Freelancer. Ser ou não ser…

Gente, tô sem saco para escrever hoje. Não reparem. É que estou lutado o domingo inteiro com uma imagem 3d aqui e tô me F* todo para sair do jeito que eu quero. Assim, deixo vocês na companhia de um texto sobre freelancer e mercado de trabalho que eu escrevi para a revista Digital Designer há mil anos atrás. ( no tempo em que os bichos falavam)
Mas ainda hoje o texto tem sua pertinência.
Já, já eu tô de volta.

FREELANCER. Ser ou não ser. Eis a questão.

Eu tinha uma faxineira que achava que eu era um vagabundo.
Pois é… Incomodada em ver um barbado de quase trinta anos dormindo às onze horas da manhã, (eu tinha ido dormir às 6:30. Minutos antes dela chegar) – Quando segundo ela: “Todas as pessoas honestas já estão dando duro” ela ficava intrigada como podia alguém viver – como eu aparentemente vivia – sem trabalhar.
Eu não a culpo. A profissão de um freelancer é desconhecida da grande maioria da população. Mas nada está tão distante da mítica ideia de que o freelancer vive deitadão em uma rede branca de renda baiana bebericando água de côco e esperando do cliente o depósito em conta corrente…
De fato, o profissional Freelancer pode tirar férias na hora que bem entender, mas também pode ser encontrado com os olhos vermelhos e cansado, trabalhando em plena madrugada para entregar algum trabalho, e graças a Deus, não é obrigado a olhar para a cara de chefes mal-humorados ou colegas fofoqueiros.
Muitos artistas e profissionais da área da computação gráfica, design e correlatas vêem o trabalho do freelancer como uma saída para uma maior qualidade de vida.
Mas depender única e exclusivamente do esforço individual não é mole. Como prestador de serviço autônomo, o profissional freelancer acumula as funções de encontrar clientes potenciais, orçar, desenvolver, produzir, cobrar. Não bastando isso, ele precisa ser bom, do contrário, perderá mercado para os concorrentes. Mas embora difícil, a busca por liberdade profissional e o desafio à capacidade profissional pode ser um grande barato.
Uma vez que você faz aquilo que lhe interessa, se sente livre e isso abre espaço para que possa ser mais feliz, ter a flexibilidade de tempo que necessitar, sem ter que dar satisfações a ninguém.
Mas o maior ônus para o freelancer é a responsabilidade de fazer o que estiver sob sua responsabilidade dar certo. E bem. Não há equipe, chefes ou colegas para apoiá-lo e as exigências e pressão psicológica crescem na razão direta do custo de cada trabalho. Não obstante, a mal administração das exigências que lhe recaem, podem converter o mundo de mil maravilhas do freelancer em uma prisão, fazendo-o escravo de si mesmo, perdendo a noção de seus próprios limites.
Talvez o pior dos problemas para o freelancer seja o curto prazo que em geral é imposto para a realização de um trabalho. Isso costuma ocorrer por vários motivos, desde dificuldades em encontrar o profissional com o perfil ideal para cumprir uma determinada tarefa até motivos banais, como um autônomo ser chamado para ocupar a vaga de um profissional em férias, ou desenvolver um serviço extra.
Mas seja qual for o motivo, o freelancer sempre precisa ter uma capacidade de adaptação enorme, pois não há tempo para treinamentos, dúvidas e erros. O prazo é sempre mínimo, a exigência sempre grande.
E é aí que o bicho pega! Devido à grande pressão interna – a autocobrança, o perfeccionismo patológico, o medo e posterior desespero de não dar conta de um trabalho, etc – e externa, – Mudança nos prazos, clientes que não sabem bem o que querem, constantes alterações no briefing, falta de comunicação, etc – é comum o profissional acabar se desesperando e virando noites e noites seguidas, descuidando da alimentação e da vida pessoal, sobrecarregando a si mesmo. Agindo assim ele está ignorando que seu maior patrimônio profissional é seu organismo.
