A banda de psych-rock gerada por IA The Velvet Sundown não existia há duas semanas, mas hoje eles têm mais de meio milhão de ouvintes no Spotify e estão prestes a lançar seu terceiro álbum.
A banda que não é física
O Velvet Sundown é ou o grupo de rock mais dedicado e inspirado de todos os tempos, ou simplesmente segue regras diferentes. A banda de psych-rock surgiu do nada há duas semanas, mas conseguiu lançar dois álbuns e já anunciou que o terceiro será lançado em breve no Spotify. Eles já ostentam respeitáveis 500.000 ouvintes mensais na popular plataforma de streaming de música e não mostram sinais de desaceleração. Mas o sucesso repentino e o calendário recorde de lançamentos de álbuns chamaram a atenção para a banda esta semana, com muitos acusando o Velvet Sundown de ser um truque gerado por IA. E, verdade seja dita, todos os sinais apontam para esse fato.
Em primeiro lugar, as fotos postadas no Instagram do grupo musical são claramente feitas com IA no chat GPT com aquele seu tom amarelo em tudo. (nem pra usar um midjourney, hein?)
Além disso, há o fato de que os nomes dos membros da banda – Gabe Farrow, o guitarrista Lennie West, o sintetizador Milo Rains e o percussionista Orion “Rio” Del Mar – só podem ser rastreados até a conta do Instagram da banda, que parece ter sido criada no final do mês passado.
No Deezer, o The Velvet Sundown chegou a publicar um aviso que diz:
“Algumas faixas deste álbum podem ter sido criadas usando inteligência artificial”.
Quando a notícia da ascensão meteórica do The Velvet Sundown no Spotify surgiu, houve muita controvérsia em torno de suas conquistas em tão pouco tempo, mas as pessoas por trás do projeto se manifestaram e confirmaram que o grupo é gerado por IA.
“The Velvet Sundown é um projeto de música sintética guiado pela direção criativa humana, composto, dublado e visualizado com o apoio da inteligência artificial”, diz a biografia do grupo. Não se trata de um truque — é um espelho. Uma provocação artística contínua, projetada para desafiar os limites da autoria, da identidade e do futuro da própria música na era da IA. Todos os personagens, histórias, músicas, vozes e letras são criações originais geradas com o auxílio de ferramentas de inteligência artificial empregadas como instrumentos criativos. Qualquer semelhança com lugares, eventos ou pessoas reais — vivas ou falecidas — é mera coincidência e não intencional.
A música mais popular do Velvet Sundown no Spotify, “Dust on the Wind”, tem mais de 500.000 reproduções na plataforma, o que a torna um pequeno sucesso, e foi destaque em playlists populares do Spotify, como “Vietnam War Music” e “Good Mornings – Happily Positive Music to Start The Day”.
Pessoalmente eu gosto dessas musicas. Principalmente “Crimson parade”. Mas uma banda feita com Ia não é necessariamente uma novidade. Longe disso. Eu mesmo fiz uma ano passado, lembra? The Funkastic Six:
Faniquitos preconceituosos
Eu vi recentemente uma galera arrancando os pentelhos do cu dando faniquito nas redes sociais dizendo que isso é absurdo e nhé, nhé, nhé, uns mais exaltados exigindo ate que os streamings deletem, pedindo o banimento da Velvet Sundown…
Sinceramente, eu acho idiota. Não a banda, mas quem dá faniquito com uma merda dessa. Veja, as empresas de Ia vendem o produto, os caras usam o produto, as empresas de streaming tocam as musicas, ganham o dinheiro dos assinantes.
Pra mim soa meio ridículo, porque parece alguém reclamando que o Gorillaz não são de verdade, mas desenhos animados.
Ah, mas musica IA não tem alma…
Foda-se mano. NInguém liga para o que você acha que tem alma ou não tem. Você é o Chico Xavier para ficar fiscalizando alma por aí?
Parodiando o que o gênio Chino Anysio costumava falar sobre o humor: “Só existe dois tipos, o engraçado e o sem graça”, na música só existem dois tipos também: A que você gosta e a que você não gosta.
Mas note o elemento “você” aí na equação. Isso significa que a musica não é. è sua percepção que está em questão.
