O segredo do Raiden

Quando me virei e dei de cara com aquele homem que habitou anos os meus pesadelos mais sombrios, eu simplesmente não sabia o que fazer. E diante disso, quando notei que ele estava vindo em minha direção eu apenas larguei o copo de champanhe na mão da prima Lucrécia e saí correndo desesperado. Saltei pelas escadas, tentando chegar no salão cheio de convidados esnobes.
Enquanto eu corria, comecei a sentir uma tontura. Achei que estava tendo uma crise de pânico, mas não. Minha cabeça parecia que ia explodir mesmo, e eu me senti fraco. Era como se todas as minhas forças estivessem se esvaindo, sendo drenadas num vácuo. Caí no chão, tentando me apoiar. Me estabaquei vergonhosamente ao final das escadas, bem no meio da multidão da vernissage. Foi quando eu então notei algo que me apavorou ainda mais: Ninguém estava reagindo.

Ninguém se virou, ninguém se abaixou, ninguém tentou me ajudar. Estavam todos como que em um tipo de transe. Olhei para as escadas e vi o homem de terno apontar lá em cima. O velho estava vindo. As mãos nos bolsos do smoking, o óculos escuro antiquado. Os cabelos imaculadamente brancos penteados para trás. Vinha calmamente, sem afobação, como um leopardo que se aproxima da presa fácil.
Eu sabia que precisava escapar. Me levantei com grande esforço e dei mais dois passos, mas veio a tremedeira, nenhum músculo meu parecia sob meu comando. A respiração era difícil, tudo temia. Senti minhas costas tremendo e meus rins doíam horrivelmente. O velho começou a lenta descida das escadas. Quanto mais perto ele chegava mais fraco eu ficava. Começou a apagar a visão…
Então alguém me agarrou. Eu estava a ponto de perder os sentidos, mas alguém me agarrou e me jogou nas costas como se eu fosse um saco de batatas. Senti a pessoa correndo comigo, em grande solavancos. Fui jogado num tipo de tablado algo assim que fez um barulhão, mas eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo, porque tudo rodava, eu parecia drogado. A tontura começou a passar em alguns minutos e eu parei de tremer num instante para o outro. Vi que estava na caçamba duma caminhonete antiga e enferrujada. Um homem cabeludo olhou pelo vidro.
-Segura firme aí maluco!
A caminhonete disparou fazendo verdadeiras barbaridades no trânsito da cidade. Até finalmente chegar num trecho muito arborizado e deserto do Aterro do Flamengo. Ele encostou a caminhonete e eu tentei descer.
-Opa, opa, calmaí Markun! – Ele disse, estendendo a mão pra me ajudar a descer. Era um homem cheio de tatuagens no pescoço, óculos redondinho de lentes coloridas, cara de maluco hippie. Era quase um cover do Raul Seixas. vestia uma jaqueta jeans suja e surrada e calças militares com coturno. Nos braços, dezenas de pulseiras, algumas de tecido, outras de borracha, metal, enfim… Parecia uma árvore de natal do Arembepe.
-Obrigado. – Era tudo que eu podia dizer.
-Tu não ta me reconhecendo mesmo, né meu chapa? – Ele disse. A voz não me era estranha realmente mas… -Mosquito?
-Aê! Achei que tu não lembrava mais dos velhos amigos.
-Mas você está tão… diferente.
-Porra a gente não se vê há uns trinta anos, Gui. – Ele disse. Eu concordei com a cabeça em silêncio.
– Cara, eu encontrei o fininho. Ele disse que tu sumiu. O povo fala que sumiram contigo. Que te mataram. Que vc falou no programa da radio sobre o Raiden. Até deu inquérito policial e tudo.
-Relaxa bicho. A história é longa, mais eu vou te contar. Vem, vamos dar uma andada que aqui o bicho pega.
Saí andando ao lado daquele cara e ele começou a me contar as coisas. Finalmente eu comecei a entender realmente a merda em que estava metido.

