Porrada na Barca Rio Niterói


Eu e a primeira dama estávamos na barca ontem voltando para Niterói  e conversando quando subitamente uma coisa chamou minha atenção. Era um sujeito do lado da gente que começou a gritar:
– Vai Lula!
E em seguida ele berrou:
-Vai a merda seu babaca!

Eu pensei por um segundo que estava diante de um surto psicopatológico, mas não. Ele estava realmente falando com alguém. Lá do outro lado, eu vi surgir um outro homem. Ambos aparentavam ser da mesma geração, com uns 45, 46 anos.
O tal homem veio e começou a gritar para o cara que tava ali do nosso lado, o que ele tava querendo, se era levar umas boas porradas.
A coisa começou a esquentar ante os olhares incrédulos das pessoas na barca. Em menos de um segundo, começou um monte de gente a gritar.
E tudo aconteceu muito rápido. O cara do nosso lado enfiou dois socões a la Mike Tyson no maluco. Uma dona tentou entrar no meio para apartar e parece que tomou uma bifa de raspão.
Surgiram os caras do “deixa disso” e começaram a separar os dois. Cada um dos brigões foi arrastado, gritando toda sorte de insultos e palavrões que podia para um canto da embarcação. Eu não conseguia imaginar o motivo de tal combate ao meio dia. Pensei que talvez a coisa tivesse ficado feia por causa de mulher, um dos grandes motivos pelos quais marmanjos de cabelo branco ainda rolam pelo chão aos sopapos nos dias de hoje.
As pessoas que seguiam sem sua viagem silenciosa remoendo seus próprios dilemas e problemas, rapidamente se alvoroçaram em conversar.
Foi neste momento de comunhão com os novos amigos que nunca mais verei na vida, que descobri que o tal sujeito que tomou as duas bifas havia entrado na barca e sentado lá na frente, ao lado de um velhinho que lia o jornal.
O velho lia algo sobre o Lula e o cara, um entrão chato de galochas começou a dizer que o Lula era um merda, que o Lula era um ladrão, analfabeto, e tudo mais.
O velho -outro burro – entrou na pilha e começou a esbravejar dizendo que o Lula era um bom presidente. Que o Lula estava certo. Que o lula tinha aprovação0 de 80% da população.
-Então são 80% de babacas! – Gritou o chato. E foi nesta hora que o cara lá do nosso lado não aguentou e entrou na dança.
Não me pergunte como que o cara que tava do meu lado, lá atrás, a mais de 20 metros da cena se meteu, porque não saberei responder. O que eu sei é que o cara  – que estava com um capacete branco no colo e por isso eu deduzo que era um engenheiro –  gritou para “o chato” calar a boca e foi assim que começou.
Eu acho que o engenheiro estava ficando com raiva de ver “o chato” encher o saco do velho, dizendo que Lula é um merda e que bom era o Fernando Henrique.
O que eu sei é que a briga durou mais do que o esperado e as pessoas começaram a gritar que era para chamar a polícia.
Por um instante eu tive receio que a coisa acabasse em morte, afinal de cordo com o que eu li num jornal aqui, no Rio hoje você compra um revólver de terceira mão numa boca de fumo por duzentas pratas.
Então eu pensei que pudesse realmente rolar um pipoco ali.

Pipoco na Barca é uma merda, porque você não tem onde se esconder e nem como correr, porque está no meio da Baía da Guanabara, e sair a nado pelo lixo tóxico é inviável.
Por sorte, nenhum dos senhores pela-saco estava armado e a coisa se resumiu a socões na cara no melhor estilo Hollyfield versus Maguila. O capitão desceu e veio tomar as providências, que eram dar bronca nos dois. Quando a barca aportou na estação, estava um PM esperando para saber o que havia acontecido.
O mais interessante de tudo é imaginar que dois homens de bem se estapeiam nas barcas para defender a honra de políticos canalhas que não tem honra e que estão cagando solenemente para eles. Engraçado como numa barca podem acontecer coisas mirabolantes.
Me lembro agora de uns poucos casos envolvendo as barcas. O mais estranho deles ocorreu recentemente quando fiquei sabendo, ao chegar na estação, que um cara havia acabado de ser esfaqueado.
Meu, quem será o assassino demente que resolve esfaquear alguém bem na barca?
Outro caso bem legal ocorrido nas barcas aconteceu quando elas ainda eram as antigas.

