O mapa do mundo e outras coisas

Na quinta feira estive batendo papo com meu pai e com o prof. Richard sobre a questão do mapa Mundi. Basicamente o assunto se referia sobre a questão: Por que todo mapa mundi ou globo terrestre que vemos representa a Terra do mesmo jeito? Veja a foto:


Pode parecer bobo isso, mas ao longo de séculos vendo o mapa do mesmo jeito podemos ter a ideia (completamente errada) de que a América do Norte está em cima da América do Sul.

Mas pensando na Terra no espaço, o conceito de “em cima” e “em baixo” é totalmente equivocada. Por que nunca vemos mapas e globos mostrando os países de cabeça para baixo? Ele estaria igualmente certo.

Clique na imagem acima para ver maior  – fonte

Outra projeção possível é a que coloca a O Canadá no meio do mapa:

Através das projeções, podemos perceber que cada projeção produz uma deformação direta nas dimensões e formas dos países.

Como podemos ver, as projeções cartográficas são tentativas de converter as formas curvas da Terra em formas planas para desenhar nos mapas, bidimensionais que usamos desde sempre. Este é um processo complexo, que querendo ou não, acarretará em algumas distorções.

A projeção cartografica mais comum é chamada de projeção Mercator, e tem este nome porque foi criada por um matematico belga em 1569. Na projeção de mercator a Terra é aberta bidimensionalmente como se um cilindro de papel a cobrisse. Mas como é de se imaginar, este tipo de projeção causa grandes distorções é é por isso que nos mapas a Groelândia parece tão grande. Na verdade ela é bem menor do que estamos acostumados a ver nos mapas. Olhando o mapa de Mercator, em uso até os dias de hoje, podemos ver a Groelândia quase do tamanho da América do Sul, quando na verdade, a América do Sul é oito vezes maior que a Groelândia.

Dá pra ver claramente que Mercator colocou a Europa no centro do mundo. Isso porque em 1569, a Europa realmente era o centro do mundo, controlando a economia do nosso planeta. O problema e que como a projeção de Mercator é paralela, temos uma preservação da forma geral dos países e continentes, mas com isso vem junto uma grande distorção da área real.

No mapa de Mercator, os EUA e a Ásia aparecem gigantescos. Mas será que é assim?

Não. Não é.  A verdade, meus amigos, é que segundo a projeção de Peters, criada em 1952 e só publicada nos anos 70, podemos ver que  o mundo que conhecíamos é bem diferente na realidade. A projeção de Peters foi criada também sob uma orientação cilíndrica, mas com um processo de construção diferente, o historiador alemão obteve linhas meridianas com intervalos menores. A projeção de Peters não é perfeita, pois distorceu a forma dos continentes, mas conseguiu manter sua área real.

Compare agora os dois mapas e veremos o quão insignificante a África parecia no mapa de Mercator e veja a monstruosidade que é na verdade.

E como seria então a cartografia Brasileira? Teríamos o Brasil no centro do globo terrestre e através da projeção eqüidistante, veríamos um mundo bem diferente dos que estamos acostumados a ver na cartografia européia.

Veja por exemplo, como é o mundo a partir de uma projeção centrada no Brasil:

Se parece que o Brasil está de cabeça para baixo, é bom rever os seus conceitos, pois o mundo só parece estar de ponta-cabeça num ponto de orientação eminentemente europeu. A cartografia foi e sempre será um forte instrumento de geopolítica.

Mudando um pouco de assunto, mas mantendo a conexão com a questão de mapas, temos aqui um mistério interessante. Sabemos que no passado distante, no período medieval os primeiros cartógrafos tinham grandes dificuldades para estabelecer o conceito da forma do mundo. Isso explica certos mapas bizarros, como este:

Jerusalém está no centro do mundo. E olha ali um pedacinho da América (fora do mundo conhecido)

Bom, este é um mapa  de Heinrich Bunting, 1545-1606

Enquanto os mapas deste período eram bastante imprecisos, surge em 1929 numa prateleira empoeirada do Museu Topkapi, em Istambul, foram encontrados dois fragmentos do mapa de um almirante turco chamado Piri Reis. O mapa é datado de 1513. Piri reis era considerado pirata pelos europeus e herói para os turcos. Mas a verdade é que ele foi um grande navegador e aventureiro, que trouxe à baila um mapa inacreditavelmente preciso para seu tempo.

Devemos lembrar que na época de Piri reis, mapas cartográficos eram segredos de estado, instrumentos valiosíssimos pelos quais se matava e morria.

No prefácio de seu livro “Bahrye”, Piri Reis descreve como se baseou e preparou este tão polêmico mapa, na cidade de Galibolu, entre 9 de março e 7 de abril de 1513. Declara aí que para fazê-las estudou todas as cartas existentes de que tinha conhecimento, “algumas delas muito antigas e secretas”. Eram mais de 20, “inclusive velhos mapas orientais de que era, sem dúvida, o único conhecedor na Europa”.