O que eu não gosto, um monte de gente gosta e é importante ter a humildade de entender que a gente não é a bolacha dourada sagrada do pacote não. Senão, periga a gente parecer o pândego desairoso e árdego lá, que gosta de cagar regra do que é bom e o que não é na internet, para depois pedir desculaps e botar a culpa das merdas que fala no vinho.
Alma, poder, energia, vibe, molho… Tudo isso são elocubrações. São elementos puramente abstratos da mente humana. Quando você escuta você está ouvindo uma frequência sonora que vai de um ponto a outro do espectro audível. Todo o resto é processado dentro da sua caixola aí.
“Ah, mas quando eu escuto um Mozart eu sinto a alma”… Amigo, guarda aí sua cartinha do Mozart. Não é supertrunfo essa porra não. Se tu puxar o Mozart eu vou puxar o Oruam, hahaha.
Pra começar, a gênese do problema de um enorme galerão da internet com a Inteligência Artificial possivelmente se localiza no vácuo de ignorância (que nem é culpa deles, já que tudo é muito novo e evoluiu tão rapido que não foi compreendido em toda sua complexidade) sobre COMO que essa porra funciona, como que faz, como que gera por exemplo, uma música. De onde ela sai.
A questão aqui é que não existe um jeito só de fazer isso. “Há mil maneiras de preparar Neston” nisso aqui.
Tem muitos e alguns são bem mais difíceis que os outros. É possível fazer uma música apenas clicando num botão e vendo o que sai? Hoje sim, até pouco tempo atrás era mais complicado, mas conforme a tecnologia evolui, os desenvolvedores tentam deixar o mais fácil possível, para conseguir mais gente pagando e assim poder desfrutar as belezas do capitalismo num iate na Sardenha.
E é isso que assusta muita gente, principalmente quem acha que vai perder mercado com uma avalanche de produções genéricas que vai chover pra todo lado.
Dá pra culpar quem tem esse medo? Também não dá. É um medo legítimo. Eu entendo. O que eu não entendo, é um cara dizer que prefere ouvir uma musica ruim feita por gente do que uma musica boa feita com IA.
Acredite se quiser, isso existe, me deparei com um desse ontem, achei curioso e fui investigar. Descobri que o cara que falou isso faz muisca que eu acho (e talvez até ele) ruim, enão talvez esteja legislando em causa própria, hahaha.
Pessoalmente, como eu sou um cara cujo prazer maior na vida é entrar e futucar lugares desconhecidos, foruns russos, deep web, investigar assuntos estranhos e tudo mais, eu também sou meio assim na musica e fico escutando coisas bem variadas nos streamings, de musica turca ao axé, hino soviético, trilhas de filmes antigos, sambistas esquecidos, concertos, e até coisa que eu nem sei se pode ser considerado música, tipo isso:
Confira abaixo (atenção, quase não dá tempo de apertar “play” e ouvir):
Se você acha que isso é mentira, saiba que até o portal brasileiro Cifraclub, especializado em cifras e tablaturas de músicas, para quem quer aprender a tocá-las, possui a partitura de You Suffer para guitarra. A letra da canção é: “You suffer… But why?” E entrou pro Guiness como a menor música do mundo.
Então eu acho que tenho uma tolerancia relativa para o que muita gente pode considerar ruim. Nem tudo que eu escuto eu gosto, eu nem sei se tudo que eu escuto foi 100% feito por gente.
A musica é salsicha, se você gosta, talvez seja melhor não saber como foi feita. Digo isso porque se você vai ver, a história da música está ABARROTADA DE PLÁGIOS, alguns descarados mesmo. Grandes celebridades consideradas “gênios” foram pegas roubando trabalhos alheios, e até processadas. Então, essa idéia higiênica de “eu quero saber como foi feito antes de ouvir” é só uma fachada para maquiar um preconceito.
É triste constatar isso, mas a realidade da música no mundo todo é: Jabá.