Barcas lentas, que levavam um tempo maior para desatracar do pier e começar a viagem, porque elas só andavam num sentido e precisavam manobrar para sair. Curiosamente, estas barcas lentas, antigas e complicadas não davam problemas de atraso como as modernas dão.
O caso foi que a barca havia apitado três vezes, avisando que ia desatracar para seguir viagem. Nisso, um sujeito visivelmente atrasado para algum compromisso inadiável, pulou a roleta e veio correndo. Deu um encontrão no hominho que fechava manualmente o portão e entrou correndo na ponte elevadiça. A barca já havia desatracado e estava iniciando a viagem. A cada segundo ela se afastava do pier vários centímetros.
Tão logo o povo viu que o maluquinho estava vindo correndo, começou uma algazarra enorme na varanda e na proa da embarcação.
O povo gritava: – Não, não, não!
Alguns berravam: – Pula! Pula!
Eu sei que o cara pegou todo o impulso que era possível deu aquele salto no melhor estilo “João do Pulo”. O salto foi lindo, ele catou um belo cavaco no ar. O povo todo gritando em suspense.
Foi quando todo mundo viu em câmera lenta o cara bater com os dois pés na beirada da proa e começar a abanar o ar feito um passarinho aprendendo a voar. Lentamente o corpo dele deu um galeio para frente e em seguida para trás e ele mergulhou de costas nas escuras águas da Baía da Guanabara.
E o que se seguiu foi uma algazarra ainda maior. Uns gritavam assustados. Outros berravam a plenos pulmões para o comandante parar a barca. O resto ria de quase fazer xixi na calça.
O apressadinho de Niterói acabou atrasando a vida de quase duas mil pessoas, pois até ser resgatado -com vida –  e ir preso, o maldito atrasou completamente o tráfego de barcas nas duas cidades.
Há também vários casos de pessoas que suicidaram ali. Meu avô me contou certa vez que há muito tempo atrás, uma dona muito bonita estava fumando um cigarro lá na varanda da barca. Ele havia notado a dona mas por alguns minutos, ficou distraído pela paisagem magnífica do Rio. Foi quando ouviu uma moça gritar. Ele olhou e… Cadê a dona? A mulher em uma fração de segundo havia saltado da mureta para a morte, sendo estraçalhada pela hélice da embarcação. Quem era ela, por que ela pulou, o que leva alguém a fazer isso na Barca, foram perguntas que ele nunca conseguiu responder.
O meu primo me contou certa vez que um amigo dele do cursinho havia testemunhado um assalto à mão armada na barca.
A coisa se deu quando um homem tirou um puta dum revolvão bem no meio da barca lotada e apontou para outro pedindo ” o pacote”. O cara hesitou em entregar e o bandido deu um tiro na direção da janela, bem perto de onde o amigo do meu primo estava. Foi quando ocorreu aquela conhecida gritaria e pânico, com pessoas se jogando no chão, e tudo mais. Então, vendo que o maluco falava sério, o sujeito entregou. Nisso a barca estava atracando e o cara armado desceu correndo e conseguiu fugir.

Sinistro, né?

Se o cinema é a maior diversão, a barca pode ser a maior emoção.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Rapaz você é mesmo o melhor contador de histórias da internet no Brasil, o nome mundo gump é perfeito para seu blog, sempre peguei barcas para travessia mas não sabia destas histórias mirabolantes, e você acabou presenciando esta cena tórrida de pancadaria por causa de opiniões políticas! :D

  2. Sobre os dois brigões, não me surpreendo em brigarem para defender políticos. Pelo menos eles fazem isso de graça. Tá cheio de marmanjo brigando por time de futebol e ainda tem que pagar o bilhete pra assistir o jogo.

    Sobre BARCAS, eu não sei nada, mas freqüento bastante o litoral sul de SP e sei algumas histórias de balsa. Que é quase a mesma coisa mas levam carros também.

    Certa vez na Balsa entre Iguape/Ilha Comprida um cidadão (também na casa dos 45-50 anos) irritado com a presença de cachorros na embarcação, resolveu atirar o pobre bixinho na água.
    Obviamente o cidadão eqüino atirou o cachorro na frente da balsa sendo esse sugado pelas hélices do motor e sendo devidamente estraçalhado.
    A revolta dos populares deu inicio a um linchamento só controlado porque haviam alguns policiais fazendo a travessia também.

    Também houve um carro que caiu nas águas. Não sei bem o motivo, ouvia esse relato dos meus tios quando era criança pois o carro que caiu da balsa era um Corcel II igual ao do meu pai, logo sempre que meu pai estava lá, com seu Corcel II, surgia a história.

    Em uma das travessias vimos golfinhos, o que era meio estranho já que a balsa atravessa o rio Ribeira de Iguape. Tudo bem que o encontro com o Mar é logo ali do lado, mas mesmo assim foi estranho.
    Pessoal da ilha comprida diz que na praia de Cananéia (que ainda mantém balsa entre Ilha e continente) é bem comum avistar golfinhos seguindo a balsa.

    Xiii escrevi demais :P

    • Golfinhos costumam subir a foz de alguns rios sim. Eles buscam os estuarios e mangues, atrás de peixes pra comer.