Piri Reis era um erudito, e o conhecimento que tinha das línguas espanhola, italiana, grega e portuguesa, muito o auxiliou na confecção das cartas. Possuía inclusive um mapa desenhado pelo próprio Cristóvão Colombo, carta que conseguira através de um membro de sua equipe, que fora capturado por Kemal Reis, tio de Piri Reis.

Os mapas de Piri Reis são uma preciosidade ilustrados com imagens dos soberanos de Portugal, da Guiné e de Marrocos. Na África, um elefante e um avestruz; lhamas na América do Sul e também pumas. No oceano, ao longo dos litorais, desenhos de barcos. As legendas estão grafadas em turco. As montanhas, indicadas pela silhueta e o litoral e rios, por linhas espessas. As cores são as convencionalmente utilizadas: partes rochosas marcadas em preto, águas barrentas ou pouco profundas por vermelho.

O mapa de Pirio Reis veio parar nas mãos de especialistas em cartografia antiga. Algumas das maiores autoridades mundiais do assunto, como o cartógrafo I. Walters e o especialista polar R. P. Linehan.
Com a ajuda do explorador sueco Nordenskjold e de Charles Hapgood e seus auxiliares, os pesquisadores chegaram a uma conclusão sobre o sistema de projeção empregado nos mapas que fora então confirmada por matemáticos: embora antigo, o sistema de Piri Reis era exato.

Além disso, o mapa traz desenhadas, na parte da América Latina, algumas lhamas, animais desconhecidos na Europa, àquela época. Também as posições estão marcadas corretamente, quanto à sua longitude e latitude. O mais impressionante é que até o século 18, os navegadores corriam risco de que seus barcos batessem em litorais rochosos, pois lhes faltava algo. A capacidade de calcular a longitude. Para isso necessitavam de um relógio extremamente preciso. Somente em 1790 o primeiro relógio marinho preciso foi inventado e os navegadores puderam saber sua posição nos mares.

Comparado a outras cartas da época, o mapa de Piri Reis as supera em muito. A coisa é tão impressionante em termos tecnológicos que seria como alguém encontrar um Blue Ray em 1940.

A análise das cartas de Piri Reis esbarrou em outra polêmica: se tudo ali aparece representado com notável exatidão para a época, então como explicar as formas das regiões árticas e antárticas, diferentes das da nossa era?

Inicialmente isso foi visto como um erro, mas esta percepção durou pouco. Segundo a opinião de alguns especialistas que examinaram o mapa,  as indicações cartográficas de Piri Reis mostram a conformação das regiões polares exatamente como estavam à mostra antes da última glaciação. E de maneira perfeita.

Obviamente que isso não é uma unanimidade entre os cientistas.

Os que crêem nessa hipótese, confrontaram as indicações dos mapas com os levantamentos sísmicos realizados na região em 1954, e tudo parecia bater em perfeita concordância, exceto por um local, o qual Piri Reis indicava por duas baías e o mapa recente, terra firme. Realizados novos estudos, verificou-se que Piri Reis é que estava certo. O estudioso soviético L. D. Dolgutchin julga que as duas cartas foram elaboradas após a derradeira glaciação terrestre, com o auxílio de instrumentação avançada; o que nada nos esclarece.

Levando-se em conta a história como nos é contada e aos conhecimentos que temos em mãos, fica a pergunta: de onde vieram estes instrumentos e como existiriam tais instrumentos antes de Colombo?

A resposta só pode estar nos “mapas antigos e secretos” que Piri Reis afirma que usou como orientação para suas cartas. Estudos mostram que a glaciação dos polos ocorreu depois de uma época situada aproximadamente entre 10.000 anos atrás. Naquela época, o que havia de mais civilizado, segundo os historiadores clássicos, eram os Cro-Magnon da Europa. Além disso, Mallery chama atenção de que para elaborar um mapa como aquele, Piri Reis precisaria de toda uma equipe perfeitamente coordenada e de levantamento cartográfico aéreo. Mas quem teria, naquela época, aviões e serviços geográficos?

O mapa é detalhado ao ponto de indicar as cidades do Rio de Janeiro e até Cabo Frio. E mesmo sendo proveniente da junção de diversos mapas antigos, considerando que os mapas daquele tempo eram segredos de estado, torna-se um mistério intrigante como Piri reis conseguiu reunir dados tão precisos, separando o joio do trigo para montar um mapa-mundi totalmente detalhado, do qual a história moderna só conhece um pedaço. As outras partes podem ter sido destruídas ou estão perdidas em algum lugar. Seja como for, o Mapa de Piri Reis é intrigante e uma obra clássica da cartografia mundial.   Talvez, no futuro, caso os pedaços que faltam apareçam, mais luz seja jogada sobre o mapa, relevando detalhes e trazendo ao mundo novas informações intrigantes sobre este grande navegador, herói, pirata e cartógrafo.