Fora isso, a musica hoje é cheia de tecnologia que as pessoas normais nem sonham. Os programas corrigem a voz dos cantores, ajustam tom, tudo. Muita musica é montada toda com samples eletrônicos, a IA está pra todo lado dentro dos estudios, prinicpalmente nos plugins e na masterização. Os algoritmos estão espalhados por aí, definindo o que vão mostrar pra você nos streamings… Tá tudo dominado, mermão. Os grandes artistas são apenas maquinas de fazer dinheiro, um esquema bem planejado e que funciona. É uma industria.
Gretchen e Millie Vanilli
É um negócio, mano. Desde sempre que as gravadoras simplesmente escolhem o que vão lançar e PAGAM as radios para tocar o produto deles e vã repetir por dezenas de vezes, até esse produto se tornar palatável à massa. É simples não tem complicação de entender isso.
Desde sempre é assim, e chegou num ponto, onde um produtor simplesmente criava um sucesso como quem faz um nescau. Vamos pegar por exemplo, o Mister Sam.
Mister Sam era um Dj argentino e produtor de discos de samba, que lançou grandes sucessos no Brasil. Ele é creditado como inventor do “bunda music”. Ele simplesmente escrevia uma musica e daí ele saía em busca de quem ia tocar e quem ia cantar e ele ganhava o dinheiro no final. (e era muita grana) Foi assim que Mister Sam inventou a Gretchen e seu eterno “Melô do piri-piri”.
É uma musica com praticamente nada além de gemidos e umas frases soltas em francês e uma guitarrinha irritante em loop. Era uma desculpa para a Gretchen rebolar, claro. Tem quem veja “alma” nisso aí, mas eu vejo mais que isso, vejo um negócio altamente rentável. Se Mister Sam fosse fazer algo assim hoje, talvez ele estivesse focado em gerar uma gostosa de IA. Em vez de gastar dinheiro com uma banda, ele pagaria alguém para gerar a musica com sintetizadores ou mesmo IA e “pau na maquina” do mesmo jeito.
Outro exemplo de grupo musical metafísico é o Milli Vanilli.
Esses dois caras formaram uma dupla que chegou no topo das paradas e conquistou Grammy nos anos 1990 foi obrigada a devolver o prêmio após revelação de fraude.
Foi tambem uma ideia de Frank Farian, um produtor na linha do Mister Sam, que inventou a dupla e colocou dois caras sarados para fingir que cantavam com plauyback.
Esses dois eram como os bonequinhos de desenho animado do Gorillaz. Mas as pessoas ficaram putas quando a verdade veio à tona. Não eram eles que cantavam! Até então, tinha “alma”, tinha “molho” e tudo mais, só que depois da verdade exposta, sumiu a alma? Acabou o molho?
Minha impressão é que a música de Milli Vanilli segue sendo igual sempre foi, ao ponto deles levarem o Grammy de Melhor Artista Revelação em 1990. O problema reside na dimensão da fantasia. As pessoas não querem ter seu tapete de crenças puxado. Elas queriam acreditar que os bonitões cantavam.
A eterna discussão do que é arte
Esse treco todo volta e meia passa pela eterna discussão do que é arte. Desde o Urinol do Duchamp à banana na parede, vacas cortadas ao meio e coisas assim, as pessoas ficam debatendo o sexo dos anjos. Na musica, não seria diferente.
O que eu acho mais escroto em tudo é o cara que acha que ninguém pode ouvir funk porque ele gosta de Heavy Metal. É como o religioso que acha que o Deus dele é o certo.
A gente tem que abrir essa cabeça, né? O mundo já ta uma merda o suficiente pra tu ficar cagando regra.
Eu acho que se tem público, se alguém gostou e ta ouvindo, é arte. Foi criado com IA? Foi tocado na gaita? Foi batucado no cano ou foi peidado com a mão, tá valendo.
Eu também faço umas musiquinhas usando IA e meu sonho é que fosse fácil igual uma galera pensa que é.
Teve musica que passei uma semana lutando contra a IA, que queria fazer uma parada totalmente diferente do que eu idealizei. Agora as feramentas de IA permitem voce abrir a sua musica num painel e trabalhar as partes dela, você tem controle, mano. Não é aperte aqui e sai pronto (mas pode ser se o cara tiver preguiça).
