Brasil, país do futebol

Ano de copa é assim. Volta e meia, numa conversa surge o assunto. Quartas de final, escalações, copas passadas. O que cada um fazia na conquista da copa e tal.
Porra, eu ODEIO futebol. Assito apenas a copa do mundo, e ainda assim, só mesmo a finalíssima ou as últimas antes da final pra não vestir a carapuça de chato.
Pensando sobre isso, eu me lembrei do dia em que joguei bola pela primeira vez na vida. Meus pais nunca foram muito de gostar de futebol. Minha mãe não liga muito, meu pai liga muito pouco. Resultado, aprendi o futebol de criancinha, aquele que chutou é gol – bata a bola onde bater.
Naquele dia, que ficou marcado pra toda a eternidade na minha memória, como um registro indelével de minha inaptidão futebolística, eu acabava de chegar de um coleginho muito do legal onde era super paparicado pela “tia”.
Meus pais me colocaram num colégio Jesuíta que tinha toda aquela estrutura radical-católica-mussolinesca de cantar o hino nacional todo dia, só se dirigir ao professor quando solicitado e recolher-se a própria insignificância todos os dias, quando na imensidão opressora do colégio antigo, você se via só. Sem amigos.
Mas o pior de tudo era a educação física. Logo de cara era uma caminhada no meio de uma mata em direção a um campo que havia no morro atrás da escola.
Chegando lá, eu já botando o coração pela boca, o professor pega uma bola, mete o apito na boca e grita: – Vai! – prííííí…
Saí que nem um maluco e de cara peguei a bola.
Rapidamente tentei olhar para trás e ouvi o que pareceu uma centena de moleques gritando: – Passa pra mim, pra mim! – E eu não via absolutamente ninguém, apenas uma turba enfurecida de uns quarenta garotos, quase todos maiores que eu a correr pra cima de mim. O cagaço me fez correr mais rápido ainda e quando vi, estava cara a cara com o gol. Fechei o olho e meti o bico. Lembro que ainda virei e vi a multidão chegando. De soslaio notei que a bola entrou no ângulo, encobrindo o indefeso goleiro. GOL!
Voltei-me a correr para o abraço, pronto para ser saudado pelos amigos pelo gol de placa. É, eu estava feliz. Nascia ali mais um craque. Eu vim de braços abertos para encontrar meus companheiros, imitando o que via na Tv, naquelas propagandas do Pelé e do Tênis Kichute, quando um bico bem no meio do saco me trouxe para a realidade.
Kichute. Tinha sido gol contra.
Eu descobri ali para quê serviam aquelas porras de desenhos malucos em baixo do kichute. Era pra moer os bagos do infeliz que estivesse na frente.
Caí na hora querendo vomitar de dor e senti ainda duas pedaladas de deixar a família Grace com inveja nas minhas costas. Em um minuto eu estava sendo chutado por um bando de moleques filhos da puta. O professor correu no meio e me tirou daquela selvageria. Lembro que fui levantado feito um pedaço de carne de açougue. Todo fodido e ainda levei o maior esporro do professor. Ele me esculhambou dizendo que eu não sabia jogar futebol. – O que deveria ser uma ofensa grave para alguém de sete anos, onde todos da sua idade creditam sua masculinidade em seu potencial com a bola.
Pra mim, a regra era uma só: Pega a bola e chuta no gol. Todo gol é gol. Não sei porque o futebol até hoje não é assim. Seria BEM mais divertido. Se eu sou Brasil e chuto na rede mais próxima, é gol do Brasil, ué. Gol contra pra mim foi a novidade mais estapafúrdia e dolorida que poderia haver num jogo com duas traves.
Não mais joguei bola.

Receba o melhor do nosso conteúdo

Cadastre-se, é GRÁTIS!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade

Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
Previous article
Next article

Artigos similares

Comentários

  1. Isso me lembra eu e o Paulo Jr no Salesianos. A bola vinha e nós socávamos a bola, no melhor estilo de treinamento shaolin. Aí me colocavam como goleiro, e o maior objetivo era bicar a bola o mais longe possível para adiar o sofrimento. =)

  2. Comigo aconteceu algo parecido… em colégio religioso, com 7 anos de idade, minha primeira aula de Ed. Fisica. A professora monta dois times, eu nao conhecia ninguem… e era o mais gordo (fui o ultimo a ser escolhido.. logico). Alguem manda a bola, eu a pego com as MAOS e saio correndo…

    desse dia em diante eu só joguei cartas…

  3. Pois é. Depois dizem que brasileiro tem futebol e samba nas veias. Eu vou te dizer. Jogo futebol mal pra caralho, mas se tem uma coisa que definitivamente eu não sei fazer é sambar.

  4. Philip vc teve sorte que foi só um gol contra! eu tinha a ”sorte” da bola bater em mim e ir no gol, sme falar que eu era ”alvo” dos carrinhos e da falta, até falavam que quem me acertar ganhava ponto..