O Trabalho freelancer é para pessoas disciplinadas, que tenham equilíbrio psicológico suficiente para não transformar a carreira em doença.
Eu não sei se existe alguma pesquisa psicológica que determine o perfil da personalidade média de freelancers bem sucedidos, mas acredito que eles sejam em grande parte formados por pessoas arrojadas, determinadas, confiantes na própria iniciativa. Devem ser pessoas com autoconfiança em alto nível, que adoram desafiar suas capacidades.
Uma vez que a vida do freelancer não possui horários rígidos, administrar bem as horas passa a ser uma arte fundamental. A agenda se transforma na melhor amiga do freelancer, pois ajuda a estabelecer as horas destinadas a diferentes projetos, marcar visitas a clientes, conversar com pessoas, definir o tempo de estudo diário que um bom profissional não pode deixar de ter, anotar contas a receber, controle de notas, cobrança e etc. A liberdade perde seu sentido quando não há responsabilidade.
E a questão financeira?
O freelancer, como um prestador de serviço autônomo que é, em muitos casos passa por momentos de constante instabilidade financeira. As oportunidades de trabalho, na maioria das vezes, são imprevisíveis. O pagamento pode atrasar, e dependendo do cliente, pode também nunca vir.
Assim, tudo pode acontecer e para que a situação não se transforme em um estresse no melhor sentido do termo, é preciso gerenciar corretamente os ganhos, as estimativas de custos projetados, mantendo sempre uma reserva financeira (O que é difícil, mas não impossível.) mesmo que pequena, que o socorra em caso de uma emergência, como por exemplo quando uma artista freelancer engravida e precisa dar à luz.
Sem a estabilidade do emprego tradicional, com licenças, férias e benefícios, os pequenos percalços da vida podem se tornar dramáticos. Enfim, tudo pode acontecer e antes que a situação vire um estresse, é preciso gerenciar muito bem os ganhos, mantendo sempre uma reserva de dinheiro, mesmo que pequena.
Para evitar situações mais dramáticas, como trabalhar e levar um “calotão”, o melhor negócio é o contrato por escrito. Nesse documento, precisam constar as cláusulas que vão reger a prestação de serviço, como por exemplo, as obrigações que o prestador terá, prazo de vigência da prestação do serviço, forma de pagamento e de que maneira o contrato poderá ser rompido, porventura, antes do prazo final. Com o contrato em mãos, o freelancer e também o cliente, sentem-se mais seguros.
Assim, como em qualquer opção de carreira, a profissão de autônomo freelancer traz consigo o ônus e bônus. O que é vantagem para mim, pode ser desvantagem para outro. Se o cara tem uma mulher que é uma megera, filhos encapetados, mora com uma sogra e o cunhado chato, eu não recomendaria tentar ser freelancer. Antes de se aventurar nesse mercado, procure avaliar os riscos que você está disposto a correr, se sua estrutura de vida lhe permitirá isso e tente fazer uma auto-análise acerca de sua disciplina e organização. É um desafio. Mas se é exatamente esse fator que motiva a busca da sua realização pessoal, siga em frente e boa sorte.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Ola
    lendo o seus artigos achei muito interessante sua profissão de modelador, programador,designer,etc. Eu estava querendo seguir uma carreira igual/parecida com a sua, pois é a que eu mais me identifiquei. Gostaria que você escrevesse algo de como você começou, qual faculdade cursou e etc para eu ter uma idéia.
    Grato,
    Marcos

  2. Oi Philipe!
    Tbm me interesso por coisas estranhas!

    Faço psico, quero trabalhar com web designer tbm…lokura…

    Mas, me diz uma coisa, o q tu faria de diferente? Vc se arrepende de ter feito Psico?

    Tem alguma sugestão pra me dar sobre um curso de design?

