Se você é como eu e gosta de ver filmes da Segunda Guerra Mundial, já deve ter se deparado com muitas histórias envolvendo os nazistas e os campos de extermínio, onde seres humanos foram mortos com gigantesca crueldade.
Esses filmes, como “A vida é Bela”, “O pianista” e “A lista de Schindler” nos dizem repetidas vezes que todos os nazistas eram maus, verdadeiros malditos cães do inferno sob o comando de um ditador completamente louco e inescrupuloso, capaz de matar qualquer um que estivesse em sua frente para atrapalhar seus planos de dominação mundial. Há até mesmo livros que tentam explicar como Hitler conseguiu convencer todo um país.
O nazista que não era mau
A sensação que dá é que todo nazista era um belo dum FDP; um facínora, ao ponto de que o termo nazista acabou virando um adjetivo contemporâneo, muito mal usado por sinal – em qualquer discussão. Hoje se xinga de “nazista” até o sindico que quer aumentar a cota do condomínio.
Mas nem todo nazista foi naturalmente mau e aqui está um artigo que talvez te surpreenda. Há pelo menos um nazista que foi absolvido no tribunal da guerra. Aqui está ele:
Em 1947, na Polônia, autoridades comunistas iniciaram uma série de julgamentos de pessoas acusadas de participar de assassinatos em massa no campo de concentração de Auschwitz. Na ocasião do julgamento, Münch foi apelidado de O Bom Homem de Auschwitz por sua recusa em ajudar nos assassinatos em massa lá.
O segundo desses julgamentos, confusamente chamado de “O Primeiro Julgamento de Auschwitz” (Pierwszy Proces Oświęcimski), envolveu 40 réus — a maioria deles eram oficiais e administradores de alto escalão no campo de concentração.
Dos quarenta réus, vinte e três foram condenados à morte por enforcamento, seis à prisão perpétua, sete a 15 anos de prisão e três a 10, 5 e 3 anos de prisão, respectivamente.
Mas estranhamente, um deles foi absolvido de todas as acusações.
Até onde as evidências sugerem, o Dr. Münch era um membro de carteirinha do partido nazista, tendo se filiado por crença genuína em seus ideais ou por motivos egoístas para progredir em sua carreira como médico e bacteriologista.
Em 1943, ele foi recrutado como um cientista pela SS e enviado para ajudar com experimentos médicos em Auschwitz. Sua tarefa era prevenir epidemias nos campos superlotados. Lá Münch continuou a pesquisa bacteriológica pela qual era conhecido antes da guerra, bem como fez inspeções ocasionais nos campos e nos prisioneiros.
Mas algo estranho aconteceu lá: o nazista quando viu o que estava acontecendo lá se chocou. E mais, ele se recusou a permitir os crimes de seu superior, Josef Mengele, e – com grande risco pessoal – começou a ajudar os internos do campo.
O livro sobre os médicos da SS de Auschwitz, de Robert Jay Lifton (1986), menciona Münch como o único médico cujo compromisso com o juramento de Hipócrates se mostrou mais forte do que o da SS.
Primeiro, ele se recusou terminantemente a participar das infames “seleções” na plataforma ferroviária, que determinavam quem seria colocado para trabalhar, quem seria submetido a experimentos e quem seria condenado à morte imediatamente.
Segundo, ele manteve as vítimas de Mengele vivas ao deliberadamente criar experimentos falsos e elaborados, que na realidade eram apenas uma forma de fornecer tratamento médico real às pessoas e evitar que elas fossem mortas por não serem mais úteis ao Dr. Mengele.
E, finalmente, antes de deixar o campo à frente do avanço do Exército Vermelho, ele deu seu revólver pessoal a um prisioneiro sugerindo que ele usasse a arma para se defender e escapar.
