Viking Warrior – A SAGA DE VÄRMOD

Eu não sei por que faço essas merdas. Ninguém vai ler mesmo…Muito poucos corajosos tem saco de ler tanta coisa num blog.

Mas para cumprir com a minha palavra e mostrar que quando eu tenho insônia (coisa rara) gasto minha madruga matutando alguma coisa de útil, aqui está, a saga de Värmod.

Tudo começou com a ideia do boneco. O boneco foi ganhando uma nova dimensão com as sugestões e contribuições dos leitores aqui do Mundo Gump, e daquele jeito de criação coletiva que eu sempre gosto, fui mudando e refazendo concepts atrás de concepts em busca da pose mais legal para o próximo boneco, que graças a Deus, a MSFX vai patrocinar.

Quando eu achei que estava legal, tive aquela noite de insônia e o resultado disso você verá algumas linhas abaixo. Eu comecei a me perguntar uma série de questões. Por que o Viking luta com aquela criatura no alto de uma montanha? POr que o viking usa dois machados? Por que ele está sem camisa num lugar cheio de gelo?

Quem é ele? de onde ele vem? Por que lutar sozinho contra uma criatura daquela envergadura? POr que ele salta para a morte com o animal?

A cada resposta que eu dava pra mim mesmo (um jeito bem Joselito de contar carneirinhos) novas perguntas surgiam, e com elas enredos, tramas e conspirações. Quando vi, uma história tomou forma em minha mente e eu podia até mesmo ouvir a trilha sonora orquestral com líricos gritando e tambores estourando. Metais indo aos extremos da glória. Vieram tomadas de câmera, imagens de paisagens desoladas, panorâmicas de combate. Sangue, honra. Morte.

Quando eu sentei no computador às cinco e meia da manhã, a história escorreu do meu cérebro pro Word e o que saiu, foi isso aqui.

(é bem possível que só uns dois ou três leiam. Se voê é nerd, joga RPG, ou apenas curte essas coisas épicas, a trilha sonora recomendada é:

1- Conan o Barbaro

2- O 13 Guerreiro

3- Lord of the rings

4-Karmina Burana

5- Rapsody of fire

Só recomendo porquê essa historinha foi escrita com essas.

Antes que alguém comente, eu não me preocupei com a formatação correta do roteiro, já que ia postar aqui e o formato blog destrói a formatação certa. Também não me preocupei em seguir as cartilhas. Mandei as favas as regrinhas. O que vale é a história. O resto é o resto. E deve estar cheio de erro, já que nem eu tive saco pra ler e revisar depois que fiz isso.

Com vocês, o maior post da história do Mundo Gump. Um longa metragem feito em um dia e quatro horas.

VÄRMOD SAGA

UM FILME -TOSQUEIRA-PSICOPATA-INSÔNE- ÉPICO- DE PHILIPE KLING DAVID

Prólogo

Uma serra de altas montanhas surge no horizonte. Lentamente, vemos a montanha se aproximar. A montanha vai ganhando forma e tamanho a media em que se aproxima. Vemos seu cume coberto de neve. Pedras pontiagudas passam bem perto e começamos a ver detalhes da montanha. Só ouvimos o som do vento e a neve é forte.

Em um tipo de eco de baixa freqüência, começamos a ouvir uma frase que se repete.

“Irmãos, na Terra e no Valhalla”…

Numa pequena depressão, está um monte de neve. Nos aproximamos e vemos que ali está uma pessoa caída. Parcialmente coberta de neve rosa.

“Irmãos na Terra e no Valhalla”… O som vai ficando cada vez mais claro.

Vamos nos aproximando cada vez mais e mais. Chegamos aos olhos da pessoa caída. Praticamente a única parte sem neve naquele lugar frio.

“Irmãos na terra e no Valhalla”…

Os olhos se abrem de súbito. São olhos profundamente azuis. O som cessa de imediato.

Há apenas o forte chiado dos ventos cortantes que atingem a montanha rochosa.

O corpo se move e debaixo de uma camada de neve, surge uma figura forte. A neve cai revelando cortes profundos. Ele esfrega a neve pelo chão. Está em busca de alguma coisa. Ele enfim encontra. A coisa que surge de um monte branco é um machado antigo. O homem é um viking. Ele se ergue com certa dificuldade. Cambaleia até a beira do penhasco e olha lá pra baixo.

De uma perspectiva do fundo do penhasco, vemos o viking chegando na beira e olhando para baixo. Apenas o vento. O viking ri. Começa a rir e seu riso ecoa pela montanha.

CENA 1 – Mar gelado.

Um barco viking corta as marolas num mar escuro e encapelado. Na proa do barco estão dois homens. Atrás estão vários homens fortes que remam a nau.

Um dos homens é mais velho. Aparenta ter uns quarenta anos. Tem a barba longa e ruiva. O outro é jovem. Tem uma barba pequena e loura. Os cabelos longos caem sobre os ombros.

Durante algum tempo eles não falam nada. Só há os ruídos das madeiras rangendo e os remos acertando a água. Apenas olham para frente. O mais velho volta-se para o mais novo:

GIZOR – Está nervoso?

VÄRMOD – Estou.

GIZOR – Seu pai gostaria. Você sabe.

VÄRMOD – Eu sei. Mas ainda assim fico nervoso.

GIZOR – Estamos numa era de paz. Não guerreamos com o clã Iarlabanki desde seu avô…

VÄRMOD – Não temo a morte. Temo a filha de Moldof Iarlabanki.

Gizor solta uma sonora gargalhada e bate com a mão no ombro do jovem.

GIZOR – Tens razão, rapaz. Disso há de se ter medo. Sempre. (risos)

VÄRMOD – Será que ela é bela?

GIZOR – Espero que sim. Se tiver a cara de porco selvagem de sua tia, terei pena de ti, garoto. (risos)

O barco se aproxima da margem.

GIZOR – É só até aqui que nós vamos, Värmod. Não temos autorização para ir além deste ponto. Os Iarlabanki são terríveis você sabe. Agora está por sua conta.

VÄRMOD – Eu sei, meu tio. Obrigado.

GIZOR – Boa sorte garoto. Espero que Maldof Iarlabanki cumpra o acordo dos nossos avós.

VÄRMOD – Eu também.

Värmod salta da nau e corre pela beira da água em direção a terra. À sua frente, apenas uma floresta. Ele se vira e acena para os homens no barco. Todos acenam de volta. O barco começa a retornar.

Värmod entra na floresta e caminha por entre as árvores. Ele olha uma a uma em busca de alguma coisa. Quando finalmente encontra, é uma runa. Ele sorri e sabe que está no caminho certo.

CENA 2 – FLORESTA

Värmod vai andando pela floresta. Ele ouve ruídos de briga. Barulho de espadas. Värmod pega sua espada e olha ao redor não vê nada além da floresta.

O viking caminha mais à frente e vê que numa clareira estão três fortes homens a maltratar um velho que veste farrapos.

VELHO – Por favor. Clemência. Clemência!

SOLDADO VIKING – Criatura asquerosa e pútrida! Deves morrer!

SOLDADO VIKING 2 – Isso. Matemos ele! (risos)

SOLDADO VIKING 3- Deves voltar para o inferno de onde saíste, condenação decrépita!

VELHO – Perdão. Não tenho culpa de ser feio!

Värmod corre para o encontro do velho. Os soldados planejam matá-lo. Värmod se interpõe entre o velho e a espada e contém o ataque com sua lâmina.

Os soldados sacam suas armas.

SOLDADO VIKING 2- Quem ousa?

VÄRMOD – Sou Värmod, filho de Styr, do clã Kodran das terras do Sul.

SOLDADO VIKING 3- Pois cometeste um erro, meu jovem. Este velho tem que morrer.

VÄRMOD – Em minha terra matar velhos pobres não é correto.

SOLDADO VIKING 2- O velho é um feiticeiro.

Värmod vira-se para o velho:

VÄRMOD – Tu és feiticeiro como dizem, velho?

VELHO – Não, meu senhor. Não sou. Sou apenas um mendigo pobre. Eles querem matar-me por que sou feio.

VÄRMOD – Vês? Pois ele diz que não é feiticeiro.

SOLDADO 1 – Não interessa o que pensas, jovem. Exijo que você saia da frente ou morrerá com o horror atrás de ti.

VÄRMOD – Não sairei.

SOLDADO 2 – Carga!

Todos os soldados correm com suas armas para cima do jovem. O velho se afasta e entra no mato. A pancadaria dura algum tempo. Machucado e cercado, Värmod é desarmado.

VÄRMOD – Ai, ai. Meu braço.

SOLDADO 1- Desgraçado. O velho fugiu.

SOLDADO 3- Matemos o infeliz então!

SOLDADO 2- Mas ele é de outro clã.

SOLDADO 1- Será uma invasão?

SOLDADO 3- Tu és um batedor, garoto?

VÄRMOD – Não.. eu…

SOLDADO 2- Acho que devemos levá-lo à presença de Maldof.

SOLDADO 1- Prepare-se para andar muito, garoto. Vamos andando. Vai, vai.

CENA 3 – VILAREJO VIKING

Quando os portões de madeira se abrem, surgem os três soldados andando atrás de Värmod, exausto, que vem amarrado, cambaleando e sangrando a frente. Ele pede água.

Os soldados retiram uma bexiga de carneiro do cinto e bebem a água na frente dele.

Värmod – Dêem me água, por favor…

Os soldados maltratam o jovem, derramando a água na sua frente.

SOLDADO 1 – Tem sede criança? Que pena. A água acabou.

Ao longe, um homem forte de cabelos negros vem passando com um monte de lenha no colo. Ao parar para ver a cena ele se espanta.

O homem larga a lenha no chão e corre na direção do grupo.

ORLYG – O que é isso? O que está acontecendo? Quem é este?

SOLDADO 3- Encontramos este homem na floresta. Anda, anda maldito! – Diz ele chutando as costelas do rapaz, que cai no chão em uma poça de lama.

ORLYG – O que ele fez? Eu não conheço este garoto…

SOLDADO 2- Não perca seu tempo velho Orlyg. Este garoto não é do clã Iarlabanki.

ORLYG – Mas como? De que clã és, garoto?

VÄRMOD – Água, por favor… água.

SOLDADO 1- Diga o que ele perguntou, maldito! -Diz ele pisando na cabeça de Värmod.

VÄRMOD – Ko- Kodr…

ORLYG – Kodran?

Värmod apenas acena positivamente com a cabeça, antes de desmaiar com a cara na lama.

ORLYG – Cães idiotas! Bestas! Bestas!!!! – Grita para espanto dos soldados. E sai correndo em direção à casa principal aos gritos.

SOLDADO 3- Acho que ele é importante.

SOLDADO 1- Pois é. Acho que erramos aqui. Vamos! Ajudem-me a levá-lo para o centro.

Orlyg volta acompanhado do chefe da aldeia, Maldof Iarlabanki. Värmod está jogado no chão, desmaiado.

MALDOF – Desamarrem ele, idiotas! – Grita para os soldados.

SOLDADOS – Sim senhor.

Värmod recupera os sentidos. Tudo está fora de foco. Lentamente as coisas se acertam e ele vê um homem velho, com barbas brancas e uma roupa de couro imponente na frente dele, contra o sol.

VÄRMOD – Odin?

Segue-se um poderoso riso.

MALDOF – Ainda não, meu jovem. Ainda não.

Värmod torna a desmaiar.

O rei viking ordena aos soldados que o levem para a casa real.

Uma moça muito bonita, linda, surge.

INGA – Meu pai. Quem é este pobre homem?

MALDOF – Não sei, filha. Mas vou saber. Vou saber… Inga?

INGA – Sim, papai?

MALDOF – Cuide do homem. Quero saber quem ele é. E o que faz aqui. – Diz saindo da tenda. Do lado de fora, Maldof grita para os soldados:

MALDOF – Cães! Preparem-se para uma invasão! Às armas!

Começa uma correria pelo vilarejo.

CENA 4 – INTERIOR DA CABANA DO REI

Inga está cuidando de Värmod. Ele está sujo. Ela limpa a lama do rosto dele com um pano de lã molhado. Ao seu lado está a aia de Inga, uma velha gorda, preparando uma infusão de ervas num tacho. A velha se vira para Inga. Olha o rapaz e comenta.

SABBA – Como é belo… E forte.

INGA – Sim, Sabba, lindo mesmo.

SABBA – Veja o colar. Veja a runa. Ele é do clã Kodran.

Inga olha para a velha. A velha sorri, balançando a cabeça afirmativamente. Inga também sorri.

SABBA – Melhor que a encomenda, hein?

INGA – Vamos, Sabba, me ajude. Morto ele não servirá para nada.

SABBA – Acalme-se Inga. Seu futuro marido ficará de pé em breve. Eu prometo. Pelo menos a parte que lhe interessa. (diz rindo como uma bruxa)

INGA – Sabba, você não tem jeito mesmo…

SABBA – (pegando um pano e molhando na infusão fervente) Pegue, faça-o cheirar isso.

INGA – Como?

SABBA – (Tomando o pano de Inga) Assim, mulher! – Ela enfia o pano quente no rosto do rapaz. E no minuto seguinte ele salta da cama coberta com uma grossa pele, tossindo muito.

INGA – Está bem?

VÄRMOD – Sagrado menir! Que coisa horrível! – Grita ele assustado. (tosse muito) Faz uma expressão de dor.

SABBA – Viu princesa? Não disse?

VÄRMOD – Quem é você? – Pergunta Värmod olhando em volta.

VÄRMOD – Onde que eu estou?

INGA – Estás na cabana de meu pai. Eu sou Inga. – Diz ela. Eles se entreolham profundamente. Ela sorri. Ele também.

SABBA – (interrompendo o olhar apaixonado) Nossa garoto, como você conseguiu sair do clã Kodran e vir parar aqui?

MALDOF – Isso é o que você vai responder pra mim! – Diz ele de surpresa, entrando na cabana.

Maldof é um típico rei Viking. Alto, forte, a barba enorme e grisalha. O olhar cansado e profundo. O semblante sempre sério. A pesada roupa de couro que mais parece uma armadura.

VÄRMOD – És Maldof, meu senhor?

MALDOF – Sim garoto. E tu, quem és?

VÄRMOD – Perdão senhor. Sou Värmod, filho de Styr, do clã Kodran das terras do Sul.

MALDOF – O que faz tão longe de casa, garoto?

VÄRMOD – Senhor. Vim cumprir o juramento de meu avô feito ao vosso pai. Meu pai já não está conosco.

MALDOF – Que esteja no Valhalla.

VÄRMOD – Assim espero, meu senhor.

MALDOF – Então tu és aquele garotinho que eu vi no colo de sua mãe há tantos anos atrás?

VÄRMOD – Sim senhor. Trouxe-lhe isso como prova de minha boa vontade. – Diz ele abrindo um saquinho de pele que trazia pendurado no pescoço, por dentro da camisa.

Maldof estendeu-he a enorme mão e do saquinho caiu nela uma pedra vermelha com forma de machado.

Maldof sorriu.

MALDOF – Cumpriste a parte de seu avô, jovem. Cumprirei a minha com prazer, selando a paz por mais uma era entre nossos clãs.

Maldof vira-se para Inga.

MALDOF – Inga, este é teu futuro marido.

Inga e Värmod entreolham-se sem graça. Ela sorri envergonhada. Ele também.

A velha Sabba aplaude feliz.

SABBA – Viva! Meu rei terá netinhos!

MALDOF – Sabba, sua velha raposa. Controle-se. Vá. Avise o povo de Iarlabanki que hoje à noite celebraremos o nosso visitante.

Inga sai toda feliz, gritando pela porta.

Maldof – Vamos, jovem. Terás muito tempo para falar com minha filha nos anos futuros. Quero apresentar-lhe meus amigos.

Maldof vai puxando o jovem Värmod pelo braço. E ele sai, deixando um último olhar se encontrar com o olhar apaixonado e feliz de Inga.

Inga fica sozinha na cabana. Respira fundo e sorri. Sorri cheia de amor e felicidade.

CENA 5 – Praça Principal da vila viking

Inga está colhendo flores para o jantar de celebração do jovem visitante. Ela caminha e ao fundo vemos Maldof, Värmod, Orlyg e outros homens da aldeia celebrando, cantando e rindo animados.

Värmod vira-se para trás e vê o olhar distante e apaixonado de Inga. Tudo ao redor deles fica em câmera lenta. Eles sorriem um para o outro.

Inga está linda banhada pelo sol laranja de outono. Ela tem um cesto cheio de flores nas mãos.

Um abraço distrai Värmod e ele sai do transe. Novos homens juntam-se ao grupo que conversa animadamente.

Crianças correm pela aldeia. Vemos uma jovem menina que imita Inga. Inga sorri para a menina. A menina retribui, tentando imitá-la com perfeição. Inga solta as flores e dança. A menina imita. Inga corre para fazer cócegas na menininha, e ela dispara correndo.

A menina entra atrás de uma cabana e ali está um homem estranho.

Ele é careca, tem uma cabeça que parece um ovo. Os olhos fundos e escuros emoldurados por uma olheira cadavérica. A roupa é de couro preto. Parece um vampiro. O homem sorri seus dentes podres para a menina. Ela corre para outro lado.

Ficamos com o homem. Ele está olhando através das frestas das pedras de uma cabana. Ao fundo está inga, pegando flores novamente. O homem estranho olha com seus olhos escuros e ávidos de desejo. Ele sussurra para si mesmo.

