Ostentação da babaquice

Meu brother Humberto lá do Buteco da Net fez um post interessante sobre os novos riquinhos que usam mídias sociais, mais precisamente o Instagram para mostrar sua vida de luxos fora do comum.
Segundo o Norberto, esses caras são chamados de RKOI. São praticamente a versão internacional – e real – do “rei do camarote“. As ostentações dos riquinhos atraem grande atenção por parte das pessoas normais, consideradas o “proletariado”. Talvez por isso, eles até ganharam um livro com 352 páginas só para documentar suas milionárias peripécias.
Entre os milionários, é possível encontrar membro da realeza britânica, herdeiro de indústria de computadores e armas – todos muito jovens.

As fotos falam por si.

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Veja, antes de meter o malho nesses caras, é importante dizer que eu acho justo que alguém que trabalha ou mesmo que ganhe uma nota preta de herança, pode fazer o que bem quiser com seu dinheiro. Inclusive queimar.
É inegável que as pessoas tendem a se indignar ao ver moleques criados à base do leitinho com pera gastando avontê um dinheiro que para os demais mortais neste planeta é algo bem difícil de ganhar.
Não é impossível ver inclusive pessoas desejando que eles se ferrem, que sejam sequestrados, que se fodam totalmente.

As pessoas ficam com raiva deles, porque esses caras representam mais que playboys gastadores -que não são exatamente uma novidade. No meu post sobe o rei do camarote, mostrei que a riqueza fútil é algo que já vem impressionando o mundo desde os tempos do Império Romano, quando a crônica social surgiu, e certamente já existia antes, em tempos imemoriais quando os excessos não foram registrados para a posteridade.
Eu acho extremamente instigante observar esses meninos e suas ostentações exageradas, algumas que chegam a dar pena da figura, que precisa fingir falar num celular que é um maço grosso de notas de cem dólares. Fotos assim contém uma legenda invisível que quase sempre é a mesma:

Na falta de algo melhor para mostrar, mostro o meu dinheiro.

Normal, há quem só mostre fotos na rede exibindo o próprio pinto duro para a câmera. As pessoas tendem a buscar mostrar para o mundo o que elas consideram que seja o que tem de melhor. Um menino crescido numa família aristocrática que gasta nababescamente entende o dinheiro como mais que um componente necessário para a sobrevivência. Para eles, não existe ameaça à sobrevivência. Aqui a corrida é para mostrar quem tem mais. Aliás, é um engano pensar que eles fazem isso para que os pobres imaginem como eles vivem. O objetivo aqui é se mostrar ao amigo- também rico e irmanado na necessidade de aparecer, e desfrutar do prazer fútil de ver pessoas reagido com indignação ao ver qualquer um deles jogar champanhe caro pelo ralo da banheira.

Essa riqueza desmedida que os leva a gastar milhares de dólares numa bolsa ou num relógio de pulso é, segundo muitos, o retrato da decadência do capitalismo. Em parte, concordo que os excessos do capitalismo podem ser detestáveis. Por outro lado, é impressionante um sistema que permita a alguém um dia poder queimar dinheiro para acender charutos sem estar invariavelmente associado ao poder, aos governantes e à corrupção.  O que me leva a supor que esta grana aí “veio fácil”.

Seja como for, alguém que trabalhou e sofreu para construir sua riqueza por seus próprios méritos, dificilmente faria pouco caso do dinheiro, queimando-o. Não conheço ninguém rico que tenha se erguido com seus próprios méritos que menospreze o dinheiro, por menor que seja a quantia. Assim, o cara que faz isso, o faz para aparecer. Seria improvável que ele usasse notas de cem euro para acender charutos no seu dia-a-dia.

De todas as fotos, a que mais me impressiona é a do sujeito que posa com uma metralhadora no colo, segurando o que parece ser um ovo Fabergé.  Porque tirar self segurando um maço de notas de dinheiro, até um plantador de inhame bem sucedido pode. Agora, ter em casa um Ovo Fabergé é outro papo.

