Eu fui na estreia do filme Podecrer!

Faz tempo que eu não vou num filme na sua estréia. Desde Matrix III acho que não vou. Ontem eu fui a estréia de “Podecrer!” dirigido por Arthur Fontes e baseado no livro de Marcelo Dantas.

Vou dizer que este é um filme muito bom. Não sou crítico de cinema. Não vou ficar analisando planos e contraplanos, a atuação, o enredo. Eu vou apenas me limitar a dizer que gostei pra caralho do filme, porque ele retrata FIELMENTE um monte de coisas daquele tempo. O filme fala de uma geração à frente da minha. A história é da geração de 1981. Naquele ano eu tinha cinco anos e gostava de ver o BOZO de tarde, deitado no sofá de cabeça para baixo. Mas me lembro de ver todos aqueles carros velhos, com pinturas iguais às de geladeira pelas ruas. Era muito Doge, Maverick, Corcel e muito, muito fusca.

 

O filme é totalmente despretensioso. Ele não mostra crianças em histórias de sofrimento para buscar Oscar, nem vende a pobreza do nordeste ou a violência policial de sangue e morte nas velas. Este filme surge como um retrato puro e simples de uma época onde as pessoas eram mais legais, e arrisco dizer, mais inocentes também. Acho que dava para fazer uma série do tipo “Anos incríveis” se passando naquele tempo, que ia ter conteúdo pra dedéu. Os anos 80 eram muito legais e engraçados. Eu me lembro da maquiagem exagerada, dos brincos de plástico chamativos e dos cabelões no estilo Fara Fawcett que minha mãe tinha. Eu me lembro também das Playboys. Comecei a ver mulher pelada nos anos 80. E a primeira que eu vi foi a Sônia Braga!

 

Por sorte minha, as coisas nos anos 80 não eram aceleradas como hoje, onde a moda muda completamente a cada 15 dias. Assim, quando chegou a minha vez, no fim dos anos 80 eu ainda peguei e matei no peito aquele universo das festinhas, do Redley, das pulseiras de cordinha, do coquinho bebido na porta da boate, das camisetas e mochilas da Company, Píer, das carteiras emborrachadas, da pulseira strep do relógio G-Shock , do Genius, do Pogoball e etc.

No meio dos nove personagens que compõe a turma do filme, eu reconheci amigos meus em muitas daquelas cenas. Reconheci situações que eu vivi e que amigos meus viveram. E se não fosse a parte técnica muitíssimo bem feita, o filme já valeria a pena ser visto só por isso.

Os anos 80 foram maneiríssimos e a gente que vivia este tempo, não se dava conta disso. Não sei, era mais legal. Tudo era meio tosco, mas as pessoas eram mais verdadeiras, as relações mais duradouras e até os malucos tinham mais conteúdo.
A verdade é que eu acho que sob o ponto de vista de um adolescente, talvez o mundo fosse diferente. Hoje, adulto, eu acho que o mundo piorou pra caramba. E talvez isso explique a onda de nostalgia que começou com aquele email que todo mundo recebeu falando sobre as coisas daquele tempo, como o pirulito Diplink, o chiclete azedinho doce, bala boneco, o Falcon e o Playmobil.

A onda nostálgica dos anos 80 se expandiu em absurda velocidade e culminou com livros muito legais sobre a “década perdida”, que é o caso do almanaque dos anos 80 e a série Mofolândia. Mas quem se deu bem mesmo com o reviva foi o Bozo, que hoje é pastor evangélico e fatura animando festas temáticas nos finais de semana, o Sidney Magal, que ainda solta o “Sandra Rosa Madalena” a plenos pulmões e até a Gretchen, que dança a melô do Piripiri, lvando o povo à loucura em festões como a “festa ploc”.

Depois vieram vários sites falando da época, da moda daquele tempo, das gírias, dos quadrinhos, dos programas de TV. Hoje mesmo, enquanto eu escrevia este texto, recebi uma proposta de um site parceiro que é o Nostalgia ao Extremo.

A nostalgia dos anos 80 me parece mais do que apenas uma moda passageira. Talvez seja apenas uma fuga para um tempo em que éramos mais felizes. Um tempo em que nos preocupávamos com menos coisas. Que acreditávamos que o Tancredo Neves e as eleições diretas solucionariam todos os problemas. Ver o “Podrecrer!” é bom por isso. O filme tem um conteúdo leve e bem legal. É reviver aspectos de sua juventude de um modo muito divertido. Pena que quando acendem-se as luzes nos lembramos do mundo atual e vem o mal-estar da pós modernidade, das relações frias e da busca por uma perfeição em tudo, profissionalismo, de uma qualidade total competitiva, da pressão e da consciência de que ficamos velhos.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Sim. E também porque os anos 80 não foram de contestação política, nem de uma revolução artística pseudo-intelectual e praticamente não havia mais o gosto amargo da Censura, que já estava em seus últimos suspiros. Justamente por isso os anos 80 foram muito mais divertidos. Surgiu o rock nacional, os primeiros jogos eletrônicos (do Telejogo ao Atari, passando pelos game-boys) e teve a melhor seleção brasileira até hoje desde o tri em 70, aquela da Copa da Espanha de 82. De quebra ainda botou no mundo o cubo mágico, o relógio Champion que trocava pulseira e aqueles picolés diferentões da Gelatto.

  2. Eu não era nem nascida quando se passaram os anos 80 , mas sou apaixonada por essa década, eu não sei muito bem porque, mas eu adoro tudo isso que você falou.

  3. Philipe obrigado por citar o meu blog no post, é uma honra imensuravél ser citado por você no Mundo Gump. Ainda não tinha conhecimento do filme, vou assistir com certeza, comendo pipoca com guaraná antartica :) e bala azedinha para acompanhar.
    Grande abraço e muito sucesso com o blog.

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