  5. Rapaz,
    Eu ODEIO futebol. Mas odeio da maneira mais radical-xiita possível. Não assisto nenhum jogo, não torço para time nenhum e ja pedi para trabalhar no horário do jogo da Copa do Mundo quando todos saiam mais cedo para compansar no outro dia.
    Eu acho o futebol um esporte até saudável. O maior problema é a adoração fanática e desmedida para com uns caras que não te conhecem e não estão nem aí para você que trocam de time quando o outro lado balança um contra-cheque maior e que ganham salários que mais parecem mega-senas mensais. Experimente multiplicar o salario dos 22 em campo, mais os reservas e divide pelo número de torcedores na final que você vai dar um valor unitário para cada um maior que o salario do mês de muito profissional gabaritado com diploma e pós e o povo que o idolatra mal ganha uma miséria de salário para sobreviver, passa fome.
    Tái desabafei. E continuo ODIANDO futebol.
    Vanderson

      • Concordo com o colega. Odeio Futebol e tudo que representa. O engraçado é que quem odeia futebol e boiola, mas que adora jogador é o que ? Isso se cham homossexualidade latente. Saiam do armario torcedores, o preconceito contra homossexuais não está tão ferrenho.

        Cordialmente

          • Pois é. A idéia de que homem que não gosta de futebol é viado é tão tosca quanto antiga. Mas se isso fosse verdade, o futebol não seria um antro de viados como é. Basta olhar no youtube o monte de cenas de homossexualismo entre jogadores em pleno campo. Pegadas na bunda, apalpamentos penianos, agarração. Quem não se lembra do famoso caso do travesti Lafond, que tinha um caso há anos com um famoso jogador de futebol?
            Então, o fato é: O futebol não cria nem deixa de criar um gay. Existem gays em todas as áreas, cujo senso comum em sua completa ignorância acredita ser reduto hetero, do exército ao futebol. O gosto esportivo da pessoa não é tão determinante de sua condição sexual ou desejos enrustidos quanto o ato de apontar o dedo e dizer que beltrano e gay, ciclano é bicha. Basta entender um pouco do mecanismo chamado “projeção”.

  6. caramba philip eu amo futebol sendo do meu time ou nao assisto todos , ha mas nao gosto de jogo feminino ,mas eu nao so maria chuteira :P ha sou flamenguista

  7. Eu odeio futebol , se quiserem me torturar basta me fazer assistir uma propaganda da tal desgraça , eu dou azia , dor no estomago , até vomito as vezes , quando la em casa meu pai e minha mãe assistem , e os jogadores idiotas ganham pelas costas da gente com os impostos pagos , Nossa Senhora . Na quarta feira , o dia da desgraça na globo , esse pessoal fica la na frente de casa soltando foguete , tarde da noite , se eu soltasse foguete na frente da casa deles eles não iriam gostar , então se os tais querem respeito por que não respeitam os outros , eu respeitava , mas agora !?!?!

  8. Philippe, eu curto muito futebol, mas também acho que há uma idolatria e ufanismo exagerados. Há muitos jogadores que ganham muito bem e não estão nem aí para o espetáculo, e alguns torcedores que literalmente se matam por nada.

    Mas para mim o futebol ainda não perdeu a magia.

    Abraços.

  9. eu tambem odeio futball, mas nao por ser nerd ou boiola
    ps.: Callori, prefiro ser nerd do que um retardado mental

    eu odeio futball, porque sou basketeiro, tambem nao tem nada a ver, tem muitos basketeiros que gostam de futball, mas para min, de esporte só existe o basket e mais nem um.

  10. eu ñ gosto de futebol, mas tenho nada contra. Eu sou flamenguista de momentos importantes, tipo a final do ano passado, eu gritei, xinguei o juiz, xinguei os jogadores adversários, mas ñ me interesso por futebol muito ñ. Meu Pai é louco por futebol, minha Mãe tbm gosta. Mas se é verdade q todo brasileiro tem futebol e samba na veia, então eu ñ sou brasileiro.

  11. tbm nao gosto de futebol,nao vejo essa graça toda que o povo ve,e sempre fui pessimo ao joga,sempre fui excluido na hora q se montavam um time na hora da educação fisica

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Últimos artigos

O dia em que eu me caguei 2

141
Todo mundo já se cagou na vida, é verdade. Difícil é achar por aí uma pessoa que nunca tenha enchido a fralda da mais natural das massas de escultura. Porém, a ampla maioria das pessoas...

Quando minha casa ficou mal assombrada

34
A sensação que eu já não tinha fazia tempo, de uma presença me olhando voltou com força total. Eu sentia a coisa me olhando no escritório. Vultos da visão periférica começaram a ficar mais e mais comuns. Eu até já estava me acostumando, mas a coisa foi num crescendo....

A brincadeira do copo e minha primeira experiência sobrenatural

480
Coisas estranhas acontecem. Já aconteceram com você? Comigo já...

Estou reCUperado! Voltando a ativa!!! Descubra porque eu sumi.

34
Copérnico estava errado. A terra não gira ao redor do sol. O universo gira ao redor do nosso cu. O cu, como eu disse ao Hermínio outro dia, é o centro nevrálgico da nossa existência. O cu é o fiel da balança da realidade. Basta algo dar errado no seu cu que você verá que o mundo perde completamente o sentido. O cu é o centro do universo e algo me diz que o tal buraco negro é o grande cu cósmico ao redor do qual tudo que existe gira.

Minha mãe, o Freddy Krueger

81
Quando eu era mais novo, na escola, rolou uma atividade da aula de artes que era fazer um comercial. Os alunos tinham que criar um produto e em seguida, criar uma propaganda para ilustrar...