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No fundo, só resta uma sensação de perda de tempo (e dinheiro, óbvio) na busca da construção de uma identidade pautada em seu poder de consumo. As fotos parecem terrivelmente presas a uma repetição de clichês, que vai das grandes garrafas de champanhe caro (fotos que aliás vem deixando constrangidas as marcas mais caras de champanhe francês) relógios caríssimos e exclusivos, carros como RollsRoyce, Bentley e Lamborghinis, uma ou outra foto de jatinho, maços de dinheiro e a playboyzada dançando nas boates de Ibiza e Nova York.

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Ao ver estes caras fazendo isso, eu não consigo deixar de pensar em certos rituais tribais, onde o detentor do poder – o chefe político ou religioso, dependendo da tribo – QUEIMA coisas importantes para os membros, somente para mostrar seu poder diante de um visitante.

Não é de se espantar que tanto o pobre quanto o rico, sobretudo o novo brasileiro, passe a desprezar o dinheiro assim que o tem em mãos. Nada melhor para aumentar a auto-estima, que tratar com desprezo aquilo que todos parecem idolatrar. A melhor forma de desprezar o dinheiro (ou “tratá-lo como merda”) seria através da ostentação, uma forma de gastança imprudente. O ostentador faz gastos priorizando a visibilidade das posses e não o uso em si. O ostentador não está muito interessado em gastar para si mesmo, de forma planejada, mas o que ele quer é ser visto pelos outros afim de obter status social. Curiosamente, há uma expressão popular que se reflete na ostentação: “Feliz como um pinto no lixo”.

É difícil perceber uma aura de baixa autoestima em cada um desses milionários que se exibem como árvores de natal, verdadeiras araras humanas de roupas caras, fazendo o eco do que a moda os doutrinou a pensar:

Você é o que você veste. Você é o que você come e bebe.

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A relação dos novos ricos exibidos junto às mídias sociais é um interessante campo de estudos para a Antropologia e Psicologia.

Puxando a conversa para a nossa realidade, é fato que os brasileiros de todas as classes sociais são ostentadores sob certo ponto de vista. É fato conhecido de quem morou no exterior que os ricos brasileiros, são os que mais gastam com luxos (e mais gostam de ostentá-los aos amigos) sobretudo quando viajam por outros países. Também é digno de nota que as maiores grifes do mundo tiveram que realizar modificações especiais para atender a este gastador exibido.

Somos o único povo do mundo que compra artigos de luxo em prestações. (É possível parcelar em até 5X na Daslu!). Mesmo os pobres, como sabem os vendedores de varejinho, costumam gastar muito além de suas posses apenas para parecer estar uma classe social acima de sua condição, possivelmente para impressionar amigos, vizinhos. Certo dia eu estava no play do prédio e após atender o telefone (um bem velho e usado que estou usando temporariamente), notei uma babá me olhando com desdém. Ela parecia interessada em deixar ver o celular dela, um modelo de último tipo, que certamente deve ter comprometido gravemente sua renda de vários meses.

Ter um celular muito caro confere a ela a sensação efêmera de ser melhor do que eu. Nesse aspecto, para a mente dela, o celular é uma extensão dela. É como aquele carinha que dirige feito louco, como se estivesse protagonizando um filme de ação hollywoodiano.  Ou o sujeito que gasta uma nota preta para comprar o maior carro (em dimensões) que ele conseguir, porque para ele, tamanho É documento, mesmo com todo mundo traçando complexas ilações entre o carrão dele e o tamanho pífio de sua genitália.

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Vivemos controlados e manipulados pela sociedade de consumo. Alguns de nós estão presos numa sociedade do hiper-consumo. Diariamente somos medidos e avaliados, por muitas pessoas, pelo número de coisas que possuímos, e pelos bens que ostentamos, pela forma como nos vestimos.
Hoje, se você não tiver o último (e caro) celular da moda, dependendo do seu círculo social, podem zombar de você.
Num certo condomínio, se você não tiver o carro da moda, será excluído do grupo. O cartão de crédito Master Diamond Titanium se tornou uma carteirinha literal do clube do poder. Talvez por isso apareça em tantas fotos dos menininhos ricos do Instagram.