Pelo menos no meu caso, eu como gosto de sarna pra me coçar, trabalho efetivamente escrevendo as letras, desmontando musicas, e remontando, e muitas vezes, eu TOCO a musica numa flauta de verdade, aqui no mundo real e depois transformo ela em outra coisa com a IA. E assim nasce uma musica.
Tem umas que saem facil, outras dão um trabalho do caralho! Tem um monte que vai pro lixo pq não consigo fazer ficar legal e jogo a toalha.
O medo do novo
O problema das pessoas com musica feita com IA envolve também o medo do novo.
Isso vai de ritmos (como as proibições ao rock nos tempos da brilhantina) e até mesmo aos instrumentos. Vamos lembrar que até o Gilberto Gil — que é um camarada de mente aberta — passou a vergonha de paticipar de passeata contra o uso da guitarra elétrica no Brasil. Ele mesmo diz que tem vergonha de ter feito isso.
Assim, gente querendo censurar musica, apenas porque não concordam que se use Inteligência artificial em sua criação não espanta. Já vi usarem as mais variadas desculpas pra se banir musica. É uma coisa velha, encardida na história.
Seja por motivos religiosos, políticos ou morais, as músicas que desafiam o status quo ou que de alguma forma interferem em certos interesses, são frequentemente silenciadas. A famosa rede de comunicação britânica BBC se recusou a tocar a música “God Save the Queen” da banda de punk rock Sex Pistols. Por um momento, os Estados Unidos proibiram faixas dos The Beatles; a China proibiu o K-Pop (ritmo pop sul-coreano) temendo sua influência global; já a Alemanha nazista proibiu o jazz na época e a ditadura militar do Brasil censurou 500 músicas entre 1964 e 1985.
Essas coisas são parte da vida. O preconceito contra a inovação é do jogo.
Mas até que ponto devemos nos preocupar?
Eu não sei você, mas eu me preocupo muito, o tempo todo estou preocupado, porque há de fato uma insegurança generalizada em todas as áreas. Na questão da IA na musica, o que eu vejo de problema não é uma banda com homenzinhos feitos no Chat Gpt, são as automações. Uma simples automação bem feita pode fazer um trilhão de musicas de todos os tipos e subir 24/7 para os streamings, estourando a banda de dados, superlotando e atolando todo o processo de indexação nos sistemas, e isso irá empurrar os produtores reais para uma periferia caótica.
Ah mas que sujeito chato sou eu que me espanto com sacanagem num mundo cheio de sacanas, hein?
A regulamentação do papai-Estado
Eu sempre pensei que o bom uso das tecnologias de inteligências artificiais deveriam estar ao alcance do ser humano, para serem usados pelo ser humano, num processo de criação como uma FERRAMENTA.
Mas se uma automação começa a controlar isso e gerar material procedural de forma descontrolada, acho bem problemático — e principalmente porque as pessoas com pensamento simplista colocarão tudo no mesmo saco. E outros, ainda mais desesperados, implorarão por uma “regulamentação do papai-Estado”, convenientemente ignorando o fato de que hoje o estado pode canetar a seu favor, mas ele pode ir contra você amanhã, quando o poder mudar de mãos.
Fora que o Estado não tem poder mágico, eles vão escolher alguém que certamente será aquele amigão do uisquinho e tapinha nas costas, pau mandado do partido, ariculado ideologicamente, para sentar numa cadeira e dizer o que pode e o que não pode sobre tudo envolvendo IA.
Aí o governo resolve botar um amigão desses, como foi o Mário Frias, aquele ator medíocre de novela das seis, o Ministro da cultura da gestão Bolsonaro, que vai decidir com base no que ele acha certo com sua visão de mundo.
Quem é que pode ter a prerrogativa de saber tudo sobre IA para apitar qualquer coisa? Até onde algo assim será bom? Não sei.
Eu não tenho uma resposta nem um caminho. De onde eu estou, eu só vejo merda no horizonte, desculpe, sou pessimista.
Mas de volta a questão do cara que prefere ouvir musica ruim provinda de gente do que musica boa feita com IA, (sem sequer entrar no mérito do que é bom e o que é ruim) acho que estamos vivendo um momento bem curioso.