E assim, em dezembro de 1947, enquanto pessoas com todo o direito de odiar os nazistas descreviam os crimes de 39 réus em detalhes, eles surpreenderam todos os juízes e promotores ao defender um homem da SS e membro do partido nazista que trabalhava para um dos maiores monstros da história no campo que foi relatado por muitos como sendo o inferno na Terra. O tribunal decidiu pela absolvição:
“não apenas porque ele não cometeu nenhum crime de dano contra os prisioneiros do campo, mas porque ele teve uma atitude benevolente para com eles e os ajudou, enquanto ele tinha que assumir a responsabilidade. Ele fez isso independentemente da nacionalidade, raça e origem religiosa e convicção política dos prisioneiros.”
Ninguém realmente esperava isso, mas os depoimentos foram tão sinceros, consistentes e vieram de tantos detentos do campo, que até mesmo os promotores comunistas tiveram que admitir que sobre aquele homem as acusações eram infundadas, e assim Hans Münch foi autorizado a sair, retornar à Alemanha e viver o resto de sua vida praticando medicina.
Hans Münch foi o único soldado da SS cuja virada do mal foi tão completa que ele enfrentou a justiça comunista e viveu para contar a história.
Sua história nos mostra que mesmo em momentos tenebrosos e sombrios algumas pessoas podem enfrentar grande risco para não aceitar se banhar no rio de sangue e sofrimento.
Existe um filme sobre a vida dele chamado “Dr. Münch – médico em Auschwitz“
Controvérsias: Ele era mesmo tão legal assim?
Como tudo na vida, nem Hans Münch escaparia de ter seu passado vasculhado e ser acusado de ser “lobo em peles de cordeiro”.
A maior das acusações contra ele veio de um ex-presidiário, chamado Imre Gönczy, também conhecido como “Emmerich”.
Segundo Emmerich, Münch não apenas participou de seleções, mas também usou a carne dos cadáveres para cozinhar “um caldo” que foi usado como meio para seus micróbios. Ele também supostamente infectou pessoas, incluindo Gönczy, com reumatismo , Gönczy ainda sofrendo os efeitos do qual no momento de uma entrevista posterior. Eles se encontraram pouco antes da morte de Münch (quando Münch já estava com o mal de Alzheimer), e a reunião foi coberta por um jornalista do jornal alemão Die Welt. Na reunião, Münch disse que “se pudesse voltar no tempo e escolher ir para Auschwitz novamente, ele o faria”.
Para alguns isso foi visto como uma frase de um teor maligno, para outros foi uma declaração de um homem que sabia ter salvado vidas.
Seja como for, muita gente passou anos em cima dele tentando obter qualquer declaração possível que desse ruim pra ele. E isso efetivamente aconteceu numa entrevista dele em 1988, quando já com a doença de Alzheimer avançando ele deu declarações que foram vistas como declarações nazistas, sobre como “os ciganos são patéticos e problemáticos” e que “e que as câmaras de gás seriam a única solução para eles”.
Munch foi julgado culpado após a entrevista, mas uma junta médica o considerou “psicologicamente perturbado” em função da doença e ele não foi preso. Em maio de 2001, Münch foi condenado em Paris por “incitação ao ódio racial ” e “menosprezo por crimes contra a humanidade”. O promotor não exigiu a prisão de Münch, mas sua libertação sob licença. Münch foi considerado culpado, mas devido à sua idade avançada e sua saúde mental, o tribunal de apelação de Paris decidiu que Münch, de 89 anos, não deveria cumprir a pena.
Durante seus últimos anos, Münch viveu na região de Allgäu , perto do Lago Forggen. Ele morreu aos 90 anos em 2001.
Enfim, suas declarações infelizes no final da vida podem ser produto de um nazista safado, um cara tão esperto que evitou a morte no julgamento? Não sei. Sabemos que o mal de Alzheimer pode afetar negativamente o comportamento das pessoas.
Enquanto alguns o culpam por seus experimentos médicos com bactérias e vírus em Auschwitz, muitos outros prisioneiros testemunharam a seu favor e os resultados das documentações de suas pesquisas endossaram o fato de que ele realmente inventou complicados experimentos apenas para que os prisioneiros não morressem na câmara de gás.
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