Dando segmento aos posts sobre grandes artistas da ilustração na era de ouro dessa arte tão nobre, temos Dean Cornwell sob nossa lupa.
Dean Cornwell foi um brilhante pintor canhoto que dominou o campo da ilustração por muitos anos. Como aluno de Harvey Dunn, herdou muitos dos ensinamentos de Howard Pyle e, posteriormente, estudou com Frank Brangwyn, o muralista britânico. A essas influências, Cornwell adicionou seu próprio estilo monumental, intrincado e ousado.
Quem foi Dean Cornwell?
Cornwell foi um trabalhador incansável que realizou inúmeros estudos preliminares e ensaios antes de tentar uma pintura final a óleo. Esses desenhos despertam grande interesse por si só, pela beleza de sua execução.
Prolífico e muito requisitado, ilustrou para uma ampla variedade de revistas e anunciantes, mas também encontrou tempo para pintar muitos murais importantes. Entre eles, destacam-se os da Biblioteca Pública de Los Angeles. O mural da General Motors na Feira Mundial de 1939, em Nova York. O Prédio de Escritórios do Estado do Tennessee, o edifício da Eastern Airlines no Rockefeller Center e a Sala Raleigh do Hotel Warwick, em Nova York.
Dean foi presidente da Sociedade de Ilustradores de 1922 a 1926 e foi eleito para o Hall da Fama em 1959. Ele ensinou ilustração na Art Students League em Nova York e, por exemplo, criou uma “Cornwell School”.
Baba aí no trabalho o gênio:
Primeiros Anos e Formação
Nascido em Louisville, Kentucky, Cornwell cresceu fascinado pelos desenhos técnicos de seu pai, Charles L. Cornwell, um engenheiro civil. Essa influência inicial despertou seu interesse pelo desenho, levando-o a iniciar sua carreira como cartunista aos 18 anos no Louisville Herald. Mais tarde, ele se mudou para Chicago, onde estudou no Art Institute e trabalhou no departamento de arte do Chicago Tribune. Em 1915, Cornwell seguiu para Nova York, estabelecendo-se em New Rochelle, uma conhecida colônia de artistas, e estudou na Art Students League sob a tutela de Harvey Dunn, um discípulo de Howard Pyle. Dunn foi fundamental para moldar o estilo de Cornwell, que mais tarde evoluiu para uma abordagem distinta, marcada por traços ousados e uma rica paleta de cores.
Em 1927, Cornwell viajou para Londres para estudar pintura mural com o renomado artista britânico Frank Brangwyn. Essa experiência ampliou sua visão artística, consolidando sua paixão por murais como uma forma de expressão mais permanente em comparação com a efemeridade da ilustração de revistas.
Carreira como Ilustrador
Cornwell alcançou fama por suas ilustrações em revistas de grande circulação, como Cosmopolitan, Harper’s Bazaar, Redbook, Good Housekeeping e The Saturday Evening Post. Ele ilustrou obras de autores renomados, incluindo Pearl S. Buck, Ernest Hemingway, Edna Ferber e W. Somerset Maugham, capturando a essência de suas histórias com imagens dramáticas e detalhadas. Sua habilidade em retratar figuras humanas com realismo e emoção, muitas vezes em cenas domésticas ou históricas, o tornou altamente requisitado. Um exemplo notável é sua ilustração para um conto de Clarence Budington Kelland em 1917, publicada na The Saturday Evening Post, que retrata uma cena doméstica com detalhes meticulosos, como o tecido estampado de um sofá, destacando seu domínio técnico.
Além das revistas, Cornwell trabalhou extensivamente em publicidade, criando imagens para marcas como Coca-Cola, Palmolive, Goodyear e General Motors. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele produziu cartazes patrióticos e ilustrações para a The American Weekly, incluindo séries como “Dean Cornwell Paints the Holyland” e “Dean Cornwell Paints the Missions”. Sua versatilidade também se estendeu a retratos, com trabalhos para figuras proeminentes como o presidente Calvin Coolidge e a atriz Mary Pickford.