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Mais que boyzinhos consumistas, esses caras são instrumentos da propaganda velada. Graças a pessoas como estas, outras, tomados pela angústia e pelo sentimento de exclusão social, acabam fazendo compras irracionais, adquirindo bens fúteis, consumindo coisas das quais não precisam, na tentativa de refletir ao mundo valores e princípios irreais.
Há uma maquina de vendas interessada na construção permanente deste ideal de riqueza distorcido. São pessoas que compram o carro não pelo que ele é, não pela sua construção artesanal, não por sua tradição, mas por seu valor final. São pessoas que desconhecendo a história de uma marca de champanhe de 200 anos, derramam-no numa louça de banheiro para mostrar que podem comprar e desperdiçar aquele “bem”. Eles nem sequer alcançam a compreensão completa do que é aquilo que estão desperdiçando.
Eu tenho sérias dúvidas se aquele pleissom da metralhadora sabe quem foi Carl Fabergé, e por que aquele mimo que o papai dele tanto idolatra, fica guardado no cofre da mansão.

A necessidade de mostrar armas é uma outra coisa que sempre notei como uma curiosidade estranha da ostentação, sobretudo a ostentação norte americana. Isso pinta um panorama que mostra que aquela arma é um símbolo de dominância. A dominância é uma herança ancestral que vem dos mais primitivos macaquinhos, como os que pulavam e gritavam ao redor do monolito na obra de Stanley Kubrick.
A dominância está aí desde que o mundo é mundo como instrumento para mostrar que somos bichos. Somos bichos! Isso é fato.

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Na natureza, quem tem a arma mais potente, vence. Quem vence, manda e quem manda domina… Logo, junte os pontos.

A dominância surge na natureza, espalhada por miríades de espécies. Dominância em etologia é um “acesso preferencial aos recursos do indivíduo em detrimento de outro”.
Dominância no contexto da biologia e antropologia é o estado de ter elevado status social em relação a um ou mais indivíduos, que reagem submissamente aos indivíduos dominantes. Isso permite que o indivíduo dominante  obtenha acesso aos recursos, como alimentos ou parceiros em potencial em detrimento do indivíduo submisso, sem agressão ativa.

A ausência ou a redução da agressão significa gasto desnecessário de energia e o risco de lesão são reduzidos para ambos. O oposto da dominância é submissão.

Macho da espécie Homo Sapiens em processo de dominância, exibindo fêmeas sexualmente ativas pertencentes ao harém dele.
Macho da espécie Homo Sapiens em processo de dominância, exibindo fêmeas sexualmente ativas pertencentes ao harém dele.

A arma aqui é o ícone de seu poderio, a cristalização literal de sua capacidade de manter o status. A arma, sob muitos aspectos representará um passaporte do poder, e é justamente por isso que os molequinhos do morro, mesmo os mais mequetrefes soldadinhos da boca de fumo, gostam de ir ao baile armados com fuzil.
O mecanismo que opera na mente dele é rigorosamente o mesmo que opera na mente do cara que personaliza sua metralhadora para tirar uma onda no instagram.

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Há vários tipos diferentes de hierarquia de dominância, que por si só já é um assunto sensacional para ficarmos pensando na fila do metrô. Por exemplo, algumas sociedades animais têm déspotas, ou seja, um único indivíduo dominante, com pouca ou nenhuma estrutura hierárquica entre o resto do grupo. Ou seja: Ele é o fodão e todo o resto é merda. Ou ainda, ele é tão babaca que precisa que todo o resto seja merda para que ele se sinta fodão.