SIGURD – Serás minha, bela Inga. Serás minha…

CENA 6 – Praça principal da vila Viking

 

Värmod está feliz contando os feitos de seu avô na guerra contra os Styrkar. O rei dirige-se aos outros homens:

MALDOF – O avô deste homem foi o maior guerreiro que já vi…

Sigurd vem passando, com seu corpo magro e escuro. Ele é extremamente magro e branco. Anda se esgueirando pelos cantos como uma sombra. O rei olha pra ele.

MALDOF – Sigurd!

SIGURD – (assustado) Sim, meu rei?

MALDOF – Deixe me apresentar nosso novo convidado. Este é Värmod, do clã Kodran das terras do sul.

SIGURD – Sim, meu rei. Ouvi falar do nosso visitante.

MALDOF – Sigurd, venha jantar conosco esta noite. Värmod vai desposar minha filha Inga.

Tudo rodou ao redor de Sigurd. Ele não acreditava no que estava ouvindo. Desejava secretamente a princesa Inga desde sua juventude e agora tudo ameaçava desabar. Seu desejo foi de tirar a espada e enfiar no peito daquele rapaz, mas vendo que o rei o abraçava, tentou como pôde disfarçar seu ódio e até sorriu aquela boca cheia de dentes amarelos.

SIGURD – Sim, senhor. Participarei com… Prazer.

Sigurd se afastou. Maldof virou-se para Värmod e pediu que contasse novamente as aventuras de seu avô.

CENA 7 – Cabana de Sigurd

Sigurd está destruindo tudo. Está chutando cadeiras, tachos, socando a cama de pele.

SIGURD – Desgraçado! Desgraçado! Maldito!

Sigurd tem uma crise nervosa motivada pelo ódio. Está quase fora de si.

SIGURD – Não vai casar! Não vai casar! Eu mato… Eu mato… Tenho que pensar. Pensar. Sim, é isso. Pensar… Não vai acontecer. Não, não vai não senhor. Inga é minha. Sempre será…. Minha. MINHA!

CENA 7 – Estrada na floresta.

Um enorme e forte guerreiro viking está sem camisa, andando abaixado. É um brutamontes com cara de mau. Ele tem o olhar assassino, como se espreitasse alguma coisa. O homem está com um arco e flecha. Está em completo silêncio. Aponta sua flecha na direção do mato. Estica o arco até que ele começa a estalar. Aponta o mesmo para o mato e num zumbido uma seta corta o ar.

Um enorme javali tomba ao chão com uma flecha que transpassa sua cabeça. O homem ri.

Ele vai até o Javali. Ali estão três pequenos leitõezinhos tentando mamar na mãe morta.

O homem sorri. Ele pega a espada.

CENA 8 – Floresta

Vemos a floresta. Ao fundo som de gritos dos leitões sendo mortos.

CENA 9 – Floresta

Surge do mato o guerreiro. Ele traz o enorme porcão nas costas. Na cintura, enfiados numa corrente, três pequenos filhotinhos ainda pingando sangue balançam.

O homem anda a passos decididos.

SIGURD – Ragnar… Não tens pena das pobres crias?

Sigurd surge no mato como um fantasma. O guerreiro para assustado.

RAGNAR – Crias também são carne. O que faz aqui Sigurd? Tu nunca sai da aldeia…

SIGURD – Vim conversar com você, Ragnar.

RAGNAR – Vieste me pedir algo?

SIGURD – Não, Ragnar. Vim avisá-lo. Tramam contra ti.

RAGNAR – Como é?

SIGURD – Ragnar, eu sei de seus desejos. Tu queres ser rei.

Ragnar solta o enorme porco no chão. Vai com a mão no cabo da espada. Sigurd assusta-se e anda para trás.

SIGURD – Calma, Ragnar. Calma. Sou teu amigo. Estou aqui para ajudar você. Calma.

RAGNAR – O que tu sabes, trapo de gente?

SIGURD – Ragnar, estou disposto a dividir um segredo meu com você, já que sei um segredo seu.

RAGNAR – Pois fale.

SIGURD – Ragnar… A princesa. Eu amo a princesa. Quero casar-me com ela.

Ragnar apenas ri.

RAGNAR – Tu? Perdeste o juízo. Olha bem quem tu és! Inga é filha do rei!

SIGURD – Sim, Ragnar. Ria de mim. Meus desejos parecem impossíveis, é certo. Não te condeno por humilhar-me.

RAGNAR – Tu és um inseto…

SIGURD – Mas Ragnar. Meus planos e os teus são os mesmos.

RAGNAR – Estás maluco. Um inseto maluco.

Ragnar abaixa-se para pegar a carcaça do porco no chão.

SIGURD – Se eu te dissesse que posso realizar teu desejo? Esta noite?

Ragnar fica imóvel. Torna a colocar a carcaça no chão e agora parece dar ouvidos ao bizarro Sigurd.

RAGNAR – Fale.

SIGURD – Ragnar, enquanto você esteve fora caçando houve uma coisa na aldeia. Surgiu um forasteiro. Um homem do clã Kodran…

RAGNAR – Não… Não pode ser.

SIGURD – Sim, Ragnar. Pode. E aconteceu. O nome do infeliz é Värmod. Ele surgiu do nada e agora desposará Inga. E pelo que vi, o rei Maldof está feliz com ele. Sabe o que vem depois? A coroação. Maldof já é velho, Ragnar. Mais cedo ou mais tarde ele vai morrer. O poder de rei passará para o conselho. Depois de desposar Inga a escolha natural será Värmod. E ele vai unir o clã Kodran com o Iarlabanki. O que vem depois? Tufi? Reinn? Volldof? Não. O que vem depois é o clã Stykar.

RAGNAR – Não!

SIGURD – Sim, o clã Stykar. Aqueles vermes. Os homens que mataram seu pai! Este é o plano de Värmod. Está nas escrituras. A união do clã Iarlabanki e Kodran dará início a uma era de conciliação entre os clãs e haverá paz. Seu juramento de morte aos malditos Stykar já era. Teu pai vai ser envergonhado no Valhalla. Tu perderás a honra de seu pai. Os ancestrais rirão de vós…

RAGNAR – Maldição! Maldição! Demônios!

Ragnar senta na carcaça do porco.

SIGURD – Ragnar, tudo isso pode mudar. Eu posso mudar tudo.

RAGNAR – Como?

SIGURD – Ragnar, tu és o mais forte. O mais corajoso, o mais violento. O melhor homem da aldeia. Tu deves ser o rei. Tu foste forjado para liderar o povo Iarlabanki. Eu te ajudarei. Quero ver-te no poder. Quero chamar-te meu rei. E aqui, perante vós, presto meu juramento de lealdade e espero o mesmo de ti.

RAGNAR – Tens meu juramento. Perante os deuses e os ancestrais. Juro lealdade a vós. Mas…

SIGURD – (abre uma pequena bolsa e mostra alguns cogumelos e raízes) Hoje à noite, Maldof irá beber. Eu prepararei uma infusão venenosa e aos poucos Maldof partirá. Matamos o desgraçado Värmod e tu assumes a liderança de nosso povo.

RAGNAR – E esmagaremos os Stykar.

SIGURD – E tu me dá a mão da princesa Inga em casamento.

RAGNAR – Dou. Sim, por Odin, eu dou-lhe a princesa Inga, meu amigo.

SIGURD – Então assim ficamos. Selamos nosso pacto de ajuda mútua com um abraço.

Os dois homens se abraçam. Sigurd parece um graveto perto da compleição atlética de Ragnar.

Sigurd parte pela floresta adentro. Ragnar coloca a carcaça do porco nas costas e retoma seu caminho para a vila.

 

Cena 10 – Festa na casa do rei Maldof

Mulheres cantam tocando tambores antigos enquanto homens estão sentados ao redor do fogo, comendo e bebendo. Os pratos surgem com as criadas que aparecem carregando bandejas com leitões, faisões e pássaros silvestres com molhos e um tipo de pão duro. Os homens bebem vinho pilhado e cerveja.

Sigurd surge na tenda. Ele olha com um olhar de sofrimento para Inga, que está entretida conversando com outras mulheres.

Sigurd pega uma taça e sem que ninguém perceba, joga um pouco de um liquido nela. Ele mistura o líquido e pega mais vinho.

Värmod está no centro da cabana, ao lado do rei Maldof. Todos cantam e se divertem.

Surge Orlyg. Ele parece triste.

MALDOF – Orlyg, meu amigo. Sente-se conosco. Veio tarde! Onde está Dalla?

ORLYG – Dalla está doente, meu senhor. Muito mal. Não poderei ficar na festa.

MALDOF – Entendo, pobre amigo Orlyg. Dalla está doente a muitos dias.

ORLYG – Meu senhor. Peço sua permissão para voltar para minha casa. Não quero deixar Dalla Sozinha…

Enquanto a conversa se desenrola, sorrateiramente Sigurd substitui as taças de Maldof pela que ele colocou o veneno. Sem perceber nada, Maldof pega a taça e toma um gole. Vira-se para Orlyg:

MALDOF – Sim, Orlyg. Volte. Sentiremos sua falta aqui nesta noite de festa, mas Dalla precisa de vós mais do que precisamos.

ORLYG – Então, meu rei. Com vossa licença. Eu me despeço. Aproveito para deixar com Värmod minha satisfação em recebê-lo em, nossa vila.

Värmod acena com a mão. Orlyg sai da tenda. Maldof propõe mais um brinde e toma outro gole.

MALDOF – Música! Música!!!

As bailarinas entram e começa o espetáculo.

Em poucos minutos Maldof está completamente bêbado. As mulheres dançam.

Maldof vê apenas borrões coloridos e a música é suficientemente hipnótica para fazê-lo crer que está apenas embriagado. Ao seu lado está Värmod, contando a um sujeito sua linhagem ancestral.

Do outro lado, senta-se Sigurd.

SIGURD – Meu rei?

MALDOF – S….S…Siiim?

SIGURD – Meu rei, eu consultei as runas dos ancestrais.

MALDOF – F… Fale-me sobre o que viu, S… Si-Sigurd.

SIGURD – As runas disseram que o senhor deve testar Värmod para saber se ele é digno de sua filha, nobre senhor.

MALDOF – M…Ma-ma-mais eu – eu tenho certeza.

SIGURD – Senhor, as runas ancestrais nunca erram. Elas disseram para o senhor estabelecer um desafio para Värmod.

MALDOF – Não, não me sinto bem. Tudo roda… Que desafio?

SIGURD – As runas mandam o senhor desafiar Värmod a matar o grande Grub Skarr.

Maldof fica sério. Olha para Sigurd. Ele tenta franzir a testa e aperta a vista para enxergar melhor.

MALDOF – Isso… Isso é uma lenda. Do tempo do meu avô. Besteira… Nossa, eu estou mal. Dê-me mais vinho, Sigurd.

SIGURD – Senhor, desafiar as runas ancestrais traz mau agouro. O senhor não teme uma maldição?

MALDOF – Ah… Tudo roda. Não ouço direito. Estou tonto. Vinho, eu quero mais vinho.

Sigurd serve mais vinho para o rei.

MALDOF – Parem todos! Parem!

 

Há um enorme silêncio na tenda. Todos apenas olham para Maldof. Ele sua em bicas. Está pálido.

Maldof fala arrastado.

MALDOF – Värmod, meu filho. Tu vieste do clã…

ANCIÃO ARNKEL – Kodran!

MALDOF – Isso mesmo, ancião. Do clã Kodran…

Seguindo os enlaces da honra entre nossos antepassados que selaram a paz entre os Kodran e os Iarlabanki, Eu vos darei a mão de minha filha única Inga. Esta jóia preciosa…

Sinto-me mal. – Disse o rei. O povo começou a entreolhar-se, pois sabiam que Maldof era um homem forte que nunca se queixava de dor. Ele agüentara inúmeras batalhas e aturava bebida como um barril.

ANCIÃO ARNKEL – Sente-se mal meu senhor? Será o vinho?

MALDOF – Pouco importa ancião. Deixe-me continuar… Onde eu estava? Ah, sim… Värmod, seguindo os enlaces do passado, dou-te a minha filha Inga em casamento. Mas antes tu tens de provar seu valor…

Värmod, junto com os demais na tenda ouvia calado as palavras de Maldof.

MALDOF – Tu mostrará sua força e coragem trazendo pra mim a prova de que matou…

O silêncio toma conta da tenda. O rei parece ouvir algo no ar. Ele está confuso. Os olhos fechados. Ele balança a cabeça. Passa a mão na barba.

MALDOF -… Tu tens que derrotar o grande Grub Skarr, e só aí abençoarei vossa união com Inga.

Houve um início de confusão na tenda. Muitos falando ao mesmo tempo. Todos achavam que o rei estava bêbado, delirando. Talvez por isso nem Inga nem Värmod tiveram reação.

O Ancião Arnkel, que era um velhinho sábio de barba e cabelos bem brancos, tentou convencer o rei que aquilo era uma loucura. Uma lenda dos tempos passados. Mas o rei estava delirando. Cantava uma música antiga de guerra, pilhagem e honra, repetindo o mesmo trecho. Até que caiu para trás.

CENA 11 – Pátio da aldeia

Do lado de fora da cabana real está a figura escura e esquálida de Sigurd. Ele correu para fora e estava feliz como nunca na vida. Aproximou-se de Ragnar, que comia um enorme pernil de porco em companhia dos subalternos numa enorme mesa colocada na praça central.

Os dois se entreolharam.

Sigurd moveu-se rápido para um vão estreito entre as cabanas.

Ragnar pegou o pedaço que comia e jogou para os cães. Levantou-se da mesa. Tomou um gole de cerveja e saudou o rei Maldof, sendo imitado pelos soldados. Em seguida, saiu para o pátio onde encontrou Sigurd atrás de uma das cabanas.

RAGNAR – E aí?

SIGURD – Ele morreu. O veneno fez o efeito que eu esperava. Lento e certo. Igual a embriaguez do álcool. Tu serás o rei, meu amigo.

RAGNAR – Perfeito! Mas e o menino do clã Kodran?

SIGURD – Eu dei um jeito. Enquanto ele estava fora de si, manipulei Maldof e o rei mandou-o matar o grande Grub Skarr antes de casar com a minha Inga.

Ragnar riu.

SIGURD – E o rei morreu logo depois.

RAGNAR – Mas o garoto vai?

SIGURD – Vai. E para nunca mais voltar.

RAGNAR – E como tu sabes?

SIGURD – Darei um jeito. Tu não crê na existência da criatura?

RAGNAR – Ora, isso é lenda. Tal besta não existe.

SIGURD – As pessoas modernas não crêem mais nas coisas do passado. Houve um tempo em que bestas dominaram as terras altas. Um tempo onde a magia rúnica era mais forte. Eu sei porque leio as escrituras dos velhos ancestrais.

RAGNAR – Pobre Sigurd. O amor lhe faz mal. Está até crendo em magia e monstros. Mas que seja. Eu lhe prometi e cumprirei minha palavra. Inga será tua.

SIGURD – É tudo que quero… Meu rei.

RAGNAR – Ah, como sonhei em ouvir tais palavras, Sigurd.

SIGURD – Teu dia chegou, meu senhor. És rei e ninguém tirará isso de ti.

RAGNAR – Chegou à hora de destruir os demais clãs e roubarmos toda a comida, armas e alimento. Nos tornaremos o maior clã de todos. Dominaremos os mares do norte.

SIGURD – Sim, sim. Vamos esmagar os clãs…

RAGNAR – A começar pelo clã do garoto. O clã Kodran verá o peso de minha mão pela primeira vez tão logo assuma o trono.

SIGURD – Excelente, meu rei!

A conversa dos dois é interrompida por um grito alto de pavor.

Eles se olham e saem um para cada lado.

Atrás de uma moita, na escuridão, perto de onde os dois estavam, surge à cara velha e enrugada de Sabba.

CENA 12 – Interior da cabana do Rei

Os anciãos tentam tirar as roupas do rei o mais rápido que podem. Gils, o ferreiro, massageia o peito de Maldof, tentando trazê-lo à vida.

Inga está no chão, chorando compulsivamente a morte do pai. Todos estão consternados. As mulheres tentam amparar Inga. As pessoas correm de um lado para o outro sem saber o que fazer.

O ancião Arnkel interrompe a confusão:

Precisamos honrar o rei Maldof!

 

CENA 13 – Exterior beira do mar

È alta madrugada e centenas de tochas iluminam a beira do mar. O vento frio do mar gelado do norte atinge os rostos, fazendo arder as lágrimas de Inga.

O Ancião Arnkel Homenageia o rei. Todos cantam suas vitórias.

Os homens colocam o corpo do rei num pequeno barco, e sobre ele, colocam palha e lenha secas.

Os homens empurram o barco e Inga chora ao ver seu pai pela última vez. O enorme guerreiro Viking, outrora poderoso e forte dava lugar a um homem velho, frágil e morto.

O barco distancia-se de tremula sobre as ondas, afastando-se rapidamente.

O velho ancião acena com a cabeça para Ragnar. Ele pega o arco e acende a ponta da flecha com as chamas da tocha de Inga. Em seguida contrai a mesma e o arco estala.

A flecha voa em sua parábola cintilante até descer com precisão no meio do barco.

Em segundos o barquinho pega fogo e continua sua jornada de distanciamento até virar um pequeno ponto luminoso na escuridão.

Värmod tenta se aproximar para consolar Inga mas um corpo enorme surge na frente dele.

É Ragnar.

RAGNAR – Que se cumpra à última vontade do rei.

Todos repetem a mesma coisa. Inga está triste. Ela olha com pesar para Värmod. Ele aceita e não se aproxima dela.