Embora muitas pessoas acreditem que Piri reis teve ajuda até de extraterrestres, particularmente eu acho muito mais intrigante o mistério de como Piri Reis conseguiu reunir tantos dados preciosos e mapas tão antigos para conseguir gerar seu próprio mapa.

O mistério continua: de onde vieram estes mapas?

Leia mais sobre o misterioso Mapa de Piri reis.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Philipe, excelente post!

    Dois comentários:

    1 – Consta que a projeção de Mercator, além de seu valor geopolítico (dar primazia à Europa), também é a mais usada pelo fato de manter as distâncias marítimas mais perfeitas. Todas as projeções que são melhores para ver os ocntinentes, estragam a orientação para navegação;

    2 – Os mapas de Piri Reis são um mistério fascinante, e, entre os que os consideram legítimos, reina a hipótese de serem oriundos de alguma civilização técnológica antediluviana, existente a cerca de 13.000 anos atrás, antes da glaciação e do subsequente degelo que arrasou as costas do mundo. Há evidências de grandes cidades submersas nas costas asiáticas (Japão e India), além da própria Alexandria, no Egito, que teve metade de sua área afundada em um terremoto faz uns 1.000 anos.

  2. Essa questão do mapa e bastante interressante, inclusive já caiu em um vestibular, o mapa do mundo invertido e teve autíssimo índice de erro.

  3. ow Philipe,
    ja leu sobre as viagens dos chineses em meados de 1400?
    o livro é muito bom, se puder leia…
    explica muitas coisas, inclusive Piris Reis

    Gavin Menzies “1421 o ano que a china descobriu o mundo.´´

    http://www.1421.tv

    UmPonto

    • Bom…….
      respondi na pressa e pensei que vce tivesse tempo pra dar uma olhada no livro que falei…
      vamos la…

      o mapa de Piri Reis é basicamente uma copia dos mapas chineses do seculo 15.

      por meados de 1420 os chineses navegaram pelo mundo todo, todo mesmo… africa, america, oceania e polos.
      pouca gente sabe disso e esse livro que falei, 1421, traz toda essa historia.

      els mapearam a antartida e o artico, alias, nessa epoca teve um substancial degelo, por isso puderam circunavegar a antártida e ver baias hoje ocultas.

      o que nos leva a questao da falsidade do derretimento das calatas polares em epocas recentes quando comparativamente temos passado sim por um resfriamento do planeta, antes que alguem diga, sou contra a ideia do aquecimento global.
      é coisa pra marketeiro ganhar grana.

      quanto aos animais os chineses conheceram as lhamas, e outros animais americanos porque os levaram nos navios de volta a china.

      esses navios nao eram nada parecidas com as frageis canoas de colombo, eram gigantes colossais com mais de 100 metros de comprimento. seria uma coisa como um porta avioes ou um petroleiro.

      o problema da china foi que apos estes periodos de descobrimento o governo mudou radicalmente, uma briga estranha e uma historia longa demais pra contar aqui so posso adiantar que era algo envolvendo testiculos(nao é piada).

      enfim, o governo mudou e a nova politica era de fechar o pais.
      se nao tivesse sido assim teriamos colonias chinesas por todo o mundo.

      uma das guinadas mais estranhas da historia, mas se tivesse sido, provavelmente seriamos todos de olhinhos puxados e o cristianismo seria tao estranho quanto a adoraçao a tartaruga magica é a nós.

      UmPonto

      • Eu não tive tempo de responder ao seu outro comentario. Eu conheço esta história sim. Mas não pelo livro. Eu tinha uma Super Interessante que falava dessas navegações da China. Parece que o comandante chinês era altão, tipo o Pedro Alvares Cabral.

  4. As questões dos países nunca aperecerem de cabeça para baixo é um mero detalhe técnico como ficou convencionado. Na realidade os pontos cardeais são também convencionados.Não tem em cima ou em baixo… A coordenadas do Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM)é usada até hoje nos GPS porque, apesar das imperfeições comuns em todo o mapa, como por exemplo no caso da discrepância da Groelândia, é o método mais presisamente trabalhado. Agora é uma tremendo mistério o mapa de Pires Reis. Realmente é desafiador… Será que temos que rever a História da Humanidade? Bem, a veracidade do mapa é inquestionável e serve como fonte histórica? E agora…

  5. Olá Philipe, estive a procurar mapas invertidos e caí no seu post. Muito legal, parabéns.

    Será que consegue colocar as imagens originais? Parece-me que somente uma está ok.

    Obrigado.
    Eder

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