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Não por acaso, os dominantes costumam se atribuir um conceito quase sagrado de elitismo, que esbarra numa relação narcisista que beira o patológico. A necessidade permanente do self é a tentativa desesperada de dizer ao mundo e se convencer por tabela de que ele é aquele “alguém” que ele almeja ser mas que no fundo, sabe que não é.
O instagram tornou-se célebre por virar um espaço para a exibição do self. Os rich kids of instagram fotografam seus bens, seus desperdícios e exageros, caros e fúteis, sem sequer refletir que estão, no fundo, fazendo selfs.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Excelente postagem

    Só acho que vc deslizou neste trecho
    “É difícil perceber uma aura de baixa autoestima em cada um desses milionários que se exibem como árvores de natal, verdadeiras araras humanas de roupas caras, fazendo o eco do que a moda os doutrinou a pensar:”

    Vejo exatamente o contrário. A ostentação é inversamente proporcional a auto-estima. Se você é feliz e bem resolvido onde entra a necessidade de aprovação/aceitação/inveja de alheios?

    • Então, estamos dizendo a mesma coisa com palavras diferentes. Eu digo que é difícil perceber, porque a baixa autoestima é disfarçada com uma propaganda de uma vida idealizada, de luxo e poder.

  2. Philipe, uma frase sua definiu bem todo este absurdo: “Na falta de algo melhor para mostrar, mostro o meu dinheiro”. Povinho pobre de espírito, sô!

  3. Gostei do texto, enquanto esses daí ficam esbanjando e tirando "selfies", o mundo está em guerra, usando as armas que seus ancestrais produziram, e o resto passando fome. Será que algum dia serão cobrados pelo desperdício e futilidade ?

  4. A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas.
    Miguel de Cervantes

        • Discordo. Não acho que o cara use por exemplo, o relógio de pulso para dentro, ou vinte relógios num braço e nem que ele dorme todo dia abraçado a um mamadeirão de champanhe. Nego tem acesso a isso tudo, ok, milhares de pessoas no mundo tem, mas quantas dessas tiram foto para os outros verem “telefonando” num maço de dinheiro? Isso é pleissonisse pura.

          • Quem sabe ostentar é Alemanha, mudou o futebol nacional(lá na Alemanha)levaram o Borussia e o Bayer pras cabeças contra os times ricos espanhóis e os Shakes donos de times da Inglaterra e França(quase fugindo do assunto), vieram para o Brasil (País do Futebol), construíram seu próprio hotel e centro de treinamento, surraram o Brasil em campo, e ainda por cima ajudaram as vítimas dos alagamentos que rolaram aqui no rio grande do sul que deixou milhares de pessoas sem teto. Dalê Alemanha! Ostentando com estilo!

  5. Se eu, algum dia, vir a ter uma conta bancária obesa, vou continuar a andar por aí com minhas roupas proletas com as quais sempre andei. Nada melhor do que ter o mais precioso dos bens, quando se é rico: o tempo.

  6. Matéria perfeita, não entendo muito de psicologia, mais me interesso muito pelo assunto. Infelizmente os atuais valores sociais são esses: ter, mostrar, ostentar!! Os ricos fazem porque não tem mais o que fazer e os pobres para se sentirem como os ricos, e sim os ricos e até os blogs de moda fazem propaganda velada (mesmo quando estão usando uma roupa/sapato que elas mesmas compraram) é a venda de um estilo de vida, tem até um filme sobre isso Amor por contrato, explica exatamente isso, a venda de um estilo de vida. Tudo isso só me faz pensar no que nós ainda somos macacos, macacos com celular na mão, nosso comportamento pouco evoluiu, parece até que está regredindo.

      • Eu li esse post (leio todos, sou viciada) acho que é Idiocracia o título (algo parecido), até assisti ao filme depois por curiosidade, além de ser muito engraçado é uma baita crítica social, minha mãe que é professora de filosofia adorou, até ia passar pros alunos, não duvido que nosso futuro seja algo semelhante, até me entristeço com meu pessimismo, mas não vejo muitas saídas pra atual sociedade.