Lentamente, as pessoas vão deixando a praia, que já é cortada pelos primeiros raios cor-de-rosa da aurora e seguem pela floresta de volta para a aldeia.

Em silêncio, Ragnar olha para Sigurd a distancia. Eles acenam positivamente com a cabeça um para o outro.

 

CENA 14 – Aldeia viking

Quando chegam na vila o dia está claro.

No centro da aldeia, está Orlyg. Ele chora. As pessoas o rodeiam, e quando Värmod se aproxima vê que ele tem nos braços o corpo da esposa Dalla morta.

A tristeza toma conta da aldeia.

Sigurd corre por entre os anciãos, conversando com um a um.

Os anciãos se juntam nos fundos da aldeia e deliberam por alguns instantes.

Então o ancião Arnkel sobe com uma ajuda de soldados em um barril e grita para o povo se aproximar.

O povo se aproxima.

ANCIÃO ARNKEL – Povo de Iarlabanki… Foi desejo de nosso rei, seu último desejo, que o nosso visitante Värmod prestasse uma prova derradeira de coragem e força. Ele deve partir e encontrar o grande Grub Skarr, derrotá-lo e matar a besta. Em seguida, deve retornar para Iarlabanki com a prova de que matou a criatura. Só assim nós do conselho aceitaremos Värmod como marido de Inga…

O povo aplaude e concorda com o velho Arnkel.

ANCIÃO ARNKEL – …Mas eu, como ancião mestre e o mais velho do clã Iarlabanki posso dizer, que a prova exigida por nosso rei é uma condenação de nosso visitante à morte.

O povo aplaude e concorda.

ANCIÃO ARNKEL -… Por isso, aceitaremos que Värmod, do clã Kodran desista do casamento e volte para sua terra, sem que isso lhe impute qualquer mancha em sua honra ou demonstre covardia. O que me diz, Värmod?

Todos os olhares da aldeia se voltam para Värmod.

Värmod olha para a princesa Inga. Ela tem os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Suas pupilas azuis são como diamantes refletindo o céu.

Sigurd grita no meio do povo, incitando a multidão:

SIGURD – Desista Värmod! Vá embora!

O povo em coro começa:

POVO – Vá embora! Vá embora! Vá embora!

Värmod baixa a cabeça, envergonhado.

Com pena, o ancião do alto do barril grita para o povo:

ANCIÃO ARNKEL – Irmãos e irmãs! Silêncio. Värmod deve escolher seu próprio destino. E por isso acho justo que ele pense a respeito. Värmod, em nome dos anciãos do clã Iarlabanki, eu dou um prazo até o sol tocar as montanhas do norte. Quando o sol encostar na montanha, tu me darás sua palavra se aceita o desafio do rei ou se desiste e voltará para teu povo.

A massa que assiste a cena começa a conversar e se espalham. Homens apostam sobre o futuro de Värmod . O ancião idoso desce do barril e a aldeia tenta retomar suas atividades. Fica apenas Värmod no centro da aldeia. Parado. Os olhos fixos nas montanhas.

Sigurd se aproxima.

SIGURD – Värmod, meu amigo. Que coisa triste o destino. Em teu lugar, eu desistiria e retornaria para meu povo…

VÄRMOD – Obrigado por seu apoio, caro Sigurd. Não estou certo sobre que o que devo fazer…

SIGURD – Pense bem, Värmod, pense bem. A vida é uma só. Não há duas.

Sigurd sai destilando seu veneno.

Värmod se vê sozinho e caminha pela floresta até a praia.

CENA 15 – Praia

Orlyg coloca o corpo da esposa enrolado em uma túnica branca no interior da pequena canoa.

Värmod ajuda Orlyg.

Ambos entoam cânticos funerários. Orlyg pede aos ancestrais que recebam sua mulher no Valhalla.

Ele empurra o barquinho para o oceano.

Os dois homens vêem com lágrimas nos olhos o barco sumir no horizonte.

Orlyg agradece a Värmod por ser o único que o acompanhou na despedida a Dalla.

Orlyg sai e deixa Värmod sozinho na praia.

Värmod está sentado na beira do mar. Ele olha para o longe. O frio vento do inverno que se aproxima velozmente corta o ar. As ondas do mar escuro brilham com o fraco sol. A hora da decisão vai se aproximando. Värmod pega uma pedra no chão e lança ao longe.

Uma mão enrugada tolha o braço de Värmod. Ele se assusta. Olha para trás e o que vê é a aia de Inga, Sabba. A velha gorda tem o olhar triste.

SABBA – Meu senhor…

VÄRMOD – Sabba…

Sabba abraça Värmod. Ela chora.

VÄRMOD – Não chora Sabba.

SABBA – Meu senhor. Não vá. Sei de coisas que o senhor deve saber.

VÄRMOD – Conte-me o que sabes, Sabba.

SABBA – Escute com atenção meu senhor. O rei foi envenenado por Sigurd. Ele e Ragnar tem um plano…

Sabba vai contando a Värmod o plano maléfico dos dois, e como a princesa foi trocada por uma promessa de coroa. Como Ragnar pretende destruir os outros clãs e dominar o clã Iarlabanki.

 

CENA 16 – Praça principal da aldeia

Do alto do barril, Arnkel olha o horizonte. O sol lentamente atinge o pico mais alto das montanhas do norte.

ANCIÃO ARNKEL – Onde está Värmod?

POVO – Desistiu. Desistiu! Covarde. Covarde…

As pessoas discutem entre si numa enorme confusão, até que alguém no meio da multidão grita apontando para a entrada da vila:

VELHA – Olha lá! È ele!

E o povo corre ao redor de Värmod, todos a perguntar se ele desistirá ou não da missão suicida.

Värmod vem em silêncio até o centro da praça, onde está o barril com o velho ancião no topo.

ANCIÃO ARNKEL – E então, meu jovem? O que tem a me dizer?

Värmod – Eu vou! – Diz em alto e bom som.

O povo comemora. Pessoas pagam apostas. Crianças correm gritando em sua festa permanente, alheios ao que ocorre na aldeia.

No meio do povo, a sombra magra e pálida de Sigurd sorri.

SIGURD – (sussurra) – Então resolveu bancar o herói, moleque idiota… Tu mal sabes o que te esperas.

ORLYG – Eu vou com ele! – Grita, saindo de sua casa.

O povo se volta para o ancião em busca de algum impedimento.

ANCIÃO ARNKEL – Tem certeza do que diz, Orlyg? Sabes o perigo desta jornada?

ORLYG – Sim, senhor.

ANCIÃO ARNKEL – Então, que seja feita tua vontade, Orlyg. Que Dalla interceda ao seu favor em tão nobre viagem. Värmod?

VÄRMOD – Sim, ancião?

ANCIÃO ARNKEL – Quando pretendem partir?

ORLYG- Partimos ao nascer do sol. Värmod dorme hoje em minha cabana e partimos com o raiar do sol.

O ancião acena afirmativamente e o povo aplaude.

Orlyg abraça Värmod. Vamos, é por aqui.

CENA 17 Casa de Orlyg

A noite cai sobre a aldeia.

Värmod não consegue dormir. Está na cama. Ele rola de um lado para o outro. Não consegue pregar os olhos.

Do outro lado do aposento, Orlyg ronca profundamente.

Um ruído chama a atenção de Värmod. São pequenas batidinhas na madeira.

Värmod levanta-se e vai até a porta. Ali fora não há ninguém.

Värmod sai para o pátio da aldeia e uma voz trêmula atrás de si o assusta:

VELHO – Corajosa decisão, filho de Styr.

Värmod se vira. Ali está o velho em farrapos que salvou da morte quando chegou na aldeia.

VÄRMOD – Não sei se devo agradecer sua observação, velho.

VELHO – Ora, deixe de humildade idiota, garoto. Não nos apresentamos formalmente ainda. Eu sou Assur, mas todos sempre me chamaram de “velho”.

VÄRMOD – Certo. O que queres comigo na escuridão da noite, velho?

VELHO ASSUR – Ora, garoto. Tu me salvaste da morte certa. È justo que eu lhe devolva em dobro aquele benefício que generosamente e corajosamente me ofereceste.

O velho tira então de uma enorme sacola que carrega nas costas um escudo viking. Mas não é um escudo comum. È um escudo coberta com uma camada de prata muito brilhante e polida.

VÄRMOD – Sagrado Menir! Olha como brilha.

VELHO ASSUR – Sim, filho de Styr. Brilha como a água mais límpida. Como a lua e o sol.

VÄRMOD – Velho, como pode algo brilhar assim?

VELHO ASSUR – Esta prata vem das minas de Daka Arani…

VÄRMOD – Mas… Como pode? Isso não é uma lenda? A ilha de Daka Arani?

VELHO ASSUR – Pobre garoto. Tal qual os jovens de seu tempo, não crê nas coisas dos antigos. Não sei como tem coragem de enfrentar o poderoso Grub Skarr se nem ao menos crê nas coisas do outro mundo. Fique com o escudo. Eu não tenho mais idade para usar isso.

VÄRMOD – Mas velho… Como pode? O que é esta criatura que todos temem?

VELHO ASSUR – Saiba ó filho de Styr, que no passado, num tempo além das memórias dos mais antigos homens, existiram bestas e gigantes sobre a Terra. Os gigantes sucumbiram e as criaturas cresceram. Monstros com dentes enormes, grandes como espadas, ferozes como nunca se viu, dominaram o planeta por mais de mil anos.
Os deuses baniram as bestas e fizeram os homens. Mas algumas dessas bestas ainda habitam os lugares distantes e inóspitos da Terra. Na escuridão dos mares, na amplitude dos céus, nas florestas de terras distantes além do oceano, nas montanhas geladas aonde nenhum homem vai, por medo, cobiça ou qualquer outro motivo.

O avô do meu avô, contou a ele que certa vez, houve uma seca muito grande. Não havia comida. O mar recusou os peixes e o povo passou fome. Sem esperança, o clã do meu avô buscou refúgio viajando para o norte. A expedição tentou passar pelo desfiladeiro das montanhas do norte, mas nenhum deles voltou. Só o avô do meu avô.

VÄRMOD – E o que havia lá? O que houve com seu povo?

VELHO ASSUR – Eles morreram. As montanhas do norte são a morada do grande Grub Skarr. Ele está lá agora. Matando os animais na escuridão. Posso quase ouvir seus gritos. Posso quase sentir seu hálito da morte. E o avô do meu avô descreveu a besta com tamanha precisão que nunca mais me esqueci.

O monstro é enorme, da cor da neve, garras afiadas como espadas, dentes grandes como facas, uma criatura dos tempos passados que jamais retornarão. Uma besta esquecida pelos deuses para enlouquecer os homens. A besta caminha de noite e dorme de dia. Seus olhos são vermelhos como o sangue. Grub Skarr só teme uma coisa em todo o universo…

VÄRMOD – O que? Diga velho.

VELHO ASSUR – Ele teme a luz. Seus olhos são feitos da escuridão. Das trevas. A luz do dia fere a besta. Mas não se anime. No alto das montanhas do norte, as nuvens são grandes e escuras e a noite e o dia se confundem a cada momento. Ao raiar do dia, siga para o norte. Vá para as montanhas. Viaje de dia. Mas quando se aproximar dos penhascos, durma de dia e fique alerta de noite, pois a besta caça a noite.

VÄRMOD – Obrigado Velho.

VELHO ASSUR – De nada meu filho. Estarei com você em pensamento.Pedirei aos ancestrais que guiem seu caminho e do seu amigo.

Devo ir agora que o dia começa a clarear. Se os guardas me pegam aqui na aldeia me matam.

VÄRMOD – Mas do que te acusam, velho Assur?

VELHO ASSUR – De magia. Mas estes são novos tempos onde à magia não tem lugar e os oráculos não falam mais aos ouvidos dos que não querem ouvir. As runas não mostram as verdades aos que não podem ver e os menires são apenas pedras de um tempo antigo, tempo dos nossos esquecidos ancestrais. Não há lugar para mim nem nesta aldeia nem em qualquer outra. Vivo na floresta, com os gnomos e fadas. Com as coisas ta terra, do fogo e do ar. Fique em paz jovem filho de Styr.

VÄRMOD – Adeus, velho.

O velho se aproxima de uma área de mato bem fechado e o mato abre-se como que por mágica. As folhas movem-se como se estivessem vivas, criando uma passagem para a floresta. O velho acena e some no interior da parede de plantas e espinhos, que se fecha ao redor dele.

Värmod fica impressionado com o que acabou de ver e dá mais uma olhada no escudo. Ele brilha como um espelho. Värmod vê seu rosto na superfície polida do escudo prateado. Na porta da casa de Orlyg surge o próprio.

ORLYG – Acordou cedo, garoto!

VÄRMOD – Pois é.

ORLYG – Sagrado Menir! O que é isso? Como essa coisa brilha. Vira isso pra lá.

VÄRMOD – É um presente de um velho amigo.

ORLYG – Vamos embora garoto? Acho que o bicho fica para o sul.

VÄRMOD – Não, amigo Orlyg. O nosso destino é o norte.

ORLYG – Norte? Tem certeza? Como sabes?

VÄRMOD – Não posso explicar exatamente, mas sei que o monstro mora lá. Naquelas montanhas, está vendo?

ORLYG – Dizem que ninguém nunca foi lá.

VÄRMOD – Ir não é o problema, caro Orlyg.

ORLYG – (Risos) – Venha, garoto. Vamos preparar as provisões e comer alguma coisa. Estou faminto.

CENA 18 – Portão da aldeia do clã Iarlabanki.

As pessoas se aglomeram para ver a partida dos dois aventureiros. Os músicos tocam os tambores de guerra. Os soldados e guerreiros fazem a reverência aos que vão para a morte.

Eles partem levando dois bois carregados com as coisas. Värmod carrega o escudo brilhante nas costas. Orlyg leva o machado de seu pai. No portão, prestes a sair, o povo grita e Värmod olha para trás. Surge a bela Inga, branca como o dia. Seus olhos azuis emanando o mais puro amor.

Eles se entreolham e sentem que aquela pode ser a última vez. Inga carrega um saco grande. Ela vai até ele. O povo aplaude.

Inga tira do saco o machado de guerra de seu pai, o rei Maldof.

VÄRMOD – Eu não posso aceitar, meu amor.

INGA – Vá e me traga a cabeça daquela criatura, Värmod. Meu pai não morreu atôa. Leve o machado dele. Ele gostaria que o machado dele fosse empunhado por um homem de coragem e sabedoria. Por isso, leve-o.

VÄRMOD – Eu te amo.

INGA – Então atenda um pedido meu.

VÄRMOD – Todos os que tiver.

INGA – Volte.

VÄRMOD – Eu voltarei. Eu voltarei. Adeus!

Värmod sai andando em direção à floresta. O povo comemora. Inga vira-se para a velha Sabba.

INGA – Ele já foi, Sabba?

SABBA – Já.

Inga desmorona em lágrimas nos braços de Sabba, que tenta em vão consolar a princesa.

CENA 19 – VIAGEM DE Värmod

Värmod e Orlyg andam pelas planícies, sobem morros e atravessam riachos. Eles vão puxado os bois que carregam mantimentos equipamentos e provisões nas costas.

Vemos várias imagens dos dois passando em lugares inóspitos e distantes. A música em clímax.

Värmod para sobre uma elevação. Uma planície gigante se descortina na frente dos dois. Ao fundo, as montanhas sobem como catedrais góticas e direção aos céus. Orlyg vira-se para ele.

ORLYG – Está ficando cada vez mais frio.

VÄRMOD – Vamos vestir as mantas.

Enquanto ambos se vestem, com pesadas mantas de pele, Orlyg Olha o escudo prateado. Olha o reflexo das montanhas no espelho.

ORLYG – Quanto mais andamos, mais eles parecem longe.

VÄRMOD – Vamos amigo, as montanhas não fugirão para sempre. – Diz puxando o boi pela corda de couro, seguido de Orlyg e seu outro boi.

CENA 20 – O lago congelado.

Ao chegarem na beira de um enorme lago congelado, as montanhas parecem bem maiores do que pareciam. Elas perdem-se entre as nuvens do céu. Não dá pra ver o cume.

À frente deles o lago parece uma placa de vidro refletindo as montanhas. Faz muito frio e o vento é forte.

Os bois recusam-se a andar no gelo. Värmod amarra a corda na cintura e puxa o boi pela corda, obrigando-o a caminhar na superfície do lago. Com dificuldades, o animal vai.

Os dois aventureiros caminham distanciados, sem conversar, andando lentamente. A cada passo, uma análise cuidadosa do próximo.

Värmod vê a superfície do gelo. A água escura sob eles.

Os dois seguem andando. Passo lentos.

Orlyg rompe o silêncio aos gritos.

ORLYG – Será que é fundo aqui?

A voz de Orlyg ecoa no espaço.

VÄRMOD – Acho que sim.

Eles vão andando.

Subitamente, Värmod pisa e ouve um estalo. Seus músculos se retesam. Ele olha para baixo.

Uma rachadura surge no gelo. Ela lentamente cresce.

Värmod olha para Orlyg. Ambos estão estáticos. Orlyg olha então para o boi de Värmod.

Värmod olha para trás. É tarde para tomar qualquer atitude. O boi vai instintivamente na direção de Värmod e pisa na rachadura. (câmera lenta)

Orlyg grita alguma coisa.

Värmod salta de lado. O gelo estoura. O boi afunda . A corda do boi puxa Värmod. Ele começa a ser arrastado na direção do buraco no gelo. O boi tenta desesperadamente subir na beira do lago, mas quanto mais se debate, mais a superfície se parte.