-Vamos por partes. – Ele disse calmamente, acendendo um cigarro de palha. – Durante anos os acontecimentos daquele dia na escola me assombraram. Eu cresci com aquilo na cabeça. Eu não conseguia esquecer, porque eu fiquei metade da minha vida achando que a merda daquilo tudo era culpa minha. E então na adolescência, eu resolvi tentar entender melhor aquilo tudo, ou eu ia pirar, tá ligado?
-E o que você fez?
-Ah, meu amigo Gui. Eu fiz muita coisa. Muita coisa mesmo. Mas uma das principais coisas foi conseguir o caderno do Raiden.
-O caderno? Você conseguiu pegar o caderno?
-Consegui. O caderno ficou anos naquele telhado, mas um dia eu fui lá, escalei o muro do colégio, me pendurei de tudo que foi jeito, quase morri, porque era de noite, mas eu consegui o caderno e guardei comigo. Durante anos eu estudei o que havia naquele caderno, no inicio não fazia sentido, mas eu fui estudando, estudando cada vez mais, cara… E bicho… Tu vai ter que me fazer uma promessa. Aliás, um juramento.
-Juramento?
-Jura que tu nunca vai contar pra ninguém o que eu vou te dizer aqui e outra, que tu vai acreditar que eu não sou retardado maluco. Vai parecer onda de quem tomou chazinho de cogumelo o que eu vou te falar, Gui.
-Depois daquilo lá na vernissage do marido da minha prima…
-Promete e jura? – Ele me interrompeu.
-Prometo e juro! – Eu exclamei, decidido.
-Eu saí da cidade porque comecei a pesquisar, investigar, perguntei aqui e ali, fui montando o quebra-cabeças. Com o caderno em mãos, consegui lentamente entender algumas coisas, mas quem realmente me ajudou foi um cara que… veja você como são as coisas, Gui. Eu tinha aquele programa, do mosquitinho atômico na radio da cidade e toda sexta feira rolava uns quarenta minutos onde eu tocava sempre algo novo, algo desconhecido. Então eu viajava muito, flava com muita gente, colecionadores de vinil, caras que eram amigos do Big Boy e o caralho, tem uns coroas, o lance de compra e venda de Lps usados está voltando com força total, mas no tempo do Cd era um underground do caramba. Achar coisa boa era garimpo. E nessas a gente conhece caras que conhecem caras e rolou de um dia eu ir num porão duma casa em Santa Tereza. O dono da casa tinha suicidado, e deixou uma coleção de mais de 5000 Lps, maluco. A irmã dele queria desocupar o porão pra fazer da casa um desses hotéis de molecada… Tu sabe como é.
-Hostel.
-Isso. Tá ligado, né? Daí ela botou anuncio um chapa me avisou e eu tampei pra cá pra ver e avaliar o que eu ia levar. Quando rola coisa assim nego surge até do inferno, porque “boi que chega primeiro bebe água limpa”.
-Tô ligado.
-Quando eu bati na casa já tinha dois coroas la dentro avaliando. Fiquei puto, poque eu tava já na esperança de dar lance e levar tudo…
-Mas Fábio, o que essa porra tem a ver com o…
-Caralho Gui, tu lembra que me nome é Fábio?
-Claro.
-Porra, ate minha mãe me chamava de mosquito, véio. Mas eu explico. Tu vai entender. Eu cheguei no porão já estavam os dois coroas lá avaliando, olhando disco a disco.
Comecei também a fuçar e depois de um tempo, tava um calor do caralho, tinha virado uma sauna aquele porão. Decidimos que a gente ia acabar morrendo ali. Então dividimos no metro. Cada um pegou um pedaço da coleção sem ver. Sem selecionar. Na sorte. Um sistema honesto. Rachamos o valor pedido em três e finalmente saímos do lugar.
Acabamos batendo papo, porque a galera de Lp é muito amiga, sempre rolam dicas, trocas, rolos… E eles tinham umas paradas que eu não tinha e eu tinha vários de jovem guarda e um dos coroas era colecionador de jovem guarda e tal, mas também pegava tropicalismo…
E daí fomos tomar um chopp porque o calor tava sufocante. Eis que chopp vai, chopp vem, descobri que eram dois irmãos gêmeos, do tipo de gêmeo que é diferente, não é aquele tipo xerox… O coroa da minha frente pegou e desenhou no guardanapo um dos desenhos que estava no caderno do Raiden, maluco! Eu sei porque eu tinha memorizado cada detalhe daquela merda. E daí eu me liguei que o outro tinha uma tatuagem, já bem desbotada, que também era um dos desenhos do caderno. Umas runas, uma das coisas que eu não conseguia decifrar.
