, que era como habitualmente era chamado por ela em vida.

Raudive dedicou mais de dez anos de sua vida fazendo experiências sobre EVP. Com a colaboração de especialistas em eletrônica gravou mais de 100.000 “audiotapes”, a maioria estritamente sob condições de laboratório.

Raudive e outros pesquisadores

Ele colaborou nas experiências de Hans Bender, outro pesquisador do assunto e envolveu mais de 400 pessoas em suas pesquisas sendo que todas testemunharam terem ouvido as vozes.

A partir destes fatos, publicou em 1971, juntamente com Hans Bender, o livro Breakthrough: An Amazing Experiment in Electronic Communication with the Dead.

Juntamente com Theodor Rudoof, engenheiro da Telefunken, eles criaram um equipamento gravador de alta frequência denominado “goniômetro”.

 

Em Viena o engenheiro eletrotécnico Dr. Franz Seidl fabricou outro equipamento que nomeou de psychophone e o suíço Alexander Schneider elaborou os diodos para seus equipamentos.

Seu segundo livro editado  sobre as vozes é: Sobrevivemos à Morte.

Muitos engenheiros, cientistas e especialistas trabalharam com Raudive ao longo dos anos. O físico Prof. Alexander Schneider foi um deles. Em 1969, Raudive e Schneider foram agraciados com o primeiro prêmio dado pela Associação Suíça de Parapsicologia por seus trabalhos na gravação de “vozes do além”.

Apesar de não ter sido o primeiro a gravar vozes do espaço, Raudive foi o primeiro a tornar o fenômeno da gravação das vozes dos espíritos ao conhecimento público com a publicação de seu livro. No prefácio do livro, Smythe escreveu que, antes de publicar o livro, ele queria se assegurar de que o fenômeno era real.

Fez algumas gravações experimentais, mas não conseguiu entendê-las perfeitamente. Pediu a Peter Bander, o editor do livro, para ouvir a gravação. Bander, reconheceu a voz de sua mãe. Bander sabia que Smythe não entendia alemão e pediu a outras pessoas que escrevessem, foneticamente, o que haviam escutado e todos escreveram a mesma coisa:

“Por que você não fecha a porta?”.

Bander havia trabalhado toda a semana anterior com as portas de seu escritório fechadas.

Depois da publicação do livro de Raudive, as vozes gravadas ficaram conhecidas como “As vozes de Raudive”.

Entretanto, Colim Smythe e Peter Bander, após conhecerem o trabalho pioneiro de Jürgenson, passaram a usar o termo Electronic Voice Phenomena, “EVP”, na introdução de seu livro Carry on talking. Na introdução escreveram que esta expressão já havia sido usada por Malcolm Hughes em abril de 1973 na revista The Spiritualist Gazette.

 

Interesses despertados

Raudive instala o aparelho para uma tentativa de gravação numa câmara anecoica sob verificação de pares céticos.

Em 1971, experimentos controlados de EVP foram realizados pelo chefe dos engenheiros da Pye Records, Ltd, juntamente com Raudive.

Foram tomadas todas as precauções para não haver interferência do exterior do laboratório. Todos os presentes atestam que não ouviram nenhum ruído, mas apenas a voz de Raudive falando durante todo o período da gravação.

Quando escutaram a gravação a maior surpresa foi ouvirem cerca de duzentas vozes durante os dezoito minutos da gravação.

Muitas das mensagens eram muito pessoais e bastante evidentes para aqueles que lá estavam. O livro Carry on talking foi publicado nos EUA com o título Voices From the Tapes: Recordings from the Other World – (Vozes de fitas: Gravações do Outro Mundo).

Em 1972, a empresa Belling & Lee, Ltd., situada em Enfield, Inglaterra conduziu experimentos com Raudive na gravação de vozes paranormais no Laboratório de Radio Frequência.

Peter Hale, físico e engenheiro eletrônico considerado o maior especialista em equipamentos eletrônicos para interceptar transmissões eletromagnéticas, supervisionava a experiência. Antes do experimento Hale havia dito que pensava que as vozes eletrônica eram apenas uma interpretação mística de um fenômeno de interferência corriqueiro. Para ele eram apenas sinais normais de rádio.

Após o experimento, Hale declarou que “não podia explicar o fenômeno em termos normais da Física”.

 

Comunicações de Raudive

Por causa da intensa atividade em seu trabalho de vozes, a cujo estudo se dedicava 24 horas por dia, Raudive começou a ficar frágil fisicamente e esgotado e veio a falecer em 2 de setembro de 1974 aos 65 anos

Em seu livro Transcomunicação – Comunicação tecnológica com o mundo dos mortos, Clovis Nunes relata que, em 1987 Konstantin Raudive comunicou-se em Luxemburgo e assim se pronunciou:

“…Um substrato imaterial , qualquer que seja o nome que lhe dê, princípio, alma, espírito, uma parcela da eternidade escapa da destruição….”