Värmod tenta se segurar como pode, mas o animal o puxa cada vez mais para dentro do buraco de gelo.

Orlyg Grita para Värmod cortar a corda.

Värmod consegue agarrar-se numa depressão pequena de gelo. A corda de couro vai puxando ele com força. Aperta cada vez mais. O boi desesperado afunda na água escura do lago. A corda puxa ainda mais.

Orlyg vem correndo. Dá uma volta distante do buraco para chegar até Värmod.

Värmod sente as forças se esvaindo. A corda começa a estrangular-lhe a cintura. Os dedos começam a soltar-se do gelo.

Orlyg Salta sobre Värmod com uma adaga na mão. Ele corta a corda. A corda dispara em direção ao buraco e some.

No instante seguinte só há um boi ao longe. Um buraco no gelo, dois homens exaustos e resfolegantes e o silêncio que só é rompido pelo vento.

VÄRMOD – Obrigado.

Orlyg – Fiz o que precisava fazer.

VÄRMOD – Perdemos uma parte da carga.

Orlyg – Mas estamos vivos, amigo.

VÄRMOD – Sim. Estamos. Vamos em frente. E com cuidado.

Os dois levantam-se e caminham ao largo do buraco.

O boi de Orlyg parece mais inteligente e vai à frente, bem distante de ambos.

Ao cruzarem o lago de gelo, resta uma pequena mata densa e atrás dela estão as pedras iniciais que ocultam atrás de si as montanhas geladas do norte.

ORLYG – Acho que teremos que dormir aqui hoje.

VÄRMOD – Sim, vamos montar o acampamento na floresta.

CENA 21 – Acampamento na mata

Já é noite e os dois corajosos aventureiros estão montando a barraca.

ORLYG – Teremos que dormir sob o mesmo teto novamente, Värmod.

VÄRMOD – Sim, Orlyg. Vou buscar a lenha.

Orlyg monta a barraca de couro costurado. Enquanto isso, Värmod limpa a área do acampamento, tirando o pouco de neve, folhas e galhos do chão. Com algumas pedras ele constrói uma área para queimar cascas de árvore, gravetos e pequenas toras que ele cortou com sua espada.

Com pedras pretas que traz num saco, Orlyg faz o fogo. Em poucos minutos os dois estão sentados ao redor da fogueira, comendo carne ressecada e conversando.

VÄRMOD – Orlyg, como conheceu Dalla?

ORLYG – Com a voz embargada pela emoção – Nos conhecemos na infância., Crescemos juntos.

VÄRMOD – E o que houve com ela?

ORLYG – Mordida de cobra.

VÄRMOD – Ah… Que pena.

ORLYG – (disfarçando uma lágrima) – Vamos dormir! Vamos dormir que saímos cedo pela manhã.

 

CENA 22 – Barraca de Sigurd

Sigurd está com um tacho preto nas mãos. Ele coloca água de uma garrafa verde no tacho. Pega algumas folhas e joga dentro do mesmo.

Começa a entoar um cântico estranho, cheio de palavras antigas e grunhidos. Seu rosto adquire uma aparência fantasmagórica refletida no lago. Os olhos de Sigurd adquirem uma cor diferente. Eles ficam amarelos. Sigurd olha fixo para a água no tacho.

CENA 23 – Acampamento na floresta

Värmod abre os olhos com o barulho de um uivo.

Orlyg está de pé ao lado dele. O machado na mão. Uma tocha na outra.

ORLYG – Lobos. São muitos.

VÄRMOD – Onde estão? Não vejo nada.

ORLYG – Estão cercando a gente. Pega o machado. Rápido.

Värmod pega o machado. Na escuridão ao redor deles, rosnados e sussurros guturais.

VÄRMOD – Que lobos são esses? Todos pretos?

ORLYG – Não sei. Mas isso não me parece bom. Estão cercando a gente.

VÄRMOD – Veja, a tocha só ilumina os olhos deles.

ORLYG – Prepare-se. A coisa está piorando…

Um dos lobos escuros surge da escuridão. È grande para um lobo. Parece mais ter o tamanho de um leão.

VÄRMOD – Olha só essa coisa.

O animal está rosnando ameaçadoramente para os dois.

O boi de Orlyg está em pânico, se debate querendo fugir. Só não foge porque está amarrado a uma árvore.

O lobo lentamente se aproxima, rosnando para os dois. Eles usam as tochas para afastar os animais.

O lobo alpha salta sobre Orlyg. Värmod acerta a criatura com uma só machadada no meio da coluna. O lobo cai no chão ganindo. Os outros correm para cima. Por sorte são menores.

Começa um violento combate. Os lobos saltam sobre os dois vikings, que se defendem como podem, usando as tochas e os machados. Värmod mata dois, três, quatro lobos.

Orlyg continua a acertar machadadas nos animais que avançam, e mantém os demais ao longe com as tochas.

VÄRMOD – Orlyg, não tem jeito. Eles são muitos.

ORLYG – Värmod, quando eu gritar, corra. Corra o mais que puder, certo?

VÄRMOD – O que vai fazer?

ORLYG – Apenas corra, entendeu? E leva a tocha.

VÄRMOD – Acertando a cabeça de um lobo – Sim. Ao seu sinal.

Orlyg vira-se e acerta o machado no boi. O animal solta um grunhido e cai. Os solos saltam sobre o boi que estrebucha no chão.

ORLYG – Agora! Corra.

Ambos saem correndo, deixando a alcatéia selvagem atrás deles. Com sangue fresco, o boi vira o alvo dos ataques. Os dois guerreiros correm pela mata densa iluminando o caminho com as tochas.

Ao longe eles escutam os uivos dos lobos. O frenesi alimentar e os rosnados.

Os homens só param ao sopé da montanha.

VÄRMOD – Que tipo de lobo é esse?

ORLYG – Não sei, mas não pareciam deste mundo. Pelos sagrados ancestrais… Nunca vi nada assim na minha vida.

VÄRMOD – Perdemos a segunda carga de provisões.

ORLYG – Pelo menos o meu machado está comigo. Mas o boi já era.

VÄRMOD – O dia está amanhecendo. Veja.

ORLYG – É verdade. Chegamos nas montanhas. Olha só o tamanho dessa coisa.

VÄRMOD – Devemos subir agora? O que você acha?

ORLYG – Vamos esperar até a luz firmar. Aí voltamos no acampamento para ver se algo se salvou dos lobos.

VÄRMOD – Boa ideia.

CENA 24 – Passagem de tempo

CENA 25 – ACAMPAMENTO NA FLORESTA

 

Os dois estão de volta ao acampamento. Não há sinal de lobos mortos. Apenas o sangue. Muito sangue espalhado pelo acampamento. Na neve do chão, nota-se as pegadas dos lobos.

Do boi só estão pequenos pedaços de carcaça.

ORLYG – Que estranho, nenhum cadáver dos lobos. Eu matei uns dez. Devia ter pelo menos uns dois aqui…

VÄRMOD – Está vendo algo que tenha sobrado?

ORLYG – Sim, a cabana e as cordas. Minha adaga e… Só isso.

VÄRMOD – Vamos embrulhar a cabana novamente e subir a montanha.

Os homens partem na direção da montanha.

CENA 26 – REUNIÃO DO CONSELHO DE ANCIÃOS

Vários anciãos estão sentados em volta de uma fogueira na casa dos anciãos. Eles discutem o futuro do clã.

ANCIÃO ARNKEL – Irmãos, estamos reunidos para definir o novo líder do nosso clã. Não podemos esperar eternamente, pois clãs rivais podem descobrir que estamos sem um rei e isso colocaria a aldeia em perigo.

ANCIÃO DIARF – Maldof está morto, mas ele não deixou filhos. Apenas Inga. Inga não pode governar por ser mulher. Eu proponho que nosso novo rei seja eleito entre os guerreiros de nosso clã.

Os anciãos deliberam entre si.

ANCIÃO ARNKEL – Sim, irmãos, vamos pensar. O título deveria ser de Inga, mas a nossa lei proíbe que uma mulher lidere nosso clã. O correto não seria então que o marido dela se tornasse nosso líder?

Novamente os anciãos conversam entre si. Eles não estão de acordo.

ANCIÃO DIARF – Irmão Arnkel, Inga está sem marido. Muitos de nós acreditamos que o jovem pretendente não poderá retornar de sua missão. Eu proponho que a liderança do clã seja dada ao mais forte, como as escrituras sagradas dos nossos antepassados ordenam. Tem sido assim desde o princípio dos tempos.

ANCIÃO ARNKEL – todos vocês concorda, com a sugestão do irmão Diarf? Estão de acordo?

Os anciãos deliberam novamente. Ancião Folkmar levanta o braço.

ANCIÃO FOLKMAR – Sim, estamos de acordo, irmão ARNKEL, mas gostaríamos de sugerir uma terceira via.

ANCIÃO DIARF – E qual seria irmãos?

ANCIÃO FOLKMAR – Escolheremos o mais forte guerreiro como manda as escrituras. Mas se o jovem voltar, se por algum acaso ele conseguir cumprir a missão dada por Maldof, ele imediatamente assumirá a princesa Inga como esposa e pela lei do código dos antepassados, passa a ser o descendente direto do trono de Maldof.

ANCIÃO ARNKEL – Me parece justo. Mas as chances do garoto voltar são poucas, vocês sabem.

ANCIÃO DIARF – Poucas não. Mínimas. Podem já estar mortos a esta altura. Ninguém que passou do lago perpétuo voltou com vida.

ANCIÃO ARNKEL – Nunca se sabe. Não viro as costas para o destino… E por falar em destino, quem seria o guerreiro mais forte do clã?

Os anciãos deliberam novamente.

ANCIÃO DIARF – O homem mais indicado para nos liderar é o sobrinho de Maldof, Ragnar. O mais forte e bravo guerreiro.

ANCIÃO ARNKEL – Mas Ragnar é um louco. Um homem destemperado. Não vejo nele a tranqüilidade necessária para um rei.

ANCIÃO FOLKMAR – As escrituras não mencionam tranqüilidade, irmão. Mencionam que : “O mais forte vos liderará”.

Então, que assim seja. Todos de acordo, proclamaremos Ragnar nosso líder por sete luas. Se dentro deste período o jovem Värmod voltar, nos reunimos novamente e escolhemos o novo rei seguindo as ordens sagradas dos antepassados.

Todos os Anciãos se levantam e saúdam-se.

Quando a tenda da casa dos anciãos é aberta, há uma multidão esperando pela proclamação do rei.

Entre eles estão Ragnar e Sigurd.

Ancião Arnkel sobe no barril. O povo esperando.

ANCIÃO ARNKEL – Irmãos e irmãs. O conselho dos anciãos se reuniu e seguindo as escrituras sagradas de nossos antepassados, definimos o novo rei. Ele ocupará a função de líder do clã Iarlabanki por sete luas. Se neste período o jovem Värmod não retornar, o líder temporário será coroado nosso rei

Ragnar olha para Sigurd. Sigurd sorri maliciosamente.

Arknel continua a ler o papiro.

Sob os olhares e proteção dos nossos antepassados, os deuses e deusas do panteão sagrado, sob as forças da natureza, e sob o sangue do clã Iarlabanki, nosso novo líder será Ragnar!

O povo aplaude. Ragnar ergue os braços. Ele é abraçado por Sigurd.

Ragnar avança até o barril.

RAGNAR – Ancião, eu desejo falar.

O ancião sai com dificuldade do barril. Amparado por soldados ele desce. Num salto Ragnar galga o topo do barril. O povo em silêncio.

RAGNAR – Então, eu sou o rei!

Todos comemoram.

CENA 27- MONTANHAS DO NORTE

Värmod e Orlyg estão subindo como podem as montanhas. Um tem uma corda amarrada ao outro. Venta muito e a neve é constante.

Os homens escalam as paredes de rocha escorregadia. Suas mãos sangram, mas eles seguem em frente.

Uma explosão ocorre. O chão começa a tremer. Värmod olha para cima. No alto, uma enorme placa de gelo desce a montanha.

VÄRMOD – Avalanche!

ORLYG – Esconda-se rápido!

O ruído assustador vai aumentando. A vibração é incontrolável.

ORLYG – Vamos morrer!

VÄRMOD – Orlyg, rápido deite-se atrás dessa pedra.

É uma pedra com meio metro de altura. Os dois homens correm para trás da pedra. A avalanche se precipita sobre eles, cada vez maior. Cada vez mais neve e pedras explodem no ar.

Orlyg se aperta contra Värmod.

Os dois pegam seus mantos de couro e cobrem as cabeças. O ruído aumenta cada vez mais.

Quando a onda atinge Os dois um jato de gelo assustador colide com a pedra. Explodindo no ar. Milhões de toneladas de gelo e escombros rolam sobre eles. Protegidos pela área de sombra da pedra os dois ficam agarrados um ao outro. Em segundos estão recobertos de uma grossa camada de gelo.

Värmod ouve a voz abadafa e ofegante de Orlyg no meio do gelo.

ORLYG – Värmod, você está vivo?

VÄRMOD – Estou. Consegue se mexer.

ORLYG – Estamos presos. Estamos soterrados. Não consigo em mexer muito.

VÄRMOD – Temos que sair daqui antes que a neve se acomode, ou ela vai congelar e endurecer.

ORLYG – O que faremos?

VÄRMOD – Consegue alcançar sua espada?

ORLYG – Não.

VÄRMOD – Espera. Acho que consigo pegar a minha. Deixa-me tentar. Espera… está quase.

ORLYG – Pegou? Conseguiu?

VÄRMOD – Consegui. Agora vou tentar usar o cabo dela para escavar uma passagem.

ORLYG – Certo. Estou tentando escavar também. Acho que tem uma pedra aqui em cima de mim. Está muito duro.

VÄRMOD – Sagrado Menir! Consegui. Minha mão está fora. Posso sentir o vento.

ORLYG – Rápido Värmod , escave o mais rápido que puder. O gelo esta endurecendo rápido demais.

Värmod escava o gelo e liberta um braço. Com o braço livre, ele começa a romper o gelo. Consegue enfim sair de sua prisão. Ao seu redor é tudo branco. A paisagem coberta de rochas pontiagudas deu lugar a uma imensidão branca.

Ele ouve a voz fraca e abafada de Orlyg

ORLYG – Värmod, cadê você? O que houve?

Värmod calcula mais ou menos a posição de Orlyg. Coma espada começa a escavar o gelo em busca do amigo. Após cavar alguns centímetros ele vê uma grande pedra na forma de placa. O amigo está em baixo dela.

Lá fora o vento gelado endurece a neve com velocidade.

Värmod volta para o buraco onde saiu. Ali ele pode escutar melhor os gritos de Orlyg.

VÄRMOD – Orlyg, tem uma placa de pedra em cima de você. Não dá pra te tirar por cima.

ORLYG – Maldição! Não quero morrer, Värmod.

VÄRMOD – Não vais morrer meu amigo. Pelas escrituras, eu juro que tiro você daí.

Värmod sai do buraco de gelo novamente. Ele pega a espada. Começa a cavar com ela violentamente. O vento e o frio fazem seu peito arder.

Värmod sabe que cada segundo que perde, seu amigo ficará mais preso no túmulo de gelo.

Ele cava com disposição. Vai retirando vários centímetros de neve. Com as mãos ele retira a neve até encontrara a rocha. Com a espada, ele abre um espaço entre a camada grossa de neve que já está bem dura e a pedra.

A voz de Orlyg começa a ficar mais forte.

ORLYG – Estou com frio.

VÄRMOD – Calma amigo. Estou cavando. Estou cavando.

A mão de Orlyg surge no meio da neve.

Värmod pega na mão do amigo.

ORLYG – Ah, que bom. Você está aí. Cave, cave! Quero sair daqui. Não consigo respirar direito. Acho que o ar está acabando.

Värmod consegue expor a pedra, mas não consegue levantá-la. Ela é muito pesada. Ele volta para o buraco, enfia a cabeça lá dentro e grita a plenos pulmões.

VÄRMOD – A pedra pesa muito. Não consigo levantá-la.

ORLYG – Värmod , Tenta cavar pela lateral. Veja se alcança o meu machado.

Värmod cava com a espada pela lateral e alcança o machado do amigo. Com ele, Värmod consegue enfiar a lâmina da espada sob a laje de pedra, entre uma rocha e a outra, abrindo uma pequena greta. Dali surge o som claro e ofegante de Orlyg:

ORLYG – Ah. Ar! Que bom. Como é bom… Está entrando.

Värmod está tentando pisar na espada para levantar a pedra. Ele consegue erguê-la um pouco e enfia a lÂmina do machado de Orlyg entre as duas. A greta de ar entre as rochas se abre ainda mais.

Com o espaço maior, Värmod consegue enfiar os dois machados entre as duas pedras e faz a maior força de sua vida. A laje de pedra começa a se mover. O braço de Orlyg é liberado e ele ajuda a empurrar a pedra.

ORLYG – Espera, espera. Pára, pára.

VÄRMOD – O que foi?

ORLYG – Temos que empurrar de uma só vez. Assim ela desliza mais.

VÄRMOD – Certo. Vamos lá.

ORLYG – Eu conto. È um… É dois… Agora!

Os dois aventureiros empurram a pedra. Ela se move um espaço bem maior. Orlyg consegue colocar a cabeça para fora do buraco.

ORLYG – Ah, como é bom este vento maldito.

VÄRMOD – Consegue passar aí?

