5 Bons motivos para ir ao cinema

Existem muitos motivos que podem levar uma pessoa a entrar num cinema.

MOTIVO 1 – A perseguição.

Você está andando pela rua e começa a notar que existe uma pessoa te seguindo. Você entra em ruas, becos, lojas e avenidas tentando procurar um jeito de se desvencilhar da pessoa. Mas não tem jeito. A pessoa continua a ir justamente onde você vai. Os olhos fixos em você. A expressão vazia. Será um tarado? Será um maníaco? Será um desafeto antigo dos tempos da escola?

Você segue pensando para onde deve ir e se questiona se aquilo tudo não passa de apenas uma mórbida coincidência. Então você atravessa uma longa galeria a passos largos e no reflexo de uma vitrine espelhada, vê seu perseguidor à distância. Já do outro lado da galeria, você vira a esquerda e se depara com um cinema. Você não sabe que filme está passando, mas sabe que este é o único refúgio seguro. Você paga o ingresso jogando suas notas de qualquer maneira pelo vidro. A moça leva um milhão de anos para destacar o tíquete enquanto você sente a respiração ficar fraca a cada nova pisada daquela estranha figura no corredor da galeria. Em poucos segundos ele chegará ao final e olhará para o lado.

A moça te entrega o tíquete e você corre em desespero para a entrada daquele cinema. Lá dentro, tudo está escuro e os trailers começaram. Você força os olhos para encontrar algo mínimamente visível e tão logo encontra um lugar vazio entre dois casais, é lá que você afobadamente se enfia, torcendo para que numa cena clara, consiga distinguir aquela silhueta que acabou de adentrar o cinema. Será ele?

MOTIVO 2 – Atração fatal

Você está atrasado para aquele maldito curso de inglês. Aperta insistentemente o botão do elevador como se isso fizesse alguma diferença. Quando finalmente soa o sininho e a luz da seta do “desce” ilumina o corredor, você se depara com a mulher mais linda que já viu na vida. Ela abre um belo sorriso e você não consegue tirar os olhos daqueles maravilhosos seios que despontam sensualmente sob o vestido vermelho decotado. Ela pergunta seu nome. Você envergonhado responde, e meio afoito, busca saber o nome dela. “Sabrina”, ela diz, seguindo-se de um “muito prazer” que lhe parece bem mais convidativo do que nunca. A mulher tem um perfume maravilhoso e inebriante e tão logo você percebe, ela está olhando ávida para seus lábios. Você não sabe o que fazer. O elevador chega ao térreo e a porta se abre. Ois dois saem meio sem graça. Ela olha pra você como que lançando a última bóia, a última chance de salvação daquele encontro atípico em sua vida medíocre.

Você não tem tempo de pensar.

“- Quer ir ao cinema comigo?” Pergunta.

Ela apenas acena com a cabeça e desliza o braço suavemente ao redor do seu. Vocês dois atravessama rua. Suando frio, você paga duas entradas e adentra o templo da escuridão, para o início dos dias mais memoráveis da sua vida.

Motivo 3 – Contra-informação

Você está parado naquele poste durante vários minutos. Olha de um lado para o outro em busca de um sinal. O frio inverno russo faz doer cada osso do seu corpo, apesar do casaco de pele. Você acende um cigarro. Aquele mesmo cigarro que jurou que não ia mais fumar. A fumaça aquecida desce por sua garganta rumo aos pulmões. Um carro passa e pisca o farol. Você olha para ele. Lá dentro está um velho senhor. Ele passa por você olhando sério. Não há nenhum movimento. Nem sorriso, nem aceno coma cabeça. Apenas o olhar frio. O homem estaciona o carro e desce. Você está dando sua última tragada naquela guimba amassada enquanto o velho anda com a bengala na direção do cinema. Ele entra.

Você joga a guimba na lixeira e atravessa a rua. Compra uma entrada e e fica esperando uma cena clara. Quando ela finalmente acontece, você vê o velho parado lá atrás, nas últimas fileiras de um cinema quase totalmente vazio. Você caminha até ele e senta ao lado.

– Você trouxe a pipoca? Pergunta o velho aos sussurros. Em vez de responder, você pergunta ao velho se ele trouxe o drops. O velho pega a bengala e acionando um botão discreto. Ela se abre, separando-se em duas partes e revelando um compartimento secreto. Dali ele retira um microfilme e passa pra você. Você enfia a mão no casaco e retira um maço de notas russas. Entrega ao velho. Vocês se cumprimentam. O velho levanta e sai.

Você sorri sabendo que evitou a terceira guerra mundial.

MOTIVO 4 – Caça ao oculto

Depois de viver dez anos com uma bolsa de professor universitário, você se vê desesperadamente demitido. A universidade optou por alguém de maior renome e mais jovem que você. Talvez o fato de você lecionar parapsicologia, um assunto incômodo para uma universidade tão tradicional e respeitável tenha contribuído para sua demissão. Sem dinheiro, sem perspectiva, só lhe resta ligar para seus três colegas e marcar de afogar as mágoas no uísque.

Os quatro estão num pub, na maior fossa, quando um deles tem a brilhante ideia de criar uma empresa. Uma empresa de extermínio de radiações ectoplásmicas. Você sorri achando aquela ideia louca, mas concorda. Dias depois, vocês já tem um carro adaptado com sirene ridícula, uma sede caindo aos pedaços e roupas estranhas. Sem falar naquele comercial bobo na TV. Seu primeiro chamado é para investigar um estranho fenômeno num antigo teatro, agora transformado em cinema. Você pega os aceleradores fotônicos e sai do carro. Bem à sua frente está um cinema abandonado. Vocês quatro se entreolham, colocam uma mão sobre a outra e gritam: CAÇA FANTASMAS! Os quatro correm para dentro do cinema em busca de diversão. Segue-se um enorme pandemônio. Em poucos minutos, os três saem de lá segurando um equipamento fumegante. O que resta do cinema são apenas escombros queimados. Mas são escombros limpos de fantasmas, você argumenta.