Daí eu perguntei a eles do desenho e da tatoo. E eles ficaram meio bolados, não queriam dizer e tal. Mas eu insisti.
Um dos caras finalmente abriu que eles na juventude tinham entrado numa seita satânica, porque eles queriam ser do balaco-baco, fazer rituais e coisa e tal, e que o texto do braço era uma frase de proteção na língua dos demônios do inferno. E o desenho era o símbolo do culto deles. Daí eu não falei nada do Raiden, nem daquele coroa que ameaçou me matar.
-Ele também me ameaçou, mosquito.
-Eu sei. Ele ameaçou todo mundo que ele não conseguiu controlar a mente. Somos os mais fortes, bicho. O resto todo virou robozinho do cara.
-Minha prima disse que ele era o líder da seita.
-Ele é um dos lideres. Esse grupo de satanistas é médio. Não é grande, porque eles são poderosos e fechados. Há dez anos que não admitem neófitos. Eu quando descobri o lance dos caras, fiquei na moita. Na cola deles, fui levantando tudo, comendo pelas beiradas. Mas não foi fácil. Chegou um momento que eu vi que estava me metendo com gente muito perigosa, e que eu precisaria me proteger e para me proteger, era importante sumir. Assim, eu chutei o pau da barraca e meti o pé lá da cidade.
-Entendi. Mas e o Raiden?
-Cara. O Raiden é justamente a parada que você vai achar que eu tô surtado, mas eu não tô. Eu juro. Eu pareço meio doido, cara, mas é certeza que esse lance que eu estou te contando é firmeza…
-Tudo bem, cara. Calma! – Eu disse, quando notei que o Mosquito tava ficando agitado demais. -Pode mandar ver a bizarrice que for.
-O Raiden é um demônio.
-Quê???
-Os caras sequestraram e não me pergunte como que eu não sei. Mas eu descobri isso. Em 1974 eles conseguiram fazer um ritual e tiraram um demônio do inferno e o prenderam no corpo duma criança que tinha nascido morta. A criança ressuscitou, e é o Raiden, véio.
-Mas… Mas… Como assim, cara? A troco de que?
-U fiquei quase cinco anos tentando descobrir isso sem despertar suspeitas. Eu grampeei telefones, roubei cartas, eu viajei pelo mundo. Mas foi numa pequena cidade medieval encravada no coração da Itália que consegui finalmente a informação que eu precisava para montar o quebra-cabeças. Num antigo mosteiro, achei o diário de um monge chamado Phillipus Andreatti. Este monge dizia ter encontrado um… anjo. Era um peregrino muito mal vestido, mas de pele tão branca que parecia transparente. Esse peregrino estava às beiras da morte pela fome e sede, perdido na floresta. Andreatti o ajudou e o alimentou. Ficaram com ele como convidado no mosteiro por dois anos até que ele se recuperasse. Se tornaram amigos. Andreatti e Rovo, como ele dizia se chamar trocaram muitas informações. E assim, o anjo havia lhe dito como se estrutura nada menos que o inferno. Não sei se Andreatti realmente acreditava ou se apenas tomou nota dos desvarios de Rovo. Mas o livro, que já se desfazia em minhas mãos era claro. E continha desenhos e diagramas exatamente iguais aos do caderno do Raiden.
-Nossa. cara. – Eu disse, estupefato. Nesse momento, chegávamos num barzinho do Flamengo. Sentamos numa mesa de metal e mandei descer duas cervejas e uma batata frita.
Molhamos o bico e Mosquito continuou suas explicações.
Segundo Mosquito, Phillipus Andreatti anotou em seu diário os detalhes de uma guerra em que Rovo era parte. Era uma permanente batalha espiritual que ocorre diariamente nas regiões celestiais. Rovo diz que existem Sete Divisões do Reino das Trevas. Satanás colocou demônios poderosos para persuadirem os líderes humanos ao longo dos séculos, com o objetivo de fazê-los seguir seus planos. Da mesma forma, colocou também demônios poderosos para controlarem as sete divisões do seu reino.
Mosquito desbodbrou um pedaço amarelado de papel que trazia no bolso da jaqueta puída. Eram as descrições dessas divisões, e os nomes dos demônios que elas presidiam.
Enquanto se preparava para ler ele me olhou nos olhos, levantou os óculos de aro circular e disse seriamente:
-Markun, enquanto leio, pense nas notícias do dia-a-dia. Todo o tipo de crime está ocorrendo hoje, todas essas desgraças… Você poderá compreender que Satanás e seus demônios estão obtendo um sucesso fantástico.