ORLYG – Acho que sim. Me ajuda aqui. Me puxa. Isso mais pra cá. Minha perna ta agarrada. Espere aí. Deixa-me tentar soltar. Empresta-me a espada.

Orlyg enfia a espada no buraco e abre uma passagem para sua perna cortando o gelo.

VÄRMOD – E agora]? Consegue passar?

ORLYG – Sim, sim. Estou saindo. Estou saindo. Sagrado menir! Consegui, Consegui!

Os aventureiros se abraçam sobre o túmulo de neve.

VÄRMOD – Se a laje de pedra tivesse deslizado só um pouquinho mais para a direita eu estaria preso com você pra sempre neste lugar, Orlyg.

ORLYG – Seria nosso fim.

VÄRMOD – Vamos em frente. A tempestade está piorando. Pode acontecer outra avalanche.

ORLYG – Vamos correr para aquele platô e de lá para aquela encosta escarpada. Deve ter uma maneira de subir por lá. Veja, é rocha nua.

VÄRMOD – Sim, vamos lá.

O vento e a neve inclementes castigam a montanha. Os dois homens cambaleiam pela neve fofa, afundando até os joelhos na direção do platô.

 

CENA 28 – Cabana de Maldof

Inga está rezando para os antepassados. Pedindo clemência para Värmod. Sabba está esquentando ervas no fogo.

A porta da cabana se abre e surge o espectro ambulante de Sigurd. Ele caminha com aquele andar felino até Inga.

INGA – O que quer aqui, Sigurd?

SIGURD – (abaixando ao lado de Inga) Vim ver como você estava, minha querida Inga. Perder o pai assim e o pretendente… É triste.

INGA – (secamente se afastando de Sigurd) Estou bem.

Sabba fica apenas olhando com uma expressão de ódio. Ela deseja falar mas teme pelo sofrimento de Inga.

SIGURD (virando-se para Sabba) – Lacaia, saia. Quero falar a sós com sua patroa.

INGA – Não tenho nada para falar com você Sigurd. Vá embora.

Sabba levanta-se e sai.

Sigurd se aproxima novamente de Inga.

INGA – O que quer de fato, Sigurd?

SIGURD – Quero falar-te de meu amor por você.

INGA – Perde seu tempo, Sigurd. Meu coração pertence a Värmod.

SIGURD (com raiva) – Mas eu sempre te amei, Inga. Não diga que não percebeu.

INGA – Olhe para você mesmo, Sigurd. Eu tenho nojo de você. Nojo!

SIGURD -(Avançando para cima de Inga) – Você diz isso porquê pensa que aquele idiota está vivo. Mas ele está morto. Morto. Posso provar. Olhe para o tacho da sua lacaia. Olhe bem ali dentro.

INGA – Não vou olhar nada. Saia daqui. Saia!

SIGURD – Eles estão mortos. Posso provar. Apenas olhe. (segura com força o rosto dela na direção do tacho)

Inga não resiste e olha. No meio da panela uma espuma branca se forma. Dela, uma bolha lentamente cresce. Pela superfície da bolha, linhas e círculos coloridos se formam. Até que entra em foco uma espécie de vapor. Ali dentro aparece a imagem de Värmod. Ele está morto. Esmagado sob uma enorme rocha. De sua boca escorre um sangue escuro.

Inga grita. Ela se afasta esfregando os olhos.

SIGURD – Viu, princesa? Não há mais esperanças.Ele morreu. Está morto.

INGA – Não! Não pode ser… Não! (começa a chorar)

SIGURD – Case-se comigo, princesa. Sempre te amei. Sempre te amarei.

INGA -Saia, Sigurd. Seu verme! Não ficaria convosco nem que fostes o último ser vivo na face da Terra.

SIGURD – Pois bem, princesa. Tentei ser amável, mas você não me deixa outra escolha. O novo rei, Ragnar me concedeu sua mão. Vais casar comigo queiras ou não queiras.

INGA – Não! (chora muito) Pobre Värmod…

SIGURD – Ouviu o que eu falei? Vais casar comigo.

Inga está fora do ar. Chora por Värmod.

SIGURD – Sim, princesa. Seu seu papai aqui para defendê-la, o rei é Ragnar. E ele me concedeu sua mão.

INGA -Desgraçado!

Sigurd avança sobre inga. Ela tenta escapar. Sigurd agarra a menina, Tenta beijá-la a força. INGA acerta uma joelhada em Sigurd. Ela corre e pega uma faca para se proteger.

Sigurd sente muita dor. Fica sem ação. Ele sai da cabana, cambaleando.

SIGURD – Princesa… Vai se arrepender. Vai se arrepender! Logo serei teu marido e me obedecerás por gosto ou pelo chicote.

INGA – Maldito! Maldito! (chorando muito)

Entra Sabba.

SABBA- Calma criança. Sabba está aqui. Chhhhh. Calma. Calma. Passou, Passou.

INGA – Sabba, Värmod… Värmod está morto.

SABBA – Não. Não está. Eu não sinto…

INGa – Eu vi, Sabba. Eu vi (chora muito)

SABBA – Chhhh… Passou. Passou.

CENA 29 – Encosta das montanhas do norte

Värmod e Orlyg estão sob o platô. A tempestade de neve começa a apertar.

ORLYG – Värmod, acho que teremos que pernoitar aqui.

Värmod – Está ventando muito. Mas estamos protegidos pela rocha. È o melhor lugar que vejo. Melhor ficarmos aqui mesmo. Já está escurecendo.

Os dois homens começam a cavar a neve e retirar as pedras para construir um abrigo. O vento está forte, mas o paredão de pedra desvia a maior parte do vento e da neve para frente da área da barraca.

CENA 30 – Cabana de SIGURD

Sigurd entra mancando na cabana.

SIGURD – Princesa desgraçada. Ai… (leva a mão nos genitais)

SIGURD – Ela me paga, maldita. Só pensa no tal Värmod … (imita a princesa de um jeito afeminado)

SIGURD – (imita)Ah, Värmod, meu amor. Eu te amo. Casa comigo? (imita)

SIGURD – (voltando ao seu jeito normal) Ela me paga!

SIGURD – Por enquanto é apenas uma ilusão, mas logo eu mudarei isso. Em breve será na realidade. Vou matar aqueles desgraçados de uma vez. Escaparam dos lobos, mas agora vai ser pra valer. Deixe-me ver. ( consultando um saco de couro sob a cama) Um… Tenho, tenho. Ah. Sangue. È isso. Falta o sangue inocente.

Sigurd levanta-se, vai cambaleando para a porta e sai da cabana.

CENA 31 – Praça principal da vila

Duas criancinhas brincam de lutar espada com gravetos de uma árvore. Ao fundo, a mãe corta lenha.

Sigurd se aproxima todo amável.

As crianças por sexto sentido ou coisa parecida temem ele. Talvez por sua aparência grotesca. Todos correm. Menos um.

Sigurd faz uma mágica. Faz surgir uma borboleta luminosa de suas mãos. A criança maravilha-se. Se aproxima.

SIGURD – Venha, veja outra…

Sigurd olha para o menininho. Ele tem um graveto nas mãos.

SIGURD – Oi amiguinho. Isso é sua espada?

MENINO – Não, é meu machado.

SIGUIRD – Ah, sim. Estou vendo. È um machado. Ah, mas que machado lindo que você tem, hein amigo? Parece até um guerreiro de verdade.

MENINO – Eu sou um guerreiro de verdade e vou lutar pelos ancestrais. (começa a fazer golpes no ar com a espada, e com a boca imita o som do vento)

MENINO – Vush, vush. Morra cão! Vush.

SIGURD – (com ar enfadonho) Que tal experimentar uma espada de verdade? Você já mexeu numa espada de verdade antes, amiguinho?

MENINO – Não.

SIGURD – Quer ver? Olha só. ( Ele olha para os lados para certificar-se que ninguém está olhando)

Sigurd afasta o manto de couro pesado e preto que usa e tira uma espada de lâmina fina.

MENINO – Que bonita.

SIGURD – Quer pegar? Pode pegar. Pega aqui… (aponta para a lâmina, mantendo o cabo nas próprias mãos)

O menino inocente segura a lâmina.

SIGURD – Segura firme que eu vou soltar, hein?

MENINO – È fria…

SIGURD – Vai esquentar…

Sigurd olha para a mãe do garoto. Ela está de costas distraída. Sigurd puxa a lâmina com toda a força.

A criança berra.

MENINO: AAAAAAAAAAI! – Abre a boca a chorar.

A mãe está cortando lenha. O menino corre pra ela com as mãos ensangüentadas.

MÃE – O que é isso? Quem fez isso com você?

O menino aponta. Lá no lugar onde estava Sigurd, não há nada. Ninguém.

CENA 32 – CABANA DE SIGURD

Sigurd entra sorrateiro. Fecha a porta da cabana. Ele Pega com cuidado na lâmina, cheia de sangue vermelho-vivo. Sigurd deixa a lâmina pingar num caldeirão. Pega pedras com runas antigas. Coloca em volta. Começa a conjurar palavras de tempos esquecidos. Sigurd joga folha e raízes na água com o sangue. Ele profere um tipo de reza sussurrada.ç Um brilho azul acontece no interior do tacho. Sigurd iluminado pela luz fantasmagórica continua a proferir encantamentos…

CENA 33 – Acampamento nas montanhas

O vento aumenta de intensidade. Lá dentro, ao redor da fogueira estão Värmod e Orlyg tremendo. O couro da barraca vibra ferozmente. Lá fora uma nevasca violenta atinge o acampamento. O frio é absoluto. Raios e relâmpagos cortam o céu.

CENA 34- CABANA DE SIGURD

Sigurd está invocando os elementos da natureza. Conjura encantamentos com maligna satisfação.

CENA 35 – ACAMPAMENTO NAS MONTANHAS

O vento aumenta de intensidade. A cabana sai voando. O vento apaga o fogo. Värmod e Orlyg estão andando às cegas, tentando proteger-se da nevasca.

Surgem relâmpagos no céu. Desesperados os dois estão à mercê do tempo. Um poderoso raio atinge o platô acima deles. As rochas começam a rolar na direção dos dois.

VÄRMOD – Cuidado Orlyg! O platô está desabando. Corra.

ORLYG – Estou correndo! Vamos pra lá.

Värmod – Não vejo nada. Como você sabe para onde ir?

ORLYG – Eu não sei! Corra!

Os dois homens correm afundando na neve, enquanto a área ao redor deles é atingida por pedras de todos os tamanhos que despencam do céu.

Um enorme rugido ecoa no ar. Um barulho de pedra grande se rompendo.

Novos raios estouram. Na escuridão gélida, ao brilho de um relâmpago, Värmod vê um rochedo enorme inclinar-se e cair na direção eles.

VÄRMOD – Corra para a base. Corra para a base! – Ele grita e sai puxando Orlyg.

O rochedo gigante acerta a plataforma coberta de neve e um terremoto enorme acontece. Um pedaço gigantesco da montanha começa a partir-se.

VÄRMOD – Corra Orlyg! Pule.

ORLYG – Mas é perigoso demais!

VÄRMOD – Cale a boca e pule. A montanha está desabando!

Os dois homens saltam da montanha que se move lentamente no ar, como um gigante de pedra.

Värmod se agarra como pode a uma rocha afiada. Suas pernas balançam sobre o abismo. Orlyg, que pegara maior distância consegue cair em pé na plataforma fixa. Ele puxa Värmod para cima.

Ao fundo eles vêem a enorme pedra em que estavam cair em fragmentar-se em milhões de pedaços. Toneladas de neve e escombros completam a cena cataclísmica. O som é ensurdecedor.

ORLYG – Aponta para baixo – Veja, se não tivéssemos corrido estaríamos esmagados lá em baixo.

VÄRMOD – Vamos em frente, A tempestade diminuiu a força, mas algo me diz que ela ainda vai piorar.

Os dois continuam a escalar a parede de rocha, subindo em meio à neve e o vento. Relâmpagos cortam o céu e estrondos são ouvidos a todo o momento.

CENA 36 – CAVERNA DO VELHO ASSUR

O velho Assur abre os olhos. Está suado. Levanta-se de sua esteira. È alta madrugada.

Ele limpa o suor da testa.

ASSUR – Tem algo errado…

O velho corre de um lado para outro no interior da caverna. Ele pega ervas e folhas.

Joga as folhas no fogo.

Com as mãos ele pega uma pedra verde e coloca sobre a testa. Com os olhos fechados começa a entoar um cântico e pronuncia palavras mágicas…

CENA 37 – Montanhas do norte

Os dois homens escalam a parede de pedra e chegam a outro platô coberto de neve. A tempestade dá um descanso súbito.

VÄRMOD – Olha. Parou de nevar.

ORLYG – Estranho. O vento parou também.

CENA 38-CABANA DE SIGURD

Sigurd percebe que alguém além dele está usando magia. Ele pega a espada embebida no sangue da criança e enfia com força no tacho. Um fogo azul explode iluminando toda a cabana. Sigurd sorri maquiavelicamente.

Cena 39 – Montanhas do norte

Um clarão acontece no céu e o vento retorna, bem mais forte e a neve também. Os raios estouram cada vez mais próximos dos dois homens que correm como podem na neve.

Värmod olha para trás e em pânico descobre que os raios estão caindo perigosamente perto deles, como se uma força dos deuses tentasse impedi-los.

VÄRMOD – Os raios! Os raios. Corra!

ORLYG- Estou correndo! Estou correndo!

Cena 40 – CAVERNA DO VELHO ASSUR

O velho assur percebe que seu oponente invisível está usando poderosos recursos para matar os heróis. Ele Pega a pedra e lança no caldeirão. Um brilho verde inunda a caverna.

Assur cai para trás desmaiado.

Cena 41- CABANA DE SIGURD

Uma explosão acontece e o tacho apaga sua luz azul. Sigurd cai para trás exausto.

Cena 42 – MONTANHAS DO NORTE

Os dois homens correm e subitamente o chão se abre sob seus pés eles despencam, caindo num monte de neve fofa.

Há somente o escuro e o silêncio. Durante algum tempo não há ruído.

A voz de Värmod ecoa na escuridão.

VÄRMOD – Orlyg? Você está aí? Orlyg? Orlyg??

ORLYG – Estou. Acho que estou bem. O que foi aquilo lá em cima?

VÄRMOD – Não sei. Pensei que íamos morrer. Primeiro a tempestade e depois ela pára. Aí então do nada ela volta tentando nos matar…

ORLYG – Onde estamos?

VÄRMOD – Não sei. Acho que é uma caverna ou fenda no gelo. Pelo menos nos protegeu da tempestade.

Onde está a tocha?

VÄRMOD – Acho que não vai dar pra acender a tocha aqui. Larguei as pedras de fazer fogo no acampamento quando a tenda foi pelos ares.

ORLYG – Consegue ver alguma coisa Värmod?

VÄRMOD – Nada. E você.

ORLYG – Nada também. Vamos nos mover com cuidado. Podemos estar perto de um abismo. Na escuridão não dá pra saber.

VÄRMOD – Veja ali está o buraco por onde caímos.

ORLYG – Não estou vendo nada.

VÄRMOD – Espere o relâmpago. Agora… Veja.

ORLYG – Nossa, como é alto…. Eu acho que estou acostumando meus olhos. Com os relâmpagos dá pra ver mais ou menos.

VÄRMOD – Orlyg, vamos ter que passar a madrugada aqui dentro. Pelo menos estamos abrigados do vento e da neve.

ORLYG – Eu estou com fome. Gostaria de comer um pernil. E você?

VÄRMOD – Qualquer coisa pra mim está bom.

Há um pequeno silêncio na caverna.

ORLYG – Värmod? Está acordado?

VÄRMOD -…. Hã? Tô. Acho que tô.

ORLYG – Amigo, se sairmos dessa inteiros, eu farei um banquete pro seu casamento. Vai ter pato, frango, javali, peixe, muito peixe. E vinho. Adoro vinho…

VÄRMOD – Para de pensar em comida. Vamos dormir. Evite falar. A criatura se esconde nessas cavernas.

ORLYG – Ta bom, ta bom. Até amanhã.

CENA 43- PASSAGEM DE TEMPO

CENA 44 – CAVERNA DAS MONTANHAS

 

Uma forte luz desce de um rasgo no teto de gelo da caverna, tingindo seu interior de azul. Stalactites de gelo pendem e descem, formando belas esculturas.

Sob o facho de luz que desce do teto estão os dois guerreiros enrolados nas mantas de pêlo grosso, imóveis.

Uma luz tinge a caverna. È uma luz fraca, que vai ganhando mais e mais força.

Orlyg abre os olhos. Diante dele está Dalla. Ela veste uma roupa cerimonial viking e tem flores no cabelo.

Orlyg se levanta assustado. Dalla está ali, parada, na frente dele. Dalla está sorrindo. Ela estende a mão. Está apontando para o fundo da caverna e parece falar alguma coisa, mas ele não escuta. Não sai som. Orlyg vai com a mão para pegar na mão dela e então como numa miragem ela desvanece no ar, e some.

Os dois homens estão imóveis dormindo enrolados nas mantas de pele. Um deles se move e levanta assustado.

ORLYG – Hã? Quê? Cadê? Dalla! Dalla!!

VÄRMOD – Sagrado menir, Orlyg! Quer me matar de susto? Isso é jeito de acordar?

ORLYG – Desculpa, Värmod. Sonhei com Dalla. Ela estava aqui, na caverna. Ela vinha me acordar e … Apontava para lá. Aí Sumiu.

VÄRMOD – Foi sonho, meu amigo.

ORLYG – Sim. Estou com saudades de Dalla.

