Merenda escolar do mundo e a realidade brasileira

A Sweetgreen, uma cadeia de restaurantes de saladas que administra o programa Sweetgreen in Schools para educar as crianças sobre alimentação saudável, fitness e sustentabilidade, criou uma série de fotos para mostrar o que as crianças ao redor do mundo comem no almoço – e comparou com as escolas americanas. É interessante observar como essas merendas do mundo parecem saudáveis perto do monte de carboidrato que é a merenda dos EUA.

É fritura gordura e açúcares. Mas o que mais me intrigou enquanto brasileiro é o retrato da merenda nacional:

Pare por um segundo e tente imaginar que país maravilhoso seria o Brasil se essa fotografia fosse 10% da verdade.

A realidade daqui é outra. Na maior parte, a  merenda das escolas públicas brasileiras é composta de alimentos prontos, como comida enlatada, biscoitos, achocolatados, barrinhas de cereais, sucos artificiais e assim por diante. O Diário da Merenda também pode ser seguido no Instagram.

Vitamina de banana – EE Tiburtino Pena, Minas Gerais. 9h30
Arroz, feijão enlatado, carne enlatada e purê de batatas – EE Maria José, São Paulo. 10h20
Laranja com casca, arroz e abóbora com carne – Escola Municipal T.I. José Carlos Pimenta. Almoço
Suco artificial de uva, três bolachas integrais e uma barrinha de cereal – EE José Maria Matosinho, Campinas, São Paulo. 9h3o
refresco artificial com duas bolachas doces – EE Julia Rios Athayde, Sorocaba, São Paulo. 9h30
Arroz com frango, feijão e farofa de jiló – Escola Municipal T.I. José Carlos Pimenta, zona rural de Goiânia, Goiás
Resto de bolo de chocolate e uma caneca de leite – EE Professor Alberto Conte, São Paulo. 9h30
Arroz, salada de repolho e omelete – EE Fernão Dias Paes, São Paulo. 9h45
Farofa de carne moída com proteína de soja e suco de caju – Escola Municial T.I. José Carlos Pimenta, zona rural de Goiânia, Goiás. Lanche da tarde
Um pedaço de bolo – EE Fernão Dias Paes, São Paulo. 9h40
Leite com corante de morango e duas bolachas salgadas – EEEI Alberto Torres, São Paulo. 14h10
Suco artificial de maçã, barra de cereal sabor banana e uma maçã – EE Júlia Rios Athayde, Sorocaba, São Paulo. 9h30

Eles mostram de forma nua e crua, através de fotos enviadas pelos próprios alunos a realidade da comida nas escolas públicas.  Nossa precariedade alimentar reflete um problema seríssimo, sobretudo se levarmos em conta o custo de um aluno para o Estado brasileiro:

R$ 14.079,00 por aluno do primeiro ciclo do Ensino Fundamental

Estranhamente, em campanhas eleitorais diversas, ao falar da merenda escolar, fotografias como esta aqui são mostradas aos eleitores:

É no mínimo “peculiar” que as fotografias oficiais não sejam nem perto do que mostram fotos feitas pelos próprios alunos e professores das escolas públicas brasileiras.  Se é assim, onde está a diferença dessa enormidade de dinheiro que se investe por aluno, e que ainda é pouca?

Investimentos defasados

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) estipulou um valor mínimo de R$ 3.016,67, a ser investido por aluno, mas o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) cobre R$ 3.921,67 nessa etapa, o que gera uma diferença de R$ 17.358,45.

Resumindo: incluindo transporte escolar, de acordo com esses dados, o Brasil deveria investir até cinco vezes mais do que gasta hoje para garantir uma educação pública de qualidade pensando no ciclo completo, da creche ao Ensino Médio.

Se por um lado estamos defasados em relação ao que deveríamos estar investindo na educação publica, por outro ainda temos outra mazela sistêmica: O pouco que sobra ainda é desviado em diversos eventos criminosos. Os desvios de verba destinada a merenda escolar somam-se aos milhares por todo o Brasil, produzindo montantes de cifras arrepiantes.  Só em São Paulo a Polícia Federal e a  Controladoria Geral da União identificaram irregularidades em 30 municípios, somando um montante que ultrapassa 1,6 BILHÕES DE REAIS!* – E isso num ÚNICO FUCKING ESTADO! Não precisa ser muito trouxa pra saber que se em SP o mais rico e portanto mais sujeito ao controle está assim, imagina no resto.

*- https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-05/desvio-de-verba-reduz-qualidade-da-merenda-em-30-cidades-paulistas

A população desesperada clama pela justiça, que nunca vem, porque aqui é a esculhambação de sempre.

Enquanto isso:

A foto apreendida pela Polícia Cívil mostra o vendedor da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), Carlos Luciano Lopes, em uma mesa cheia maços de notas de R$ 50, R$ 20, R$ 10 e R$ 2.
Carlos Luciano Lopes declarou à Polícia Civil e ao Ministério Público Estadual que o atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez, do PSDB, recebia parte de comissão entregue ao lobista Marcel Ferreira Júlio por contratos suspeitos de superfaturamento com prefeituras na venda de produtos agrícolas e suco de laranja. fonte

Fica para sua reflexão.

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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