O último show

É curiosa minha relação com meus sonhos. Tem dias que não lembro nada, mas tem outros dias, que sei lá que merda dá na minha cabeça e eu lembro com detalhes minuciosos. Uma porrada deles!

Essa noite deu isso. Eu tive um sonho maneiro entre muitos outros estranhos.
O sonho legal era um show. Uma coisa colossal, lotado de gente, parecendo até o Rock In Rio. Lembro que no meu sonho, o show era para criar a verba de um fundo que manteria para sempre as bibliotecas do Rio (ontem postei sobre algumas bibliotecas do Estado terem fechado por falta de verba, certamente foi por isso).

O povo aderiu em massa, e o show rolava justamente no dia do aniversário do Raul Seixas.
Daí começam varias bandas, e toda banda tocava uma musica dela e outra do Raul. Então, do nada, todas as luzes do show apagam. Parece um blecaute. O povo começa a ficar tenso, o clima azeda, nego taca coisas no palco, tumulto. Uma vaia como nunca se viu engolfa tudo. A única luz visível é a do refletor do carro da Globo que filma o show ao vivo, lá longe. O breu é tremendo, e a gritaria atinge níveis absurdos. Começo a temer pelo caos.

“Vai dar morte, fudeu!” – è só o que eu penso.

A Nivea agarrada na minha mão se cagando de medo, e então, acontece um troço espetacular.

Uma puta luz branca cegante estoura no palco, e um som que mais parece uma explosão ecoa no ar. É uma explosão tão espetacular que não pode ser coisa normal. Todo mundo se contém e então um silêncio monstruoso impera onde segundos antes havia o caos. No palco está uma figura de terno branco, listrado. Alguém no meio da plateia grita: – “È ele!”

Para estupefação de todos e incompreensão suprema, ninguém menos que Raul Seixas está no palco, vindo sabe-se lá de onde.

Primeiro eu penso que é um sósia. Certamente todo mundo pensou isso. Ele vai até o microfone, fala umas coisas que já esqueci, mas que no sonho pareciam não fazer muito sentido. Ali, naquele momento, cai a ficha de geral. – É ELE MESMO!
Eu me pego me beliscando para saber se não estou sonhando (no sonho, haha) e só consigo repetir “Não é possível! Não é possível!”…
E então Raul Seixas começa a tocar uma musica fodaça que ele tinha composto “no além”.

O show tributo é abortado e o que ocorre agora é um show do verdadeiro Raul Seixas, que devia estar morto, mas a essa altura, ninguém na multidão está nem aí pra essa porra. O povo delira, Raul parece estar no seu melhor momento no palco, bem diferente daquela figura decadente do final da vida. A multidão em uníssono: “Raul! Raul!”

Nenhuma luz funciona, ainda está um breu completo, mas estranhamente, o som do show esta funcionando. Vejo correria nas coxias, algumas pessoas estão com medo. Ninguém sabe o que está acontecendo. O meu celular não funciona. Nem o meu nem de ninguém mais. As pessoas acendem isqueiros. Raul parece emanar uma luminosidade própria.
Ao final do show, Raul canta “Tente outra Vez”.
Quando a musica acaba, o povo em frenesi testemunha as últimas palavras de Raul. Ele novamente faz um discurso, mas a gritaria me impede de entender o que ele diz. Só consigo ouvir o “estarei sempre com vocês”. Novamente o clarão explode no palco. As pessoas apontam o céu. Há uma enorme astronave flutuando sobre o palco. Um disco voador, que vai lentamente subindo em direção ao céu.

As pessoas estão chorando. Alguns ainda tentam correr com medo. Algumas pessoas ainda estão estáticas, paralisadas, sem entender. Assim que a nave some a luz do show volta. Surge um sujeito no palco e diz:
– O que aconteceu aqui ninguém jamais esquecerá!

Meu sonho dá um pulo e o que vejo é a discussão na televisão se o que aconteceu naquele show foi real. Muitos não acreditaram no que viram. Os fãs juram que Raul voltou. Outros alegam que o Raul Seixas que viram era uma projeção 3d.
Um sujeito fantasiado (e bêbado) entrevistado sai com a seguinte perola:

– Se Jesus voltou, porque Raulzito não ia voltar também? Eu já sabia!

A única prova do que aconteceu é a filmagem da Globo, mas que só durou dez segundos. Nesse video é possível ver o clarão, e depois Raul no palco, antes de começar a cantar, quando o sistema elétrico do carro da Globo pifou misteriosamente.

Foi um ótimo show.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Era um sósia criado pelos ETs, totalmente limpo e careta, porque o Raul verdadeiro estaria bêbado e drogado e nem lembraria das letras das músicas feitas na terra, quanto mais uma do além. Sinto muito, mas essa é a imagem que o Raul fez questão de deixar para mim e uma multidão que fez a cagada de pagar para ver um show dele…

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