VÄRMOD – Vamos amigo. (diz Värmod, tentando distrair Orlyg do sofrimento) É pra lá que ela apontava?

ORLYG – Sim.

VÄRMOD – Então é pra lá que vamos.

Os dois homens saem da área iluminada e começam a descer pela caverna de rocha e gelo.

CENA 45 – CABANA DO REI

Os anciãos estão reunidos perante o rei Ragnar. Ao lado dele, Sigurd brinca com uma adaga.

RAGNAR – Eu vos convoquei para notificar que daqui a dois dias invadiremos os clãs Tufi e em seguida Kodran.

Há um súbito alvoroço entre os Anciãos. Ragnar permanece em silêncio esperando que eles conversem.

ANCIÃO ARNKEL – Isso é uma loucura! Não podemos atacar Kodran. Fizemos a paz com eles!

ANCIÃO DIARF – E atacar Tufi é uma maldade. Eles são em sua maioria apenas velhos, mulheres e crianças. Os homens do clã Tufi foram praticamente todos mortos na guerra contra os Styrkar. Por isso são nossos aliados…

Ragnar olha para Sigurd. Sigurd sorri. Roda a faca na mesa de madeira.

RAGNAR – Quem decide se são aliados ou inimigos sou eu. Vamos atacar Tufi e pegaremos o território deles. Eles tem roupas, comida e abrigo. Roubaremos os barcos e tomaremos posse da terra.

ANCIÃO ARNKEL – Mas e as crianças? E as mulheres?

RAGNAR – Vamos matar.

ANCIÃO ARNKEL – Isso é um absurdo. Eu não aceito isso.

RAGNAR – Está me desafiando? (irritado)

ANCIÃO ARNKEL – Não pode fazer isso!

RAGNAR – Soldados, prendam o velho! Dêem lhe dez chicotadas para ele ver quem manda aqui!

Os soldados de Ragnar avançam e pegam o velhinho. Ele sai se debatendo. Todos os demais velhinhos do conselho se entreolham assustados.

RAGNAR – Alguém aí quer me desafiar?

Há um grande silêncio. Os Anciãos se entreolham e baixam as cabeças.

RAGNAR -Sorrindo maliciosamente – Muito bem. Soldados, preparem os barcos.

Dois soldados saem com a incumbência dos preparativos.

Inga invade a cabana do rei. Ela está irada. Sigurd levanta-se imediatamente.

INGA – Ragnar!

RAGNAR – Que invasão é essa, mulher?

INGA – Ragnar, o que você fez? Os soldados estão chicoteando o ancião Arnkel!

RAGNAR – Eu sei. Eu que ordenei (diz sorrindo e bebendo vinho com desdém)

INGA – Maldito! Mil vezes maldito!

RAGNAR – Cale a boca cadela! Quer ter o mesmo destino do velho?

INGA – Você não ousaria, desgraçado.

RAGNAR -(virando-se para Sigurd ) Sigurd, segure sua mulher ou vou espancá-la.

Sigurd tenta segurar a mulher. Ela o empurra.

Sigurd dá um soco na cara de Inga. Ela cai no chão chorando.

RAGNAR – Muito bem, Sigurd. Você sabe mesmo como tratar uma mulher. (risos)

Os velhos anciãos estão envergonhados.

RAGNAR – Sigurd, leve esta mulher e prenda-a. Eu quero vê-la bem bonita no (ênfase) casamento de vocês daqui a duas luas!

INGA – Nãããããããããão!

SIGURD – Sim, meu rei. (sorrindo) Como (ênfase) o senhor (ênfase) quiser!

Sigurd sai puxando Inga pelo braço. Ela chora muito.

CENA 46 – CAVERNA DA MONTANHA

Os dois caminham por lugares incríveis onde raios brancos de luz invadem espaços azuis com cristais de rocha brotando em incríveis formas geométricas.

ORLYG – Espere. O que é aquilo ali?

VÄRMOD – O que? Não estou vendo.

ORLYG – Ali… Perto daquele cristal.

VÄRMOD – Parece… Parecem ossos.

ORLYG – São ossos.

Os dois vikings se entreolham. Eles pegam os machados. Värmod tira o escudo brilhante das costas e prende no braço.

VÄRMOD – Estamos na casa dele.

Orlyg acena afirmativamente com a cabeça.

VÄRMOD – Aponta com o queixo o caminho e os dois homens começam a se embrenhar nas profundezas das montanhas.

CENA 47 – CABANA DE SIGURD

A princesa está agora presa na cabana do esquálido e detestável Sigurd.

Sigurd está dormindo numa cama de pele. A princesa está no chão, acorrentada à parede. Ela tem os olhos inchados de tanto chorar. Os pulsos estão marcados e inchados pelos grilhões.

A princesa Inga olha para Sigurd. Ele dorme de barriga para cima. Ronca alto.

A princesa olha em volta. Vê a adaga na cintura de Sigurd.

Ela hesita.

Sigurd ronca e vira-se para o lado, deixando a adaga mais visível.

A princesa move-se lentamente e sorrateiramente tenta alcançar a adaga.

Ela está quase conseguindo, quando a mão pálida de Sigurd segura a mão dela. Ela dá um grito de susto. Ele abre os olhos.

SIGURD – Princesinha… Meu amor.

INGA – Não! Saia maldito.

SIGURD – Ora, minha querida. Chegas tão perto de mim assim e agora foges? Vem cá.

INGA – Socorro! Não! Não!

Sigurd avança sobre a princesa. Ele tenta estuprá-la. Ela se debate, mas ele é mais forte. Tenta esfregar a língua nela.

INGA – SOCORRO! SOCORRO!

SIGURD – Cala a boca ou eu te espanco, mulher! (tentando levantar o vestido de Inga)

Sabba entra na cabana correndo.

SABBA – O que é isso! Seu porco imundo!

SIGURD Empurra a princesa que cai no chão. Ele agarra no pescoço de Sabba. Começa a enforcar a aia.

SABBA – Socorro.

Inga tenta corre para acertar Sigurd, mas ele está além de onde ela alcança por causa das correntes. Sabba começa a revirar os olhos.

SIGURD – Morra, sua velha maldita! Sabba desfalece. Sigurd solta o corpo da velha e ela cai.

INGA – Nãããããããããããããão! Cai de joelhos chorando.

SABBA – Abre os olhos. Ela respira.

Inga para de chorar.

INGA – Sabba! Graças aos ancestrais! Você está viva.

SABBA – Arf. Arf (sem fôlego). Tenta falar, mas está sem fôlego.

SIGURD – A maldita não morre!

Sigurd está de pé sobre Sabba. Ele levanta a barra da roupa de couro e tira sua espada fina e comprida.

SIGURD – Agora essa velha desgraçada morre!

INGA – Nããããããããããã…

SABBA – So-Socooorro!

Um jarro de cerâmica explode na cabeça de Sigurd que cai inconsciente.

Atrás dele está o Velho Assur.

INGA – Socorro.

ASSUR – Calma, princesa, Eu vou soltá-la. A senhora está bem? Está machucada?

SABBA – Não, não. Estou bem. Vamos, vamos soltar a princesa.

ASSUR – Está bem apertado.

INGA – A chave. A chave deve estar com ele.

ASSUR – Não precisa de chave. Feche os olhos. A senhora também.

As duas fecham os olhos.

Assur começa a entoar palavras mágicas e um forte brilho ilumina a cabana. As correntes se parte com um estalo.

SABBA – É magia! É magia!

INGA – Vamos Sabba. Vamos sair daqui.

ASSUR – Por aqui, senhoras. Eu conheço um lugar seguro na floresta.

Os três saem da cabana. No chão está Sigurd desmaiado. Um filete de sangue escorre de um corte em sua cabeça careca. Ele começa a se mexer lentamente. Geme de dor.

CENA 48 – FLORESTA

Assur levanta sua mão e as plantas da floresta abrem-se como um túnel.

ASSUR – Por aqui, rápido.

SABBA – Magia! Olhe princesa. O velho é um bruxo!

INGA – Venha, Sabba. Venha.

CENA 49 – CABANA DO REI

O rei Ragnar está deliberando com os soldados as estratégias de ataque aos clãs quando Sigurd entra na sala todo ensangüentado e cambaleando.

RAGNAR – Mas o que…

SIGURD- Elas fugiram! A princesa e a velha gorda. Socorro!

RAGNAR – Soldados! Tragam a velha e a Princesa!

SOLDADOS – Sim senhor!

Vários soldados saem com tochas e espadas.

CENA 50- FLORESTA

Os três correm por entre as árvores. A velha Sabba cai duas ou três vezes.

O velho Assur está na frente.

Ao fundo, distantes estão as tochas e o som dos cães.

ASSUR – Os soldados estão vindo. Temos que nos esconder.

INGA – Mas pra onde?

ASSUR (apontando para uma reentrância na base de um enorme rochedo) – Aqui, entrem na caverna.

SABBA – Mas as cavernas são moradas dos espíritos ruins…

INGA – Cala a boca e entra! (empurrando Sabba)

CENA 51 – CAVERNA DO ROCHEDO

Assur desce escadas lavradas na rocha.

SABBA – Espere princesa.. Eu não estou vendo nada.

INGA – Vai, Sabba. Vai!

ASSUR – Varglam Pimpen!

Uma bola de luz surge ao redor de Assur e vai iluminando a caverna.

SABBA – Sagrado menir! Inga, tenho medo.

INGA – Não se preocupe, Sabba.

ASSUR – Por aqui.

Os três descem pelas cavernas até a parte de baixo, onde há uma espécie de disco de pedra gravado com antigas inscrições rúnicas.

SABBA – Onde estamos?

ASSUR – Aqui é a caverna dos antigos gigantes. Um dos lugares esquecidos dos tempos passados. Estaremos seguros aqui.

INGA – Eu acho que não. Estou ouvindo os cães. Tudo está dando errado na minha vida.

ASSUR – Não diga isso, princesa. Tenha esperança.

INGA – Ah, velho… Eu gostaria. Mas veja, meu pai morreu, Värmod meu amor, está morto… Não há mais esperança pra mim. Talvez eu deva morrer.

ASSUR – Princesa, Värmod está vivo.

INGA – Vivo? (seu rosto se ilumina)

ASSUR – Sim princesa.

SABBA – Eu sabia. Meu coração me dizia.

INGA – Mas Sigurd me mostrou Värmod e Orlyg mortos.

ASSUR – Sigurd manipulou as imagens. Foi uma ilusão. Värmod está vivo e posso mostrar.

INGA – Mostre-me, bom velho.

Assur recolhe areia fina do chão. Ele derrama a areia no disco de pedra. Depois fala palavras mágicas. Então toca no disco de pedra e a areia começa a se mover em padrões curiosos. O disco circular começa a se iluminar.

SABBA – Sagrado menir… Olhe só pra isso, princesa.

INGA – Estou vendo, estou vendo. São eles.

ASSUR – (concentrado) Eles estão… Num lugar escuro. Parece uma caverna.

Inga fica feliz, Lágrimas de alegria descem de seu rosto.

SABBA – Está chorando princesa.

INGA – Sim, Sabba. Mas é de felicidade. Värmod está vivo.

A mágica acaba. Eles voltam à escuridão.

ASSUR – (geme)

Assur cai. Está exausto.

SABBA – O que foi? O que houve?

ASSUR – Estou… Fraco.

Surgem soldados no alto das escadas.

SOLDADOS – Ali! Eles estão ali.

Ponto de vista dos soldados. No interior do buraco cortado na rocha estão Inga, Sabba e o velho Assur caído. Eles não esboçam qualquer reação.

SOLDADOS – Peguem-nos! Vamos levá-los para o rei.

CENA 52 – CAVERNA DAS MONTANHAS

A media em que andam mais e mais ossos surgem pelo caminho.

ORLYG – Está muito escuro. Você está conseguindo ver?

VÄRMOD – Não. Aqui está escuro mesmo.

VÄRMOD – Orlyg, acho que ali na frente tem uma entrada de luz. Veja. Há uma claridade atrás daquela pedra.

Os dois tateiam pelas rochas em busca da luz.

Eles chegam num lugar onde um fraco e solitário raio de luz entra por uma fenda no teto.

Värmod coloca o escudo na frente de Orlyg, segurando o amigo. Orlyg olha para Värmod com ar questionador. Värmod aponta com o machado uma coisa no chão. È algo brilhante.

Orlyg escava a areia compactada da caverna usando seu machado. Surge uma espada.

ORLYG – Parece uma espada rúnica. (sussurra)

VÄRMOD – Acho que aquele ali é o dono (sussurra)

Värmod coloca o escudo no facho e direciona o foco da luz para um corpo cadavérico armado com capacete e partes de uma armadura leve com placas, que está caído entre as rochas do canto.

Orlyg corre até o corpo e começa a remexê-lo. Ele encontra um colar com uma inscrição.

ORLYG – Värmod, acho que este corpo é de alguém muito antigo. Veja esta inscrição. Nem conheço esta runa.

VÄRMOD – O que é isso que ele tem naquele saco ali?

ORLYG -É uma tocha. Mas está apagada.

VÄRMOD – Orlyg veja se não há nenhuma pedra de fazer fogo.

ORLYG – Achei. Veja.

Os dois tentam fazer fogo, lascando a pedra contra a tocha.

São várias batidas mas a centelha não acende o chumaço.

VÄRMOD – Acho que a tocha está úmida.

ORLYG – Já sei. Espere.

Orlyg abre o manto de couro. Preso no braço dele há um pano de lã.

VÄRMOD – O que é isso?

ORLYG – Uma lembrança de Dalla.

Värmod impede que Orlyg queime o pano.

VÄRMOD – Não irmão. Não queime a lembrança de Dalla.

ORLYG – Värmod, meu irmão…

Värmod abre seu manto de couro e rasga o interior de lã.

ORLYG – Värmod você vai congelar!

VÄRMOD – Vamos, queime.

Orlyg começa a bater as pedras de fazer fogo até que fagulhas atingem a lã. Värmod sopra e rapidamente uma chama amarela surge, iluminando a escuridão da câmara de pedra.

Com o chumaço pegando fogo, eles aquecem a tocha e a resina derrete. Rapidamente a tocha se inflama e ilumina a caverna.

Värmod acena com a cabeça e os dois homens continuam a caminha pela caverna. Eles sobem uma pequena plataforma. O vento balança fortemente a chama da tocha.

ORLYG – Värmod, está sentindo o vento? Está ficando mais quente.

VÄRMOD – Estou.

Um súbito ronco ecoa na caverna. Um barulho alto e assustador. Os dois vikings se entreolham espantados e assumem posição de combate.

ORLYG – Värmod… Ele está aí pra baixo… (sussurra)

VÄRMOD – Vamos descer.

Os dois descem devagar. Pisando com cuidado no gelo.

A tocha ilumina a escuridão de um túnel. Eles caminham até o fim do túnel, que dá num tipo de câmara, de salão de rocha, com gelo e estalactites gigantes.

Existem ossos para todos os lados.

O lugar para um entroncamento de túneis. Os dois homens olham ao redor. São pelo menos umas cinco passagens diferentes.

ORLYG – E agora? (sussurros)

VÄRMOD – Não sei. (sussurros)

ORLYG – A coisa pode estar em qualquer um.

VÄRMOD – Vamos atraí-la.

ORLYG – espere. Não é melhor pegarmos ela de surpresa?

VÄRMOD – Hummm. È acho que você tem raz…

Um ruído surge no salão. Os homens olham ao redor. As passagens, uma ao lado da outra são buracos escuros.

Os dois assumem posição de combate.

VÄRMOD – Viu alguma coisa aí?

ORLYG – Não… E você?

VÄRMOD – Nada.

Outro ruído, dessa vez mais forte acontece. Os homens estão tensos. Sua concentração é máxima. O momento do combate se aproxima. Orlyg está suando. Os olhos arregalados para tentar enxergar.

O monstro cai atrás deles. È uma criatura enorme. Ele urra como um demônio.

Os dois vikings saltam para frente.

A criatura avança. O combate começa. Orlyg desfere golpes contra o monstro. Tenta usar a tocha para afastá-lo. A criatura dá dois deles de altura. Está furiosa. Ela tem garras enormes e abre aquela bocarra cheia de dentes pontiagudos e solta um grunhido absurdo.

VÄRMOD – Corra!

Orlyg não responde. Apenas passa correndo feito louco na direção do primeiro túnel que vê pela frente. Värmod vai atrás correndo.

O monstro corre de quatro dando pulinhos como um urso polar maior que um elefante.

Os dois correm pelo túnel de pedra e o monstro atrás.

O túnel acaba num abismo. Os dois caem catando cavacos no ar.

Chocam-se num platô de neve mais abaixo.

CENA 53 – PLATÔ DA MONTANHA

ORLYG – Ahrg… Minhas costas.

VÄRMOD – Você está bem?

ORLYG- Sim, a neve amorteceu a queda.

VÄRMOD – (pondo-se em pé) Cadê a criatura?

ORLYG – Não sei. Estava atrás de você…

O monstro gigantesco cai uns dez metros na frente deles.

Orlyg se levanta e assume posição de combate.

O monstro levanta a cabeça e mira seus olhos vermelhos injetados de ódio na direção dos guerreiros. Ele abre a boca cheia de dentes e emite um grunhido grotesco.

ORLYG – Aí está o desgraçado.

VÄRMOD – Está pronto para morrer, meu irmão?

ORLYG – Sim… Seremos eternamente Irmãos, na Terra e no Valhalla…

VÄRMOD – Irmãos, na Terra e no Valhalla!