Em 1926, Cornwell assinou um contrato com a Cosmopolitan por um salário anual de US$ 100.000, uma quantia extraordinária para a época, consolidando sua posição como uma das maiores estrelas da ilustração. Sua ética de trabalho era lendária: ele frequentemente trabalhava 17 horas por dia, sete dias por semana, produzindo inúmeras pinturas e estudos preliminares de grande qualidade.
O Legado dos Murais
Embora fosse um ilustrador prolífico, Cornwell considerava a pintura mural sua verdadeira vocação, pois acreditava que ela garantiria sua “imortalidade artística”. Em 1927, ele venceu uma competição para pintar murais na rotunda da Biblioteca Pública de Los Angeles, retratando a história da Califórnia. O projeto, concluído em 1933, consistiu em quatro grandes painéis a óleo, com 40 pés de largura, e oito murais menores, totalizando mais de 300 figuras. Esse trabalho monumental, que custou US$ 50.000, foi amplamente admirado e visto por milhões de pessoas.
Outros murais notáveis incluem aqueles no Lincoln Memorial Shrine em Redlands, Califórnia, no Eastern Airlines Building (atual 10 Rockefeller Plaza), no Warwick New York Hotel, no General Motors Building na Feira Mundial de 1939, e no Centro William Rappard em Genebra, Suíza. Cornwell também criou murais para o Projeto de Arte Federal em duas agências dos correios em Chapel Hill e Morganton, Carolina do Norte, além de outros em edifícios públicos em Tennessee e Boston.
Estilo e Influência
Cornwell era conhecido por seu estilo monumental, que combinava a influência do Art Nouveau com uma abordagem figurativa ousada. Sua habilidade em usar luz e sombra para criar profundidade e emoção era incomparável, e seus estudos preliminares, muitas vezes em carvão ou lápis, eram tão apreciados quanto suas pinturas finais por sua qualidade de desenho. Ele desenvolveu um estilo próprio, descrito como “intrincado e ousado”, que influenciou ilustradores como Norman Rockwell, Joseph Christian Leyendecker e John Falter.
Apesar de sua popularidade, Cornwell per
maneceu fiel ao realismo figurativo em uma era em que o abstracionismo ganhava força, o que pode ter contribuído para sua relativa subvalorização hoje. No entanto, sua influência no campo da ilustração é inegável, e ele foi mentor de muitos artistas na Art Students League, onde também lecionou.
Vida Pessoal e Reconhecimentos
Cornwell casou-se com Mildred Kirkham em 1918, com quem teve dois filhos. No entanto, o casamento foi marcado por dificuldades, e o casal viveu separado a partir de 1935, embora nunca tenha se divorciado.
Ele foi presidente da Society of Illustrators de 1922 a 1926 e da National Society of Mural Painters de 1953 a 1957. Em 1934, foi eleito Acadêmico Associado da National Academy of Design, tornando-se Acadêmico pleno em 1940. Em 1959, foi introduzido no Hall da Fama da Society of Illustrators. Sua pintura Washing the Savior’s Feet (1928), originalmente criada para a Good Housekeeping, foi exibida na Royal Academy da Grã-Bretanha, um raro reconhecimento para um ilustrador americano.
Legado
Dean Cornwell faleceu em 4 de dezembro de 1960, em Nova York. Suas obras continuam sendo valorizadas por colecionadores e estão presentes em galerias e museus ao redor do mundo. Embora a ascensão da televisão tenha diminuído a popularidade das ilustrações de revistas após a Segunda Guerra Mundial, o impacto de Cornwell na arte americana permanece. Ele não apenas dominou a ilustração comercial, mas também elevou a pintura mural a um novo patamar, deixando um legado que combina técnica impecável, narrativa visual e uma dedicação incansável à arte.