        • Eu concordo com você, mas de vez em quando me pergunto se na verdade, não estamos vendo uma realidade distorcida. è que a presepada vende, a presepada gera posts. O cara que esta fazendo algo maneiro, muitas vezes está oculto do mundo, trabalhando solitário numa garagem.

      • todo mundo quer ser o que nao e outro dia mesmo o kling tava do lado de umas gostosa na festa da cerveja:ele encolheu a panca pra tirar a foto.

        • E não pode tirar foto do lado da gostosa não? Minhas amigas que são gostosas não vão curtir muito esse seu comment. Encolher a pança é padrão depois dos 30, hehe.

  7. Isso é uma das coisas sobre as quais o livro “Clube da Luta” do Chuck Palahniuk versa. Não exatamente da mesma maneira, mas a questão de comprar coisas pelas quais não se tem apreço com o dinheiro que não se tem para agradar pessoas das quais não se gosta é o resultado deste “marketing” que os abastados (babacas) das redes sociais produzem.
    Como eu ainda dizia dia desses, as pessoas querem mostrar que gastaram, que tem um padrão de vida que na verdade não tem. Elas compram um carro que acabou de ser lançado e é uma merda apenas para que os outros olhem e pensem “como essa pessoa é foda, ela acabou de comprar o último lançamento”, pois se comprarem um carro que não foi lançado recentemente, isso não ficará estampado claramente. E está lá todos os meses se fodendo com as prestações.
    Eu sou da turma do “foda-se”. Cada um faz o que bem entende, tendo ou não dinheiro, querendo ou não aparecer como alguém legal. Não preocupo nem mesmo se me perturbam por não ser mais um trouxa ostentador. Só não me relaciono com tais imbecis.

  8. Excelente matéria! E achei extremamente pertinente você não misturar este fato com um suposto alerta da "maldade" escondida por detrás da figura do capitalismo, de como é dele a culpa de todo o mal social, como muitos adoram fazer.
    Como disse, é surpreendente existir um sistema em que a riqueza não seja oriunda exclusivamente dos organismos corporativistas de poder (governo, corrupção ou crime institucionalizado), e no qual qualquer indivíduo, dotado da capacidade de bem aproveitar as oportunidades lícitas, possa atingir um enorme nível de conforto material.
    Agora, vou lhe dizer: esta febre de ostentar está aos poucos dilapidando a próprio propósito dos bens de consumo ao distorcer quais devem ser os compromissos reais das criações tecnológicas. Você mencionou: "São pessoas que compram o carro não pelo que ele é, não pela sua construção artesanal, não por sua tradição, mas por seu valor final."
    Bem, a parte dos carros é a que em especial me toca, pois sou entusiasta desta invenção humana e o que menos me importa neste aspecto é a monetarização de suas qualidades. Infelizmente, no entanto, os prazeres intrínsecos do automobilismo têm cada vez mais sido preteridos em favor da ostentação sobre rodas. Ideias práticas, atinentes à finalidade de prazer condutivo, de conforto pessoal, de facilidade em ter e manter um objeto tão singular de prazer tem cedido cada vez mais espaço aos adereços voluptuários, superficiais e supérfluos. Quer prova maior disso do que esta história de SUV? De posição "de comando de estrada" para toda e qualquer jabirosca que dá ao condutor posição do solo mais elevada do que a média? O carro tem deixado aos poucos de ser "dirigido por dentro" para ser "comandado por fora", servindo a propósitos espúrios, antinaturais, como tudo o mais que consumimos.
    Mas digo: do ponto de vista da abordagem psicológica de todo o fenômeno, suas palavras estão fluidas e irretocáveis. Não é à toa que seu espaço faz tanto sucesso.