Os dois guerreiros partem para cima da criatura aos berros. Eles desferem machadadas e o monstro revida com mordidas e garras.

A criatura atinge Orlyg. Ele cai rolando pela neve.

Värmod atinge o monstro na perna. O monstro dá um soco e joga Värmod longe.

Orlyg está se levantando e o monstro salta sobre ele.

Afundado na neve, Värmod tenta entender o que houve. Ele olha para o lado e vê Orlyg sob a criatura. O monstro tenta atingi-lo com as enormes garras escuras.

Värmod levanta e parte para cima da criatura.

O monstro morde o ombro de Orlyg e o sacode no ar, jogando-o da beira do penhasco. Orlyg cai do abismo, gritando.

VÄRMOD – NÃÃÃÃÃÃO!

O monstro se volta para Värmod. Vem correndo na neve para cima dele. Värmod desfere machadadas na besta, que acerta novamente um soco em Värmod.

Värmod voa no ar e cai na beira do abismo.

Ele olha para baixo e vê que uns quatro metros abaixo dele está Orlyg caído no meio de uma poça cor de rosa de sangue e neve.

Värmod olha de volta para o monstro. A criatura vem correndo novamente para cima dele. Os dentes arreganhados para mordê-lo.

Värmod levanta-se e salta para o platô abaixo. A criatura para na beira do abismo e emite seu urro assustador que ecoa pela imensidão.

CENA 54 – Platô de neve na montanha

 

Värmod larga o escudo e o machado. A criatura está acima emitindo gritos.

ORLYG – Ugh… Ah… Estou mal.

VÄRMOD – Segura firme, amigo. Vamos sair dessa.

ORLYG – Veja o céu… Mais uma noite se passou. O dia vem raiando. È a minha hora de morrer, Värmod.

VÄRMOD -Não. Você não vai morrer. Não fale isso.

ORLYG- Cuidado, Värmod … Arg… (tosse sangue) A criatura pode pular aqui em baixo. VÄRMOD – Fique tranqüilo, Orlyg. Ela não vai pular porque este platô é muito estreito para o tamanho dela.

Os dois olham para cima. O monstro está em total descontrole tentando descer pelo penhasco, mas é muito perigoso e a criatura sempre recua.

ORLYG – Eu estou… Estou indo, irmão.

VÄRMOD – (com os olhos vermelhos) Não vá, meu amigo. Fique comigo.

ORLYG – Tenho… Tenho frio. (tosse sangue)

Värmod tira seu manto de pele.

ORLYG – Não.. Não faça isso, Värmod (tosse sangue).

VÄRMOD -(tentando animar o amigo) Não quero mais esse. Acho que aquele manto branco me deixará mais bonito.

Sorri apontando para a besta.

Orlyg Sorri e em seguida geme de dor.

Orlyg Está resfolegando.

Värmod cobre Orlyg.

ORLYG – Estou ficando sem ar… Vá, vá, meu amigo. Bravo guerreiro. Fuja. Não podemos contra este monstro dos infernos.

VÄRMOD – Meu amigo. Ficarei aqui contigo. Lembra do que combinamos?

ORLYG – Irmãos, na Terra…

VÄRMOD – …E no Valhalla! (ambos apertam as mãos)

Orlyg não responde. Apenas faz uma cara de dor.

Värmod coloca Orlyg apoiado em seu colo. Orlyg está revirando os olhos. O sangue lhe escorre da boca. Ele olha para o lado. Ali, do lado dele está uma perna feminina.

Orlyg lentamente levanta os olhos e vê num brilho intenso a imagem de Dalla. Ela sorri pra ele. Está com a roupa branca e com flores no cabelo como em seu sonho. Ela emite um tipo de luminisdade.

Vemos Orlyg dando seus últimos suspiros no colo de Värmod. Só os dois na beira do precipício.

Orlyg sorri.

ORLYG – Dalla… (sussurra) Estou… estou indo.

E respira pela ultima vez.

Värmod chora pelo amigo.

A criatura solta outro urro. Värmod olha para cima na direção do monstro. Ele tem ódio no olhar.

VÄRMOD – Tu voltará para o inferno de onde veio bicho maldito! (grita para o monstro)

A criatura responde com um urro grotesco tão forte que se balança toda.

Värmod levanta-se. Pega o machado de Orlyg e prende na corrente. Ele vai até a beira da pequena plataforma de pedra que pende sobre o vazio. Ele corre e salta. Seu corpo voa em câmera lenta sobre um penhasco tão alto que não se vê o fundo. Ele agarra-se numa pedra.

O monstro não consegue ângulo para Vê-lo.

Com dificuldade, Värmod consegue trepar nas pedras e delas ele sobe para a parte baixa do platô. Quando o monstro vê, Värmod está de pé a uns 20 metros dela. Ele está sem camisa, tem o escudo num dos braços e um machado em cada mão.

A criatura vem correndo tomada pelo ódio. (A trilha sonora atinge o clímax)

Recomeça o combate.

O monstro salta sobre Värmod, que acerta a criatura. Ela cai de lado. Värmod aproveita a oportunidade e enfia uma machadada nas costas da besta. O monstro levanta-se com dificuldade. Acerta uma braçada em Värmod, que defende com o escudo as garras, mas é jogando longe com o impacto. O monstro manca. Mas mesmo assim vem para cima de Värmod.

Värmod está caído. O monstro vem sobre ele com os dentões prontos para o bote. Instintivamente, Värmod usa o escudo para proteger-se.

 

CENA 55 – O SOL BRILHA NO CÉU

 

O sol surge por trás das montanhas. Os raios cruzam o céu.

 

CENA 56 – PLATÔ DA MONTANHA

A criatura está prestes a dominá-lo. O sol reflete no escudo de Värmod- e o brilho atinge os olhos da besta.

Num grito de pavor ela recua. Leva as mãos aos olhos. Balança a cabeça, meio tonta.

Värmod levanta-se ele olha para o escudo brilhante. Tenta ficar de frente para o sol e vai usando o escudo para cegar o monstro. A criatura cambaleia para trás, tentando se proteger do sol.

Värmod olha para o monstro. Ele vai andando de costas na direção do abismo. Sem olhar diretamente para o escudo brilhante, o monstro tenta atingir Värmod com suas garras. Mas Värmod é ágil e desvia das poderosas garras da criatura. Quando o monstro está perto do abismo o suficiente, Värmod corre para cima da besta e num salto pula no peito do monstro, lhe cravando os dois machados. O impacto joga a criatura para trás. Sem equilíbrio o temível Grub Skarr busca apoio e pisa em falso no vazio. A besta se desequilibra e cai.

Värmod com os machados cravados no peito do monstro cai com ela.

Na queda, Värmod pega impulso no monstro e se lança para trás. Ele se choca contra o gelo e bate num ressalto coberto de neve. O monstro continua seu mergulho em direção am vazio.

CENA 57 – RESSALTO DE PEDRA NA MONTANHA

(repete-se parte da cena do prólogo)

No platô existe um monte de neve. O som das palavras de Orlyg ecoam baixinho e vão ficando mais altas.

“Irmãos na Terra e no Valhalla”… O som vai ficando cada vez mais claro.

Vemos o olho fechado Värmod .

“Irmãos na terra e no Valhalla”…

Os olhos se abrem de súbito. São olhos profundamente azuis. O som cessa de imediato.

Há apenas o forte chiado dos ventos cortantes que atingem a montanha rochosa.

Värmod levanta-se com dificuldade. Ele esfrega a neve pelo chão. Está em busca de alguma coisa. Ele enfim encontra. A coisa que surge de um monte branco é um machado antigo ensangüentado.

Värmod vai até a beira do abismo e olha para baixo.

Duzentos metros abaixo está o corpo do Grub Skarr destroçado nas pedras. Värmod solta uma forte gargalhada e levanta o machado. (trilha sonora da vitória)

Seu riso ecoa em toda a montanha.

CENA 58 – CABANA DO REI

Ragnar sorri.

Os soldados trazem os prisioneiros amarrados e jogam-nos na frente do rei.

Vemos cada um deles.

Ali estão Sabba, Inga e Assur.

Sigurd entra com um curativo na cabeça que o faz parecer ridículo.

Ele vai até o velho Assur e acerta o mesmo com um soco.

SIGURD – Velho desgraçado!

RAGNAR – Espere Sigurd! Contenha-se.

SIGURD – Sim, meu rei.

RAGNAR – Velho… Você não é aquele velho que foi expulso daqui da aldeia por fazer bruxarias?

SIGURD – Vamos matar esse cão sarnento!

ASSUR (cospe sangue) – Isso é ridículo. Eu não faço bruxarias. (sorriso cínico) O bruxo aqui e este feioso aí.

SIGURD – Não me enrole velho. Você é um bruxo! (dá outro soco no velho)

Assur cai novamente.

INGA – Não! Pare! Ele é um velho!

ASSUR (tentando levantar-se) – Ungh. Essa doeu. Tudo bem eu assumo. Eu sou um bruxo. Mas você é um bruxo também. Só que você é mais feio. (sorri desafiadoramente)

SABA- Hahahahahahahahahaha. É muito feio mesmo!

Os soldados riem. Sigurd fica cheio de raiva.

Ragnar olha sério para os soldados e eles tentam manter a compostura.

Sigurd pega sua espada comprida e fina.

RAGNAR – Sigurd! Não!

Sigurd acata as ordens do novo rei.

O velho Assur sorri, todo debochado.

SIGURD – Maldito. Só não te mato porque…

ASSUR – Quer matar? Vem matar! Mata se você é homem! Mata aqui ! (expandindo o peito)

INGA – Não! Não faça isso!

Sabba e Inga entreolham-se estarrecidas com a atitude do velho.

Sigurd levanta a lâmina na direção do pescoço do velho.

Ragnar interrompe.

RAGNAR – Pare! Sigurd, não vês que o velho está buscando a morte? Ele te irrita para que você o mate. É óbvio. Ele sabe de alguma coisa.

Sigurd fica parado. Está pensando. Ele olha para o velho. Guarda a espada. Anda de um lado para o outro.

SIGURD – Sim, meu rei. È verdade.

O velho Assur sorri para as duas mulheres.

SABBA – O velho endoidou!

RAGNAR – Sigurd. Leve este velho para sua cabana e interrogue-o. O velho sabe de alguma coisa. Deve estar tramando alguma.

SIGURD – Sim senhor, vou interrogá-lo direitinho… Vamos paspalhão.

ASSUR – Sou paspalho, mas não sou magrelo e pálido como você, seu urubu perneta!

Os soldados riem.

SIGURD -(Muito irritado) Anda, idiota!

RAGNAR – E quanto à senhora… Seu casamento é amanhã! Soldados, podem levá-la. Prendam-nas na casa de Orlyg.

Os soldados levam Inga e Sabba para a casa de Orlyg e trancam as duas lá dentro.

 

CENA 59 – PASSAGEM DE TEMPO

Vemos as ondas batendo contra a praia. Na areia os guerreiros se aglomeram com capacetes, espadas e escudos. Os navios estão sendo preparados.

Surge Ragnar.

RAGNAR – Está tudo pronto?

SOLDADO – Sim senhor. Estamos com quase tudo pronto. Estamos aguardando dois barcos.

RAGNAR – Muito bem. A ordem é não deixar ninguém vivo no clã Tufi. Entendido?

SOLDADO – Sim, meu rei. Não sobrarão nem os ossos. Daremos os retos para os cães.

RAGNAR – Excelente.

 

CENA 60 – INTERIOR DA CABANA DE ORLYG

Inga e Sabba estão conversando.

SABBA – Ele surtou. O velho é maluco.

INGA – Não, Sabba. Acho que ele estava tentando nos proteger. Atraiu a atenção de Sigurd e conseguiu ganhar tempo. Ele fez isso para me afastar de Sigurd.

SABBA – Sagrado menir. O velho é esperto mesmo. E engraçado. Você viu? Até os soldados riram.

Inga sorri.

INGA – O velho é um bom amigo. Como você, queria Sabba. Desde que minha mãe morreu quando eu tinha sete anos você tornou-se uma mãe pra mim.

SABBA (com lagrimas nos olhos) – Eu amo a senhora, princesa. Côo a uma filha. Você é a filha que eu não tive.

INGA – Ah, Sabba. Que bom que você está comigo.

SABBA- Estarei até o dia da minha morte, princesa.

As duas se abraçam.

INGA – Sabba?

SABBA – O que foi, princesa?

INGA – Amanhã… O casamento.

SABBA – Não pense nisso, criança. Tente dormir.

INGA – Não dá, Sabba. É amanhã… Você ouviu Ragnar.

SABBA – Princesa… Eu quero contar uma coisa que está entalada na minha garganta. Eu não queria que você sofresse…

INGA – Diga. È alguma sensação com Värmod?

SABBA – Não. No dia da morte de seu pai, eu vi que ele estava bebendo muito. Então eu fui até os fundos da casa buscar ervas para fazer um chá pra ele.

Quando ele morreu, eu ouvi Sugurd e Ragnar conversando baixinho. Eu ouvi a conversa.

INGA – O que?

SABBA – Eles tramaram a morte de seu pai, princesa. Sigurd envenenou seu pai. E seu primo Ragnar sabia de tudo.

INGA – Desgraçados. Malditos. Malditos! (fora de si)

SABBA – Calma, calma… Eu contei tudo que ouvi para Värmod.

INGA – E o que ele disse?

SABBA – Ele disse para que eu não falasse para ninguém. Os dois são perigosos e me matariam se soubessem que eu sei dos planos deles. Além do mais, quem acreditaria numa aia gorda e velha como eu? Ele disse para não te contar. Você se desesperaria e eles poderiam te matar.

INGA – Sabba, Värmod salvou sua vida. E a minha.

SABBA – Sim, princesa. Värmod é um menino muito esperto. Dará um bom rei.

INGA- Sabba, o que sente sobre ele?

SABBA – Não sei. Sinto a vida. Mas sinto também a morte. A morte ronda Värmod, princesa. Mas ele ainda está vivo.

INGA – Que bom, que bom. Graças aos sagrados ancestrais!

Sabba abraça a princesa.

CENA 61 – PASSAGEM DE TEMPO

O dia amanhece. O sol surge pujante sobre as montanhas.

CENA 62 – ALDEIA VIKING

Mulheres carregam águas em baldes de cerâmica. Crianças correm. Homens carregam toras.

Do interior da casa do rei surge Ragnar com uma armadura de placas e capacete de guerra.

RAGNAR – Vamos soldados. È hoje que começo a esmagar os fracos e transformaremos nosso clã no mais poderoso clã de todas as eras! Vamos esmagar os inimigos.

Surgem soldados correndo.

SOLDADO – Senhor, o barco está com problemas.

RAGNAR – Maldição. O que foi agora?

SOLDADO – Dois dos nossos barcos estão com infiltrações.

RAGNAR – E quanto tempo vai levar para resolver, idiota?

SOLDADO – Os homens estão trabalhando neles, senhor. Até a noite eles estarão prontos, meu rei.

RAGNAR – Pois então continuem. Eu quero os barcos no mar no final da tarde, ouviu?

SOLDADO – Sim, senhor.

O rei fica sozinho no pátio central da vila. Surge Sigurd.

RAGNAR – Sigurd… Roupa nova. Sempre de preto…

SIGURD – Pronto para o casamento, meu rei.

RAGNAR – Muito bem, Sigurd. Mande reunir o povo. Proclamarei o casamento de vocês tão logo o sol atingir o alto do céu. Cumprirei nossa promessa e então partirei para tomar os clãs e expandir nosso território. Vamos dominar todo o mar do norte.

SIGURD – Assim seja, meu senhor.

RAGNAR -(virando-se para uma velha) Hei, você. Mande as mulheres vestirem a princesa com uma roupa de casamento. Haverá festa hoje.

A velha sai correndo para a casa das mulheres.

RAGNAR – Hei, aonde vai Sigurd?

SIGURD – Vou continuar minha conversa com o velho.

RAGNAR – O velho está vivo ainda?

SIGURD – Por pouco tempo, meu rei.

RAGNAR – Arrancou alguma informação dele, Sigurd?

SIGURD – Não senhor. Ele se recusa a falar. Cansei de esmurrá-lo e fui dormir.

RAGNAR- Onde o velho está?

SIGURD – Mandei prendê-lo na casa da velha Solvikks.

RAGNAR – Sigurd. Se o velho não falar agora… Mate-o.

SIGURD – Sim, com prazer.

CENA 63 – INETRIOR DA CASA DA VELHA SOLVIKKS

O velho Assur dorme no chão de pedra com a cara numa poça de sangue coagulado.

Sigurd surge na porta.

Assur abre um olho. Ele está inchado. Tem a cara toda amarrotada de apanhar.

Sigurd levanta o velho.

SIGURD – E então, velho? Resolveu falar? Pensou na proposta que eu fiz? Você fala, e eu te deixo só cego.

ASSUR está sério. Olha com raiva para Sigurd.

ASSUR – Você é um covarde… Tenho mais de três vezes a sua idade…

SIGURD – Estou vendo que você não está mais tão engraçadinho, velho.

Começa a sessão de torturas. Sigurd bate sem piedade no velho Assur. Ele cospe sangue.

SIGURD – Eu sei que você usou sua magia para salvar aquele idiota do Värmod nas montanhas do norte. Usou não foi?

O velho não abre a boca.

Sigurd bate nele.

SIGURD – Eu sei, velho. Seu silêncio e sua respiração me dizem mais do que preciso para saber que você está suando o conhecimento dos ancestrais contra mim!