1) Rege — É o general do ocultismo. Lida com as drogas alucinógenas, como maconha, haxixe, cocaína, LSD, mescalina e outras. Essas são as drogas da feitiçaria, que atacam e abrem a mente para que um demônio possa entrar na pessoa. Rege também é responsável pelo enfeitiçamento na música. Cada vez mais agentes do mal infiltram versos satânicos e batidas subliminares capazes de produzir um impacto em espíritos nocivos. Existem espíritos maus e entidades sobrenaturais que não são demônios,mas isso é bem complicado, aprendi depois, com um homem alfarrabista espanhol que sabia muito sobre isso. Nem todos os seres maus do outro plano estão alinhados com falanges demoníacas nem servem a Satanás. Mas eles funcionam quase como que as facções criminosas no Brasil. Assim, nem é raro guerra de seres que chamaríamos de demônios por falta de nome melhor. Se você acha o mundo material bagunçado, precisa ver o samba maluco que é o outro lado!
Durante décadas as pessoas foram induzidas a buscar a “abertura da mente para níveis mais elevados de consciência”. Mas a verdade é que a mente humana, fisica e material, é extremamente limitada e inapta a lidar com certos graus de realidade sem um treino prévio. Assim, é absolutamente essencial no desenvolvimento de uma pessoa nos níveis mais elevados do ocultismo a “abertura da mente” por meio de consumo de drogas. De fato, isso produz um estado alterado da consciência, e que não raro abre a porta para os seres das trevas operarem. Quando somada a certas músicas, que funcionam como um ímã de atração, a soma poderosa super estimula esses seres. É assim que eles adquirem mais e mais poder entre os homens. As batidas eletrônicas de som alto são preferidas, pois abafam os mantras nefastos de Rege. É por isso que a juventude é atraída por festas de drogas sintéticas (que vem da Europa de laboratórios financiados por eles). Você se lembra de pessoas fritando no chão, tendo convulsões e falando coisas estranhas em raves? Pois é.