      Eu tb vi golfinhos da barca. Mas foi com a visão periférica e eu tomei o maior susto. Pensei que era um monstro marinho.

      • Ow! Imaginei mesmo que eles pudessem subir mas não sabia que era comum. Programação pra próxima vez na ilha é descer até Cananéia tirar umas fotos dos golfinos.

        Obrigado pela info Philipe!

        • :love: Opaaa…adorei essas hitórias, atravessar de balsa é mesmo uma aventura!!!!!!imagina soh ….como diria nosso amigo, que paraiso atravessar o canal de Cananeia- ilha comprida e encontrar belíssimos em um casamento indissolúvel….

  3. FalaPhilipe,td certo?
    Fantástico o texto… Por alguns minutos entrei no universo da barsa!!! Rs

    Aproveitando a oportunidade, vamos marcar um #NoB se vier ora Sampa!!!

    Abs,

    • Certamente. Ou que tal tu vir aqui pro rio? A gente sai, vamos na praia, passeio de escuna e o caralho a 4. A gente podia combinar uma parada informal, chamamos o Nick, a menina que joga, essa galera daqui e vamos pra a praia.

  4. Barac, ônibus, trem, transporte coletivo em geral é pura emoção.

    Eu tenho uma teoria de que se algum escritor passar três meses viajando de ônibus ao redor do Rio, assim umas oito horas por dia sem destino. ele vai ver tanta coisa, mas tanta história que dá pra escrever um livro. Pensei até em ser eu a realizar tal fato, mas me faltam três meses de bobeira.

  5. Parabéns por mais um post fantástico: verídico e MUITO gump!
    Adoro tuas histórias, cara, apesar de não concordar com nenhuma vírgula tua sobre política.
    Abraço!

  6. O ruim das barcas são alguns homossexuais que não respeitam agente e dão em cima naquele banheiro, mais ele fazem isso porque tem muio coroa enrustido que cai na deles.

    PHILIPE – Não sei se você passou pela prova de resistência que foi pegar a barca para Niteroi no carnaval, eu tenho uma dúzia de historias sobre esse dia, mais o melhor foi uma multidão de pessoas brigando porque as duas barcas, a velha e a nova chegaram ao mesmo tempo, então dois grupos se encontraram, oque chegava e oque estava saindo, foi um verdadeiro “gangues de NY” , ainda vieram uns engraçadinhos fantasiados gritando arrastão, oque causou maior alvoroço…

  7. Amigo, dei porrada porque ele era safado e covarde, ele falou muita besteira pro velhinho, não foi por causa do Lula, quero mais é que ele se fda. Sorte dele que apareceu um monte de pela saco, pois eu ia quebra ele na porrada!!!

  8. Eu tenho pelo menos uns 30 casos bizarros a respeito das barcas, e os piores, se passaram com a minha cunhada mais velha, na boa, vai de barca encalhada, à suicídio, seqüestro e barquinho da polícia federal com agentes entrando na barca para pegar bandido!

  9. Affzz, essa barca só tem confusão…Antigamente ainda tinha um charme aquela barcaça velha! rs Hj eu tava naquele tumultuo, porradaria geral de 7 hs…minha sorte é q eu ainda consegui pegar a barca! Senão seria triste…o.0 Fui procurar alguma notícia da confusão e achei teu site heheh, bacana o texto, me diverti aqui lendo essas loucuras S.A! ;)

  10.  Barcas S.A. e empresas de ônibus: o caos do Transporte na terra de Araribóia.

    Lembro-me das Barcas que há 6 ou 7 anos não contavam com grandes filas de espera, a passagem era bem mais barata e contávamos com poucos atrasos. Hoje o cenário é bem diferente: filas na Praça XV que chegam até abaixo da perimetral, na estação de Araribóia chegam até à rua e dobram de volta, aumentos e mais aumentos no valor das passagens, superlotação das estações e não raras confusões. As novas embarcações chamadas de catamarãs prometeram diminuir o tempo de viagem, o que de fato aconteceu, mas em contrapartida sofremos com o calor insuportável , pois o sistema de refrigeração não é ligado e as pequenas janelas não dão vazão. 

    (…)

    Em relação estritamente aos veículos o que não falta é desconforto e atrasos. Retomando à N. S. do Amparo como exemplo, sua linha 536 possui poucos coletivos e em determinados horários sua espera pode chegar a 35 ou 40 minutos. Em finais de semana então… É mais fácil encontrar uma Arara Azul, uma Águia Careca Americana e um Mico Leão Dourado no mesmo lugar do que ver um 536, o intervalo é de no mínimo 1 hora. 

    Texto completo em: 
    http://amahet.blogspot.com/2011/05/barcas-sa-e-empresas-de-onibus-o-caos.html

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