    Abraço
    Carol

  3. OI Caroline.
    Eu nunca me arrependi de ter feito faculdade de Psicologia. A faculdade me ajudou a entender melhor o ser humano, e isso me ajuda diáriamente em uma série de coisas.

    Nós estamos condicionados desde pequenos a estudar para entrar nas boas escolas, entrar nas boas escolas para ingressar nas boas universidades e fazer os cursos que dão dinheiro para trabalharmos na área e ficarmos ricos.
    A educação de um modo geral é clientelista no Brasil. Ela atende interesses financeiros. Isso é certo? É assim que deveria ser?

    Não sou eu quem tem que responder a estas questões, mas a academia que lida com a questão da educação como objeto de estudo. Eu sempre encarei o estudo como algo pra minha vida, e não para o meu bolso.

    Nunca na minha vida tomei as decisões visando uma profissão. Escolhi Psicologia porque queria saber mais sobre o ser humano.

    Comecei a trabalhar com design de um modo totalmente auto-didata. Eu não estudo para trabalhar. O trabalho é uma consequencia do estudo e as duas coisas andam tão juntas que é impossível pra mim separar o que é estudo e o que é trabalho. Minha vida foi pautada sempre em conhecer mais, pesquisar coisas novas e fazer diferente. È interessante, porque tenho muitos amigos designers que ficam procurando nos catálogos e revistas importadas idéias interessantes para fazerem igual ou parecido. Eu leio as mesmas revistas, compro os mesmos livros e vasculho a net, procurando encontrar algo que eu não faça igual.
    Não estou dizendo que meu jeito de viver é certo.
    Para muitas pessoas, o melhor modo de vida é o mais simples, onde se estuda para passar no vestibular e entra-se numa faculdade para trabalhar. Depois, por imposição do mercado, essas pessoas podem voltar para a academia em busca de um titulo de pós graduação lato ou strito sensu. Não por uma curiosidade ou investigação, nem mesmo por uma motivação de inovação, mas por uma imposição do mercado. São milhões de pessoas seguindo a vida dominados pelo capital.
    Também não estou dizendo que eles estão errados. Talvez eu seja um bizarro no mundo. Um idiota Gump sonhador que vive a vida de um jeito diferente. Na contra-mão do capital.
    Em muitas situações da minha vida eu me deparei com dilemas. Ou fazia um serviço chato que ia dar dinheiro ou fazia um trabalho maneiraço que não ia dar nada além de gastos e dor de cabeça, mas que eu estava afim.
    Eu SEMPRE faço o que eu estou afim. Pode ser a Rainha da Inglaterra me mandando fazer a coisa chata com uma caixa de ouro na mão. Sem tesão, não há solução.
    Eu sou refém do meu próprio prazer.
    Nem sempre isso é bom. Eu poderia ter muito mais grana do que eu tenho hoje se vivesse em busca de grana.
    Mas eu sou feliz, porque eu vivo em busca de aventura.
    Um amigo meu, o Gustavo, um dia me disse que ele não entendia acomo é que eu conseguia viver de arte.
    Nem eu sei.

    Eu não sei te indicar um curso bom de design. Isso ia envolver uma profunda reflexão sobre o que é um curso bom. Seria o que te prepara para o mercado? Pra ganhar dindim? Seria o que te estimula a inovar?
    Seria qualquer um, uma vez que o interesse parte do aluno e a busca é algo constante?

    Como se vira um ator?
    Como se vira um escritor?
    Como se vira um pintor?
    E um piloto de corridas?
    E um cartunista?
    E um mágico?

    Eu acho que a busca vem de dentro.

  4. [quote comment=””]Ola,

    Estamos buscando escritores freelancers profissionais com experiencia em escrever para websites.

    Com urgencia![/quote]

    Interessante. Me manda um email.

  5. Parabens pela profissão…
    Eu tenho uma carreira quase neste seguimento, vejo que não tem valor nenhum! Aliás, existe o profissional reconhecido pela suacompetencia ou o profissional com os contato certo?

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