2) “Larz — Demônio da lascívia sexual, adultério, e todos os prazeres sexuais.” Novamente, os jornais e revistas estão repletos de sexo e perversões sexuais. A pornografia, tanto da forma “pesada” quanto da “suave” pode ser encontrada em qualquer localidade do país. A programação da televisão está repleta de filmes, novelas e comédias que usam o sexo para atrair a audiência. As prisões estão lotadas de pessoas presas por crimes sexuais, de estupros à pedofilia. Tem sacanagem por todo lado. Eles sabem do poder do apelo sexual. E usam isso para atrair pessoas. Larz talvez seja um dos príncipes mais bem sucedidos, com sucesso no mundo de hoje, mais do que em qualquer outro período na história. Quando uma pessoa é convidada a se tornar um feiticeiro, primeiro é “recebida” em uma grande festa, onde o álcool e as drogas rolam livremente e o sexo está disponível a todos os que quiserem experimentar, de qualquer maneira que desejarem. O álcool, as drogas e o sexo selvagem servem todos ao mesmo propósito: romper o antigo sistema de valores e a consciência da pessoa de seu estilo de vida atual.

3) Baccuu — Demônio dos vícios, como drogas, fumo e álcool. Satanás gosta de capturar uma pessoa em algum tipo de vício, pois então fica muito mais fácil controlá-la para seus objetivos malignos. Vemos esses tipos de vícios afligindo nossa sociedade hoje. Tenho certeza que os fumantes nunca pensaram que sejam vítimas da ação de demônios. No entanto, isso é verdade. Se nossa teoria estiver correta, deveremos ver um aumento cada vez maior desse tipo de dependência. Além disso, Rege e Baco podem trabalhar em conjunto para maximizar suas respectivas áreas de responsabilidades, eles e suas legiões de demônios subalternos.

4) Pã — Demônio da mente. Causa doenças mentais, depressão, tendências suicidas, ataques nervosos e sentimento de rejeição. Você já observou que quando uma pessoa se torna deprimida, ou se sente rejeitada, ela se volta para as drogas ou para algo que cause dependência?

5) Medit — Demônio do ódio, assassinato, matanças, guerras, ciúmes, inveja e fofocas.” Parece enredo de novela da televisão, não é mesmo? Esse demônio está também muito ativo na sociedade atual, enchendo as notícias do dia-a-dia com assassinatos e desordens. Tenho a certeza que os ativistas que lutam contra a violência doméstica nunca pensaram que estão lutando contra uma horda demoníaca. Novamente, quando essa divisão de demônios coopera com as divisões que promovem os vícios, as drogas, o álcool, as doenças mentais, etc., você tem um poderoso caldeirão de problemas, de uma natureza desastrosa!

6) Set — O Demônio da morte. As Guerras, terrorismo e assassinatos estão aumentando em todo o mundo. O século 20 foi o mais violento e sangrento da história mundial. Set é o mais perigoso dos sete ministros do inferno. Esse demônio marcha com os exércitos do mundo, com os grupos guerrilheiros nas selvas e com as gangues de jovens nas cidades. Ele fica de tocaia na escuridão da noite, aguardando para atacar sem aviso, sem misericórdia e sem qualquer motivo.

Mosquido dobrou o papel com cuidado e o guardou no bolso. Deu uma golada na cerveja e acendeu outro cigarro.
Olhei a cerveja o cigarro e pensei se aquilo não era um certo contra-senso. Mas não disse nada. Eu então perguntei: – Mas e o sétimo ministro do inferno?

O sétimo ele não escreveu. Ele apenas disse que existia. Esse demônio não sei o nome nem o que ele faz, nem o poder ou o objetivo que tem, ou quantas legiões comanda. Mas meu amigo Alfarrabista espanhol, especialista em Vecchia Credenza, me disse que as coisas não são tão organizadas. Na verdade é um pouco mais caótico. Existem outros demônios, alguns muito poderosos, outros menos, é uma corte, uma coisa meio bagunçada mesmo do lado de lá. Existem as Hostes demoníacas. Cada hoste obedece as estratégias do dominador que, por sua vez, obedece as estratégias das potestades, que obedecem aos supradominadores que obedecem aos principados que não são esses que eu falei, esses que eu falei são no inferno, mas há os que controlam outros planos, e o nosso plano é um dos vários planos que existem. Então eventualmente há uma interposição de poderes nesses mundos espirituais que estão sobrepostos ao nosso, como dimensões paralelas.
Oque eu apurei é que o grupo ocultista conseguiu uma maneira de trazer ao mundo um demônio. Eles queriam forçar e subjulgar esta entidade do inferno, e para isso, a mantiveram presa a um corpo humano por meio de magia!

