Os fantasmas no MP3

Não sei quanto a você mas eu sempre que me pego ouvindo uma musica digital costumo deixar a mente vagando a esmo por ideias que surgem inesperadamente, inspiradas pela musica. Acho que já falei sobre isso aqui antes. Mas o que talvez eu não tenha falado, é como me impressiono como o fato de que a tecnologia conseguiu um grande feito, que foi conseguir tornar uma musica qualquer em algo leve, que pode ser baixado rapidamente. A geração mais atual, talvez não se ligue na dificuldade monstruosa que foi para sairmos do analógico e ingressarmos no digital. Musicas – e video – sempre foram verdadeiros elefantes de dados. Ainda hoje, com Spotify, Netflix e toda essa comodidade de dados sob demanda, ainda me choco como a porra do MP3 consegue “colocar o elefante dentro dum envelope”.

O MP3 (MPEG-1/2 Audio Layer 3) foi um dos primeiros tipos de compressão de áudio com perdas quase imperceptíveis ao ouvido humano. O seu bitrate (taxa de bits) é da ordem de kbps (quilobits por segundo), sendo 128 kbps a taxa-padrão, na qual a redução do tamanho do arquivo é de cerca de 90%, ou seja, o tamanho do arquivo passa a ser 1/10 do tamanho original.
A taxa de bits pode chegar a até 320 kbps (cerca de 2,3 MB/min de áudio), gerando a máxima qualidade sonora do formato, na qual a redução do tamanho do arquivo é de cerca de 75%, ou seja, o tamanho do arquivo passa a ser cerca de 1/4 do original. Há também outras taxas intermediárias, cuja escolha depende da relação custo-benefício desejada, onde o tamanho do arquivo pode ser reduzido em detrimento da qualidade/fidelidade do som. Para efeitos de comparação, as músicas de um CD de áudio comum possuem uma taxa de amostra de dados de 1411,2 kbps.

O Moving Picture Experts Group, acrônimo MPEG, cujo nome verdadeiro é  “ISO / IEC JTC 1/SC 29/WG 11”, é uma denominação de codificação de imagens em movimento e áudio, criado por uma comissão técnica, formada pela ISO e IEC, encarregada de estabelecer normas para a representação de áudio digital, vídeo e outros tipos de mídia para atenderem a uma ampla variedade de aplicações.

O Comitê foi instituído em janeiro de 1988 por Leonardo Chiariglione e se reuniu pela primeira vez nos dias 10, 11 e 12 de maio de 1988. Normalmente, reuniam-se, em média, quatro vezes por ano. Na primeira reunião houve participação de 25 membros, enquanto que, atualmente, as reuniões são frequentadas por mais de 350 membros que representam mais de 200 empresas e organizações de 20 países ao redor do mundo.

O método de compressão com perdas empregado na compressão do MP3 consiste em retirar do áudio tudo aquilo que o ouvido humano normalmente não conseguiria perceber, devido a fenômenos de mascaramento de sons e de limitações da audição humana. O ouvido humano consegue captar frequências de 20 Hz até 20 kHz.

Pra se ter uma ideia do que representou em termos de revolução o MP3, um CD comum pode armazenar até mais de 12 horas de áudio em MP3 de 128 kbps!

Mas apesar de todo o avanço que o MP3 nos agraciou, há quem torça o nariz (ou melhor, os ouvidos) para o formato. Ainda que não neguem suas qualidades e seu impacto para o mundo conforme conhecemos hoje, há quem sustente que nessa transição do analógico para o digital, os mp3s muitas vezes despojaram a música de sua “essência”. Hoje, encontramos as pessoas gastando tempo e dinheiro tentando encontrar formas de “recuperar essa substância intangível”.

Os fantasmas num Mp3

Mas e os sons que escapam quando você comprime um mp3?

Ryan Maguire tem gasto muito tempo com esses fantasmas. Maguire é doutor no Centro de Música para Computadores da Universidade da Virgínia, e seu projeto The Ghost in mp3 explora aqueles sons muitas vezes inaudíveis.

A “paisagem sonora” intitulada moDernisT foi uma colagem de sons perdidos nos processos de compressão de musicas em mp3, obtidos com a música ‘Tom’s Diner’, usado como um dos principais controles nos testes de escuta para desenvolver o algoritmo de codificação de mp3.