Chegará um momento em que não saberemos se algo é real ou não. Diante disso surge uma questão que costumo pensar nela enquanto eu drijo pelas ruas de Nierói. Ela é: Existe um valor intrínseco da criação humana na arte?
A resposta imediata de 9 em cada dez pessoas a quem eu ja perguntei isso é “Sim”.
Mas será? Eu não estou certo disso, falando sério mesmo.
Claro que quando você pensa no artista, lá trabalhando ralando feito um feladaputa, quase que num comercial do Domecq a gente dá uma moral para a humanidade subjacente ao processo de criação e execução.
Mas será que isso muda de figura num “teste cego”? Esse talvez seja o ponto onde eu me vejo mais confuso atualmente. Se eu visse uma obra foda, sem ter a mínima noção se aquilo veio de um cara sozinho, criando num quarto de hotel ou um cara sozinho montado num supercomputador criando com uma IA que usa um dataset monstruoso, criado com bilhões de referências (guarda a sua carta da “arte roubada dos artistas” aí um minutinho, pq tem dataset feito com arte legalizada também) eu teria como julgá-la para algo além do “gostei-não gostei”?
Hoje há discussões sobre pessoas que param de gostar de livros porque descobriram que os autores eram verdadeiros cuzões, como o H.P. Lovecraft, e o acusado de ser abusador, Neil Gaiman.
Há os que separam o autor da obra. Você é desses?
Será que uma música, feita por exemplo num sintetizador Roland, capaz de emular vários instrumentos diferentes, tem menor valor que a mesma música feita numa sala de concertos com 70 musicos?
E se tiver, esse valor está implicito no produto artístico? Ou apenas na minha compreensão do produto, ou seja, o tal “valor artístico” está não no produto, na arte, mas no receptor?
Para um pintor de paisagens e retratos, a fotografia é um cheat produzido por uma máquina. A fotografia perde seu viés artistico por ser produzida com um instrumento? E o pincel, a tela, o aerografo, não são também instrumentos por acaso?
A musica tocada no radio tem menor valor que a musica tocada ao vivo?
Se uma orquestra pegar uma musica criada com IA e executar? Vira uma “lavagem qualitativa” (pergunto pq é claro que vai ter banda fazendo, ninguém é trouxa de achar que não). Esse gênio não volta mais pra dentro da garrafa. Lucar contra a IA é perda de tempo. É melhor gastar esse tempo aprendendo a usar de forma boa.
Eu fico pensando nessas coisas.
Talvez ainda seja muito cedo para formarmos uma compreensão equilibrada do contexto da tecnologia na nossa vida e na arte.
Ou pior, talvez já seja tarde.
Quem já acompanhou a evolução de bandas musicais, sabe que a identidade delas surge das diferenças de influências musicais de seus integrantes. E muitas vezes o estilo de um músico surge de inúmeros fatores casuais, como a solução de alguma limitação. Por exemplo, o guitarrista Tony Iommi (Black Sabbath) devido ter perdido a ponta do dedo, para maior conforto, teve que afrouxar as cordas de sua guitarra, diminuindo assim o tom, gerando uma sonoridade grave e sombria, que foi fundamental para a sonoridade de sua banda. Isso acontece também com guitarristas canhotos ao se adaptar a guitarras feitas para destros, ou novos integrantes que com sua influência nova, acaba por mudar a sonoridade e estilo da banda. A música produzida pela inteligência artificial, não passa por isso, pois isso só é natural em humanos — não há diferença de estilos na Gemini, Midjourney, Chat GPT, Grok, etc., mas apenas diferença de capacidade de dados. E sem as influências individuais, as IAs tenderão a deixar, a longo prazo, não apenas a música, mas a arte de modo geral, bastante padronizadas e nenhuma criatividade. É claro que isso será sentido apenas em longo prazo. Então, nesse sentido, a vivência pessoal, a influência individual e a solução de limitações físicas das pessoas, são geradoras de criatividade, acho que nesse sentido pode, sim, chamar isso de “alma”.