MOTIVO 5 – Um filme bom

Você está em casa, ou numa lan house, ou na biblioteca da faculdade, ou ainda no trabalho. Você está em busca de algo diferente. Entra no navegador onde digita como sempre faz: www.mundogump.com.br

Tão logo você faz isso, a página é carregada e você vê um tópico escrito “5 Bons motivos para ir no cinema”.

O texto é grande, mas você resolve ler mesmo assim, esperando que seja mais uma daquelas aventuras palhaças do dono do blog. Mas o estranho é que são pequenos contos, pequenas histórias curtas sobre pessoas em diferentes épocas e lugares que vão ao cinema. Você não entende a razão daquilo até que chega no quinto motivo e se surpreende com o fato de que o quinto motivo está falando de você. Você não compreende direito o que se passa, mas mesmo assim continua lendo, tentando encontrar algum elo que faça tudo aquilo ali fazer sentido.

A verdade é que essas cinco histórias não fazem sentido. Essas cinco histórias são apenas uma maneira louca de convidar você para ir ao cinema, ver um filme bem legal chamado “5 Frações de uma quase história”.

Este filme, não tem nada, absolutamente nada a ver com as 5 histórias deste post, além do fato de que realmente se tratam de 5 histórias que ocorrem paralelas e em um certo momento se cruzam.

5 Frações de uma quase história é um filme de Armando Mendz, Cristiano Abud, Cris Azzi, Guilherme Fiúza, Lucas Gontijo e Thales Bahia. São cinco delas, cada uma dirigida e atuada por pessoas diferentes, mas que conseguem manter uma unidade em meio a tantas diferenças.

Neste filme Gump por natureza, que está sendo divulgado quase totalmente pelos blogs, veremos um fotógrafo obcecado por pés femininos; um homem que se projeta em situações vistas na tv; um apático funcionário público que recebe uma proposta de um juiz corrupto; um trabalhador de um matadouro com o casamento em crise e uma secretária desiludida no amor que sonha em se casar. Estas cinco personagens terão suas vidas modificadas a partir de um quente final de semana.

Além do filme ser nacional, ser muito doido e ter 6 diretores, outro bom motivo para você ir ao cinema ver este filme é que é o último trabalho do Jece Valadão e você sabe que o rei dos cafajestes merece este reconhecimento pelo conjunto da obra: Jece Valadão foi um dos grandes ícones do cinema nacional, tendo produzido, escrito ou atuado em mais de 106 filmes, como os clássicos Rio 40 Graus de Nelson Pereira dos Santos, Os Cafajestes de Ruy Guerra e Navalha na Carne de Braz Chediack. 5 Frações de Uma Quase História foi o seu último filme completo, onde ele fez o papel de Juiz Fortunato. “5 Frações de uma quase história” é o primeiro longa-metragem realizado pela produtora mineira Camisa Listrada. Vale muito a pena dar uma olhada.

Resumindo, “5 Frações de uma quase história” são 5 bons motivos para você ir ao cinema.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Rsrrsrsrs, adorei o 5º motivo. Já tinha lido sobre esse filme no Yahoo, mas duvido muito que chegue aqui em Natal – RN. :/

    Enfim, verei um dia. =D

  2. PQP, eu não duvido que o filme valha menos a pena do que ter lido os motivos para assisti-lo. MUITO criativo, parabéns mesmo!!!!

  3. Ah… Aproveitando a deixa, um filme excelente – de fato, um dos melhores que assisti em minha vida – é um que não vai passar nunca no cinema: “The Man From Earth”. Busquem em sítios P2P (*) ou encomendem o DVD dos EUA, é muito bom.

    (*) O diretor do filme já disse que não liga “muito” se baixarem o filme de graça, mas é sempre bom dar uma ajudinha financeira, né?

  4. Quando começei a ler, achei que era mais um de seus contos Philipe, tu me engano. :P

    Isso que eu chamo de propaganda publicitária…

  5. Não deixa de ser, né? São 5 pequenos contos meus mesmo. A propaganda vem só depois.
    Achei boa idéia esse lance de filme com um monte de diretor.

    Falando em propaganda publicitária, ontem a noite eu estava assistindo a uma baixaria entre uma noiva (a mulher tava usando o vestido de noiva!) abandonada no altar e um sujeito com a maior cara de 171 quando eles revelaram a verdade de que eram atores participando de uma pegadinha nacional para divulgar um filme. Detalhe que a noiva, (uma loura linda que havia sido desvirginada pelo cara) tinha um blog com mais de 100.000 acessos de gente querendo “confortar ela”. Ela andava pelas ruas de BH usando o vestido do casamento e distribuindo panfletos com ofensas ao cara e contando a história dela para quem quisesse ouvir.Eu achei aquilo tão maluco que quase coloquei no Mundo Gump. A história bizarra da gata que havia sido abandonada no altar pelo noivo safadão com nome no SPC ganhou destaque em revistas e jornais. Ela deu dezenas de entrevistas. Eles foram até no programa da Marcia Goldshmith. Enganaram todo mundo.
    Morri de rir ao notar que era justamente este filme aí que eles estavam divulgando. Marketing de guerrilha.

  6. eu quero muito ver esse filme, adoro o leonardo medeiros. você tocou no assunto filme com vários diretores, já viu ‘paris, je t’aime’ ou ‘bem-vindo a são paulo’? se bem que no caso do último, é um documentário.

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