Tem mais ou menos uns dez dias que eu sigo intrigado com um misterioso fenômeno ocorrido aqui mesmo na minha casa.
Eu não acho que seja algo sobrenatural, mas é tão esquisito, que parece a cascata mais deslavada.
Basicamente, o meu carro saiu pra dar um rolê sozinho. Ele não é um carro eletrônico como o Tesla, que dirige sozinho, é um Renault Duster manual, então é estranho.
A história foi o seguinte, eu desci para levar meu filho na escola como faço todo santo dia, às cinco pras sete da manhã quando ao olhar para o carro, que fica numa vaga na frente do meu bloco no condominio onde eu moro, o carro não tava mais lá.
“Porra roubaram meu possante dentro do condomínio?” — pensei.
Em seguida, vi meu carro parado em outra vaga, cerca de uns dez metros atrás da minha vaga original, onde eu havia deixado o carro.
Ué. Como assim?
Eu me lembrava perfeitamente que estacionei o carro na minha vaga, que é sempre a mesma a cada ano. Cheguei com o Davi da escola e parei como sempre fazia, e fui pra casa. Dez e meia da noite, quando a Nivea voltou do trabalho, ela passou pelo nosso carro, que fica bem na porta do bloco. Ela viu o carro na vaga. Então, como que de manhã ele estava em outra?
Ninguém saiu de casa, Nivea não dirige e o Davi estava gripado, fora que só tem 13 anos e nunca mexeria no carro.
Eu fui lá onde o carro estava e olhei. Ele estava estacionado direitinho, dentro do quadrado pintado no chão, respeitando a distância do carro da vaga de trás.
“Alguém estacionou essa merda.”
Mas como, se a chave estava na minha casa?
Olhei e o freio de mão estava puxado. O carro estava perfeitamente estacionado numa vaga lá do outro bloco.
Intrigado, imaginei a única explicação plausível pra mim naquele momento: Eu devia ter puxado pouco o freio de mão, e o carro escorregou da vaga, parou no meio da pista, e algum funcionáario da limpeza do condomínio ou mesmo um morador solícito, viu o carro ali (concluiu que eu cheguei bêbado da rua) e empurrou para a vaga onde ele achava que devia ser.
Parecia a solução mais simples, e como sabemos, normalmente, a solução mais simples é a mais correta…
Porém, com o carro fechado, como o cara puxou o freio de mão?
Aí fiquei intrigado. A Nivea então solicitou ao funcionario da administração que ele verificasse o video das câmeras de segurança daquela noite para vermos quem entrou no carro.
E foi aí que toda a racionalidade lógica foi pra casa do chapéu: Segundo o Robson, o funcionario aqui do condominio, o meu carro estava paradão na vaga, como sempre esteve até o relógio bater meia noite e meia. Quando deu meia noite e meia em ponto, o carro deliberadamente saiu andando da vaga dele e foi lentamente, sozinho, até a outra vaga e estacionou lá.
Assustado, o funcionario se certificou que ninguém entrou no carro, e realmente, pelo video, é isso: o carro do nada, sai andando sozinho e vai estacionar em outra vaga. Infelizmente, o condomínio não libera as imagens de segurança por norma interna e não posso mostrar meu carro dando um rolê sem piloto.
Ok, então o que temos: Um carro sai da vaga e vai sozinho para outra. Há uma leve inclinação na minha vaga, para que a água da chuva não se acumule. Então, pela lógica, a gravidade puxou o carro, que desceu e perdeu energia cinética e por acaso parou dentro da outra vaga, (que por sorte estava vazia) sem sequer encostar no carro de trás.
Mas aqui tem um porém: Por que o carro fez isso meia noite e meia? A gravidade é igual em qualquer hora do dia, de modo que o mais logico seria o carro descer assim que eu saí do veículo no dia anterior ao trazer meu filho da escola. Não faz sentido o carro esperar ficar de madrugada para ninguém ver, hehehe.
Outro detalhe interessante, o piso não é liso, ao contráro, é feito de bloquetes de concreto, o que impede a hipótese do escorregamento, mais possível num chão liso como os de estacionamento de shoppings. Outro detalhe que verifiquei: o carro não estava com os pneus excessivamente calibrados, na verdade, estavam até precisando calibrar, o que aumentava a área de contato do pneu com o solo e assim, subia o atrito.
Aí eu botei o meu chapéu de Myth-Buster e fui fazer testes. Entrei o carro puxei pouco o freio de mão e deixei ele em ponto morto. Desliguei e fiquei olhando. De fato, o carro desce, mas ele anda meio metro e para.
Observando o deslocamento, meu carro andou mais de dez metros naquela madrugada e entrou certinho na vaga. O fato dele estar tão bem estacionado, com precisão cirúrgica no quadrado da vaga é outro fato extremamente impressionante. Teria que ser uma enorme, gigantesca coincidência exatamente naquele dia que não puxei o freio de mão até o fim — como faço todo santo dia — eu deixar as rodas com o alinhamento preciso para que o carro não se desviasse um grauzinho sequer em seu “passeio”.
Como o Duster tem direção eléetrica, a direção é dura pra caceta, e precisaria ser um Ronny Coleman para virar esse volante. Com o carro desligado, ela quase não vira.
Até o momento, não desvendei o mistério do carro que anda sozinho. Uma idéia que já me ocorreu é que isso pode ter algo a ver com a umidade do ar. Não sei como ainda, mas talvez, a umidade do ar na madrugada tenha criado alguma condensação, algo que atuou como um lubrificante e deixou o carro dar seu macabro passeio na escuridão.
Um carro que sai andando sozinho…. É no minimo curioso, hehe.