Mais ou menos. Eu concordo integralmente com você sobe determinadas condições, por exemplo, se todas as Ias do mercado usarem o mesmo dataset. Só que elas não usam. Cada uma usa seu proprio dataset. Alguns usam os mesmos, e tem umas que vc ate escolhe os datasets a serem usados. São os datasets que ensinam o modelo a fazer as coisas, então cada dataset deve gerar resultados diferentes, seja em imagens, seja em video, seja em musicas. Tinha até um desafio chamado “desafio do relógio” que era fazer um relogio de ponteiro nas Ias de desenho que não tivesse marcando dez e dez. O problema é que por padrão, a industria fotografica coloca relogios de ponteiro em dez e dez, porque os ponteiros formam um V deixando a área da marca do relogio, geralmente abaixo do 12 visivel e o dial fica equilibrado. Como os datasets foram formados com milhoes de imagens desse tipo as Ias acham que todo relogio vai marcar dez e dez, kkk.
Felizmente, hoje você pode por exemplo, treinar sua propria IA. Eu posso treinar a minha IA in house (desde que eu tenha energia eletrica para gastar e uma placa de video bem cavala), com o meu estilo, e então ela teoricamente vai me imitar, e replicar meu estilo unico no que eu quiser.
Nas IAs de musica, agora estão aparecendo tambem mais controles, como o controle de “estranheza”. Eu estava justamenete estudando ele agora, antes de abrir o blog aqui.
Precisei fazer quase trinta versões de uma mesma música, alterando os parametros de estranheza para entender o que ele faz efetivamente numa musica. O problema é que como ele é de estranheza, cada vez ele da uma espécie de variação randômica no que eu for usar, o que é bem interessante. Se eu jogar ele em 100% ele pira totalmente o modelo, alucina uns barulhos atá meio assustadores, e fica tipo o barulho bizarro que eu fiz no incio de “rio do tempo”. Me parece que esse controle foi introduzido justamente para quebrar uma tendência de homeostase dos modelos, como um seed jitter.
Eu entendo o seu ponto, sobretudo se os spiders começarem a criar novos datasets copiando-se mutuamente, tipo uns datasets que estavam sendo feitos copiando somente os resultados do midjourney, os caras da MJ chegaram a banir uma galera que eles descobriram copiando imagens la pra isso. O problema da copia da cópia é aquela merda que a gente conhece dos tempos do VHS, vai degradando o material. Há uma teoria de que esse incluisve deve ser a morte dos modelos de IA, quando eles começarem a se canibalizar, pq a longo prazo estima-se que 90% do conteúdo terá sido formado por dados gerados por Ias.
Mas como os modelos novos permitem que o usuario insira dados dele no processo de criação, acho que esse é o grande pulo do gato para trazer resultados mais criativos. (claro que estamos falando num usuario mais top. O maluco que só quer fazer qq bosta pra ver o que sai, clica no “gerar” sem mexer em parâmetro nenhum, é tipo plugin de photoshop. Se o cara for nos padrões de fabrica, vai sair igual a um trilhão de outras coisas iguais feitas com aquele plugin.)
Eu gosto de tentar induzir alucinações nos modelos para testá-los, os modelos novos do suno, como o 4 e o 4,5 tem alucinado muito pouco e isso é meio triste. Eu lembro que de vez em quando eles davam umas loucuras que eram tão legais ate me inspiravam a criar outras coisas com as alucinadas que eles davam. Eu devia ter juntado esses bugs numa pasta só de alucinações; a versão 2 a cada duas gerações ela metia umas doideiras totalmente emaconhadas, hahahaha.
Uma coisa que eu acho que falta fazer nessa área é justamente induzir microvariações que quebrem a uniformidade. Tipo todo tarol de bateria soará da mesma forma, quando no mundo real, cada porrada que a baqueta da notarol resultará numa onda ligeiramente diferente da outra quando comparadas. A baixa quantidade de referênicas num dataset é capaz de gerar uma “uniformidade” que é tipo o problema dos sintetizadores mais antigos, que não tinham ainda o controle de intensidade na tecla. Todo dó de piano era o mesmo dó. Todo violino soava igual.
As IAs vieram até aqui tentando trazer ou imitar uma suposta perfeição, mas o realismo propriamente dito, é imperfeito. Acho que a busca de um certo grau de imperfeição será um fator importante nas ias generativas na próxima geração.