sábado, janeiro 25, 2025

Síndrome de Stendhal: A síndrome do choque no espírito

Síndrome de Stendhal ocorre quando uma pessoa tem um violento choque ao contemplar a arte de qualidade, em grande profusão

Entre as doenças e condições clínicas mais estranhas que eu já vi, estão algumas muito loucas, como a doença da decepção em Paris, a Síndrome do Gargamel (O nome é “alucinação liliputiana“, onde você vê smurfs), a doença da “dança macabra” e até mesmo a síndrome do sono brutal. Mas entre elas, existe uma outra síndrome muito, muito doida, que é basicamente “um choque no espírito”.

Síndrome de Stendhal: O choque no espírito

Piripaque do Chaves
Síndrome de Stendhal não é muito diferente do Piripaque do Chaves.

O nome correto é “Síndrome de Stendhal”. Mas o que essa síndrome significa? Significa um choque no seu espírito que ocorre ao ver uma obra de arte literalmente acachapante.

Florença, com sua riqueza incomparável de arte renascentista, não é apenas um paraíso para amantes da cultura, mas também o palco de um fenômeno curioso e perturbador: a Síndrome de Stendhal. Essa condição, que afeta turistas de forma inesperada, é marcada por reações emocionais e físicas extremas diante da grandiosidade artística da cidade. Para alguns, o impacto é tão avassalador que leva a colapsos psicológicos e até problemas médicos graves.

Quando a Arte Tira o Fôlego – Literalmente

Florença, a Disneylândia da arte, onde ocorre a Síndrome de Stendhal
Florença, a Disneylândia da arte

Imagine-se na Galeria Uffizi, diante da Adoração dos Magos de Leonardo da Vinci. Seu coração acelera, suas mãos suam e seus joelhos quase cedem. É exatamente isso que muitos visitantes relatam. Não se trata de intoxicação alimentar ou cansaço da viagem – para alguns, é o peso psicológico de estar cercado por tanta arte sublime.

Síndrome de Stendhal diante da arte em Uffizi
Alguns quadros em Florença causam o piripaque

A síndrome leva o nome de Stendhal, pseudônimo do escritor francês Marie-Henri Beyle. Em 1817, ao visitar Florença, ele descreveu sua experiência com termos quase poéticos:

“Eu estava em uma espécie de êxtase… tomado por uma palpitação feroz do coração. A fonte da vida parecia secar dentro de mim.”

Em 1989, a psiquiatra italiana Graziella Magherini estudou o fenômeno e relatou 106 casos em turistas que exibiam sintomas como tonturas, palpitações e alucinações ao admirar obras-primas de Michelangelo ou Botticelli. Segundo ela, essas reações eram causadas pelo impacto emocional e psicológico de estar diante de arte tão imponente, amplificado pela exaustão da viagem.

Florença: Ataques de Pânico ou Êxtase?

Hoje, a síndrome ainda é relatada, especialmente por turistas extremamente sensíveis que passam anos sonhando com uma visita à Toscana. Para muitos, o Nascimento de Vênus, de Botticelli, parece ser um dos maiores gatilhos.

O diretor da Galeria Uffizi, Eike Schmidt, já viu de tudo: lágrimas, ataques epiléticos e até um ataque cardíaco – como o de Carlo Olmastroni, que caiu duro ao admirar a obra em 2018.

Embora a mídia rapidamente tenha atribuído o episódio à Síndrome de Stendhal, Olmastroni esclareceu mais tarde que o real motivo foi uma oclusão de artérias coronárias.

“Talvez, ao olhar para Vênus, minhas artérias decidiram que nada mais valia a pena ser visto e se contraíram permanentemente!”, brincou ele.

Síndrome de Stendhal ocorre quando uma pessoa tem um violento choque ao contemplar a arte de qualidade
Síndrome de Stendhal: A overdose de beleza em Florença

Um Diagnóstico Disputado

Embora fascinante, a síndrome não é reconhecida oficialmente como um transtorno psiquiátrico. Segundo a psicoterapeuta Cristina di Loreto, reações emocionais à arte não são suficientes para justificar um diagnóstico. Para ela, muitos casos atribuídos à síndrome podem ser explicados por outros fatores, como agorafobia, fadiga ou desidratação, comuns entre turistas em espaços lotados como o Uffizi.

Essa ideia de “profecia autorrealizável” também pode desempenhar um papel. Di Loreto sugere que as expectativas dos visitantes, alimentadas por imagens midiáticas e descrições românticas de Florença, contribuem para criar uma experiência quase transcendental que, em alguns casos, resulta em reações exageradas.

A Arte Como Terapia ou Sobrecarga?

Enquanto uns veem Florença como um templo da beleza, outros, como o psicoterapeuta Paolo Molino, têm uma visão mais crítica. Ele compara a cidade à “Disneylândia da arte“, cheia de turistas que transformam um lugar historicamente vibrante em um espaço de comercialismo e multidões sufocantes. Diz:

“Florença é linda, mas eu prefiro os lugares vividos, onde posso passear sem ter que abrir caminho pela massa de gente”

Ainda assim, é importante lembrar que a arte sempre teve um papel transformador. Durante a Renascença, os Médici usaram obras-primas para consolidar seu poder e riqueza. Hoje, essas mesmas obras continuam a influenciar, mas em um contexto totalmente novo – como símbolos de um ideal de beleza e inspiração que transcende séculos.

Síndrome de Stendhal: Um Fenômeno Universal?

Embora a Síndrome de Stendhal esteja intimamente ligada a Florença, muitos acreditam que fenômenos semelhantes podem ocorrer em outros lugares ricos em história e arte, como Veneza, Paris ou Jerusalém e até mesmo no carnaval do Rio.

Esses episódios, no entanto, reforçam um ponto importante: a arte, na maioria das vezes, não é um risco à saúde. Pelo contrário, é uma fonte de renovação para a mente e o espírito.

Como Schmidt, diretor do Uffizi, coloca:
“A arte, geralmente, é boa para você – para o coração e para a mente.”

Portanto, ao visitar Florença ou outro lugar repleto de maravilhas artísticas, esteja preparado. Talvez você se emocione, talvez sinta um arrepio, ou quem sabe até uma palpitação mais forte. Mas uma coisa é certa: a arte sempre nos desafia a sentir, refletir e – no melhor dos casos – a sermos transformados.

Receba o melhor do nosso conteúdo

Cadastre-se, é GRÁTIS!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade

Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

Artigos similares

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos

Os melhores filmes dos anos 80 – parte2

Há um tempão atrás, precisamente no dia 14 de abril do ano passado, eu fiz um post em que compilei um monte de filmes dos anos 80. O post em questão, chamei de "Os...

A Incrível História de Jacobo Greenberg e o Mistério do Mundo Paranormal

Como um dos cientistas mais célebres do México desapareceu sem deixar vestígios após concluir que estamos na MATRIX

Mariposa imperial

Eu tinha ido comprar umas frutas para o Davi quando me deparei com uma coisa estranha numa pilastra. Eu vi de longe, já que era bem difícil de não notar aquilo. A princípio, eu...

Paranormalidade: Ex-Medium da CIA encontra corpo de criança com visão remota

Casos intrigantes ou meras coincidências? Esses relatos mostram que ainda não conhecemos os limites da percepção humana