ASSUR – Sigurd, foi você que usou o conhecimento dos ancestrais para o mal. Eu te amaldiçôo! A você e ao seu pai. Meu melhor aluno.

SIGURD – Você ensinou meu pai, velho?

ASSUR – Sim, maldito. Seu pai foi meu aluno quando eu era jovem e não percebi o quão desprezível ele era.

SIGURD (alterado) – Não fale assim do meu pai! (bate no velho)

ASSUR – Pois ele está no lugar que merece…

SIGURD – Maldito seja você, velho.

ASSUR – Seu pai era tão maldoso e mesquinho como você… Vocês tem muito em comum, além da feiúra.

Sigurd fica fora de si. Vai até o fogo e pega uma lâmina em brasa. Ela é vermelha. O velho Assur arregala os olhos.

SIGURD – Vou derreter sua língua para nunca mais tocar no nome do meu pai, velho desgraçado.

Sigurd vai para cima do velho com o metal quente.

A Lâmina aproxima-se perigosamente dos olhos do velho Assur.

SIGUIRD – Está com medo, velho. Pois agora é que nós vamos ver quem manda aqui… (riso maníaco)

Entra na cabana um soldado

SOLDADO – Senhor Sigurd. O rei chama para o casamento. Está na hora. Está tudo pronto.

Sigurd contém a lâmina perto do rosto do velho. Assur treme.

SIGURD – Velho, você tem sorte. Não vou deixar o rei nem minha futura mulher esperando.

Sigurd volta-se para o fogo e recoloca a espada lá dentro.

Vamos soldado. Vamos embora. Depois do casamento nós continuaremos a nossa conversa, velho maldito.

O velho Assur respira aliviado.

CENA 64- PRAÇA PRINCIPAL

O povo está reunido para ver o casamento da princesa. Os homens que vão para a guerra vestem suas roupas de combate. As mulheres trazem flores nas mãos. O trono do rei Ragnar foi montado especialmente do lado de fora. Os anciãos reúnem-se, amparando o velho Arnkel, que está machucado pela surra.

O rei Ragnar espera na frente da casa real.

RAGNAR – Está na hora. O sol está no ponto mais alto.

SIGURD – Aqui estou, meu rei.

RAGNAR – Soldados, tragam a princesa Inga.

Os soldados saem. O povo espera. Todos estão meio tristes. A sensação é solene e o clima pesado.

Os soldados truculentos de Ragnar trazem a princesa à força. Ela se debate.

INGA – Cães! Cães malditos! Socorro!

Inga é colocada em frente ao rei.

RAGNAR – Inga, como você está bonita.

Inga não responde. Está com ódio.

INGA (sussurra) Assassino!

RAGNAR- O que você disse?

INGA – Não quero me casar com este verme!

RAGNAR – Mas eu não perguntei o que você quer, perguntei? Você vai casar! Você não tem querer… Sigurd?

SIGURD – Sim, meu rei.

RAGNAR – Pegue a mão da princesa Inga.

Sigurd tenta pegar a mão da princesa, mas ela evita a todo custo. Sigurd precisa usar as duas mãos para agarrar com força a mão da princesa e colocar na frente do rei.

CENA 65 – CABANA DA VELHA SOLVIKKS

 

Sabba entra na cabana. Ela vê o velho Assur amarrado ao poste central.

SABBA- Pelas escrituras! O que fizeram com você?

ASSUR – Me… Ajude.

SABBA – Vou pegar uma faca. Espere aí.

Sabba pega a lâmina no fogo e esfria num balde com água, uma nuvem de vapor sobe.

Ela usa a lâmina para cortar as cordas.

ASSUR- Estou com sede.

SABBA – Eu vou pegar água.

Sabba sai correndo para buscar água. Assur olha em volta. Ele sente algo no ar. Assur sorri.

 

 

CENA 66- PRAÇA PRINCIPAL

RAGNAR – Povo do clã Iarlabanki… Estamos aqui para unir em casamento a princesa Inga com Sigurd…

VÄRMOD – Parem!

O povo se assusta. Todos olham para trás. Ali, na porta da aldeia está ninguém menos que Värmod. Ele segura a cabeça decepada do gigante Grub Skarr. Värmod está usando um belo manto branco de pelos espessos feito com a pele do animal.

INGA -Värmod! Meu amor!

Inga e Värmod sorriem um para o outro.

RAGNAR – Sagrado menir! A criatura existe mesmo!

SIGURD – Maldito seja!

VÄRMOD – Povo do clã Iarlabanki! Anciãos, eu reclamo o direito de casar com a princesa Inga!

O povo aplaude.

SIGURD- Não, maldito! Tu não vais casar com minha mulher!

Sigurd pega sua adaga e agarra Inga, mantendo-a como refém.

Os Anciãos gritam.

ANCIÃO DIARF – Sigurd! Solte a princesa. O garoto cumpriu a missão. È dele o direito do casamento!

SIGURD – Desgraçados. Se ela não for minha não será de ninguém.

Sigurd estoca a adaga nas costas da princesa e empurra Inga na direção de Värmod.

Inga cai no chão. Värmod corre para ela.

INGA – (tosse) Argh…. Minhas costas.

Värmod coloca a mão nas costas de Inga. Está saindo sangue.

Värmod- Inga meu amor.

INGA – Värmod, eu sabia que você voltaria.

Inga fecha os olhos. A cabeça cai para trás. Ela está muito fraca.

Värmod a coloca com cuidado e zelo no chão. Ele se levanta e olha para Sigurd.

Sigurd saca sua espada.

SIGURD – Venha maldito. Venha me pegar!

Värmod joga a capa da pele do Grub Skarr para trás. Fica sem camisa. Ele pega o machado na corrente.

Sigurd está parado, ele segura a espada. O povo abre uma roda.

RAGNAR – Soldados! Soldados!

Os soldados não se movem. Eles estão parados olhando a cena.

RAGNAR – Soldados! Prendam este homem!

Os soldados estão se rebelando.

Värmod grita de fúria e parte para cima de Sigurd. Sigurd tenta acertar uma estocada em Värmod, mas este desvia da lâmina. Värmod gira o corpo e passa uma rasteira em Sigurd. Sigurd bate pesadamente contra o chão.

Värmod Olha para a princesa. Uma poça de sangue emoldura seu corpo com o manto branco do casamento.

Värmod gira o machado dos ancestrais no ar e desfere uma senhora machadada na cabeça de Sigurd, partindo-a ao meio. Uma explosão de sangue toma conta da praça. O povo aplaude.

Ragnar desce do trono.

RAGNAR – Soldados malditos! Covardes. Obedeçam ao seu rei!

Os anciãos olham para a esquálida figura que se aproxima. É o velho Arnkel que dá passos bambos em direção ao meio da praça.

O povo em silêncio.

Ragnar e seu corpo enorme com aquela roupa de guerra contrastam com a fragilidade do minúsculo velhinho careca de túnica, cuja barba branca chega quase à cintura.

Arnkel olha nos olhos de Ragnar e cospe na cara dele.

O povo aplaude.

Ragnar se enfurece e apenas empurra o velho que voa longe e é amparado pelo povo.

Värmod dá um soco na cara de Ragnar.

Värmod- Assassino! Você mandou matar o rei!

O povo se espanta.

Ragnar revida o golpe. Ragnar é duas vezes maior e mais forte que Värmod. Varmod cai no chão.

Começa a luta.

Ragnar vai para cima de Värmod. Ele saca sua espada e desfere um golpe mortal.

Värmod rola e a espada atinge o chão.

Värmod chuta a perna de Ragnar, que perde o equilíbrio e cai.

O povo delira. Gritaria forte mas ninguém se mete.

Värmod levanta. Ragnar tenta se levantar. Värmod chuta a cara de Ragnar.

Ragnar cai pra trás. Ele tenta alcançar a espada.

Värmod abaixa e pega o machado. Ragnar pega a espada e levanta-se.

Värmod acerta uma machadada na espada. A espada quebra.

Ragnar começa a dar socos. Acerta dois cruzados na cara de Värmod, que cai para trás meio zonzo. Ragnar recupera a vantagem.

Ele pede uma arma para o povo, mas ninguém lhe dá uma.

Ragnar vai até o machado de Värmod e tenta usar o machado para acertar Värmod. As mulheres que assistem a cena tampam os olhos prontas para ver a desgraça.

Värmod enche a mão de areia e joga nos olhos de RAGNAR. Com os olhos cheios de areia, Ragnar erra a machadada. Värmod vira uma cambalhota para trás e coloca-se de pé.

Ragnar anda a esmo tentando limpar os olhos.

Värmod corre e salta com os dois pés nas costas de Ragnar. Ragnar cai no chão fora de combate. O povo aclama Värmod como novo rei.

Värmod vai até Ragnar no chão e cospe nas costas dele. Joga o machado no chão.

Värmod vira-se para os anciãos, faz uma referência e pede para que Ragnar seja banido.

O povo grita para que Ragnar seja banido.

Värmod vira-se e vai na direção da princesa.

Ragnar se levanta. Pega o machado. Em meio aos gritos do povo, Värmod não percebe que Ragnar tenta atacá-lo pelas costas.

No último segundo, Värmod vê o reflexo de Ragnar se aproximando no escudo dos ancestrais que estava no chão.

Värmod pega sua adaga e num giro de corpo atinge Ragnar no pescoço. O sangue esguicha. Ragnar cambaleia para trás desesperado com o punhal enterrado em sua garganta. Ele cai morto.

Värmod corre até a princesa. Ela está fria, mas ainda respira. Abre os olhos devagar.

Värmod beija com suavidade a princesa nos lábios.

Sabba vem correndo.

SABBA – Rápido, rápido tragam a princesa. Tragam a princesa.

Värmod coloca a princesa no colo e vai com ela seguindo Sabba.

O povo vai atrás em procissão.

CENA 67 – PORTA DA CASA DA VELHA SOLVIKKS

O velho Assur está sentado na soleira. Ele está muito machucado, mas sorri ao ver

Värmod.

ASSUR – Filho de Styr…

VÄRMOD – Velho Assur. É bom vê-lo novamente.

ASSUR – Venha. Não há tempo para conversas! Traga a princesa. Temos que ser rápidos.

Värmod coloca a princesa em uma cama de pele.

Assur vira-se para Sabba

ASSUR – Sabba, busque a pedra verde no buraco dos ancestrais. Rápido.

Sabba sai disparada como uma bala em direção a floresta.

Assur começa a entoar cânticos mágicos.

ASSUR – Venha, garoto. Abaixe-se aqui. Coloque a mão na testa dela. Isso. Assim. Feche os olhos. Concentre-se no seu amor.

Assur retoma os cânticos. A respiração da princesa fica mais forte.

Surge Sabba ofegante com a pedra verde.

Assur coloca a pedra verde no peito da princesa Inga. Ela está fraca.

Assur fala palavras mágicas entoa versos antigos e esquecidos que ninguém mais compreende e invoca as forças dos elementos. A pedra verde brilha e o ferimento começa a se fechar. O ferimento fecha completamente. Inga abre os olhos.

Assur cai para trás exausto.

Sabba abraça o velho.

Todos comemoram.

Värmod olha profundamente nos olhos de Inga. Ela retribui o olhar com seus olhos azuis penetrantes.

Os dois se beijam pra valer. O povo grita.

Todos proclamam Värmod como o rei e Inga como a rainha.

E durante muitas eras houve a paz entre os clãs vikings.

FIM.

Sobem os créditos finais ao som da trilha sonora do filme.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Muito bom, cara. Tá quase um roteiro, bastando adicionar umas falas.

    Só toma cuidado pro pessoal não te plagiar de novo, vai que alguém de hollywood vê isso aqui…

    Hehehe, cinematográfico.

  2. olá, muito bom esses seus textos, ninguém le uma ova.. quando posso eu sempre leio os textos que vc escreve. sempre coisas legais e interessantes.

    e esse viking vai ficar show de bola

    abraços

  3. Só um negocinho, Felipe. Quando o Orlyg e o Värmod estão se preparando pra sair da vila, pra caçar o bichão, o Orlyg fala “vamos tomar café”.

    Só que nessa época o café só existia na Etiopia (e só como planta, eles nem sabiam que dava pra fazer Café do Café)

  4. Caraca Maluco!
    Fiquei hoje de manhã lendo essa parada 2 horas…
    Parecia que eu tava vendo o filme…
    Muito bom…
    Criatividade 100%

    E o boneco deve ficar punk mesmo…
    Vlw cara!

  5. Värmod não é mais do que seu ser interior, no fundo é você mesmo, Phil.
    Vou te contar uma experiência: os Deuses Vikings exitem mesmo.
    Não sei se é numa outra dimensão, não sei se é no inconsciente coletivo, mas eles existem.
    Quando eu escrevi as RUNAS em pedras, e você sabe, RUNAS são caracteres mágicos de origem nórdica, ou viking, vamos dizer assim, eu as escrevi procurando sorte. Recebi a energia das Runas.
    Caí em extase, em minha cama.
    Tive uma visão de Freija.
    Ela é alta, bem alta, igual aquela personagem do filme O Senhor dos Anéis, aquela de um povo que vivia nas árvores.
    Loura, cabelos longos e lisos amarrados para trás, usa um colete de pele amarrado com tiras, bem rústico. Plena de luz, bela, o que me impressionou foram os olhos, o olhar. Algo assim como dizendo: eu lhe salvarei do inferno.
    Aí vi eu mesmo deitado numa espécie de maca, a coisa flutuava e novamente um ser parecido com aquele anâo do filme Senhor dos anéis, só que não era um anão, era um sujeito normal, mas os traços eram os mesmos, a barba vermelha, muito cabelo, o mesmo colete de couro amarrado em volta, começou a me levar naquela maca feita com galhos de árvores.
    Lá fui eu. Percebi que ele estava levando minha alma doente para curar. Escreva as RUNAS nas pedras, Phillipe. Você também vai saber.

  6. Valeu pela historia, demorei um pouco pra ler, mas ficou muito bom
    Agora so falta sair uma animacao ou filme mesmo para fica perfeito
    e parabens pelas modelagens, quero ver como vai ficar esse barbaro ai

  7. P.E.R.F.E.I.T.O

    King Kling, realmente esse texto é uma obra de arte, vc poderia escrever um livro detalhado sobre essa historia, ficaria perfeito .. não foi o mais engraçado que li, mas foi o melhor ..

    abraço cara ..

  8. Muito boa essa história, parabéns pela criatividade.

    Minha humilde opinião:
    O início é impolgante, a ambientação no começo e o desenvolvimento de Ragnar e Sigurd foi bem elaborada, foram meus favoritos. Até a parte do enterro de Dalla/partida de Värmod, dou nota 10, prende bem o enredo, só que depois a história ficou um pouco chata, não sei, faltou albuma coisa no final, mas em geral ficou muito boa. Parabéns

  9. Cara, esta é uma excelente história, empolgante e perfeita para uma adaptação cinematográfica. Porém, acredito que, fora Värmod e Ragnar, nomes comuns no antigo idioma nórdico, os demais nomes necessitariam de uma pesquisa histórica mais detalhada: Maldof é um nome originalmente saxão, e Inga e Sabba são nomes oriundos do thiois, variação dialetal do teuto (alemão antigo) falada no império de Carlos Magno. Não que não se pudesse haver trocas culturais, mas era muito comum que os filhos herdassem o nome dos pais mortos em batalha na forma do patronímico (nome do pai acrescido de -sson, que significa “filho de”). Logo, nosso herói se chamaria Värmod Styrsson.

    Til stals!

  10. P.S: Espada viking? Certamente não essa da ilustração, com cabo longo. Vikings davam preferência a armas de curto alcance: espadas de punho para uma só mão, com no máximo 1m de lâmina e cabo adormado de ouro e prata (para os nobres, ou jarls); machados de lâminas largas (grüsöx) ou estreitas, de arremesso (skeggöx), usados pela maioria dos guerreiros livres (karls), bem como a lança; arco-e-flecha somente em assaltos a fortalezas, e normalmente seus portadores eram escravos; mesmo a lança, arma de certo prestígio por ser na mitologia a arma do próprio Odin (Gungnir, a lança que nunca erra o alvo, em cujo cabo estavam gravadas as primeiras runas) apresentava uma haste de no máximo 1,80m.

  11. O motivo era o mérito em batalha; um guerreiro que quisesse pôr os pés no Valhalla não poderia se acovardar e se esconder atrás de escudos largos e armas longas. O contato físico e mesmo os ferimentos eram sinal de bravura em combate; daí o fato de as armas vikings serem mais curtas do que as do continente europeu à época.

  12. Devo dizer que foi um dos melhores contos que já li, senão o melhor. Ótimo para se ler antes de dormir. Phelipe, você realmente se superou, está de parabéns. Espero um dia ter um boneco desse, sem dúvida ficaria perfeito na minha estante (rs). Hail!

    • OI Herminio, obrigado por ler tudo. cara vc sabe que se botar letra 6 e espaço simples vai dar até menos, né? O certo é usar o padrão manuscrito (tem na biblioteca de modelos do word) que usa o padrão internacional que os editores consideram. Usando ele dá 160 paginas cravadinho.
      As páginas têm margens de aproximadamente 2,5 cm em todos os lados e o texto tem espaço duplo na fonte Times New Roman, que é uma fonte de espaço fixo. Os parágrafos são recuados cinco espaços ou aproximadamente 1,25 cm, da esquerda e são justificados à esquerda. O formato não usa hifenação em palavras e nem itálico. Essas são preferências (em grande parte dos casos, exigências) dos editores pq que facilita a leitura dos manuscritos.

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