Sergio tinha sido demitido naquele dia. Reestruturação do setor, disseram. Andou a esmo pela cidade. Não sabia para onde ir. 28 anos dedicados À companhia e era pago assim, com uma cuspida na cara travestida de um educado aperto de mãos e um relógio barato como gratificação.
Jogou o relógio na primeira lixeira que viu.
O pai entrou na frente. A mãe veio atrás, com o menino. Ele parecia meio ressabiado, com aquela cara de espanto de criança que acha que a qualquer momento vão meter nelas uma injeção ou coisa que o valha.
Mãe, tudo bom por aí?
Sei que tem tempo que não escrevo. É que essa correria da vida, sabe como são as coisas.
Lembra de quando eu era moleque que tinha aquele troço chato de querer fazer xixi toda noite? Então, sabe que o péssimo hábito de acordar de madrugada para fazer xixi voltou. Tem uns três meses que tô assim de novo e tá ruim de parar. É um saco isso, porque acordo já com o treco quase saindo. E também de quebra vem uma sede sobrenatural.
Quando me virei e dei de cara com aquele homem que habitou anos os meus pesadelos mais sombrios, eu simplesmente não sabia o que fazer. E diante disso, quando notei que ele estava vindo em minha direção eu apenas larguei o copo de champanhe na mão da prima Lucrécia e saí correndo desesperado.
Quando dona Selminha abriu a porta do meu apartamento, ela deu um grito com o susto que levou. Ali estava eu, no escuro, sentado na cabeceira da mesa segurando uma caneca contendo um resto de chá que já estava frio.