-Mas… Ele estudava com a gente era um molequinho na dele. Lembra?
-Lembro. Mas ali dentro, ali tinha algo muito, muito sinistro, meu amigo. Quando aconteceu aquela…
-Merda.
-Isso, aquela “merda”, os ocultistas tiveram medo, porque estavam escondendo o garoto, tentando imergi-lo na sociedade. Tudo que eles menos querem é despertar a atenção. Não foi a primeira vez. Grupos ocultistas já trouxeram demônios do inferno na tentativa de subjulgá-los outras vezes. Em algumas delas, a coisa saiu do controle. Mas parece que esses caras se deram bem com o Raiden.
-O que eles podem querer com um demônio? – Perguntei aflito olhando para dentro do meu copo de cerveja. Uma pequena mosca havia agarrado na espuma.
-Com o Raiden?
-É, porra.
-Nada.
-Nada?
-Não é com ele o lance. Eles sequestram o demônio para pedir resgate a uma potestade. As criaturas das trevas tem verdadeiro pavor de serem controladas, porque sua natureza é de dominar, influenciar, controlar, iludir e governar. Quando se vêem sob um controle mágico, é um fusuê. Um demônio uma vez preso num corpo humano puro, varia um pouco o ritual pelo que eu soube, mas no geral é isso, um demônio preso num corpo humano puro não tem grandes poderes. Mas os que querem ele de volta podem conceder “favores”.
-Que tipo de favores?
-Você notou que o cara ta do mesmo jeito que quando a gente era moleque? Esse cara vai andar por aí pra sempre, Markun. E você viu o que ele fez com você. Já o Raiden, coitado, não passa dum desgraçado nas mãos desses malditos.
-Mas tu viu o que o Raiden fez.
-Pois é. E você viu como o velho ficou. Você viu o que ele estava fazendo contigo na exposição da bicha lá. Ops, desculpa.
-Ah, tudo bem. Ele é marido da minha prima maluca, mas eu sei que o cara gosta da fruta. Aliás, como você me achou lá?
-Estou te seguindo há um tempo já. Há muito ainda para te contar. Mas o geral é isso. Esses caras tiraram o Raiden do inferno e estavam, coitado, abusando dele.
-E como que o velho não te controlou?
-Eu estou protegido. Olha aqui. – Ele disse, levantando de dentro da camiseta amarelada uma corrente oxidada que terminava num pequeno frasco de vidro com algo marrom carcomido e sujo dentro.
-Que merda é essa?
-Sangue de Fulcanelli.
-Quem?
-Não interessa. O importante é que esse sangue aqui anula o poder de influência daquele puto. E olha… Toma. Você vai precisar disso. – Ele disse, tirando a corrente com a garrafinha e passando pra mim.-Mete por dentro da blusa, isso. Ninguém deve ver. Não tira essa porra nem pra tomar banho!
-mas e você?
-Eu tenho outras proteções, Markun.
-Tá. Mas você me disse que estava me seguindo… A troco de que, Mosquito?
-Eu preciso de ajuda.
-Ajuda?
-Eu estou numa missão.
-Como assim missão?
-Preciso libertar o Raiden.
-Mas como cara?
-Eu descobri onde ele está preso, e nós dois vamos lá!

Quase engasguei com a cerveja.
-O Quê???

CONTINUA

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Eu gostei desse mosquito. Ele é uma espécie de Leonard mais jovem, ainda que menos sábio, ele tem a energia necessária para missões suicidas como esta. E gostei muito do visual dele, já imaginei ele em action figure: Bora modelar esse maluco?

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