Aqui encontramos a forma da música intacta, mas os detalhes são apenas restos do original. Da mesma forma, o vídeo contém apenas material que foi deixado para trás durante a compactação do “mp4 “.

A filtragem da canção de Suzanne Vega de 1987 , é realmente uma peça bonita de música experimental, mas que de certo modo dá calafrios, lembrando até em alguns aspectos experimentos como o radio do tesla e as maquinas de EQM que tentam ouvir espíritos desencarnados. Aumenta o som e taca o play:

No site, Maguire também decompõe colunas de ruído branco, rosa e marrom, “quando comprimido para a menor taxa de bits de mp3 possível”. Esse trabalho é experimental mas nos dá um olhar interessante sobre o que exatamente se perde em compressão e conversão .
Escute só e veja se não dá aquele gostinho das musicas dos “videos vazados da deep web”

 

Maguire conta que alguns anos atrás, estava estudando a história e o desenvolvimento da música eletrônica com Tara Rodgers e a dupla passou muito tempo a analisar os diferentes tipos de música que surgiram dos avanços na tecnologia de áudio. A história da música pode ser rastreada de forma muito próxima ao seguir a história tecnológica. Eles então perceberam que os discos de vinil tinham inspirado música concreta e arranhões, a era seguinte, das fitas cassete inseriram mixagens e colagens, feitas então com tesoura e fita adesiva, e depois músicas inspiradas em CDs trouxeram inovações de audio. Isso levou a uma reflexão sobre o que seria o legado da prática musical baseada em mp3s.

A principal diferença entre mp3 e todos os meios anteriores para gravar músicas eletronicamente é que os mp3s são explicitamente modelados nas limitações de nossa percepção auditiva. Eles são o que é chamado de um codec perceptual, o que significa que, para reduzir o tamanho do arquivo, cada mp3 utiliza um modelo de percepção auditiva humana para apagar informações que, de acordo com este modelo, a maioria dos ouvintes na maioria das situações não vai ouvir. Essa ideia foi realmente brilhante pelas pessoas que criaram o formato – e também muito audaciosas e, de certa forma, utópico. Funciona extremamente bem.  Ryan Maguire conta que ouve mp3s quase todos os dias, mas como a maioria das coisas, sabe que o formato não é perfeito. Isso despertou nele o interesse pelos sons que este codec apenas descarta. É como  fazer perícia no “lixo”.  O resultado dessa linha de pesquisa é o que leva à música que está desenvolvendo agora.

Por que o “Tom’s Diner” foi o modelo?

Segundo o pesquisador, “Tom’s Diner” em particular foi escolhido para a primeira faixa neste projeto por causa de seu uso como a principal faixa de teste durante o desenvolvimento do formato mp3. Também havia outras faixas em que ela está trabalhando atualmente, mas “Tom’s Diner” sozinho é considerado a “mãe do mp3”. Quando os engenheiros de áudio que desenvolveram o formato tinham um novo protótipo de trabalho para o algoritmo mp3, eles sempre testariam com a musica “Tom’s Diner”, e com base no quão bem essa música ficava codificada, o grupo voltava para a prancheta de desenvolvimento.

Eventualmente, eles decidiram que o codificador já estava maduro o suficiente e ele foi liberado ao mercado. Ryan conta que o que o deixou mais surpreso na tecnologia foram os sons que foram jogados fora.  Por pura curiosidade, ele  resolveu juntar todo o “lixo” resultante da compressão e  quando terminou o  primeiro teste e colocou os fones de ouvido para ouvir o resultado, teve o momento de eureka. Como: “Ei, esses sons são realmente assustadores e lindos. Eu posso trabalhar com isso! ”

Apesar de gostar do formato Mp3 Ryan tem uma opinião pessoal bem clara sobre o que os mp3s fazem para a qualidade da música. Ele diz que os mp3 são ótimos para ouvir através de fones de ouvido no metrô ou no carro,  mas você realmente não pode substituir a experiência de sentar e ouvir algo em um lugar silencioso com bons fones de ouvido ou alto-falantes num formato de áudio de alta fidelidade.

“Eu não me considero um audiófilo, apenas um amante da música, e quando há uma gravação que eu realmente amo, não hesito em comprá-la na melhor qualidade que posso, porque essa experiência de apenas escutar a obra em todos os seus detalhes não pode ser substituída jamais”.

fonte

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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