Depois de ter passado para o outro lado, Raudive tem respondido a muitas perguntas através das gravações em fita magnética e por telefone com alguns pesquisadores e em 1994 com George Meek.

No grupo de Luxemburgo ele fez contato, inclusive fornecendo informações sobre a vida após a morte e em umas das sessões a resposta foi:

“ Vivo muito bem”.

Konstantin Raudive – intelectual, pensador, escritor e pesquisador do fenômeno EVP – é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.

Aqui está a integra da gravação do dia da investigação que resultou no material de Breaktrough:

Evidentemente que não é uma unanimidade que esses fenômenos sejam de fato vozes do além. Uma das possíveis explicações para os fenômenos estão ligados a uma ideia de “pareidolia auditiva”. Basicamente, em um ambiente onde ocorrem diferentes captações e frequências de confusão, a nossa interpretação de faixas de som que soem familiares seriam erroneamente interpretados como  as mensagens. Eu acho isso extremamente possível. O fato de Konstantin Raudive ser um poliglota, poderia inclusive contribuir bastante para que ele pudesse encontrar esses padrões em diferentes línguas na caça do fenômeno. Embora soe espetacular que algo assim possa ser captado numa câmara anecoica que é um lugar especialmente construído para testar aparelhos de radar e antenas diversas, pois é feito para não receber interferências, o fenômeno que pode ser ouvido acima ainda parece muito primitivo e tosco.

O dia que Raudive telefonou do além

Até então, a alegação que este tipo de mensagem era só baseada na interpretação de barulhos e cliques distorcidos encontrou algo realmente curioso para explicar. Um dia, em 27 de janeiro de 1994 o telefone tocou no escritório do pesquisador de TCI – EVP(fve) George Meek, e mais uma vez, George Meek fez história.

No outro lado da linha havia nada mais nada menos que um defunto! Era o falecido pioneiro das TCI, evp Konstantin Raudive no telefone, era o espírito Konstantin Raudive, o qual conheceu em vida, e agora falando claramente e de perfeitamente compreensível da outra dimensão, em espirito, conversou com o engenheiro e pesquisador George Meek . * a foto no video, é o engenheiro norte americano, George Meeek.
Se isso não for uma fraude deliberada é muito impressionante e já adianto logo que essa voz aí dá um cagaço enorme.

 

Raudive não ficaria só nesse telefonema, ele parece estar obcecado pela comunicação entre dimensões até do lado de lá. Ele voltaria a a se comunicar, e dessa vez não só com a voz gutural e assustadora, mas enviando sua própria imagem numa transcomunicação instrumental de Raudive para Maggy e Jules Harsch-Fishbach em Luxemburgo……

Bem, eu fico por aqui. Não estou 100% convicto que não se trate em parte de fraudes deliberadas e apofenias. Mantenho a mente aberta para todas as possibilidades sem cravar nada, porque não sou dono da verdade. Um fato é que EVP e ITC raramente são pesquisados ​​na comunidade científica , então a maioria das pesquisas no campo é realizada por pesquisadores amadores que carecem de treinamento e recursos para conduzir pesquisas científicas e que são motivados por noções subjetivas e por melhor que sejam seus resultados, qualquer resultado sempre será visto como proveniente de viés de confirmação e com baixa credibilidade científica. O conceito de EVP influenciou a cultura popular. É popular como uma atividade divertida, como na caça ao fantasma e como um meio de lidar com a dor. Influenciou a literatura, o rádio, o cinema, a televisão e a música.

Mas até hoje não sei explicar o episodio do meu radinho de ondas curtas. É um assunto intrigante que eu acredito que ainda vai dar muito pano para manga.  Há sempre muita pseudociênca envolvida em alegações espetaculares e coisa e tal.  Há de se ter cuidado, mas que é instigante muito interessante, sem dúvida que é.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Intrigante! Talvez assim possamos ter Lula presidente mesmo após sua morte. Basta que seus sucessores consigam comunicação “do além” com ele para pedir orientações. Talvez seja exatamente por isso que a comunidade científica não pesquisa o fenômeno, justamente para impedir a continuação de Lula. Institutos de pesquisa são muito influenciados por capitalistas.

  2. Sobre a sua experiência, será que se o que você ouviu não possa ser uma interferência com babá eletrônica, já que ela serve pra “observar” se o bebê está dormindo, entre outra coisas? Uma mãe que tenha escutado algum ruído de seu filho enquanto tomava um chá com sua amiga na sala, avisou que o bebê estava despertando e precisava atendê-lo.

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