    • Valeu mesmo, Thiago.
      No caso do Brasil e do Suv, uma das percepções que eu tenho para terem virado febre é que mais que o modismo, o carro alto se mostrou bastante útil num país que investe muito pouco em manutenção e as ruas alagam com qualquer chuva. Tb não sei até que ponto esse tb é um discurso de racionalização para o sujeito que visa comprar um carrão grande, alto e parecendo um tanque de guerra.

  9. Texto muito interessante. Você reuniu algumas das ideias que ando tendo sobre esse tipo de coisa. É impressionante notar como todos os níveis sociais sofrem do mesmo problema. O caso da moça que trabalha na sua casa é um exemplo. Refletindo sobre a questão da baixa auto estima vejo que há uma ligação forte desse “estilo” de vida com a depressão e outros transtornos. Dinheiro significa felicidade? Sim, pode significar deste que você não o utilize exclusivamente para preencher o seu vazio existencial.

    • Valeu. Mas a moça do post não trabalha na minha casa não, é uma das diversas babás do meu condominio. A moça aqui de casa tem tb um celular bem melhor que o meu, mas ela ganhou de presente da Nivea.

  10. Dinheiro traz poder, poder traz mulher.
    O motor dessa modinha, que é exacerbada por esses playboys, é a reprodução. E isso não tem nada de novidade!
    Desde que a civilização existe, mulheres são naturalemente hipergâmicas, e homens naturalmente provedores. O post só mostra a natureza levada ao extremo.

  11. Cômico, mas será que são bem resolvidos? tenho a ligeira impressão que não…se fossem, não estariam postando essa bizarrice. Em tempo: as moças coreanas estão rindo ou chorando????

    • Eu aposto que não. Vamos comprovar? Transfere aí vinte milhões de dólares pra minha conta e veja se eu vou mudar alguma coisa, tirando sair viajando pelo mundo NO ATO, hehehe.

  12. Só um pequeno detalhe: Embora eu também concorde que cada um é livre pra gastar o seu dinheiro como quiser, você ainda não pode queimar as notas.

    Explico: As notas são consideradas propriedade do estado. Você é dono do valor que elas representam, e essa relação de posse é ao portador (ou seja, quem estiver levando o dinheiro na mão). Só que queimar dinheiro é considerado, para fins criminais, o equivalente a destruir patrimônio público, como quebrar um banco de praça, ou pichar um orelhão.

    Se precisar de fonte: http://www.policiacivil.go.gov.br/artigos/rasgar-e-escrever-em-dinheiro-e-crime.html

  13. “É documento, mesmo com todo mundo traçando complexas ilações entre o carrão dele e o tamanho pífio de sua genitália!” Tirou as palavras da minha boca.
    Nibelung matou à pau! Só falta contar pro governo, né? Pra ele cobrar isso desses carinhas!
    “Explico: As notas são consideradas propriedade do estado. Você é dono do valor que elas representam, e essa relação de posse é ao portador (ou seja, quem estiver levando o dinheiro na mão). Só que queimar dinheiro é considerado, para fins criminais, o equivalente a destruir patrimônio público, como quebrar um banco de praça, ou pichar um orelhão.”

    Se precisar de fonte: http://www.policiacivil.go.gov.br/artigos/rasgar-e-escrever-em-dinheiro-e-crime.html

    Mas sem demagogia, galera. Acho que se eu tivesse tanta grana asssim dava uma de ostentador também mas sem tanta “parangolice”, é claro, afinal, fiquei sabendo também que esses caras assim estão sendo vítimas de sequestros e assaltos por conta dessa exposiçao exagerada!

  14. Tem gente mostrando que pode jogar bebida cara no ralo, pondo fogo em dinheiro, monstrando as belas (gostosas), mulheres ao lado, falando com milhares de dolares, tirando foto de taças com seus belos marcadores de tempo, com armas e por ai vai. E eu aqui trabalhando. Ahhhh que saber, vou trabalhar mesmo, pelo menos assim podemos viver alienados nesse sistema e esquecer de coisas mais importantes (não que o dinheiro não seja).

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